Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Se a graça é resistível, a salvação é por obras?
Um argumento dado pelos calvinistas que é comumente usado na tentativa de depor contra a graça resistível é que, se a graça não é irresistível, a salvação seria por obras e o homem seria o seu próprio salvador. Eles costumam frequentemente dizer que, se a graça é oferecida ao homem e este pode recusá-la, o homem se torna o causador da própria salvação, e não Deus. Este argumento por si só já começa estranho, pois, se a lógica funciona assim mesmo, então até no calvinismo Deus não seria o salvador.
Se o fato de o homem aceitar a graça no arminianismo torna o homem salvador de si mesmo, então por que o fato de o homem aceitar a graça no calvinismo não torna o homem salvador de si mesmo? Ambos ensinam que a graça é derramada, a diferença é que um crê que essa graça é resistível e o outro crê que essa graça é irresistível. Se o fato de o homem aceitar a graça no calvinismo faz de Deus o salvador, por que o fato de o homem aceitar a graça no arminianismo não faz de Deus o salvador?
O calvinista poderá afirmar que é porque no arminianismo o homem pode rejeitar a graça. Isso é verdade. Porém, o que isso muda? A coisa continua igual para os que aceitam. Os que aceitam irresistivelmente são salvos no calvinismo, e os que aceitam persuasivamente são salvos no arminianismo. Nada muda para os que aceitam, exceto o fato de que um aceitou pelo uso da força, enquanto o outro aceitou por persuasão. Como diz Olson, “um presente que é rejeitado ainda é um presente, se for livremente recebido. Um presente recebido livremente não é um presente menor do que um recebido sob coerção”.
Fazendo uma analogia, é como se um pai comprasse um presente para dois filhos. Para um deles, chamado João, ele compra o presente e força que aceite o presente. Para outro deles, chamado Jacob, ele compra o presente e o oferece, deixando escolhê-lo livremente. Somente um demente diria que no primeiro caso o presenteador é o pai, e que no segundo caso o filho se presenteou a si mesmo. Da mesma forma, ninguém em sã consciência diria que no primeiro caso o presente foi um presente, enquanto no segundo caso o presente deixou de ser um presente e se tornou um mérito.
Em ambos os casos, a graça continua sendo graça. Em ambos os casos, o salvador permanece sendo Deus. A aceitação por parte do homem, seja ela resistível ou irresistível, forçada ou não-forçada, não faz do homem salvador de si mesmo, o que confronta a lógica e o bom senso. Por incrível que pareça, esse argumento inútil dos calvinistas tem sido usado contra os arminianos desde a época de Armínio. E Armínio também usou analogias para mostrar o defeito das acusações calvinistas. Ele disse:
“Um homem rico concede, a um pobre e faminto mendigo, esmolas com as quais ele será capaz de manter a sua família e a si mesmo. O fato de o mendigo estender as suas mãos para receber as esmolas faz com que elas deixem de ser um presente genuíno? Pode-se dizer com propriedade que ‘as esmolas dependem parcialmente da liberalidade do Doador e parcialmente da liberdade do favorecido’, embora este último não fosse receber as esmolas a menos que ele as tivesse recebido estendendo sua mão?”
Comentando este trecho, Olson diz:
“Usando-se a analogia de Armínio do rico e do mendigo, seria normal dizer que a aceitação, por parte do mendigo, do dinheiro dado pelo homem rico foi um fator decisivo na sobrevivência de sua família? Quem diria tal coisa? Toda a atenção neste caso se concentraria no benfeitor e não no pobre receptor da benfeitoria”
Norman Geisler também emprega analogia semelhante para mostrar a irracionalidade da acusação calvinista. Ele declara:
“O ato de receber um dom pela fé não é mais meritório do que é o de um mendigo ao receber uma ajuda. E uma lógica estranha a que assevera que o recebedor ganha crédito por receber uma dádiva, e não o doador! O ato de fé em receber o dom incondicional de Deus não granjeia nenhum mérito para o recebedor. Ao contrário, todo louvor e glória vão para o Doador de ‘toda boa dádiva e todo dom perfeito’ (Tg 1.17)”
Assim como seria estúpido dizer que um mendigo que estende as mãos para receber uma esmola dada por graça a recebeu “por suas boas obras” ou que causou a própria doação, assim também é ridículo alegar que o ato de aceitar a graça é uma “boa obra” que “causa a salvação” e a torna “centrada no homem”. Como diz Olson, “o verdadeiro arminianismo dá a Deus toda a glória e aos humanos, nenhuma; a salvação é inteiramente de Deus mesmo se as pessoas devam escolher livremente não resistir a ela. Mas mesmo essa habilidade de não resistir à graça salvífica é de Deus; ela não faz parte do equipamento natural da humanidade”.
Ele também acrescenta que “a decisão da fé não é causa meritória ou eficaz da salvação; a única causa é Cristo e sua morte. A decisão da fé é apenas a causa instrumental de salvação (como o ato de descontar um cheque), ao fazer isso, o dom é ativado. Mas isso não acrescenta nada ao dom ou o torna menos gratuito. Os arminianos acreditam que as pessoas são salvas apenas pela morte de Cristo e não por suas próprias decisões ou ações”.
O próprio Olson também empregou diversas analogias para simplificar o entendimento da salvação no prisma arminiano. Uma delas é a de um homem caído em um poço. Ele diz:
“Uma ilustração seria um homem caindo inconsciente em um poço. Deus chama o homem e lhe oferece ajuda. O homem recobra a consciência. Deus despeja água no poço e encoraja o homem ferido a flutuar na água e sair do poço. Tudo o que o homem tem a fazer é deixar que a água o eleve não lutando contra ela ou não se prendendo ao fundo do poço. Essa é uma analogia (embora rudimentar e simples) da graça preveniente. Como pode uma pessoa resgatada nestes moldes vangloriar-se desse resgate? Tudo o que ela fez foi relaxar e deixar que a água (a graça) a salvasse”
Um argumento dado pelos calvinistas que é comumente usado na tentativa de depor contra a graça resistível é que, se a graça não é irresistível, a salvação seria por obras e o homem seria o seu próprio salvador. Eles costumam frequentemente dizer que, se a graça é oferecida ao homem e este pode recusá-la, o homem se torna o causador da própria salvação, e não Deus. Este argumento por si só já começa estranho, pois, se a lógica funciona assim mesmo, então até no calvinismo Deus não seria o salvador.
Se o fato de o homem aceitar a graça no arminianismo torna o homem salvador de si mesmo, então por que o fato de o homem aceitar a graça no calvinismo não torna o homem salvador de si mesmo? Ambos ensinam que a graça é derramada, a diferença é que um crê que essa graça é resistível e o outro crê que essa graça é irresistível. Se o fato de o homem aceitar a graça no calvinismo faz de Deus o salvador, por que o fato de o homem aceitar a graça no arminianismo não faz de Deus o salvador?
O calvinista poderá afirmar que é porque no arminianismo o homem pode rejeitar a graça. Isso é verdade. Porém, o que isso muda? A coisa continua igual para os que aceitam. Os que aceitam irresistivelmente são salvos no calvinismo, e os que aceitam persuasivamente são salvos no arminianismo. Nada muda para os que aceitam, exceto o fato de que um aceitou pelo uso da força, enquanto o outro aceitou por persuasão. Como diz Olson, “um presente que é rejeitado ainda é um presente, se for livremente recebido. Um presente recebido livremente não é um presente menor do que um recebido sob coerção”.
Fazendo uma analogia, é como se um pai comprasse um presente para dois filhos. Para um deles, chamado João, ele compra o presente e força que aceite o presente. Para outro deles, chamado Jacob, ele compra o presente e o oferece, deixando escolhê-lo livremente. Somente um demente diria que no primeiro caso o presenteador é o pai, e que no segundo caso o filho se presenteou a si mesmo. Da mesma forma, ninguém em sã consciência diria que no primeiro caso o presente foi um presente, enquanto no segundo caso o presente deixou de ser um presente e se tornou um mérito.
Em ambos os casos, a graça continua sendo graça. Em ambos os casos, o salvador permanece sendo Deus. A aceitação por parte do homem, seja ela resistível ou irresistível, forçada ou não-forçada, não faz do homem salvador de si mesmo, o que confronta a lógica e o bom senso. Por incrível que pareça, esse argumento inútil dos calvinistas tem sido usado contra os arminianos desde a época de Armínio. E Armínio também usou analogias para mostrar o defeito das acusações calvinistas. Ele disse:
“Um homem rico concede, a um pobre e faminto mendigo, esmolas com as quais ele será capaz de manter a sua família e a si mesmo. O fato de o mendigo estender as suas mãos para receber as esmolas faz com que elas deixem de ser um presente genuíno? Pode-se dizer com propriedade que ‘as esmolas dependem parcialmente da liberalidade do Doador e parcialmente da liberdade do favorecido’, embora este último não fosse receber as esmolas a menos que ele as tivesse recebido estendendo sua mão?”
Comentando este trecho, Olson diz:
“Usando-se a analogia de Armínio do rico e do mendigo, seria normal dizer que a aceitação, por parte do mendigo, do dinheiro dado pelo homem rico foi um fator decisivo na sobrevivência de sua família? Quem diria tal coisa? Toda a atenção neste caso se concentraria no benfeitor e não no pobre receptor da benfeitoria”
Norman Geisler também emprega analogia semelhante para mostrar a irracionalidade da acusação calvinista. Ele declara:
“O ato de receber um dom pela fé não é mais meritório do que é o de um mendigo ao receber uma ajuda. E uma lógica estranha a que assevera que o recebedor ganha crédito por receber uma dádiva, e não o doador! O ato de fé em receber o dom incondicional de Deus não granjeia nenhum mérito para o recebedor. Ao contrário, todo louvor e glória vão para o Doador de ‘toda boa dádiva e todo dom perfeito’ (Tg 1.17)”
Assim como seria estúpido dizer que um mendigo que estende as mãos para receber uma esmola dada por graça a recebeu “por suas boas obras” ou que causou a própria doação, assim também é ridículo alegar que o ato de aceitar a graça é uma “boa obra” que “causa a salvação” e a torna “centrada no homem”. Como diz Olson, “o verdadeiro arminianismo dá a Deus toda a glória e aos humanos, nenhuma; a salvação é inteiramente de Deus mesmo se as pessoas devam escolher livremente não resistir a ela. Mas mesmo essa habilidade de não resistir à graça salvífica é de Deus; ela não faz parte do equipamento natural da humanidade”.
Ele também acrescenta que “a decisão da fé não é causa meritória ou eficaz da salvação; a única causa é Cristo e sua morte. A decisão da fé é apenas a causa instrumental de salvação (como o ato de descontar um cheque), ao fazer isso, o dom é ativado. Mas isso não acrescenta nada ao dom ou o torna menos gratuito. Os arminianos acreditam que as pessoas são salvas apenas pela morte de Cristo e não por suas próprias decisões ou ações”.
O próprio Olson também empregou diversas analogias para simplificar o entendimento da salvação no prisma arminiano. Uma delas é a de um homem caído em um poço. Ele diz:
“Uma ilustração seria um homem caindo inconsciente em um poço. Deus chama o homem e lhe oferece ajuda. O homem recobra a consciência. Deus despeja água no poço e encoraja o homem ferido a flutuar na água e sair do poço. Tudo o que o homem tem a fazer é deixar que a água o eleve não lutando contra ela ou não se prendendo ao fundo do poço. Essa é uma analogia (embora rudimentar e simples) da graça preveniente. Como pode uma pessoa resgatada nestes moldes vangloriar-se desse resgate? Tudo o que ela fez foi relaxar e deixar que a água (a graça) a salvasse”
Cidoka- Mensagens : 15717
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Outra analogia que ele faz é a de um depósito de um cheque:
“Imagine um aluno que esteja passando fome e prestes a ser despejado de seu dormitório por falta de dinheiro. Um professor bondoso dá a esse aluno um cheque de R$ 1.000,00 - o suficiente para que ele pague seu aluguel e coloque uma boa quantidade de comida em sua dispensa. Imagine, pensando mais além, que o aluno que foi resgatado leve o cheque até o banco, assine e deposite o cheque em sua conta (o que faz com que seu extrato fique com R$ 1.000,00 positivos). Imagine também que o aluno então começa a andar pelo campus se gabando de que ele mereceu receber a quantia de R$ 1.000,00. Qual seria a resposta das pessoas caso soubessem a verdade acerca da situação? Eles acusariam o aluno de ser miserável e ingrato. Mas suponha que o aluno diga: ‘Mas o fato de eu endossar o cheque e o depositar em minha conta é o fator decisivo para que eu conseguisse o dinheiro, então eu fiz uma boa obra que mereceu, ao menos, parte do dinheiro, não mereci?’ Ele seria ridicularizado e possivelmente ainda seria ignorado pelos demais por ser uma pessoa insensata”
Todas essas analogias, e muitas outras que poderíamos passar aqui, mostram o quão ridícula é a acusação calvinista de que no arminianismo a salvação é centrada no homem, por obras ou pelo mérito humano. Em todas elas, o Doador da graça permanece sendo Deus, e o fator e a causa da salvação permanece sendo a graça divina. O homem se vangloriar por aceitar a graça é algo tão estúpido quanto um mendigo se orgulhar de ter recebido uma esmola, como se o fato de ele ter estendido as mãos para recebê-la implicasse em algum mérito pessoal pelo qual ele possa se ostentar.
• Últimas considerações
Biblicamente, o debate sobre o modus operandi da graça é indiscutível. Deus estende a sua graça salvífica a todos, universalmente, mas nem todos aceitam esta graça. Deus não força o recebimento da graça nem violenta o livre-arbítrio do ser humano. Embora a graça seja oferecida a todos, nem todos a recebem, e esta recusa é a causa da condenação deles. Assim, o motivo pelo qual alguém é condenado não é por uma recusa ou omissão de Deus em não oferecer a graça, e sim por uma recusa e omissão do homem em não aceitá-la.
“Imagine um aluno que esteja passando fome e prestes a ser despejado de seu dormitório por falta de dinheiro. Um professor bondoso dá a esse aluno um cheque de R$ 1.000,00 - o suficiente para que ele pague seu aluguel e coloque uma boa quantidade de comida em sua dispensa. Imagine, pensando mais além, que o aluno que foi resgatado leve o cheque até o banco, assine e deposite o cheque em sua conta (o que faz com que seu extrato fique com R$ 1.000,00 positivos). Imagine também que o aluno então começa a andar pelo campus se gabando de que ele mereceu receber a quantia de R$ 1.000,00. Qual seria a resposta das pessoas caso soubessem a verdade acerca da situação? Eles acusariam o aluno de ser miserável e ingrato. Mas suponha que o aluno diga: ‘Mas o fato de eu endossar o cheque e o depositar em minha conta é o fator decisivo para que eu conseguisse o dinheiro, então eu fiz uma boa obra que mereceu, ao menos, parte do dinheiro, não mereci?’ Ele seria ridicularizado e possivelmente ainda seria ignorado pelos demais por ser uma pessoa insensata”
Todas essas analogias, e muitas outras que poderíamos passar aqui, mostram o quão ridícula é a acusação calvinista de que no arminianismo a salvação é centrada no homem, por obras ou pelo mérito humano. Em todas elas, o Doador da graça permanece sendo Deus, e o fator e a causa da salvação permanece sendo a graça divina. O homem se vangloriar por aceitar a graça é algo tão estúpido quanto um mendigo se orgulhar de ter recebido uma esmola, como se o fato de ele ter estendido as mãos para recebê-la implicasse em algum mérito pessoal pelo qual ele possa se ostentar.
• Últimas considerações
Biblicamente, o debate sobre o modus operandi da graça é indiscutível. Deus estende a sua graça salvífica a todos, universalmente, mas nem todos aceitam esta graça. Deus não força o recebimento da graça nem violenta o livre-arbítrio do ser humano. Embora a graça seja oferecida a todos, nem todos a recebem, e esta recusa é a causa da condenação deles. Assim, o motivo pelo qual alguém é condenado não é por uma recusa ou omissão de Deus em não oferecer a graça, e sim por uma recusa e omissão do homem em não aceitá-la.
Cidoka- Mensagens : 15717
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
resistir à graça preveniente (a que vem antes da salvação) ou à graça cooperante (a quem vem depois de já ter sido salvo). Se o homem é salvo ou condenado, isso foi uma decisão unilateral da parte de Deus, que o homem não toma parte.
Os arminianos, por outro lado, são sinergistas. O sinergismo arminiano basicamente ensina que o homem “coopera” com Deus no sentido de não resistir à operação do Espírito Santo
Os arminianos, por outro lado, são sinergistas. O sinergismo arminiano basicamente ensina que o homem “coopera” com Deus no sentido de não resistir à operação do Espírito Santo
Cidoka- Mensagens : 15717
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
CAP.6 – MONERGISMO E SINERGISMO
“O poder com o qual alguém coopera com a graça é da própria graça” (THOMAS ODEN)
• Introdução ao Capítulo
Monergismo e sinergismo tem sido outro foco de debate entre calvinistas e arminianos. Os calvinistas adotam a linha monergista, onde não existe nenhuma forma de “cooperação” entre Deus e o homem. Tudo é feito por Deus, de modo que o homem é meramente um agente passivo, como um ser em estado vegetativo, que nada pode fazer ou agir. O homem não pode, por esta visão, em sua vida, já que, como vimos no capítulo anterior, a graça não é irresistível. O homem não produz a sua própria salvação, mas ele pode intervir negativamente e resistir à graça divina. Desta forma, a resistência à graça preveniente é tão possível quanto a apostasia posterior, que é a resistência à graça cooperante.
• O que os arminianos clássicos entendem por “sinergismo”?
Antes de entrarmos mais a fundo naquilo que a Bíblia ensina sobre este tema, é necessário diferenciarmos o sinergismo arminiano clássico das outras formas de sinergismo, comumente chamadas de pelagianismo e semipelagianismo. Como já vimos, o pelagianismo nega o pecado original, e, portanto, não há nenhuma depravação herdada, de modo que o homem pode chegar a Deus meramente por suas obras. Este sinergismo, onde o homem produz sua própria salvação, é fortemente rejeitado pelos arminianos.
O semipelagianismo, embora não negue o pecado original, se opõe à ideia de que a depravação herdada tenha sido “total”, de modo que ainda sobra alguma coisa no homem que pode conduzi-lo por si mesmo a Deus. Aqui, mais uma vez, é o homem que produz a sua própria salvação. Este conceito também é repudiado pelos arminianos. No sinergismo arminiano, é Deus quem produz em nós a salvação. É ele que “opera em nós o querer e o realizar” (Fp.2:13). A parte do homem não se refere a “produzir” algo, mas a não resistir à operação do Espírito.
Este sinergismo arminiano, que é “quase monergista”, foi crido desde sempre por Armínio e seus seguidores. O próprio Armínio disse: “que a fé e obras cooperam juntas na justificação, tal é impossível”. John Wesley também afirmou que “toda a bondade que esteja no homem ou que seja feita pelo homem, Deus é o autor e executor dela”. Como Olson nos conta, “os calvinistas com frequencia acusam Wesley de desertar do protestantismo pelo fato dele salientar a santificação, mas mesmo isso, de acordo com Wesley, é uma obra de Deus dentro de uma pessoa que é recebida pela fé somente”.
A Society of Evangelical Arminians definiu bem o sinergismo arminiano:
“O arminianismo clássico advoga um monergismo inicial. O Espírito Santo enviado por Cristo Jesus prova o erro do mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8 ). Ninguém pede para ser convencido pelo Espírito de Deus: esta obra é monergista. O poder, a graça e a ação de Deus pró-ativa pretende levar o pecador (não causa efetivamente) ao arrependimento (Rm 2:4)”
Thomas Oden segue na mesma linha e diz que “o poder com o qual alguém coopera com a graça é da própria graça”. Ele também diz que “o arminianismo é o sinergismo evangélico em oposição ao sinergismo herético e humanista”. Roger Olson apresenta o sinergismo arminiano de forma mais completa. Ele escreveu:
“Então a soteriologia de Armínio era sinergística? Sim, mas não da forma que é comumente entendida. Os calvinistas tendem a considerar o sinergismo como uma cooperação mútua entre Deus e um ser humano na salvação; deste modo, o humano contribui com algo essencial e eficaz na salvação. Mas este não é o sinergismo de Armínio. Antes, seu sinergismo é um sinergismo evangélico que reserva todo o poder, capacidade e eficácia da salvação à graça, mas que permite aos humanos fazerem uso da capacidade concedida por Deus de resistir ou não resistir a ela. A única ‘contribuição’ da parte dos humanos é a não-resistência à graça. É o mesmo que aceitar um presente. Armínio não conseguia entender por que um presente que deve ser recebido livremente deixa de ser um presente, como contendem os calvinistas”
Ele ainda disse:
“A cooperação não contribui para a salvação, como se Deus fizesse uma parte e os humanos a outra; antes, a cooperação com a graça na teologia arminiana é simplesmente a resistência à graça. É simplesmente a decisão de permitir que a graça faça a sua obra ao renunciar a todas as tentativas de autojustificação e autopurificação e admitindo que somente Cristo pode salvar. Todavia, Deus não torna esta decisão pelo indivíduo; é uma decisão que os indivíduos, sob o impulso da graça preveniente, devem tomar por si mesmos”
“O poder com o qual alguém coopera com a graça é da própria graça” (THOMAS ODEN)
• Introdução ao Capítulo
Monergismo e sinergismo tem sido outro foco de debate entre calvinistas e arminianos. Os calvinistas adotam a linha monergista, onde não existe nenhuma forma de “cooperação” entre Deus e o homem. Tudo é feito por Deus, de modo que o homem é meramente um agente passivo, como um ser em estado vegetativo, que nada pode fazer ou agir. O homem não pode, por esta visão, em sua vida, já que, como vimos no capítulo anterior, a graça não é irresistível. O homem não produz a sua própria salvação, mas ele pode intervir negativamente e resistir à graça divina. Desta forma, a resistência à graça preveniente é tão possível quanto a apostasia posterior, que é a resistência à graça cooperante.
• O que os arminianos clássicos entendem por “sinergismo”?
Antes de entrarmos mais a fundo naquilo que a Bíblia ensina sobre este tema, é necessário diferenciarmos o sinergismo arminiano clássico das outras formas de sinergismo, comumente chamadas de pelagianismo e semipelagianismo. Como já vimos, o pelagianismo nega o pecado original, e, portanto, não há nenhuma depravação herdada, de modo que o homem pode chegar a Deus meramente por suas obras. Este sinergismo, onde o homem produz sua própria salvação, é fortemente rejeitado pelos arminianos.
O semipelagianismo, embora não negue o pecado original, se opõe à ideia de que a depravação herdada tenha sido “total”, de modo que ainda sobra alguma coisa no homem que pode conduzi-lo por si mesmo a Deus. Aqui, mais uma vez, é o homem que produz a sua própria salvação. Este conceito também é repudiado pelos arminianos. No sinergismo arminiano, é Deus quem produz em nós a salvação. É ele que “opera em nós o querer e o realizar” (Fp.2:13). A parte do homem não se refere a “produzir” algo, mas a não resistir à operação do Espírito.
Este sinergismo arminiano, que é “quase monergista”, foi crido desde sempre por Armínio e seus seguidores. O próprio Armínio disse: “que a fé e obras cooperam juntas na justificação, tal é impossível”. John Wesley também afirmou que “toda a bondade que esteja no homem ou que seja feita pelo homem, Deus é o autor e executor dela”. Como Olson nos conta, “os calvinistas com frequencia acusam Wesley de desertar do protestantismo pelo fato dele salientar a santificação, mas mesmo isso, de acordo com Wesley, é uma obra de Deus dentro de uma pessoa que é recebida pela fé somente”.
A Society of Evangelical Arminians definiu bem o sinergismo arminiano:
“O arminianismo clássico advoga um monergismo inicial. O Espírito Santo enviado por Cristo Jesus prova o erro do mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8 ). Ninguém pede para ser convencido pelo Espírito de Deus: esta obra é monergista. O poder, a graça e a ação de Deus pró-ativa pretende levar o pecador (não causa efetivamente) ao arrependimento (Rm 2:4)”
Thomas Oden segue na mesma linha e diz que “o poder com o qual alguém coopera com a graça é da própria graça”. Ele também diz que “o arminianismo é o sinergismo evangélico em oposição ao sinergismo herético e humanista”. Roger Olson apresenta o sinergismo arminiano de forma mais completa. Ele escreveu:
“Então a soteriologia de Armínio era sinergística? Sim, mas não da forma que é comumente entendida. Os calvinistas tendem a considerar o sinergismo como uma cooperação mútua entre Deus e um ser humano na salvação; deste modo, o humano contribui com algo essencial e eficaz na salvação. Mas este não é o sinergismo de Armínio. Antes, seu sinergismo é um sinergismo evangélico que reserva todo o poder, capacidade e eficácia da salvação à graça, mas que permite aos humanos fazerem uso da capacidade concedida por Deus de resistir ou não resistir a ela. A única ‘contribuição’ da parte dos humanos é a não-resistência à graça. É o mesmo que aceitar um presente. Armínio não conseguia entender por que um presente que deve ser recebido livremente deixa de ser um presente, como contendem os calvinistas”
Ele ainda disse:
“A cooperação não contribui para a salvação, como se Deus fizesse uma parte e os humanos a outra; antes, a cooperação com a graça na teologia arminiana é simplesmente a resistência à graça. É simplesmente a decisão de permitir que a graça faça a sua obra ao renunciar a todas as tentativas de autojustificação e autopurificação e admitindo que somente Cristo pode salvar. Todavia, Deus não torna esta decisão pelo indivíduo; é uma decisão que os indivíduos, sob o impulso da graça preveniente, devem tomar por si mesmos”
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Em resumo, o sinergismo crido pelos arminianos clássicos concorda plenamente com o calvinista Gresham Machen quando ele disse:
“A fé do ser humano, corretamente concebida, não pode nunca permanecer em oposição à plenitude com a qual a salvação depende de Deus: nunca pode significar que o ser humano faz uma parte enquanto Deus apenas faz o resto, pela simples razão de que a fé não consiste em fazer alguma coisa, mas em receber alguma coisa”
• A fé como um dom de Deus
Então, a fé pode ser considerada um “dom de Deus”? Sim, se interpretado da maneira correta. Nenhum arminiano clássico discorda do fato de que a fé é um dom Deus, mas creem na fé como um dom oferecido (assim como a graça), e não como um dom imposto (irresistivelmente). Deus derrama a graça preveniente sobre todos, restaurando o livre-arbítrio do ser humano, que então pode escolher entre aceitar ou rejeitar a graça divina. Àqueles que aceitam, Deus lhes concede a fé como um dom, que é o meio pelo qual somos salvos e podemos continuar firmes.
Logicamente, assim como o homem pode resistir à graça, ele pode rejeitar a fé. Em nenhum momento o ser humano é limitado à forma de um ser passivo vegetativo, semelhante às máquinas. Deus não impõe perseverança, mas ele nos capacita pela graça cooperante para que nós possamos continuar firmes e não perder a fé (veremos mais sobre isso no capítulo sobre a perda da salvação). Assim sendo, a fé pode ser vista como um dom de Deus, no sentido de ser algo que recebemos de Deus ao não resistirmos à graça. Pedro fala sobre isso, dizendo:
“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, mediante a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, receberam conosco uma fé igualmente valiosa” (2ª Pedro 1:1)
A fé não foi autoproduzida pelos próprios cristãos a quem Pedro escrevia a carta, mas foi “recebida” por eles. Ela é uma dádiva de Deus aos que aceitam a graça. O conceito da fé como algo que se recebe de Deus também é expressamente declarado em Romanos 12:3, que diz:
“Pela graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu” (Romanos 12:3)
Tudo o que nós temos, é porque Deus nos deu, de modo que é absurdo que alguém se vanglorie de algo, como se algo tivesse vindo dele mesmo:
“Quem torna você diferente de qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse?” (1ª Coríntios 4:7)
Apesar de a fé ser uma dádiva de Deus, o homem pode resistir a Deus e se “esfriar” na fé. É deste modo que alguém pode ser repreendido por ter uma fé pequena, como ocorre diversas vezes na Escritura, que diz:
“’Eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo’. Respondeu Jesus: ‘Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino’. Jesus repreendeu o demônio; este saiu do menino e, desde aquele momento, ele ficou curado. Então os discípulos aproximaram-se de Jesus em particular e perguntaram: ‘Por que não conseguimos expulsá-lo?’ Ele respondeu: ‘Por que a fé que vocês têm é pequena. Eu lhes asseguro que se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: Vá daqui para lá, e ele irá. Nada lhes será impossível’” (Mateus 17:16-20)
“Imediatamente Jesus estendeu a mão e o segurou. E disse: ‘Homem de pequena fé, porque você duvidou?’” (Mateus 14:31)
“Os discípulos foram acordá-lo, clamando: ‘Senhor, salva-nos! Vamos morrer!’ Ele perguntou: ‘Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé?’ Então ele se levantou e repreendeu os ventos e o mar, e fez-se completa bonança” (Mateus 8:25-26)
Seria cômico senão trágico se Jesus estivesse repreendendo as pessoas pela pouca fé delas se essa fé fosse somente aquilo que monergisticamente foi implantada por Deus, sem nenhuma participação humana ou forma de aumentar ou diminuir essa fé. Neste caso, Jesus teria que estar reclamando com Deus, que lhes deu pouca fé, e não com os homens, que nada podiam fazer para terem uma fé maior ou menor.
Logicamente, a fé é um dom de Deus, mas o homem tem participação desde que pode resistir à operação de Deus e, consequentemente, diminuir sua fé ou desacelerar o crescimento dela. É por isso que tais homens são frequentemente repreendidos por Cristo por terem uma fé pequena, porque, se tivessem feito algo diferente, poderiam ter uma fé maior. Há um monergismo na aplicação (é Deus quem concede, e não o homem), mas um sinergismo na forma de administrar este dom (o homem pode resistir à operação de Deus, ou não resistir).
É também por essa razão que Pedro nos diz que podemos acrescentar algo à nossa fé:
“Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em suas vidas, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos. Todavia, se alguém não as tem, está cego, só vê o que está perto, esquecendo-se da purificação dos seus antigos pecados” (2ª Pedro 1:5-9)
“A fé do ser humano, corretamente concebida, não pode nunca permanecer em oposição à plenitude com a qual a salvação depende de Deus: nunca pode significar que o ser humano faz uma parte enquanto Deus apenas faz o resto, pela simples razão de que a fé não consiste em fazer alguma coisa, mas em receber alguma coisa”
• A fé como um dom de Deus
Então, a fé pode ser considerada um “dom de Deus”? Sim, se interpretado da maneira correta. Nenhum arminiano clássico discorda do fato de que a fé é um dom Deus, mas creem na fé como um dom oferecido (assim como a graça), e não como um dom imposto (irresistivelmente). Deus derrama a graça preveniente sobre todos, restaurando o livre-arbítrio do ser humano, que então pode escolher entre aceitar ou rejeitar a graça divina. Àqueles que aceitam, Deus lhes concede a fé como um dom, que é o meio pelo qual somos salvos e podemos continuar firmes.
Logicamente, assim como o homem pode resistir à graça, ele pode rejeitar a fé. Em nenhum momento o ser humano é limitado à forma de um ser passivo vegetativo, semelhante às máquinas. Deus não impõe perseverança, mas ele nos capacita pela graça cooperante para que nós possamos continuar firmes e não perder a fé (veremos mais sobre isso no capítulo sobre a perda da salvação). Assim sendo, a fé pode ser vista como um dom de Deus, no sentido de ser algo que recebemos de Deus ao não resistirmos à graça. Pedro fala sobre isso, dizendo:
“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, mediante a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, receberam conosco uma fé igualmente valiosa” (2ª Pedro 1:1)
A fé não foi autoproduzida pelos próprios cristãos a quem Pedro escrevia a carta, mas foi “recebida” por eles. Ela é uma dádiva de Deus aos que aceitam a graça. O conceito da fé como algo que se recebe de Deus também é expressamente declarado em Romanos 12:3, que diz:
“Pela graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu” (Romanos 12:3)
Tudo o que nós temos, é porque Deus nos deu, de modo que é absurdo que alguém se vanglorie de algo, como se algo tivesse vindo dele mesmo:
“Quem torna você diferente de qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse?” (1ª Coríntios 4:7)
Apesar de a fé ser uma dádiva de Deus, o homem pode resistir a Deus e se “esfriar” na fé. É deste modo que alguém pode ser repreendido por ter uma fé pequena, como ocorre diversas vezes na Escritura, que diz:
“’Eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo’. Respondeu Jesus: ‘Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino’. Jesus repreendeu o demônio; este saiu do menino e, desde aquele momento, ele ficou curado. Então os discípulos aproximaram-se de Jesus em particular e perguntaram: ‘Por que não conseguimos expulsá-lo?’ Ele respondeu: ‘Por que a fé que vocês têm é pequena. Eu lhes asseguro que se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: Vá daqui para lá, e ele irá. Nada lhes será impossível’” (Mateus 17:16-20)
“Imediatamente Jesus estendeu a mão e o segurou. E disse: ‘Homem de pequena fé, porque você duvidou?’” (Mateus 14:31)
“Os discípulos foram acordá-lo, clamando: ‘Senhor, salva-nos! Vamos morrer!’ Ele perguntou: ‘Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé?’ Então ele se levantou e repreendeu os ventos e o mar, e fez-se completa bonança” (Mateus 8:25-26)
Seria cômico senão trágico se Jesus estivesse repreendendo as pessoas pela pouca fé delas se essa fé fosse somente aquilo que monergisticamente foi implantada por Deus, sem nenhuma participação humana ou forma de aumentar ou diminuir essa fé. Neste caso, Jesus teria que estar reclamando com Deus, que lhes deu pouca fé, e não com os homens, que nada podiam fazer para terem uma fé maior ou menor.
Logicamente, a fé é um dom de Deus, mas o homem tem participação desde que pode resistir à operação de Deus e, consequentemente, diminuir sua fé ou desacelerar o crescimento dela. É por isso que tais homens são frequentemente repreendidos por Cristo por terem uma fé pequena, porque, se tivessem feito algo diferente, poderiam ter uma fé maior. Há um monergismo na aplicação (é Deus quem concede, e não o homem), mas um sinergismo na forma de administrar este dom (o homem pode resistir à operação de Deus, ou não resistir).
É também por essa razão que Pedro nos diz que podemos acrescentar algo à nossa fé:
“Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em suas vidas, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos. Todavia, se alguém não as tem, está cego, só vê o que está perto, esquecendo-se da purificação dos seus antigos pecados” (2ª Pedro 1:5-9)
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
É interessante que nem todos os calvinistas creem que a fé é monergística, o que parece uma contradição em primeira mão. Sproul, por exemplo, afirmou:
“Quando Deus regenera uma alma humana, quando Ele nos faz espiritualmente vivos, fazemos escolhas. Nós cremos. Temos fé. Apegamo-nos a Cristo. Deus não crê por nós. A fé não é monergística”
Isso nem parece que foi dito por um dos calvinistas mais famosos dos nossos tempos, pois está de pleno acordo com a visão arminiana histórica. Infelizmente, Sproul (e os demais calvinistas que pensam como ele) não seguem a mesma lógica quando o assunto é a graça. Para eles, na questão da fé há um sinergismo, mas na questão da graça há um monergismo. Isso decorre do erro já refutado da “graça irresistível”. Se o homem pode cooperar na questão da fé sem efetuar sua própria salvação, então ele também pode cooperar no mesmo sentido na questão da graça sem efetuar sua própria salvação.
É desta forma que Armínio via a questão da fé, fazendo questão de ressaltar que ela é um dom de Deus:
“A fé é dom gracioso e gratuito de Deus, concedido de acordo com a administração dos meios necessários para levar ao fim, ou seja, de acordo com tal administração como a justiça de Deus exige ou para o lado da misericórdia ou da severidade. É um dom que não é concedido de acordo com uma vontade absoluta de salvar alguns homens específicos: pois ela é uma condição exigida no objeto a ser salvo e é, na verdade, uma condição que a antecede como meio para obter a salvação”
John Mark Hicks destaca que, “para Armínio, a fé é tanto um dom de Deus como uma condição de salvação que envolve uma resposta humana”. Olson relata o pensamento de Wesley, de que, para ele, “até mesmo a fé é um dom de Deus, assim como a fé era para Armínio”. Foi somente depois de Limborch que alguns arminianos se desviaram da teologia de Armínio e passaram a crer que a fé não é um dom de Deus. Como Olson diz, ele “ingressou em grave erro teológico ao dizer que a fé salvífica é um ato de nossa própria obediência e nossa própria realização”.
• Textos Bíblicos
Mas a Bíblia dá mesmo respaldo para algum tipo de cooperação humana que podemos chamar de “sinergismo”? Há diversas passagens que indicam que sim, e que dificilmente podem ser explicadas pela ótica monergista, onde o homem é um agente completamente passivo. Tiago, por exemplo, nos diz:
“Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês” (Tiago 4:8)
Há uma parte nossa – “aproximem-se de Deus” – e há uma parte de Deus – “e ele se aproximará de vocês”. Se a relação entre Deus e o homem fosse completamente monergística, não haveria uma “parte do homem”. Tudo seria somente da “parte de Deus”. Quem Deus aproximasse dele, estaria aproximado dele. O versículo deixa claro que existe uma relação sinergista entre Deus e o homem. Em Jeremias, o próprio Deus também deixa este conceito evidente, ao dizer:
“Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor” (Jeremias 29:12-14)
É por isso que podemos ser chamados de “cooperadores de Deus”:
“Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2ª Coríntios 6:1)
É impossível ler um versículo que diz que nós somos cooperadores de Deus e ainda dizer que Deus opera tudo de forma unilateral, independentemente das atitudes ou escolhas humanas. Paulo repete o mesmo parecer em 1ª Coríntios 3:9, quando diz que “nós somos cooperadores de Deus” (1Co.3:9). Isso, é claro, não significa que o homem possa se orgulhar de alguma coisa, porque a nossa capacidade vem de Deus:
“Não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus” (2ª Coríntios 3:5)
Tudo o que o homem faz de bom, é porque Deus o capacitou a isso. “O poder com o qual alguém coopera com a graça é da própria graça”. É como disse Paulo:
“Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho” (1ª Coríntios 3:6-8)
Até mesmo o versículo mais usado pelos calvinistas, que diz que “Deus opera em vós o querer e o realizar” (Fp.2:13), é claramente sinergista diante do contexto, que imediatamente antes diz: “operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fp.2:12). Então, vemos que dentro de dois versículos Paulo diz que nós operamos a nossa salvação e que Deus opera a nossa salvação. Estaria o apóstolo sendo contraditório, ou estaria ele refutando a si mesmo no verso 12?
É claro que não. As duas coisas são verdadeiras. É Deus que opera em nós a salvação, mas isso não ocorre de forma independente das atitudes humanas. O homem pode resistir a Deus, e, consequentemente, rejeitar a operação de Deus na sua vida, igual fizeram os fariseus, que “rejeitaram o propósito de Deus para eles” (Lc.7:30).
Portanto, Deus opera através do homem, e este, por sua vez, pode resistir à operação de Deus em sua vida e rejeitar o propósito para ele. É somente deste jeito que podemos entender dois versos aparentemente contraditórios, onde a operação é declarada ser tanto do homem como de Deus. É somente assim que podemos dar algum sentido à parte em que Paulo exorta os homens a operarem a própria salvação. É como disse Olson:
“Se as pessoas estiverem operando sua salvação, do início ao fim, é apenas porque ‘Deus está trabalhando’ nelas (...) Mas não faria sentido algum para Paulo exortar seus leitores para que operassem sua salvação com temor e tremor se Deus estivesse fazendo tudo e eles sequer tivessem de cooperar permitindo que a graça de Deus trabalhasse neles”
Comentando o verso de Mateus 19:24, onde Cristo diz que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt.19:24), ele também assevera:
“Jesus está dizendo que é mais difícil para Deus salvar um rico do que um pobre? Como pode isso? Se todos, sem exceção, apenas entram no reino de Deus pela obra de Deus apenas sem nenhuma cooperação exigida da parte da pessoa, então a fala de Jesus não faz sentido algum”
Lemke é outro que fez observações sobre este versículo. Ele diz:
“Claro, se Jesus fosse calvinista Ele jamais teria sugerido que é mais difícil para os ricos serem salvos pela graça irresistível de Deus do que os pobres. Suas vontades teriam sido mudadas imediata e invencivelmente no momento da chamada eficaz de Deus. Não seria mais difícil para um rico ser salvo pela chamada monergista e irresistível de Deus do que seria para qualquer outro pecador. Mas o Jesus real estava sugerindo que a salvação das pessoas estava, em certa medida, atrelada a sua resposta e compromisso com Sua chamada”
Ainda há outros problemas para os proponentes da tese monergista. Sabemos que os “eleitos” continuam pecando mesmo depois de alcançarem a salvação. Se o livre-arbítrio não existe e o processo é totalmente monergista, deveríamos chegar à infeliz conclusão de que é Deus quem manda os seus “eleitos” pecarem de vez em quando. Isso é obviamente absurdo, pois macula o caráter de santidade de Deus. A relação sinergista entre Deus e o homem é necessária, ou, senão, os pecados não seriam resultado de uma operação humana, e sim de uma operação divina. O homem não seria pecador: Deus é que seria.
Por fim, há uma parábola que eu creio que expressa bem a relação sinergista entre Deus e o homem – a parábola dos talentos. Nela, Jesus diz:
“Quando Deus regenera uma alma humana, quando Ele nos faz espiritualmente vivos, fazemos escolhas. Nós cremos. Temos fé. Apegamo-nos a Cristo. Deus não crê por nós. A fé não é monergística”
Isso nem parece que foi dito por um dos calvinistas mais famosos dos nossos tempos, pois está de pleno acordo com a visão arminiana histórica. Infelizmente, Sproul (e os demais calvinistas que pensam como ele) não seguem a mesma lógica quando o assunto é a graça. Para eles, na questão da fé há um sinergismo, mas na questão da graça há um monergismo. Isso decorre do erro já refutado da “graça irresistível”. Se o homem pode cooperar na questão da fé sem efetuar sua própria salvação, então ele também pode cooperar no mesmo sentido na questão da graça sem efetuar sua própria salvação.
É desta forma que Armínio via a questão da fé, fazendo questão de ressaltar que ela é um dom de Deus:
“A fé é dom gracioso e gratuito de Deus, concedido de acordo com a administração dos meios necessários para levar ao fim, ou seja, de acordo com tal administração como a justiça de Deus exige ou para o lado da misericórdia ou da severidade. É um dom que não é concedido de acordo com uma vontade absoluta de salvar alguns homens específicos: pois ela é uma condição exigida no objeto a ser salvo e é, na verdade, uma condição que a antecede como meio para obter a salvação”
John Mark Hicks destaca que, “para Armínio, a fé é tanto um dom de Deus como uma condição de salvação que envolve uma resposta humana”. Olson relata o pensamento de Wesley, de que, para ele, “até mesmo a fé é um dom de Deus, assim como a fé era para Armínio”. Foi somente depois de Limborch que alguns arminianos se desviaram da teologia de Armínio e passaram a crer que a fé não é um dom de Deus. Como Olson diz, ele “ingressou em grave erro teológico ao dizer que a fé salvífica é um ato de nossa própria obediência e nossa própria realização”.
• Textos Bíblicos
Mas a Bíblia dá mesmo respaldo para algum tipo de cooperação humana que podemos chamar de “sinergismo”? Há diversas passagens que indicam que sim, e que dificilmente podem ser explicadas pela ótica monergista, onde o homem é um agente completamente passivo. Tiago, por exemplo, nos diz:
“Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês” (Tiago 4:8)
Há uma parte nossa – “aproximem-se de Deus” – e há uma parte de Deus – “e ele se aproximará de vocês”. Se a relação entre Deus e o homem fosse completamente monergística, não haveria uma “parte do homem”. Tudo seria somente da “parte de Deus”. Quem Deus aproximasse dele, estaria aproximado dele. O versículo deixa claro que existe uma relação sinergista entre Deus e o homem. Em Jeremias, o próprio Deus também deixa este conceito evidente, ao dizer:
“Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor” (Jeremias 29:12-14)
É por isso que podemos ser chamados de “cooperadores de Deus”:
“Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2ª Coríntios 6:1)
É impossível ler um versículo que diz que nós somos cooperadores de Deus e ainda dizer que Deus opera tudo de forma unilateral, independentemente das atitudes ou escolhas humanas. Paulo repete o mesmo parecer em 1ª Coríntios 3:9, quando diz que “nós somos cooperadores de Deus” (1Co.3:9). Isso, é claro, não significa que o homem possa se orgulhar de alguma coisa, porque a nossa capacidade vem de Deus:
“Não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus” (2ª Coríntios 3:5)
Tudo o que o homem faz de bom, é porque Deus o capacitou a isso. “O poder com o qual alguém coopera com a graça é da própria graça”. É como disse Paulo:
“Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho” (1ª Coríntios 3:6-8)
Até mesmo o versículo mais usado pelos calvinistas, que diz que “Deus opera em vós o querer e o realizar” (Fp.2:13), é claramente sinergista diante do contexto, que imediatamente antes diz: “operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fp.2:12). Então, vemos que dentro de dois versículos Paulo diz que nós operamos a nossa salvação e que Deus opera a nossa salvação. Estaria o apóstolo sendo contraditório, ou estaria ele refutando a si mesmo no verso 12?
É claro que não. As duas coisas são verdadeiras. É Deus que opera em nós a salvação, mas isso não ocorre de forma independente das atitudes humanas. O homem pode resistir a Deus, e, consequentemente, rejeitar a operação de Deus na sua vida, igual fizeram os fariseus, que “rejeitaram o propósito de Deus para eles” (Lc.7:30).
Portanto, Deus opera através do homem, e este, por sua vez, pode resistir à operação de Deus em sua vida e rejeitar o propósito para ele. É somente deste jeito que podemos entender dois versos aparentemente contraditórios, onde a operação é declarada ser tanto do homem como de Deus. É somente assim que podemos dar algum sentido à parte em que Paulo exorta os homens a operarem a própria salvação. É como disse Olson:
“Se as pessoas estiverem operando sua salvação, do início ao fim, é apenas porque ‘Deus está trabalhando’ nelas (...) Mas não faria sentido algum para Paulo exortar seus leitores para que operassem sua salvação com temor e tremor se Deus estivesse fazendo tudo e eles sequer tivessem de cooperar permitindo que a graça de Deus trabalhasse neles”
Comentando o verso de Mateus 19:24, onde Cristo diz que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt.19:24), ele também assevera:
“Jesus está dizendo que é mais difícil para Deus salvar um rico do que um pobre? Como pode isso? Se todos, sem exceção, apenas entram no reino de Deus pela obra de Deus apenas sem nenhuma cooperação exigida da parte da pessoa, então a fala de Jesus não faz sentido algum”
Lemke é outro que fez observações sobre este versículo. Ele diz:
“Claro, se Jesus fosse calvinista Ele jamais teria sugerido que é mais difícil para os ricos serem salvos pela graça irresistível de Deus do que os pobres. Suas vontades teriam sido mudadas imediata e invencivelmente no momento da chamada eficaz de Deus. Não seria mais difícil para um rico ser salvo pela chamada monergista e irresistível de Deus do que seria para qualquer outro pecador. Mas o Jesus real estava sugerindo que a salvação das pessoas estava, em certa medida, atrelada a sua resposta e compromisso com Sua chamada”
Ainda há outros problemas para os proponentes da tese monergista. Sabemos que os “eleitos” continuam pecando mesmo depois de alcançarem a salvação. Se o livre-arbítrio não existe e o processo é totalmente monergista, deveríamos chegar à infeliz conclusão de que é Deus quem manda os seus “eleitos” pecarem de vez em quando. Isso é obviamente absurdo, pois macula o caráter de santidade de Deus. A relação sinergista entre Deus e o homem é necessária, ou, senão, os pecados não seriam resultado de uma operação humana, e sim de uma operação divina. O homem não seria pecador: Deus é que seria.
Por fim, há uma parábola que eu creio que expressa bem a relação sinergista entre Deus e o homem – a parábola dos talentos. Nela, Jesus diz:
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
“A um deu cinco talentos, a outro dois, e a outro um; a cada um de acordo com a sua capacidade. Em seguida partiu de viagem. O que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente, aplicou-os, e ganhou mais cinco. Também o que tinha dois talentos ganhou mais dois. Mas o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo o senhor daqueles servos voltou e acertou contas com eles. O que tinha recebido cinco talentos trouxe os outros cinco e disse: ‘O senhor me confiou cinco talentos; veja, eu ganhei mais cinco’. O senhor respondeu: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!’ Veio também o que tinha recebido dois talentos e disse: ‘O senhor me confiou dois talentos; veja, eu ganhei mais dois’. O senhor respondeu: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!’ Por fim veio o que tinha recebido um talento e disse: ‘Eu sabia que o senhor é um homem severo, que colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Por isso, tive medo, saí e escondi o seu talento no chão. Veja, aqui está o que lhe pertence’. O senhor respondeu: ‘Servo mau e negligente! Você sabia que eu colho onde não plantei e junto onde não semeei? Então você devia ter confiado o meu dinheiro aos banqueiros, para que, quando eu voltasse, o recebesse de volta com juros. ‘Tirem o talento dele e entreguem-no ao que tem dez. Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado. E lancem fora o servo inútil, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes’” (Mateus 25:15-30)
Em primeiro lugar, a parábola mostra que quem distribui os talentos é Deus. Os talentos são dádivas de Deus, não são autoproduzidos pelo homem. Em segundo lugar, a parábola mostra que todos receberam pelo menos algum talento. Ela não diz que Deus escolheu alguém para não receber talento nenhum. Em terceiro, ela nos mostra a parte do homem. Deus dá o talento e a capacitação de multiplicar esse talento, mas o homem mesmo assim pode “esconder” o talento, rejeitando a vontade de Deus e a operação dEle.
A parábola também não teria sentido nenhum caso tudo fosse uma relação monergista. Se o talento é multiplicado ou dividido apenas de acordo com a vontade arbitrária de Deus para com cada um, então Deus estaria culpando aquele homem que escondeu os talentos sendo que foi ele mesmo que impediu que os talentos fossem multiplicados. Em outras palavras, Deus estaria condenando aquele homem ao inferno por algo que Ele próprio fez, monergisticamente, unilateralmente, sem qualquer influência de qualquer ação humana.
Dentro da visão sinergista, a parábola tem sentido. Todos os talentos vêm de Deus e são dádivas dele. Ninguém fica sem receber nenhum talento. Ninguém é “abandonado” por Deus, como cria Calvino. Porém, é possível que alguém resista ao Espírito Santo e, por sua própria obstinação e resistência, tornar-se culpado por ter impedido a ação de Deus, que poderia ter multiplicado aqueles talentos da mesma forma que fez com os demais. Aquele homem é culpado por algo que ele deixou de fazer e que ele poderia ter feito. Deus permanece justo, o homem permanece responsável, e o processo permanece sinergista.
• Últimas considerações
Muito do que vimos aqui é uma extensão do que foi abordado nos capítulos anteriores, em especial no capítulo sobre a graça irresistível. Os calvinistas são obrigados a crer em uma relação monergista entre Deus e o homem porque isso é mera consequencia da crença em uma graça irresistível onde o homem não tem qualquer poder ou influência para aceitar ou rejeitar, onde ele não passa de um autômato, beirando um espantalho. Essa visão corrompe o senso lógico e Escriturístico, e entra em choque com tudo aquilo que aprendemos na Bíblia e através da razão.
Mas, se a relação entre Deus e o homem é sinergista, isso significa que o homem tem um papel, e que ele pode resistir à operação de Deus. Se é assim, então deve ser possível que alguém que uma vez foi salvo venha a perder a salvação, por posteriormente rejeitar a graça cooperante, fazendo mal uso de seu próprio livre-arbítrio. Afinal, se é possível aceitar a graça, também é possível rejeitá-la. A opção entre crer ou descrer não é dada ao pecador somente no primeiro momento da conversão, mas ela persiste ao longo de toda a vida, onde temos que tomar escolhas diariamente.
Mas será que a Bíblia traz algum fundamento para essa visão de que o crente pode perder a salvação? Afinal, como alguns dizem, uma vez salvo já não está salvo para sempre? Se a salvação pode ser perdida, onde a Bíblia diz isso? São estas questões que analisaremos no próximo capítulo.
Em primeiro lugar, a parábola mostra que quem distribui os talentos é Deus. Os talentos são dádivas de Deus, não são autoproduzidos pelo homem. Em segundo lugar, a parábola mostra que todos receberam pelo menos algum talento. Ela não diz que Deus escolheu alguém para não receber talento nenhum. Em terceiro, ela nos mostra a parte do homem. Deus dá o talento e a capacitação de multiplicar esse talento, mas o homem mesmo assim pode “esconder” o talento, rejeitando a vontade de Deus e a operação dEle.
A parábola também não teria sentido nenhum caso tudo fosse uma relação monergista. Se o talento é multiplicado ou dividido apenas de acordo com a vontade arbitrária de Deus para com cada um, então Deus estaria culpando aquele homem que escondeu os talentos sendo que foi ele mesmo que impediu que os talentos fossem multiplicados. Em outras palavras, Deus estaria condenando aquele homem ao inferno por algo que Ele próprio fez, monergisticamente, unilateralmente, sem qualquer influência de qualquer ação humana.
Dentro da visão sinergista, a parábola tem sentido. Todos os talentos vêm de Deus e são dádivas dele. Ninguém fica sem receber nenhum talento. Ninguém é “abandonado” por Deus, como cria Calvino. Porém, é possível que alguém resista ao Espírito Santo e, por sua própria obstinação e resistência, tornar-se culpado por ter impedido a ação de Deus, que poderia ter multiplicado aqueles talentos da mesma forma que fez com os demais. Aquele homem é culpado por algo que ele deixou de fazer e que ele poderia ter feito. Deus permanece justo, o homem permanece responsável, e o processo permanece sinergista.
• Últimas considerações
Muito do que vimos aqui é uma extensão do que foi abordado nos capítulos anteriores, em especial no capítulo sobre a graça irresistível. Os calvinistas são obrigados a crer em uma relação monergista entre Deus e o homem porque isso é mera consequencia da crença em uma graça irresistível onde o homem não tem qualquer poder ou influência para aceitar ou rejeitar, onde ele não passa de um autômato, beirando um espantalho. Essa visão corrompe o senso lógico e Escriturístico, e entra em choque com tudo aquilo que aprendemos na Bíblia e através da razão.
Mas, se a relação entre Deus e o homem é sinergista, isso significa que o homem tem um papel, e que ele pode resistir à operação de Deus. Se é assim, então deve ser possível que alguém que uma vez foi salvo venha a perder a salvação, por posteriormente rejeitar a graça cooperante, fazendo mal uso de seu próprio livre-arbítrio. Afinal, se é possível aceitar a graça, também é possível rejeitá-la. A opção entre crer ou descrer não é dada ao pecador somente no primeiro momento da conversão, mas ela persiste ao longo de toda a vida, onde temos que tomar escolhas diariamente.
Mas será que a Bíblia traz algum fundamento para essa visão de que o crente pode perder a salvação? Afinal, como alguns dizem, uma vez salvo já não está salvo para sempre? Se a salvação pode ser perdida, onde a Bíblia diz isso? São estas questões que analisaremos no próximo capítulo.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
CAP.7 – UMA VEZ SALVO, SEMPRE SALVO?
“Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2ª Coríntios 6:1)
• Introdução ao Capítulo
O quinto e último ponto da TULIP calvinista é o da “perseverança dos santos”. Com isso, o que eles estão querendo dizer é que, não importa o que aconteça, os que forem uma vez salvos nunca poderão perder a salvação – eles irão necessariamente perseverar até o fim e nunca apostatarão. É daí que surge o lema calvinista de que, “uma vez salvo, sempre salvo”. Usando as palavras de Calvino, “todos os que têm suas raízes fincadas em Deus jamais poderão ser desarraigados da salvação”. Ele também disse:
“Nos membros de Cristo o poder da graça se afigura muito mais excelente, porque, enxertados em seu Cabeça, nunca apostatam da salvação”
Por outro lado, na Conferência de Remonstrantes ficou decidido que “pessoas verdadeiramente regeneradas, ao negligenciarem a graça e entristecerem o Espírito Santo com pecado, decaem totalmente e, finalmente, da graça para a eterna reprovação”. Os arminianos defendem que a perda da salvação é possível diante de três fatores principais: (a) a condicionalidade da perseverança; (b) a possibilidade da apostasia; (c) a expressa declaração de crentes que caíram da graça.
Como o próprio Armínio deixou este ponto em aberto, alguns arminianos aderem a este “P” na TULIP, sendo conhecidos como “arminianos de quatro pontos”. Iremos analisar as objeções deles também na análise de cada texto que será passado aqui na defesa do ponto de vista bíblico de que a apostasia é possível e que a perseverança é condicional.
• Hebreus 6:4-6
Um dos textos mais famosos e mais claros na descrição bíblica da perda da salvação é o de Hebreus 6:4-6, que diz:
“Ora para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública” (Hebreus 6:4-6)
Há dois meios pelos quais o calvinista tenta desmerecer a evidência deste texto. O primeiro é dizendo que estas pessoas nunca foram realmente salvas uma vez, e a segunda (defendida por aqueles que admitem que estas pessoas foram salvas) é dizendo que estas pessoas nunca perderam a salvação. A tese de que aquelas pessoas (independentemente se eram judeus ou não) não haviam alcançado a salvação é claramente falsa pelo contexto, que diz que elas:
• Foram iluminadas.
• Provaram o dom celestial.
• Tornaram-se participantes do Espírito Santo.
• Experimentaram os poderes da era que há de vir.
• Arrependeram-se.
Se tudo isso for características de um não-salvo, então somos forçados a renegar tudo aquilo que o próprio Calvino escreveu sobre os outros pontos da TULIP, em especial o da depravação total e graça irresistível. Os não-salvos, diz a Bíblia, estão em trevas (1Jo.2:11; Ef.5:11; Lc.11:35), e não “iluminados”, como diz o texto. Os não-salvos também não possuem dons espirituais, que são dados pelo Espírito Santo aos que creem (1Co.12:4-31). Os não-salvos também não são participantes do Espírito Santo, pois o Espírito Santo só habita naqueles que foram uma vez regenerados (Ef.4:30).
O texto também diz que eles caíram, e, se eles caíram, é porque estavam de pé antes. Mas o não-regenerado não está “de pé”, ele está caído. Ele ainda está morto em seus próprios pecados (Ef.2:1), e não “de pé”, vivo na corrida da fé. O homem ainda não-salvo está caído e morto em seus pecados, e não de pé e vivo. Quando se considera o caso cumulativo, teríamos que crer que um não-regenerado possui todas as características presentes em um regenerado, se o texto realmente faz menção a pessoas que nunca foram salvas (regeneradas).
Até mesmo Norman Geisler, o “arminiano de quatro pontos”, que crê que uma vez salvo está para sempre salvo, considera o caso cumulativo e afirma:
“Algumas dessas expressões são muito difíceis de tomar em outro sentido que não o de uma pessoa que foi salva. Por exemplo: 1) essas pessoas haviam experimentado ‘arrependimento’ (v. 6), que é a condição de aceitação da salvação (At 17.30); 2) foram ‘iluminadas’ e ‘provaram o dom celestial’ (v. 4); 3) tornaram-se ‘participantes do Espírito Santo’ (v. 4); 4) ‘experimentaram a bondade da palavra de Deus’ (v. 5); e 5) provaram ‘os poderes’ do mundo vindouro (v. 5)”
Mas o que dá o melhor de todos os argumentos a favor da tese de que essas pessoas foram salvas uma vez é, por incrível que pareça, um calvinista: Sproul. Ele disse:
“Muitos calvinistas encontram uma solução para esta passagem, relacionando-a a não-crentes na igreja, que repudiam Cristo. Não estou inteiramente satisfeito com essa interpretação. Penso que esta passagem pode muito bem estar descrevendo cristãos verdadeiros. A frase mais importante para mim é ‘outra vez renovar para o arrependimento’. Eu sei que existe uma falsa espécie de arrependimento que o autor, em outros lugares, chama de arrependimento de Esaú. Mas aqui ele fala de renovação. O novo arrependimento, se ele é renovado, precisa ser como o velho arrependimento. O arrependimento renovado, do qual ele fala, é certamente da espécie genuína. Eu presumo, portanto, que o velho é também da espécie genuína”
Ele dá um xeque-mate na tese de outros calvinistas que acreditam que aquelas pessoas nunca haviam sido salvas. O texto fala que elas, depois que caíram, não poderiam mais ser reconduzidas ao arrependimento. Se elas não podem ser reconduzidas ao arrependimento, é porque já se arrependeram uma vez. E, como bem explica Sproul, se este “arrependimento” que elas tinham não era genuíno, então o autor de Hebreus estaria dizendo que elas não poderiam voltar a ter um arrependimento falso!
Considerando que o arrependimento era genuíno, é consequencia lógica que elas antes tinham um arrependimento genuíno, e não falso. À vista de tudo isso, sobrou para alguns calvinistas a alegação de que o texto realmente fala de pessoas que uma vez foram salvas, mas que não caíram ao ponto de perderem a salvação. Elas simplesmente “se esfriaram” na fé, mas não apostataram. Essa é a posição de Norman Geisler e de outros arminianos de quatro pontos também.
Contra esta outra tentativa, temos que observar a parte final do texto, que diz que “é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública” (v.6). Se o texto diz que era impossível que elas sejam reconduzidas ao arrependimento, então elas caíram de tal forma que perderam toda a possibilidade de arrepender-se para a salvação. Concordando que sem arrependimento não há salvação, é consequencia lógica que essas pessoas, que não poderiam se arrepender novamente, não poderiam ser salvas.
Essa queda não foi algo superficial, mas tão profundo ao ponto de que elas crucificaram o Filho de Deus. Se isso não soa forte o suficiente ao ponto de perder a salvação, eu não sei que tipo de linguagem poderia ser expressa para representar isso. Teríamos que crer, por essa lógica de alguns calvinistas, que pessoas que crucificam o Filho de Deus e o sujeitam à desonra pública nunca perdem a salvação. Isso é simplesmente ridículo.
Assim sendo, diante de todo o contexto, essa queda de quem antes estava de pé não foi uma queda pequena. Não foi simplesmente “um tropeço”. Foi algo tão forte e tão profundo que os fizeram crucificar de novo o Filho de Deus e sujeitá-lo à desonra pública, de forma tal que, por isso, um novo arrependimento para aqueles que caíram desta maneira é algo impossível. Eles não podem novamente se arrepender destes pecados cometidos que os fizeram crucificar Jesus espiritualmente.
E, se não podem se arrepender destes pecados, também não podem ser salvos, pois sem arrependimento não há salvação. Que o arrependimento é um precedente necessário à salvação, isso é de concordância mútua de arminianos e calvinistas, e é um princípio bíblico básico e fundamental, presente em toda a Escritura (Ap.2:21; 3:19). Jesus claramente disse que, “se não se arrependerem, todos vocês perecerão” (Lc.13:15). Pessoas que se recusam a se arrepender não podem ser salvas, pois ainda estão mortas em seus pecados. Portanto, essa queda foi tão profunda que implicou em perda de salvação e impossibilidade de resgatá-la.
• Hebreus 10:26-31
“Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (Hebreus 10:26,27)
Que o texto fala de pessoas que foram salvas (cristãos), isso é dedutível do fato de que o autor da epístola estava escrevendo a judeus convertidos, ou seja, ao povo cristão. Nos versos anteriores, por exemplo, ele diz:
“Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras” (Hebreus 10:22-24)
Corpos lavados com água pura, apego à fé que professa, incentivo ao amor e às boas obras. Tudo isso é uma linguagem referente a pessoas cristãs, que já passaram pelo primeiro estágio, o da regeneração. Elas já receberam o “pleno conhecimento da verdade” (v.26), e, para isso, era necessário que Deus lhes abrisse os olhos para que elas compreendessem a totalidade do evangelho, coisa que só ocorre com pessoas regeneradas (At.26:18).
Mesmo assim, ao invés de ele dizer a tais pessoas que elas já estavam garantidas e confirmadas na fé até o fim e que de modo algum poderiam perder a salvação, ele afirma justamente o contrário: que ainda é possível pecar voluntariamente e que, neste caso, resta-lhes apenas o fogo do juízo que lhes irá devorar. É uma linguagem forte, especialmente usada para mostrar a condenação que lhes espera em caso de apostasia.
Se aquelas pessoas não fossem salvas, teríamos que presumir que um descrente, ao ter conhecimento do evangelho e mesmo assim continuar vivendo no pecado, já não tem mais chance de salvação. Isso é irracional e nenhum calvinista ensina isso, pois, de fato, o texto trata de pessoas já regeneradas, que, da mesma forma, podem perecer no dia do juízo, caso passem a pecar voluntariamente.
Por fim, o contexto indica que essas pessoas estavam na fé, pois diz:
“Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu; pois em breve, muito em breve ‘Aquele que vem virá, e não demorará. Mas o meu justo viverá pela fé. E, se retroceder, não me agradarei dele’” (Hebreus 10:36-38)
Se é possível alguém “retroceder”, é porque antes estava no caminho. Não era um descrente, mas um regenerado, convertido, alguém que estava na fé, mas precisava perseverar neste caminho até o fim e não retroceder dele. Embora alguns nomes como Geisler insistam que este “retroceder” não se refere à perda da salvação, mas apenas da recompensa, todo o contexto mostra claramente que tais pessoas não perderão apenas a recompensa, mas serão condenadas no dia do juízo. O autor de Hebreus demonstra isso ao dizer:
“Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: ‘A mim pertence a vingança; eu retribuirei’; e outra vez: ‘O Senhor julgará o seu povo’. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!” (Hebreus 10:28-31)
Em primeiro lugar, a analogia com a lei de Moisés já deveria encerrar a questão. Os que pecavam na lei perdiam apenas a recompensa ou eram de fato mortos? A resposta é óbvia: eram mortos. O autor de Hebreus mostra que o castigo que aguarda tais pessoas é maior do que o castigo que passou aqueles que pecaram sob a lei. Enquanto ali era apenas uma morte passageira (primeira morte, pois ainda havia a ressurreição), agora é uma morte eterna (segunda morte, a morte final e irreversível). Logo, pela analogia já podemos perceber que o texto não trata apenas de perda de recompensa, mas do castigo da morte eterna.
Outros elementos no texto também demonstram isso, como, por exemplo, o fato de tal pessoa ter pisado os pés no Filho de Deus (v.29), profanado o sangue da aliança (v.29) e insultado o Espírito Santo (v.29). Será que uma pessoa que pisa em Jesus, que profana o Seu sangue e blasfema contra o Espírito Santo é salva, e apenas perde uma recompensa? É lógico que não. Tais pessoas são, obviamente, apóstatas, que se desviaram não parcialmente, mas totalmente da fé. O verso final mostra isso com ainda mais clareza, ao dizer que terrível coisa é cair nas mãos de Deus (v.31). Será que essa coisa tão terrível é estar no Céu sem recompensa?
À vista de tudo isso, o “retroceder na fé”, como mostra o contexto (Hb.10:36-38), não se trata apenas da perda de galardão para uma pessoa salva, mas da perda da salvação para alguém que caiu a tal ponto que pisou os pés em Cristo, profanou o Seu sangue, blasfemou contra o Espírito Santo e que terá um terrível castigo mais severo que a morte daqueles que estavam sob a antiga aliança, aguardando uma “certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (v.27). Se isso não é a descrição de um perdido em uma condição de condenação, sinceramente não sei como isso poderia ser expresso em palavras.
• João 15:1-7
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (João 15:1-7)
“Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2ª Coríntios 6:1)
• Introdução ao Capítulo
O quinto e último ponto da TULIP calvinista é o da “perseverança dos santos”. Com isso, o que eles estão querendo dizer é que, não importa o que aconteça, os que forem uma vez salvos nunca poderão perder a salvação – eles irão necessariamente perseverar até o fim e nunca apostatarão. É daí que surge o lema calvinista de que, “uma vez salvo, sempre salvo”. Usando as palavras de Calvino, “todos os que têm suas raízes fincadas em Deus jamais poderão ser desarraigados da salvação”. Ele também disse:
“Nos membros de Cristo o poder da graça se afigura muito mais excelente, porque, enxertados em seu Cabeça, nunca apostatam da salvação”
Por outro lado, na Conferência de Remonstrantes ficou decidido que “pessoas verdadeiramente regeneradas, ao negligenciarem a graça e entristecerem o Espírito Santo com pecado, decaem totalmente e, finalmente, da graça para a eterna reprovação”. Os arminianos defendem que a perda da salvação é possível diante de três fatores principais: (a) a condicionalidade da perseverança; (b) a possibilidade da apostasia; (c) a expressa declaração de crentes que caíram da graça.
Como o próprio Armínio deixou este ponto em aberto, alguns arminianos aderem a este “P” na TULIP, sendo conhecidos como “arminianos de quatro pontos”. Iremos analisar as objeções deles também na análise de cada texto que será passado aqui na defesa do ponto de vista bíblico de que a apostasia é possível e que a perseverança é condicional.
• Hebreus 6:4-6
Um dos textos mais famosos e mais claros na descrição bíblica da perda da salvação é o de Hebreus 6:4-6, que diz:
“Ora para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública” (Hebreus 6:4-6)
Há dois meios pelos quais o calvinista tenta desmerecer a evidência deste texto. O primeiro é dizendo que estas pessoas nunca foram realmente salvas uma vez, e a segunda (defendida por aqueles que admitem que estas pessoas foram salvas) é dizendo que estas pessoas nunca perderam a salvação. A tese de que aquelas pessoas (independentemente se eram judeus ou não) não haviam alcançado a salvação é claramente falsa pelo contexto, que diz que elas:
• Foram iluminadas.
• Provaram o dom celestial.
• Tornaram-se participantes do Espírito Santo.
• Experimentaram os poderes da era que há de vir.
• Arrependeram-se.
Se tudo isso for características de um não-salvo, então somos forçados a renegar tudo aquilo que o próprio Calvino escreveu sobre os outros pontos da TULIP, em especial o da depravação total e graça irresistível. Os não-salvos, diz a Bíblia, estão em trevas (1Jo.2:11; Ef.5:11; Lc.11:35), e não “iluminados”, como diz o texto. Os não-salvos também não possuem dons espirituais, que são dados pelo Espírito Santo aos que creem (1Co.12:4-31). Os não-salvos também não são participantes do Espírito Santo, pois o Espírito Santo só habita naqueles que foram uma vez regenerados (Ef.4:30).
O texto também diz que eles caíram, e, se eles caíram, é porque estavam de pé antes. Mas o não-regenerado não está “de pé”, ele está caído. Ele ainda está morto em seus próprios pecados (Ef.2:1), e não “de pé”, vivo na corrida da fé. O homem ainda não-salvo está caído e morto em seus pecados, e não de pé e vivo. Quando se considera o caso cumulativo, teríamos que crer que um não-regenerado possui todas as características presentes em um regenerado, se o texto realmente faz menção a pessoas que nunca foram salvas (regeneradas).
Até mesmo Norman Geisler, o “arminiano de quatro pontos”, que crê que uma vez salvo está para sempre salvo, considera o caso cumulativo e afirma:
“Algumas dessas expressões são muito difíceis de tomar em outro sentido que não o de uma pessoa que foi salva. Por exemplo: 1) essas pessoas haviam experimentado ‘arrependimento’ (v. 6), que é a condição de aceitação da salvação (At 17.30); 2) foram ‘iluminadas’ e ‘provaram o dom celestial’ (v. 4); 3) tornaram-se ‘participantes do Espírito Santo’ (v. 4); 4) ‘experimentaram a bondade da palavra de Deus’ (v. 5); e 5) provaram ‘os poderes’ do mundo vindouro (v. 5)”
Mas o que dá o melhor de todos os argumentos a favor da tese de que essas pessoas foram salvas uma vez é, por incrível que pareça, um calvinista: Sproul. Ele disse:
“Muitos calvinistas encontram uma solução para esta passagem, relacionando-a a não-crentes na igreja, que repudiam Cristo. Não estou inteiramente satisfeito com essa interpretação. Penso que esta passagem pode muito bem estar descrevendo cristãos verdadeiros. A frase mais importante para mim é ‘outra vez renovar para o arrependimento’. Eu sei que existe uma falsa espécie de arrependimento que o autor, em outros lugares, chama de arrependimento de Esaú. Mas aqui ele fala de renovação. O novo arrependimento, se ele é renovado, precisa ser como o velho arrependimento. O arrependimento renovado, do qual ele fala, é certamente da espécie genuína. Eu presumo, portanto, que o velho é também da espécie genuína”
Ele dá um xeque-mate na tese de outros calvinistas que acreditam que aquelas pessoas nunca haviam sido salvas. O texto fala que elas, depois que caíram, não poderiam mais ser reconduzidas ao arrependimento. Se elas não podem ser reconduzidas ao arrependimento, é porque já se arrependeram uma vez. E, como bem explica Sproul, se este “arrependimento” que elas tinham não era genuíno, então o autor de Hebreus estaria dizendo que elas não poderiam voltar a ter um arrependimento falso!
Considerando que o arrependimento era genuíno, é consequencia lógica que elas antes tinham um arrependimento genuíno, e não falso. À vista de tudo isso, sobrou para alguns calvinistas a alegação de que o texto realmente fala de pessoas que uma vez foram salvas, mas que não caíram ao ponto de perderem a salvação. Elas simplesmente “se esfriaram” na fé, mas não apostataram. Essa é a posição de Norman Geisler e de outros arminianos de quatro pontos também.
Contra esta outra tentativa, temos que observar a parte final do texto, que diz que “é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública” (v.6). Se o texto diz que era impossível que elas sejam reconduzidas ao arrependimento, então elas caíram de tal forma que perderam toda a possibilidade de arrepender-se para a salvação. Concordando que sem arrependimento não há salvação, é consequencia lógica que essas pessoas, que não poderiam se arrepender novamente, não poderiam ser salvas.
Essa queda não foi algo superficial, mas tão profundo ao ponto de que elas crucificaram o Filho de Deus. Se isso não soa forte o suficiente ao ponto de perder a salvação, eu não sei que tipo de linguagem poderia ser expressa para representar isso. Teríamos que crer, por essa lógica de alguns calvinistas, que pessoas que crucificam o Filho de Deus e o sujeitam à desonra pública nunca perdem a salvação. Isso é simplesmente ridículo.
Assim sendo, diante de todo o contexto, essa queda de quem antes estava de pé não foi uma queda pequena. Não foi simplesmente “um tropeço”. Foi algo tão forte e tão profundo que os fizeram crucificar de novo o Filho de Deus e sujeitá-lo à desonra pública, de forma tal que, por isso, um novo arrependimento para aqueles que caíram desta maneira é algo impossível. Eles não podem novamente se arrepender destes pecados cometidos que os fizeram crucificar Jesus espiritualmente.
E, se não podem se arrepender destes pecados, também não podem ser salvos, pois sem arrependimento não há salvação. Que o arrependimento é um precedente necessário à salvação, isso é de concordância mútua de arminianos e calvinistas, e é um princípio bíblico básico e fundamental, presente em toda a Escritura (Ap.2:21; 3:19). Jesus claramente disse que, “se não se arrependerem, todos vocês perecerão” (Lc.13:15). Pessoas que se recusam a se arrepender não podem ser salvas, pois ainda estão mortas em seus pecados. Portanto, essa queda foi tão profunda que implicou em perda de salvação e impossibilidade de resgatá-la.
• Hebreus 10:26-31
“Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (Hebreus 10:26,27)
Que o texto fala de pessoas que foram salvas (cristãos), isso é dedutível do fato de que o autor da epístola estava escrevendo a judeus convertidos, ou seja, ao povo cristão. Nos versos anteriores, por exemplo, ele diz:
“Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras” (Hebreus 10:22-24)
Corpos lavados com água pura, apego à fé que professa, incentivo ao amor e às boas obras. Tudo isso é uma linguagem referente a pessoas cristãs, que já passaram pelo primeiro estágio, o da regeneração. Elas já receberam o “pleno conhecimento da verdade” (v.26), e, para isso, era necessário que Deus lhes abrisse os olhos para que elas compreendessem a totalidade do evangelho, coisa que só ocorre com pessoas regeneradas (At.26:18).
Mesmo assim, ao invés de ele dizer a tais pessoas que elas já estavam garantidas e confirmadas na fé até o fim e que de modo algum poderiam perder a salvação, ele afirma justamente o contrário: que ainda é possível pecar voluntariamente e que, neste caso, resta-lhes apenas o fogo do juízo que lhes irá devorar. É uma linguagem forte, especialmente usada para mostrar a condenação que lhes espera em caso de apostasia.
Se aquelas pessoas não fossem salvas, teríamos que presumir que um descrente, ao ter conhecimento do evangelho e mesmo assim continuar vivendo no pecado, já não tem mais chance de salvação. Isso é irracional e nenhum calvinista ensina isso, pois, de fato, o texto trata de pessoas já regeneradas, que, da mesma forma, podem perecer no dia do juízo, caso passem a pecar voluntariamente.
Por fim, o contexto indica que essas pessoas estavam na fé, pois diz:
“Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu; pois em breve, muito em breve ‘Aquele que vem virá, e não demorará. Mas o meu justo viverá pela fé. E, se retroceder, não me agradarei dele’” (Hebreus 10:36-38)
Se é possível alguém “retroceder”, é porque antes estava no caminho. Não era um descrente, mas um regenerado, convertido, alguém que estava na fé, mas precisava perseverar neste caminho até o fim e não retroceder dele. Embora alguns nomes como Geisler insistam que este “retroceder” não se refere à perda da salvação, mas apenas da recompensa, todo o contexto mostra claramente que tais pessoas não perderão apenas a recompensa, mas serão condenadas no dia do juízo. O autor de Hebreus demonstra isso ao dizer:
“Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: ‘A mim pertence a vingança; eu retribuirei’; e outra vez: ‘O Senhor julgará o seu povo’. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!” (Hebreus 10:28-31)
Em primeiro lugar, a analogia com a lei de Moisés já deveria encerrar a questão. Os que pecavam na lei perdiam apenas a recompensa ou eram de fato mortos? A resposta é óbvia: eram mortos. O autor de Hebreus mostra que o castigo que aguarda tais pessoas é maior do que o castigo que passou aqueles que pecaram sob a lei. Enquanto ali era apenas uma morte passageira (primeira morte, pois ainda havia a ressurreição), agora é uma morte eterna (segunda morte, a morte final e irreversível). Logo, pela analogia já podemos perceber que o texto não trata apenas de perda de recompensa, mas do castigo da morte eterna.
Outros elementos no texto também demonstram isso, como, por exemplo, o fato de tal pessoa ter pisado os pés no Filho de Deus (v.29), profanado o sangue da aliança (v.29) e insultado o Espírito Santo (v.29). Será que uma pessoa que pisa em Jesus, que profana o Seu sangue e blasfema contra o Espírito Santo é salva, e apenas perde uma recompensa? É lógico que não. Tais pessoas são, obviamente, apóstatas, que se desviaram não parcialmente, mas totalmente da fé. O verso final mostra isso com ainda mais clareza, ao dizer que terrível coisa é cair nas mãos de Deus (v.31). Será que essa coisa tão terrível é estar no Céu sem recompensa?
À vista de tudo isso, o “retroceder na fé”, como mostra o contexto (Hb.10:36-38), não se trata apenas da perda de galardão para uma pessoa salva, mas da perda da salvação para alguém que caiu a tal ponto que pisou os pés em Cristo, profanou o Seu sangue, blasfemou contra o Espírito Santo e que terá um terrível castigo mais severo que a morte daqueles que estavam sob a antiga aliança, aguardando uma “certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (v.27). Se isso não é a descrição de um perdido em uma condição de condenação, sinceramente não sei como isso poderia ser expresso em palavras.
• João 15:1-7
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (João 15:1-7)
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Cristo estava ensinando por analogia que o fato de um dia fazer parte de Seu corpo não garante a salvação final, pois é necessária a perseverança até o fim. Da mesma forma, ele ensina que é possível que alguém que uma vez foi salvo não persevere e não confirme esta salvação. Alegar que tais pessoas descritas nesta analogia não eram salvas é inútil, pois Jesus disse que elas estavam nele (v.2). Se elas estavam nele, faziam parte do Seu corpo, a Igreja invisível eleita para a salvação e espalhada em todo o mundo.
Outro detalhe que nos mostra que essas pessoas eram salvas é o fato de já estarem limpas (v.3). Sabemos que a santificação é um processo de purificação que sucede a regeneração. Pessoas são salvas por Deus, regeneradas e, então, santificadas. Se essas pessoas já estavam limpas pela palavra de Cristo, é porque elas já haviam sido regeneradas e estavam, consequentemente, salvas, naquele momento.
Mais uma coisa que nos ajuda a concluir que tais “ramos” estavam salvos era que eles teriam que permanecer em Cristo. Se eles tinham que “permanecer”, é porque já estavam nele. Da mesma forma que é sem sentido dizer para alguém “permanecer em casa” se não está em casa, é sem razão dizer para alguém “permanecer em Cristo” se já não está em Cristo. E, se elas estavam em Cristo, faziam parte do Corpo e eram genuinamente cristãs. Cristãos nominais não fazem parte do Corpo nem estão em Cristo, embora frequentem uma igreja física. O texto está claramente tratando de cristãos de fato.
Por fim, o último ponto que nos leva a crer que Jesus estava falando de pessoas já salvas é que ele dirigia aquelas palavras, em primeiro lugar, aos seus próprios discípulos, que ali estavam. Estavam ali Cristo e onze apóstolos, pois Judas já havia deixado aquele lugar para ir vender Jesus aos sacerdotes (Jo.13:30). Depois que Judas saiu, Jesus continuou seu discurso aos onze discípulos e, referindo-se a eles, disse as palavras que lemos no capítulo 15. Partindo da premissa óbvia de que aqueles onze discípulos eram verdadeiros crentes e pessoas já salvas, é lógico que aquilo se aplica a pessoas regeneradas.
Que aquelas palavras foram ditas a pessoas já salvas, isso é indiscutível. Mas será mesmo que Cristo estava abrindo uma possibilidade de apostasia e de perda de salvação para elas? A resposta é que sim, analisando o mesmo contexto. Ele diz que aqueles ramos poderiam ser cortados (Jo.15:2) e que poderiam não permanecer na videira (v.4), que era ele mesmo. Deixando de fazer parte do Corpo, deixariam de ser salvos, pois apenas serão salvos os que estão em Cristo, e não fora dele.
O verso 6 mostra com ainda mais clareza que este “cortar” não significa apenas a “perda da recompensa”, mas a própria perda da salvação, com a consequente condenação ao inferno. Ele diz:
“Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados” (João 15:6)
Estes ramos, que estavam em Cristo mas não permaneceram nele, serão cortados, jogados fora, apanhados, lançados ao fogo e queimados, que é exatamente a mesma linguagem empregada aos ímpios que serão condenados (Mt.13:40; Mt.7:19; Mc.9:44; Ap.20:14). Portanto, temos aqui o retrato perfeito de pessoas que estavam salvas em Cristo, e que, mesmo assim, poderiam ser excluídas do Corpo, lançadas ao fogo e queimadas.
Aquelas palavras estavam sendo aplicadas primeiramente aos onze discípulos que ali estavam, mas, logicamente, também se aplicam por extensão a qualquer cristão que hoje esteja em Cristo. A mensagem transmitida era muito clara: não basta apenas estar em Cristo, é preciso permanecer nele até o fim, e a possibilidade da apostasia (ser cortado e lançado ao fogo) era real e existente.
• 1ª Coríntios 9:27
“Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1ª Coríntios 9:27)
Este é um texto que não precisamos provar pelo contexto que se trata de pessoas já salvas, porque Paulo fala de si mesmo, e os calvinistas creem que Paulo era um predestinado à salvação incondicional. O foco da questão, então, fica por conta do “reprovado”. Arminianos creem que essa reprovação é a perda da salvação e consequente condenação no dia do juízo. Como os calvinistas negam que seja possível perder a salvação, eles são obrigados a sustentar a tese de que essa reprovação é a mera perda de galardão no Céu.
Logo de cara é difícil imaginar alguém que está salvo no Céu e reprovado. O bom senso nos diz que os aprovados são salvos e os reprovados são condenados, assim como em uma prova de vestibular, em que só é possível passar (ser aprovado) e não passar (ser reprovado). Sustentar a tese de que é possível passar (ser salvo) sem ser aprovado é algo tão ilógico quanto alegar o inverso, de que é possível não passar (ser condenado) sem ser reprovado.
Em toda a Bíblia, a aprovação refere-se à salvação geral dos crentes e a reprovação refere-se à perdição dos descrentes. Não há nenhum lugar da Bíblia que mostre que Deus rejeitou alguém que foi salvo, e nenhum lugar que diga que Deus aprovou alguém que foi condenado. 1ª Coríntios 4:5 nos diz que todos os crentes que forem salvos na volta de Jesus receberão a Sua aprovação (1Co.4:5). Não diz que parte dos crentes salvos será aprovada e outra parte será reprovada, mas salva assim mesmo.
Além disso, o termo “reprovado” sempre se refere a alguém que perde a salvação, e não a alguém que permanece salvo mesmo sem uma recompensa. Não precisamos ir muito longe: basta conferirmos o que o mesmo apóstolo disse aos mesmos coríntios e usando a mesma palavra para se referir a alguém que se desviou da fé e não está mais em Cristo:
“Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos. Não percebem que Cristo Jesus está em vocês? A não ser que tenham sido reprovados!” (2ª Coríntios 13:5)
Por este texto, vemos que por “reprovado” Paulo entendia como sendo aquele que não estava na fé e não tinha Cristo em si mesmo. Sem Cristo e sem fé, não há qualquer salvação! Paulo também disse que os que são reprovados tem a mente totalmente depravada e resistem à verdade (2Tm.3:8), e diz que “eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e reprovados para qualquer boa obra” (Tt.1:6).
Como vemos, a reprovação nunca é sinônimo de “salvação sem recompensa”. Ela sempre, em todas as ocasiões, incluindo pelo uso do próprio Paulo e aos mesmos destinatários, se refere a pessoas não-salvas, totalmente depravadas, desqualificadas para qualquer boa obra, que não estão mais na fé nem tem Jesus em seus corações. À vista disso, é realmente uma forçação de barra alegar que os reprovados continuam salvos. Isso é tão ilógico quanto admitir que há salvos que não recebem recompensa nenhuma (que é o que foi argumentado por eles), pois a própria vida eterna já é uma recompensa, e ela é livremente desfrutada por todos os salvos.
Paulo também não estaria tão disposto a fazer do seu corpo seu escravo e esmurrá-lo até a sujeição se fosse por algo que não envolvesse salvação ou perdição, mas meros bens futuros a mais do que outros. Se todos os justos desfrutam igualmente da vida eterna, a “recompensa” a mais que alguns ensinam se resumiria, como eles dizem, a uma “mansão maior e mais bonita no Céu”, e é realmente suspeito se Paulo iria se sujeitar a tudo aquilo que o texto diz se o que estivesse em jogo não fosse algo realmente importante, como vida eterna e morte eterna.
Calvinistas não tratam o texto conforme o seu rigor, não o interpretam como tratando de realidades eternas diferentes e opostas entre si, mas o resumem a algo muito menos importante, subtraindo do texto a sua significância. Mas há também razões contextuais que nos mostram que Paulo estava falando da perda da salvação. Logo em seguida, ao entrar no capítulo 10, Paulo prossegue citando o exemplo de reprovação dos israelitas, e diz:
“Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso os seus corpos ficaram espalhados no deserto. Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram” (1ª Coríntios 10:1-6)
Como no original não havia nenhuma divisão entre capítulos e versículos, o capítulo 10 sucedia imediatamente o verso 9:27, que é o último do capítulo 9. Paulo não estava mudando de assunto, mas complementando a mesma coisa que havia sido abordada, citando alguns exemplos que elucidavam aquilo que ele entendia como sendo a “reprovação”. O “porque” do verso 1 é claramente um complemento do que foi dito no último verso do capítulo anterior, continuando a mesma mensagem, com uma finalidade explicativa.
Ao citar um exemplo de reprovação, ele faz uso dos acontecimentos em torno dos israelitas na antiga aliança. Ele diz que Deus reprovou a maioria deles, e deixa implícito que esses reprovados não apenas perderam uma recompensa, pois seus corpos ficaram esplhados pelo deserto (mortos) como exemplo (tipologia) para nós, sobre o risco de cairmos em morte eterna, como os israelitas que morreram no deserto por desobedecerem a Deus. E ele finaliza dizendo:
“Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está escrito: ‘O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra’. Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram – e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram – e foram mortos por serpentes. E não se queixem, como alguns deles se queixaram – e foram mortos pelo anjo destruidor. Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos. Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (1ª Coríntios 10:7-12)
Paulo prossegue citando outros exemplos dos pecados cometidos pelos israelitas de outrora e da punição que eles receberam, citando a idolatria, a imoralidade e a murmuração, e a punição como sendo a morte em todos os casos. Ele diz que aquilo serve de exemplo para nós, porque o mesmo pode acontecer conosco nos dias de hoje. Aquele que está de pé tem que se cuidar para não cair.
Diante de todo o contexto, este “cair” e esta “reprovação” de que Paulo tanto falava nunca esteve relacionado à uma salvação sem recompensa, mas sim à perda da salvação, com a consequente condenação à morte no dia do juízo, exatamente como ocorreu com os israelitas rebeldes e reprovados no deserto.
Se tudo o que Paulo estava dizendo era que esse “cair” e essa “reprovação” nada mais é senão apenas uma perda de recompensa para pessoas ainda salvas, todo o contexto se perderia e suas analogias seriam inúteis e falhas, já que em nenhuma analogia ele cita uma pessoa salva sem recompensa, mas fala sempre da condenação com a morte de pessoas que não foram salvas.
Se isso não é suficiente para mostrar que essa reprovação não se resume a perda de recompensa, que os calvinistas nos mostrem as maravilhosas provas lógicas e contextuais que indiquem de forma lúcida e clara que tais reprovados são “salvos sem recompensa”. A verdade é que eles não tem nenhuma prova e nenhum argumento, eles simplesmente afirmam, porque a priori estão amarrados à crença de que o crente não pode perder a salvação de jeito nenhum, e são forçados a manipularem e distorcerem o sentido claro dos textos bíblicos para que eles possam se alinhar a esta visão distorcida da realidade.
• Tiago 5:19-20
“Meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade e alguém o trouxer de volta, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados” (Tiago 5:19,20)
Outro detalhe que nos mostra que essas pessoas eram salvas é o fato de já estarem limpas (v.3). Sabemos que a santificação é um processo de purificação que sucede a regeneração. Pessoas são salvas por Deus, regeneradas e, então, santificadas. Se essas pessoas já estavam limpas pela palavra de Cristo, é porque elas já haviam sido regeneradas e estavam, consequentemente, salvas, naquele momento.
Mais uma coisa que nos ajuda a concluir que tais “ramos” estavam salvos era que eles teriam que permanecer em Cristo. Se eles tinham que “permanecer”, é porque já estavam nele. Da mesma forma que é sem sentido dizer para alguém “permanecer em casa” se não está em casa, é sem razão dizer para alguém “permanecer em Cristo” se já não está em Cristo. E, se elas estavam em Cristo, faziam parte do Corpo e eram genuinamente cristãs. Cristãos nominais não fazem parte do Corpo nem estão em Cristo, embora frequentem uma igreja física. O texto está claramente tratando de cristãos de fato.
Por fim, o último ponto que nos leva a crer que Jesus estava falando de pessoas já salvas é que ele dirigia aquelas palavras, em primeiro lugar, aos seus próprios discípulos, que ali estavam. Estavam ali Cristo e onze apóstolos, pois Judas já havia deixado aquele lugar para ir vender Jesus aos sacerdotes (Jo.13:30). Depois que Judas saiu, Jesus continuou seu discurso aos onze discípulos e, referindo-se a eles, disse as palavras que lemos no capítulo 15. Partindo da premissa óbvia de que aqueles onze discípulos eram verdadeiros crentes e pessoas já salvas, é lógico que aquilo se aplica a pessoas regeneradas.
Que aquelas palavras foram ditas a pessoas já salvas, isso é indiscutível. Mas será mesmo que Cristo estava abrindo uma possibilidade de apostasia e de perda de salvação para elas? A resposta é que sim, analisando o mesmo contexto. Ele diz que aqueles ramos poderiam ser cortados (Jo.15:2) e que poderiam não permanecer na videira (v.4), que era ele mesmo. Deixando de fazer parte do Corpo, deixariam de ser salvos, pois apenas serão salvos os que estão em Cristo, e não fora dele.
O verso 6 mostra com ainda mais clareza que este “cortar” não significa apenas a “perda da recompensa”, mas a própria perda da salvação, com a consequente condenação ao inferno. Ele diz:
“Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados” (João 15:6)
Estes ramos, que estavam em Cristo mas não permaneceram nele, serão cortados, jogados fora, apanhados, lançados ao fogo e queimados, que é exatamente a mesma linguagem empregada aos ímpios que serão condenados (Mt.13:40; Mt.7:19; Mc.9:44; Ap.20:14). Portanto, temos aqui o retrato perfeito de pessoas que estavam salvas em Cristo, e que, mesmo assim, poderiam ser excluídas do Corpo, lançadas ao fogo e queimadas.
Aquelas palavras estavam sendo aplicadas primeiramente aos onze discípulos que ali estavam, mas, logicamente, também se aplicam por extensão a qualquer cristão que hoje esteja em Cristo. A mensagem transmitida era muito clara: não basta apenas estar em Cristo, é preciso permanecer nele até o fim, e a possibilidade da apostasia (ser cortado e lançado ao fogo) era real e existente.
• 1ª Coríntios 9:27
“Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1ª Coríntios 9:27)
Este é um texto que não precisamos provar pelo contexto que se trata de pessoas já salvas, porque Paulo fala de si mesmo, e os calvinistas creem que Paulo era um predestinado à salvação incondicional. O foco da questão, então, fica por conta do “reprovado”. Arminianos creem que essa reprovação é a perda da salvação e consequente condenação no dia do juízo. Como os calvinistas negam que seja possível perder a salvação, eles são obrigados a sustentar a tese de que essa reprovação é a mera perda de galardão no Céu.
Logo de cara é difícil imaginar alguém que está salvo no Céu e reprovado. O bom senso nos diz que os aprovados são salvos e os reprovados são condenados, assim como em uma prova de vestibular, em que só é possível passar (ser aprovado) e não passar (ser reprovado). Sustentar a tese de que é possível passar (ser salvo) sem ser aprovado é algo tão ilógico quanto alegar o inverso, de que é possível não passar (ser condenado) sem ser reprovado.
Em toda a Bíblia, a aprovação refere-se à salvação geral dos crentes e a reprovação refere-se à perdição dos descrentes. Não há nenhum lugar da Bíblia que mostre que Deus rejeitou alguém que foi salvo, e nenhum lugar que diga que Deus aprovou alguém que foi condenado. 1ª Coríntios 4:5 nos diz que todos os crentes que forem salvos na volta de Jesus receberão a Sua aprovação (1Co.4:5). Não diz que parte dos crentes salvos será aprovada e outra parte será reprovada, mas salva assim mesmo.
Além disso, o termo “reprovado” sempre se refere a alguém que perde a salvação, e não a alguém que permanece salvo mesmo sem uma recompensa. Não precisamos ir muito longe: basta conferirmos o que o mesmo apóstolo disse aos mesmos coríntios e usando a mesma palavra para se referir a alguém que se desviou da fé e não está mais em Cristo:
“Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos. Não percebem que Cristo Jesus está em vocês? A não ser que tenham sido reprovados!” (2ª Coríntios 13:5)
Por este texto, vemos que por “reprovado” Paulo entendia como sendo aquele que não estava na fé e não tinha Cristo em si mesmo. Sem Cristo e sem fé, não há qualquer salvação! Paulo também disse que os que são reprovados tem a mente totalmente depravada e resistem à verdade (2Tm.3:8), e diz que “eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e reprovados para qualquer boa obra” (Tt.1:6).
Como vemos, a reprovação nunca é sinônimo de “salvação sem recompensa”. Ela sempre, em todas as ocasiões, incluindo pelo uso do próprio Paulo e aos mesmos destinatários, se refere a pessoas não-salvas, totalmente depravadas, desqualificadas para qualquer boa obra, que não estão mais na fé nem tem Jesus em seus corações. À vista disso, é realmente uma forçação de barra alegar que os reprovados continuam salvos. Isso é tão ilógico quanto admitir que há salvos que não recebem recompensa nenhuma (que é o que foi argumentado por eles), pois a própria vida eterna já é uma recompensa, e ela é livremente desfrutada por todos os salvos.
Paulo também não estaria tão disposto a fazer do seu corpo seu escravo e esmurrá-lo até a sujeição se fosse por algo que não envolvesse salvação ou perdição, mas meros bens futuros a mais do que outros. Se todos os justos desfrutam igualmente da vida eterna, a “recompensa” a mais que alguns ensinam se resumiria, como eles dizem, a uma “mansão maior e mais bonita no Céu”, e é realmente suspeito se Paulo iria se sujeitar a tudo aquilo que o texto diz se o que estivesse em jogo não fosse algo realmente importante, como vida eterna e morte eterna.
Calvinistas não tratam o texto conforme o seu rigor, não o interpretam como tratando de realidades eternas diferentes e opostas entre si, mas o resumem a algo muito menos importante, subtraindo do texto a sua significância. Mas há também razões contextuais que nos mostram que Paulo estava falando da perda da salvação. Logo em seguida, ao entrar no capítulo 10, Paulo prossegue citando o exemplo de reprovação dos israelitas, e diz:
“Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso os seus corpos ficaram espalhados no deserto. Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram” (1ª Coríntios 10:1-6)
Como no original não havia nenhuma divisão entre capítulos e versículos, o capítulo 10 sucedia imediatamente o verso 9:27, que é o último do capítulo 9. Paulo não estava mudando de assunto, mas complementando a mesma coisa que havia sido abordada, citando alguns exemplos que elucidavam aquilo que ele entendia como sendo a “reprovação”. O “porque” do verso 1 é claramente um complemento do que foi dito no último verso do capítulo anterior, continuando a mesma mensagem, com uma finalidade explicativa.
Ao citar um exemplo de reprovação, ele faz uso dos acontecimentos em torno dos israelitas na antiga aliança. Ele diz que Deus reprovou a maioria deles, e deixa implícito que esses reprovados não apenas perderam uma recompensa, pois seus corpos ficaram esplhados pelo deserto (mortos) como exemplo (tipologia) para nós, sobre o risco de cairmos em morte eterna, como os israelitas que morreram no deserto por desobedecerem a Deus. E ele finaliza dizendo:
“Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está escrito: ‘O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra’. Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram – e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram – e foram mortos por serpentes. E não se queixem, como alguns deles se queixaram – e foram mortos pelo anjo destruidor. Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos. Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (1ª Coríntios 10:7-12)
Paulo prossegue citando outros exemplos dos pecados cometidos pelos israelitas de outrora e da punição que eles receberam, citando a idolatria, a imoralidade e a murmuração, e a punição como sendo a morte em todos os casos. Ele diz que aquilo serve de exemplo para nós, porque o mesmo pode acontecer conosco nos dias de hoje. Aquele que está de pé tem que se cuidar para não cair.
Diante de todo o contexto, este “cair” e esta “reprovação” de que Paulo tanto falava nunca esteve relacionado à uma salvação sem recompensa, mas sim à perda da salvação, com a consequente condenação à morte no dia do juízo, exatamente como ocorreu com os israelitas rebeldes e reprovados no deserto.
Se tudo o que Paulo estava dizendo era que esse “cair” e essa “reprovação” nada mais é senão apenas uma perda de recompensa para pessoas ainda salvas, todo o contexto se perderia e suas analogias seriam inúteis e falhas, já que em nenhuma analogia ele cita uma pessoa salva sem recompensa, mas fala sempre da condenação com a morte de pessoas que não foram salvas.
Se isso não é suficiente para mostrar que essa reprovação não se resume a perda de recompensa, que os calvinistas nos mostrem as maravilhosas provas lógicas e contextuais que indiquem de forma lúcida e clara que tais reprovados são “salvos sem recompensa”. A verdade é que eles não tem nenhuma prova e nenhum argumento, eles simplesmente afirmam, porque a priori estão amarrados à crença de que o crente não pode perder a salvação de jeito nenhum, e são forçados a manipularem e distorcerem o sentido claro dos textos bíblicos para que eles possam se alinhar a esta visão distorcida da realidade.
• Tiago 5:19-20
“Meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade e alguém o trouxer de volta, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados” (Tiago 5:19,20)
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
As palavras acima de Tiago dificilmente podem ser bem compreendidas dentro do prisma calvinista de que é impossível perder a salvação. Isso porque ele está falando de uma pessoa salva, que estava na verdade, no caminho, pois apenas alguém que está trilhando o caminho pode se “desviar” dele. Nenhum descrente ou não-regenerado está trilhando o caminho da salvação, e, consequentemente, nenhum deles pode se “desviar” de um caminho no qual nunca esteve. Se ele se desviou da verdade, é porque antes cria na verdade, que é Jesus Cristo.
Mas a continuação do verso nos mostra que tal pessoa desviada deixa o caminho. Se ela precisa ser trazida de volta ao caminho, é porque o deixou neste desvio. E, fora do caminho, não há salvação. O texto também mostra que, se uma pessoa a converter novamente ao caminho, salvará uma alma da morte, o que mostra claramente que tal pessoa desviada teria a morte eterna como destino final caso não houvesse ninguém que a trouxesse de volta ao caminho. A perseverança é nitidamente condicional e a possibilidade de apostasia total é real.
Isso tudo demonstra que é possível que alguém que hoje está no caminho venha a deixá-lo, ficando de fora e perecendo para sempre. Para os calvinistas, alguém que se perde nunca foi um crente verdadeiro; consequentemente, nunca esteve no caminho. Para a Bíblia, é possível se desviar do caminho uma vez que já se esteve nele. Para os calvinistas, alguém que está no caminho pode apenas “tropeçar”, mas nunca cair definitivamente, nunca se desviar ao ponto de perder a salvação. Para a Bíblia, esse que se desvia corre o risco de morrer eternamente, caso ninguém o convença de voltar à fé. São conceitos diametralmente opostos.
• 2ª Pedro 2:20-22
“Se, tendo escapado das contaminações do mundo por meio do conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, encontram-se novamente nelas enredados e por elas dominados, estão em pior estado do que no princípio. Teria sido melhor que não tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, depois de o terem conhecido, voltarem as costas para o santo mandamento que lhes foi transmitido. Confirma-se neles que é verdadeiro o provérbio: ‘O cão voltou ao seu vômito’ e ainda: ‘A porca lavada voltou a revolver-se na lama’” (2ª Pedro 2:20-22)
Este texto de Pedro descreve com perfeição a realidade de que é possível que alguém que foi uma vez regenerado volte aos pecados de outrora. Ele diz que certas pessoas escaparam das contaminações do mundo por meio de Jesus Cristo (v.20), o que descreve com perfeição a regeneração que ocorre no pecador que crê. Mais uma vez devemos observar que é um ponto comum entre calvinistas e arminianos que a santificação é um processo de sucede a regeneração, no seguinte esquema:
Chamado
Regeneração
Santificação
Glorificação
Mas note que essas pessoas já tinham escapado das contaminações do mundo (2Pe.2:20), e através de Jesus Cristo. Isso obviamente significa que elas já tinham passado pelo estágio da regeneração e estavam em processo de santificação. Se elas já tinham escapado da contaminação do mundo, é porque não estavam mais contaminadas nem estavam mais no mundo. Se não estavam mais contaminadas então estavam santificadas, e se não estavam mais no mundo então estavam em Cristo.
De outra forma, teríamos que sustentar que pessoas não-eleitas e não-regeneradas podem mesmo assim escapar das contaminações do mundo de alguma forma, o que afundaria todo o conceito de depravação total (que inclui a contaminação da carne e o apego ao mundo), que é crido tanto por calvinistas como por arminianos.
É somente pela regeneração que o homem que estava completamente depravado e afundado no pecado pode “escapar das contaminações do mundo por meio de Jesus Cristo”, e, se é assim, segue-se logicamente que aquelas pessoas já tinham obtido a regeneração e, consequentemente, estavam salvas, naquele momento.
A continuação do verso exemplifica isso muito bem, ao se citar o exemplo da porca que foi lavada, mas voltou ao vômito (v.22). A porca sendo lavada é uma figura do homem pecador sendo purificado pela graça. Mas o texto mostra que é possível voltar ao vômito, que é o pecado. Mais uma vez, o conceito de voltar ao pecado depois que foi uma vez salvo é claro e evidente. R. C. Sproul é um dos que lutam contra a clareza do texto bíblico, dizendo:
“Pedro também fala da porca lavada voltando a revolver-se no lamaçal e do cão que volta a seu vômito, comparando-os a pessoas que se desviaram depois de serem instruídas no caminho da justiça. Há falsos convertidos cujas naturezas nunca foram mudadas (2 Pe.2.22)”
Como vemos, ele afirma que aquelas pessoas nunca foram regeneradas. Mas, se elas não foram regeneradas, como haviam escapado das contaminações do mundo? E como haviam sido lavadas? Deus lava sem regenerar? Ele tira do mundo sem trazer para Cristo? Ele santifica quem ele não salva? Sproul apenas afirma que aqueles “porcos” continuavam sendo “porcos”, o que não resolve em nada a questão.
Era óbvio que porcos continuariam sendo porcos, da mesma forma que pessoas continuam sendo pessoas, estando elas no pecado ou não. O que determina se aquelas pessoas foram regeneradas não é por continuar possuindo a mesma natureza, que é impossível que se mude, e sim se essa natureza foi purificada do pecado ou não.
Todos nós somos homens pecadores que continuaremos sendo homens pecadores estando regenerados ou não. O que muda no homem regenerado é que ele é limpo destes pecados ao invés de continuar vivendo neles. Pedro nos diz que aqueles porcos foram limpos, que é uma figura do homem que é purificado do pecado. O fato de a porca ter voltado à lama só prova que é possível um regenerado voltar a viver no pecado, e não que ele nunca foi regenerado!
Da mesma forma que uma porca lavada pode voltar à lama, um homem regenerado pode voltar ao pecado. Era isso o que estava sendo ensinado ali. Presumir que a porca teria que mudar sua natureza e se tornar outro animal na analogia de Pedro é algo completamente ridículo. O que determina é o estado da porca e não o fato dela ser uma porca, da mesma forma que o que determina a salvação do homem é o estado do homem (de regenerado ou não-regenerado), e não o fato dele ser um homem!
Tais pessoas que voltam ao pecado depois de terem sido santificadas perdem a salvação porque se encontram em pior estado do que no princípio, quando ainda não eram salvas (2Pe.2:21). Se quando elas não conheciam o caminho da justiça elas não eram salvas, então depois de terem se desviado do caminho elas também não são salvas, pois se encontram em pior estado do que no princípio. Consequentemente, elas não podem permanecer como salvas.
Se a salvação não pudesse ser perdida e elas continuassem salvas, elas obviamente estariam em estado melhor do que quando elas ainda não conheciam a verdade, pois antes elas não eram salvas, e agora são. Se elas estão em pior estado, é porque caíram ao estado de não-salvas e tem ainda menos chances de recuperar aquilo que perderam.
• Mateus 24:24
“Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos” (Mateus 24:24)
Calvinistas argumentam, com base neste texto, que é impossível enganar os eleitos. Mas não é isso o que o texto diz. O texto não está dizendo “se fosse possível”, e sim “se possível”, no sentido de “se conseguir”. Este é o sentido que permeia todo o Novo Testamento nas ocasiões em que o mesmo termo é empregado em outras passagens. Atos 20:16, por exemplo, diz:
“Paulo tinha decidido não aportar em Éfeso, para não se demorar na província da Ásia, pois estava com pressa de chegar a Jerusalém, se possível antes do dia de Pentecoste” (Atos 20:16)
“Se possível”, logicamente, está no sentido de “se conseguir”. Trata-se de uma possibilidade, e não de uma impossibilidade. Prova disso é que Paulo de fato conseguiu chegar dois antes do Pentecoste (At.21:17). Como vemos, o mesmo termo é empregado para algo tão possível que, de fato, ocorreu! Outro texto que nos mostra a possibilidade aberta dentro do termo “se possível” é Romanos 12:18, que diz:
“Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 12:18)
Mais uma vez, vemos que o “se possível” abre uma possibilidade, ao contrário de uma impossibilidade. Se não fosse assim, teríamos que pensar que Paulo estava dizendo que viveríamos inevitavelmente em guerra com todos os homens e que nada poderíamos fazer para mudar isso! Logicamente, o “se possível” abre uma possibilidade no sentido de “se conseguir”. Desta forma, se for possível, temos que viver em paz com todos os homens; se for possível Paulo chegaria antes do Pentecoste, e se for possível o anticristo enganará os eleitos.
A possibilidade existe: os eleitos podem ser enganados, da mesma forma que Paulo podia chegar em Jerusalém antes do Pentecoste e que nós podemos viver em paz com todos os homens. São casos similares que presumem uma interpretação linear que seja coerente com o todo das Escrituras, que, mais uma vez, demonstram que até mesmo alguns que hoje estão no grupo dos eleitos podem vir a ser enganados pelo anticristo, desviando-se da fé.
• Mateus 5:13/Marcos 9:50
“Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens” (Mateus 5:13)
“O sal é bom, mas se deixar de ser salgado, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros” (Marcos 9:50)
As palavras acima deixam claro que é possível que o sal perca seu sabor, de modo que não possa mais ser restaurado. Obviamente, Jesus não estava preocupado com o sal, mas estava fazendo uma analogia com os crentes, que ele disse que são “o sal da terra” (Mt.5:13), Mas, ao invés de dizer que este sal nunca poderá perder seu sabor ou deixar de ser salgado (o que indicaria logicamente a perda da salvação), ele diz exatamente o contrário, confirmando, mais uma vez, que uma vez salvo não é, necessariamente, salvo para sempre.
O termo “restaurar” nos mostra que a referência é a pessoas que uma vez foram salvas, pois se o texto estivesse falando de falsos convertidos que nunca foram salvos de verdade ele nunca teria empregado a palavra “restaurar”, que induz ao fato de que já foram transformados uma vez. Eles não poderiam “perder” o sabor se já não tivessem tido o sabor. Se Jesus estivesse falando de falsos convertidos, ele não teria dito que eles eram o sal da terra, mas que pareciam ser o sal da terra. Mas o texto transmite a ideia de algo real, de alguém que realmente foi salvo uma vez.
Além disso, o mundo não é “sal”, e nem pode ser considerado “bom”, como Jesus disse em relação ao sal (Mc.9:50). O sal é, então, claramente uma figura dos crentes fieis. Mas Jesus também disse que esse sal pode perder o seu sabor e nunca mais ser restaurado, que não servirá para nada e que será jogado fora e pisado pelos homens (Mt.5:13).
Isso é nitidamente um retrato da condenação de pessoas que se perderam. É difícil imaginar que Jesus estivesse dizendo que pessoas ainda salvas não servissem para nada, não pudessem ser restauradas e seriam pisadas pelos homens. Isso a Bíblia sempre fala em relação aos descrentes, nunca aos crentes. Em Malaquias, por exemplo, Deus disse:
“Porque eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha, e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo. E pisareis os ímpios, porque se farão cinzas debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia que farei, diz o Senhor dos Exércitos” (Malaquias 4:1-3)
Os que são “pisados”, portanto, se refere aos ímpios que serão condenados no juízo. Jesus não estava inventando ou acrescentando nada que já não tivesse sido claramente dito por Deus acerca dos ímpios e que era muito bem conhecido pelos judeus. Eles sabiam perfeitamente que o “pisados pelos homens” era uma referência à condenação dos ímpios descrita em Malaquias, onde exatamente esta mesma linguagem havia sido empregada.
Portanto, por consequencia lógica essa associação demonstra que o “sal” não apenas “perde uma recompensa”, mas incorre na mesma condenação dos ímpios, e isso só pode ocorrer por ter perdido a salvação, já que ele realmente era um “sal da terra” antes, e não um falso convertido. A possibilidade da perdição foi aberta, então ela pode acontecer.
• Romanos 11:17-23
“Se alguns ramos foram cortados, e você, sendo oliveira brava, foi enxertado entre os outros e agora participa da seiva que vem da raiz da oliveira, não se glorie contra esses ramos. Se o fizer, saiba que não é você quem sustenta a raiz, mas a raiz a você. Então você dirá: ‘Os ramos foram cortados, para que eu fosse enxertado’. Está certo. Eles, porém, foram cortados devido à incredulidade, e você permanece pela fé. Não se orgulhe, mas tema. Pois se Deus não poupou os ramos naturais, também não poupará você. Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, mas bondade para com você, desde que permaneça na bondade dele. De outra forma, você também será cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar” (Romanos 11:17-23)
Este é um dos textos mais difíceis de um calvinista deturpar e dizer que aquelas pessoas nunca foram salvas, ou que apenas perderam uma recompensa. O texto é claro: aqueles indivíduos (os gentios convertidos) foram “enxertados” na oliveira, representando que eles agora estavam em Cristo, mediante a fé. Mas ao invés de Paulo dizer que eles estariam garantidos na oliveira não importa o que acontecesse, ele faz justamente o contrário, se antecipando a essa possível objeção e dizendo que Deus não lhes pouparia caso desobedecessem, e que havia a possibilidade de eles serem cortados da oliveira.
Mais uma vez, vemos aberta a possibilidade de apostasia, de ser cortado do Reino, de deixar a oliveira, mesmo já estando lá uma vez. Ele não diz que as pessoas que foram enxertadas na oliveira ali permaneceriam incondicionalmente para sempre, mas os alerta com tanto rigor para a possibilidade de serem cortados que é impossível pensar que ele fosse um “calvinista”. Além da permanência na oliveira ser condicional (v.22), ainda havia como ser cortado (v.22), razão pela qual eles deveriam “temer” (v.20). Temer o que, se é realmente impossível perder a salvação?
Mas a continuação do verso nos mostra que tal pessoa desviada deixa o caminho. Se ela precisa ser trazida de volta ao caminho, é porque o deixou neste desvio. E, fora do caminho, não há salvação. O texto também mostra que, se uma pessoa a converter novamente ao caminho, salvará uma alma da morte, o que mostra claramente que tal pessoa desviada teria a morte eterna como destino final caso não houvesse ninguém que a trouxesse de volta ao caminho. A perseverança é nitidamente condicional e a possibilidade de apostasia total é real.
Isso tudo demonstra que é possível que alguém que hoje está no caminho venha a deixá-lo, ficando de fora e perecendo para sempre. Para os calvinistas, alguém que se perde nunca foi um crente verdadeiro; consequentemente, nunca esteve no caminho. Para a Bíblia, é possível se desviar do caminho uma vez que já se esteve nele. Para os calvinistas, alguém que está no caminho pode apenas “tropeçar”, mas nunca cair definitivamente, nunca se desviar ao ponto de perder a salvação. Para a Bíblia, esse que se desvia corre o risco de morrer eternamente, caso ninguém o convença de voltar à fé. São conceitos diametralmente opostos.
• 2ª Pedro 2:20-22
“Se, tendo escapado das contaminações do mundo por meio do conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, encontram-se novamente nelas enredados e por elas dominados, estão em pior estado do que no princípio. Teria sido melhor que não tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, depois de o terem conhecido, voltarem as costas para o santo mandamento que lhes foi transmitido. Confirma-se neles que é verdadeiro o provérbio: ‘O cão voltou ao seu vômito’ e ainda: ‘A porca lavada voltou a revolver-se na lama’” (2ª Pedro 2:20-22)
Este texto de Pedro descreve com perfeição a realidade de que é possível que alguém que foi uma vez regenerado volte aos pecados de outrora. Ele diz que certas pessoas escaparam das contaminações do mundo por meio de Jesus Cristo (v.20), o que descreve com perfeição a regeneração que ocorre no pecador que crê. Mais uma vez devemos observar que é um ponto comum entre calvinistas e arminianos que a santificação é um processo de sucede a regeneração, no seguinte esquema:
Chamado
Regeneração
Santificação
Glorificação
Mas note que essas pessoas já tinham escapado das contaminações do mundo (2Pe.2:20), e através de Jesus Cristo. Isso obviamente significa que elas já tinham passado pelo estágio da regeneração e estavam em processo de santificação. Se elas já tinham escapado da contaminação do mundo, é porque não estavam mais contaminadas nem estavam mais no mundo. Se não estavam mais contaminadas então estavam santificadas, e se não estavam mais no mundo então estavam em Cristo.
De outra forma, teríamos que sustentar que pessoas não-eleitas e não-regeneradas podem mesmo assim escapar das contaminações do mundo de alguma forma, o que afundaria todo o conceito de depravação total (que inclui a contaminação da carne e o apego ao mundo), que é crido tanto por calvinistas como por arminianos.
É somente pela regeneração que o homem que estava completamente depravado e afundado no pecado pode “escapar das contaminações do mundo por meio de Jesus Cristo”, e, se é assim, segue-se logicamente que aquelas pessoas já tinham obtido a regeneração e, consequentemente, estavam salvas, naquele momento.
A continuação do verso exemplifica isso muito bem, ao se citar o exemplo da porca que foi lavada, mas voltou ao vômito (v.22). A porca sendo lavada é uma figura do homem pecador sendo purificado pela graça. Mas o texto mostra que é possível voltar ao vômito, que é o pecado. Mais uma vez, o conceito de voltar ao pecado depois que foi uma vez salvo é claro e evidente. R. C. Sproul é um dos que lutam contra a clareza do texto bíblico, dizendo:
“Pedro também fala da porca lavada voltando a revolver-se no lamaçal e do cão que volta a seu vômito, comparando-os a pessoas que se desviaram depois de serem instruídas no caminho da justiça. Há falsos convertidos cujas naturezas nunca foram mudadas (2 Pe.2.22)”
Como vemos, ele afirma que aquelas pessoas nunca foram regeneradas. Mas, se elas não foram regeneradas, como haviam escapado das contaminações do mundo? E como haviam sido lavadas? Deus lava sem regenerar? Ele tira do mundo sem trazer para Cristo? Ele santifica quem ele não salva? Sproul apenas afirma que aqueles “porcos” continuavam sendo “porcos”, o que não resolve em nada a questão.
Era óbvio que porcos continuariam sendo porcos, da mesma forma que pessoas continuam sendo pessoas, estando elas no pecado ou não. O que determina se aquelas pessoas foram regeneradas não é por continuar possuindo a mesma natureza, que é impossível que se mude, e sim se essa natureza foi purificada do pecado ou não.
Todos nós somos homens pecadores que continuaremos sendo homens pecadores estando regenerados ou não. O que muda no homem regenerado é que ele é limpo destes pecados ao invés de continuar vivendo neles. Pedro nos diz que aqueles porcos foram limpos, que é uma figura do homem que é purificado do pecado. O fato de a porca ter voltado à lama só prova que é possível um regenerado voltar a viver no pecado, e não que ele nunca foi regenerado!
Da mesma forma que uma porca lavada pode voltar à lama, um homem regenerado pode voltar ao pecado. Era isso o que estava sendo ensinado ali. Presumir que a porca teria que mudar sua natureza e se tornar outro animal na analogia de Pedro é algo completamente ridículo. O que determina é o estado da porca e não o fato dela ser uma porca, da mesma forma que o que determina a salvação do homem é o estado do homem (de regenerado ou não-regenerado), e não o fato dele ser um homem!
Tais pessoas que voltam ao pecado depois de terem sido santificadas perdem a salvação porque se encontram em pior estado do que no princípio, quando ainda não eram salvas (2Pe.2:21). Se quando elas não conheciam o caminho da justiça elas não eram salvas, então depois de terem se desviado do caminho elas também não são salvas, pois se encontram em pior estado do que no princípio. Consequentemente, elas não podem permanecer como salvas.
Se a salvação não pudesse ser perdida e elas continuassem salvas, elas obviamente estariam em estado melhor do que quando elas ainda não conheciam a verdade, pois antes elas não eram salvas, e agora são. Se elas estão em pior estado, é porque caíram ao estado de não-salvas e tem ainda menos chances de recuperar aquilo que perderam.
• Mateus 24:24
“Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos” (Mateus 24:24)
Calvinistas argumentam, com base neste texto, que é impossível enganar os eleitos. Mas não é isso o que o texto diz. O texto não está dizendo “se fosse possível”, e sim “se possível”, no sentido de “se conseguir”. Este é o sentido que permeia todo o Novo Testamento nas ocasiões em que o mesmo termo é empregado em outras passagens. Atos 20:16, por exemplo, diz:
“Paulo tinha decidido não aportar em Éfeso, para não se demorar na província da Ásia, pois estava com pressa de chegar a Jerusalém, se possível antes do dia de Pentecoste” (Atos 20:16)
“Se possível”, logicamente, está no sentido de “se conseguir”. Trata-se de uma possibilidade, e não de uma impossibilidade. Prova disso é que Paulo de fato conseguiu chegar dois antes do Pentecoste (At.21:17). Como vemos, o mesmo termo é empregado para algo tão possível que, de fato, ocorreu! Outro texto que nos mostra a possibilidade aberta dentro do termo “se possível” é Romanos 12:18, que diz:
“Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 12:18)
Mais uma vez, vemos que o “se possível” abre uma possibilidade, ao contrário de uma impossibilidade. Se não fosse assim, teríamos que pensar que Paulo estava dizendo que viveríamos inevitavelmente em guerra com todos os homens e que nada poderíamos fazer para mudar isso! Logicamente, o “se possível” abre uma possibilidade no sentido de “se conseguir”. Desta forma, se for possível, temos que viver em paz com todos os homens; se for possível Paulo chegaria antes do Pentecoste, e se for possível o anticristo enganará os eleitos.
A possibilidade existe: os eleitos podem ser enganados, da mesma forma que Paulo podia chegar em Jerusalém antes do Pentecoste e que nós podemos viver em paz com todos os homens. São casos similares que presumem uma interpretação linear que seja coerente com o todo das Escrituras, que, mais uma vez, demonstram que até mesmo alguns que hoje estão no grupo dos eleitos podem vir a ser enganados pelo anticristo, desviando-se da fé.
• Mateus 5:13/Marcos 9:50
“Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens” (Mateus 5:13)
“O sal é bom, mas se deixar de ser salgado, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros” (Marcos 9:50)
As palavras acima deixam claro que é possível que o sal perca seu sabor, de modo que não possa mais ser restaurado. Obviamente, Jesus não estava preocupado com o sal, mas estava fazendo uma analogia com os crentes, que ele disse que são “o sal da terra” (Mt.5:13), Mas, ao invés de dizer que este sal nunca poderá perder seu sabor ou deixar de ser salgado (o que indicaria logicamente a perda da salvação), ele diz exatamente o contrário, confirmando, mais uma vez, que uma vez salvo não é, necessariamente, salvo para sempre.
O termo “restaurar” nos mostra que a referência é a pessoas que uma vez foram salvas, pois se o texto estivesse falando de falsos convertidos que nunca foram salvos de verdade ele nunca teria empregado a palavra “restaurar”, que induz ao fato de que já foram transformados uma vez. Eles não poderiam “perder” o sabor se já não tivessem tido o sabor. Se Jesus estivesse falando de falsos convertidos, ele não teria dito que eles eram o sal da terra, mas que pareciam ser o sal da terra. Mas o texto transmite a ideia de algo real, de alguém que realmente foi salvo uma vez.
Além disso, o mundo não é “sal”, e nem pode ser considerado “bom”, como Jesus disse em relação ao sal (Mc.9:50). O sal é, então, claramente uma figura dos crentes fieis. Mas Jesus também disse que esse sal pode perder o seu sabor e nunca mais ser restaurado, que não servirá para nada e que será jogado fora e pisado pelos homens (Mt.5:13).
Isso é nitidamente um retrato da condenação de pessoas que se perderam. É difícil imaginar que Jesus estivesse dizendo que pessoas ainda salvas não servissem para nada, não pudessem ser restauradas e seriam pisadas pelos homens. Isso a Bíblia sempre fala em relação aos descrentes, nunca aos crentes. Em Malaquias, por exemplo, Deus disse:
“Porque eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha, e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo. E pisareis os ímpios, porque se farão cinzas debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia que farei, diz o Senhor dos Exércitos” (Malaquias 4:1-3)
Os que são “pisados”, portanto, se refere aos ímpios que serão condenados no juízo. Jesus não estava inventando ou acrescentando nada que já não tivesse sido claramente dito por Deus acerca dos ímpios e que era muito bem conhecido pelos judeus. Eles sabiam perfeitamente que o “pisados pelos homens” era uma referência à condenação dos ímpios descrita em Malaquias, onde exatamente esta mesma linguagem havia sido empregada.
Portanto, por consequencia lógica essa associação demonstra que o “sal” não apenas “perde uma recompensa”, mas incorre na mesma condenação dos ímpios, e isso só pode ocorrer por ter perdido a salvação, já que ele realmente era um “sal da terra” antes, e não um falso convertido. A possibilidade da perdição foi aberta, então ela pode acontecer.
• Romanos 11:17-23
“Se alguns ramos foram cortados, e você, sendo oliveira brava, foi enxertado entre os outros e agora participa da seiva que vem da raiz da oliveira, não se glorie contra esses ramos. Se o fizer, saiba que não é você quem sustenta a raiz, mas a raiz a você. Então você dirá: ‘Os ramos foram cortados, para que eu fosse enxertado’. Está certo. Eles, porém, foram cortados devido à incredulidade, e você permanece pela fé. Não se orgulhe, mas tema. Pois se Deus não poupou os ramos naturais, também não poupará você. Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, mas bondade para com você, desde que permaneça na bondade dele. De outra forma, você também será cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar” (Romanos 11:17-23)
Este é um dos textos mais difíceis de um calvinista deturpar e dizer que aquelas pessoas nunca foram salvas, ou que apenas perderam uma recompensa. O texto é claro: aqueles indivíduos (os gentios convertidos) foram “enxertados” na oliveira, representando que eles agora estavam em Cristo, mediante a fé. Mas ao invés de Paulo dizer que eles estariam garantidos na oliveira não importa o que acontecesse, ele faz justamente o contrário, se antecipando a essa possível objeção e dizendo que Deus não lhes pouparia caso desobedecessem, e que havia a possibilidade de eles serem cortados da oliveira.
Mais uma vez, vemos aberta a possibilidade de apostasia, de ser cortado do Reino, de deixar a oliveira, mesmo já estando lá uma vez. Ele não diz que as pessoas que foram enxertadas na oliveira ali permaneceriam incondicionalmente para sempre, mas os alerta com tanto rigor para a possibilidade de serem cortados que é impossível pensar que ele fosse um “calvinista”. Além da permanência na oliveira ser condicional (v.22), ainda havia como ser cortado (v.22), razão pela qual eles deveriam “temer” (v.20). Temer o que, se é realmente impossível perder a salvação?
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Gálatas 5:7
“Vocês corriam bem. Quem os impediu de continuar obedecendo à verdade?” (Gálatas 5:7)
Este texto é de interpretação simples e dispensa maiores comentários. Os gálatas, de forma geral, estavam correndo bem e obedecendo de fato à verdade. Não eram falsos cristãos. Porém, deixaram de obedecer à verdade. Para que nenhum pretenso calvinista dissesse que esse “deixar de obedecer à verdade” não implicava na perda da salvação, Paulo foi mais enfático ao dizer que eles “separaram-se de Cristo” (v.4) e “caíram da graça” (v.4). Nada mais claro para dizer que eles, de fato, perderam a salvação – a não ser que exista salvação longe de Cristo e separado da graça.
• 2ª Coríntios 6:1
“Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2ª Coríntios 6:1)
Este texto nos mostra que receber a graça de Deus não basta, é preciso permanecer nela. Se é possível receber a graça em vão, é porque, logicamente, é possível perdê-la, de modo que não se desfrute de seus efeitos. Mas se o efeito da graça – que é a salvação – continuasse em vigência mesmo assim, seria incorreto dizer que ela foi recebida “em vão”, já que seu maior efeito permanece. Para que a graça fosse recebida “em vão”, ou seja, “inutilmente”, é necessário que seu efeito (a salvação) cesse. Somente assim a frase teria sentido e a graça recebida seria realmente em vão.
O original grego traz a palavra kenoo, que significa “privar de força, tornar vão, inútil, sem efeito”. Admitindo-se que o maior efeito da graça é a salvação, é lógico que esse efeito é anulado na vida daquelas pessoas. Portanto, a garantia eterna da salvação não existe, pois há a possibilidade do efeito da graça ser anulado pela própria pessoa, o que, como consequencia lógica, implica na perda da salvação.
• Hebreus 2:1-3
“Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque se a mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hebreus 2:1-3)
O autor de Hebreus traça uma analogia com o povo israelita no deserto e diz que é possível negligenciar a salvação (v.3). Que os israelitas que foram punidos não foram salvos, fica claro pelo fato de eles terem sido considerados “desobedientes” (v.2), “desviados” (v.1), “transgressores” (v.2) e de terem recebido a “devida punição” (v.2) para os seus atos. Se a analogia está correta, isso deve implicar no fato de que a negligência da salvação implica na perda desta salvação, assim como os israelitas rebeldes no deserto, que não foram salvos.
• 1ª Tessalonicenses 5:19
“Não extingais o Espírito” (1ª Tessalonicenses 5:19)
A palavra aqui usada no grego foi sbennumi, que significa “extinguir, apagar”. Apague o fogo e não há mais fogo. Extinga qualquer coisa que ela cessa de existir. A linguagem não denota apenas uma operação menor da parte do Espírito, mas a completa cessação dele na vida da pessoa. Em outras palavras, o Espírito é apagado da mesma forma que o fogo é apagado – não há mais fogo, não há mais Espírito.
Para que o Espírito Santo deixasse de habitar em uma pessoa, é porque essa pessoa já foi habitada por ele. Se ela já foi habitação do Espírito Santo, é porque em algum momento ela tinha sido salva, pois o Espírito só habita naqueles que são filhos de Deus, como diz a Bíblia em todo lugar (Jo.14:17; Rm.8:15,16). Em contrapartida, o Espírito não deixa de habitar em alguém a não ser que se perca a salvação, pois ele não deixa um salvo sem sua presença. Todos os salvos possuem o Espírito Santo, e os que não são salvos não o possuem (Jo.14:17; 1Co.2:14).
Assim sendo, a lógica nos diz que é possível que alguém seja salvo (possua o Espírito Santo) e deixe de ser salvo (apague o Espírito Santo). Se a presença ou a falta de presença do Espírito implica em alguém ser filho de Deus ou não ser filho dele, é impossível escapar ao fato de que a possibilidade de se perder a salvação está aberta.
Para evitar isso, os calvinistas teriam que inventar uma teologia onde alguém pode ter o Espírito sem ser salvo, ou ser salvo sem tê-lo. Ou, em última hipótese, que é possível apagar o Espírito e o Espírito ainda estar ali, o que é tão antilógico quanto alguém apagar o fogo e ainda haver fogo. De qualquer forma, teriam que reconstruir a teologia com algo antibíblico e antilógico.
• 2ª Pedro 3:17
“Portanto, amados, sabendo disso, guardem-se para que não sejam levados pelo erro dos que não têm princípios morais, nem percam a sua firmeza e caiam” (2ª Pedro 3:17)
Ninguém “cai” a não ser que se esteja de pé. Nenhum não-regenerado e totalmente depravado está “de pé”. Eles já estão caídos. Se Pedro induz que eles estavam de pé, é porque estavam salvos naquele momento. Mas ele diz que é possível perder essa firmeza e cair.
Esta queda não parece ser algo como uma mera perda de recompensa ou um pequeno deslize sem relevância, porque ele diz que tais pessoas poderiam ser levadas pelo erro dos que “não tem princípios morais” (v.17). Concordando-se com o fato de que a inexistência de princípios morais implica na impossibilidade de salvação, não há como escapar ao fato de que esta queda implica na perda da salvação.
• 2ª Pedro 2:1
“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2ª Pedro 2:1)
Este texto é um dos mais interessantes, pois coloca um ponto da TULIP contra outro ponto. O texto diz que aqueles falsos profetas foram resgatados pelo Senhor Jesus, o que significa que Cristo morreu por eles. Mas há um problema: o “L” da TULIP é o da Expiação Limitada, que afirma que Cristo não morreu por todos, mas somente pelos eleitos (os salvos).
Portanto, se o texto fala que aqueles falsos profetas foram resgatados pelo Senhor, e os que são resgatados são apenas os eleitos, temos que chegar à infeliz conclusão de que aqueles falsos profetas com heresias destruidoras e que negavam a Cristo eram salvos e eleitos! É claro que qualquer um pode perceber o problema aqui. Ou o “L” da TULIP é falso, ou o “P” da TULIP é falso, ou os dois são falsos. Eles não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, pois o texto bíblico fala de pessoas resgatadas por Cristo que caíram a tal ponto que se tornaram os piores hereges e que teriam uma destruição repentina – a condenação.
Sendo assim, ou todos são resgatados por Cristo através da cruz – o que é rejeitado por eles – ou os que são resgatados podem apostatar e perder a salvação, se o texto mostra resgatados negando Cristo, introduzindo heresias destruidoras, enganando os humildes e caminhando para a perdição. Como se isso não fosse suficientemente claro para mostrar o destino de tais infieis (a perdição), Pedro prossegue dizendo:
“Eles abandonaram o caminho reto e se desviaram, seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o salário da injustiça, mas em sua transgressão foi repreendido por uma jumenta, um animal mudo, que falou com voz humana e refreou a insensatez do profeta. Esses homens são fontes sem água e névoas impelidas pela tempestade. A escuridão das trevas lhes está reservada, pois eles, com palavras de vaidosa arrogância e provocando os desejos libertinos da carne, seduzem os que estão quase conseguindo fugir daqueles que vivem no erro” (2ª Pedro 2:15-18)
A nova terra, o destino futuro dos salvos, não é a “escuridão das trevas”. Pedro está dizendo que tais falsos profetas estarão em trevas (perdidos), e não salvos. Toda a descrição é claramente de pessoas que foram resgatadas por Cristo (v.1), mas que “abandonaram o caminho reto e se desviaram” (v.15) a tal ponto que perderam a salvação, pois de outra forma ele não teria dito que tais indivíduos iriam para as trevas e seriam destruídos repentinamente, mas sim que eles nunca se desviaram o suficiente para serem condenados à morte eterna – o que não é dito em lugar nenhum. A descrição é de um desvio total e de um destino certo para tais apóstatas, que não tem nada a ver com o Céu.
• Hebreus 3:7-14
“Assim, como diz o Espírito Santo: ‘Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como na rebelião, durante o tempo de provação no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-me à prova, apesar de, durante quarenta anos, terem visto o que eu fiz. Por isso fiquei irado contra aquela geração e disse: Os seus corações estão sempre se desviando, e eles não reconheceram os meus caminhos. Assim jurei na minha ira: Jamais entrarão no meu descanso. Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Pelo contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘hoje’, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado, pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio” (Hebreus 3:7-14)
O contexto inteiro não deixa dúvidas de que o autor de Hebreus estava alertando à possibilidade da perda da salvação pelo endurecimento do pecado. Ele não estava escrevendo a “não-eleitos” ou a pessoas que “nunca haviam sido salvas verdadeiramente” (como calvinistas geralmente objetam), mas a pessoas que passaram a ser participantes de Cristo (v.14). Se elas passaram a ser participantes de Cristo, é porque o Espírito Santo habitava nelas como consequencia da regeneração. Ou seja: estava falando a pessoas já salvas.
Porém, ao invés de ele dizer que tais pessoas já estavam absolutamente garantidas na salvação e que de modo nenhum poderiam perdê-la, ele afirma justamente o contrário: que poderiam ser endurecidas pelo engano do pecado (.13), que o apego até o fim era condicional (v.14), que poderiam endurecer seus próprios corações (v.8), que poderiam se desviar (v.10) e não reconhecer os caminhos de Deus (v.10), que poderiam ter um coração perverso (v.12), incrédulo (v.12) e que se afasta do Deus vivo (v.12), e, como se tudo isso não fosse suficientemente claro, afirma ainda que poderiam jamais entrar no descanso de Deus (v.11).
Ele ainda traça uma analogia com os israelitas rebeldes do deserto, que fizeram tudo isso e que não entraram no descanso de Deus, que, naquele caso, era a terra prometida, e, no nosso caso, é a Jerusalém celestial (Hb.11:16). Se aqueles israelitas jamais entraram no descanso de Deus e a analogia lançada por ele é válida, então segue-se logicamente que aqueles que “passaram a ser participantes de Cristo” (v.14) também poderiam não entrar no descanso de Deus, na vida eterna.
Mas, se fosse impossível perder a salvação, toda a analogia se perderia e seria totalmente inútil mostrar os exemplos do povo israelita que se desviou e que não alcançou a promessa. Se os que se tornam participantes de Cristo sempre necessariamente entram no descanso de Deus e não tem a mínima possibilidade de se perder, o escritor inspirado estaria perdendo tempo citando tantos exemplos de perdição como analogias aos que se tornam participantes de Cristo. A exortação à possibilidade de tais pessoas não entrarem no descanso de Deus seria falsa e nada do que aconteceu com os israelitas apóstatas se aplicaria a cristãos eleitos.
Em contrapartida, se a analogia por ele feita é válida, a conclusão que se segue é uma lição: aqueles que se tornam participantes de Cristo devem estar atentos à possibilidade de se desviarem do caminho e de terem o mesmo fim daqueles antigos israelitas, que é de não entrar no descanso de Deus, por não se apegar até o fim à confiança que teve no princípio (v.14).
“Vocês corriam bem. Quem os impediu de continuar obedecendo à verdade?” (Gálatas 5:7)
Este texto é de interpretação simples e dispensa maiores comentários. Os gálatas, de forma geral, estavam correndo bem e obedecendo de fato à verdade. Não eram falsos cristãos. Porém, deixaram de obedecer à verdade. Para que nenhum pretenso calvinista dissesse que esse “deixar de obedecer à verdade” não implicava na perda da salvação, Paulo foi mais enfático ao dizer que eles “separaram-se de Cristo” (v.4) e “caíram da graça” (v.4). Nada mais claro para dizer que eles, de fato, perderam a salvação – a não ser que exista salvação longe de Cristo e separado da graça.
• 2ª Coríntios 6:1
“Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2ª Coríntios 6:1)
Este texto nos mostra que receber a graça de Deus não basta, é preciso permanecer nela. Se é possível receber a graça em vão, é porque, logicamente, é possível perdê-la, de modo que não se desfrute de seus efeitos. Mas se o efeito da graça – que é a salvação – continuasse em vigência mesmo assim, seria incorreto dizer que ela foi recebida “em vão”, já que seu maior efeito permanece. Para que a graça fosse recebida “em vão”, ou seja, “inutilmente”, é necessário que seu efeito (a salvação) cesse. Somente assim a frase teria sentido e a graça recebida seria realmente em vão.
O original grego traz a palavra kenoo, que significa “privar de força, tornar vão, inútil, sem efeito”. Admitindo-se que o maior efeito da graça é a salvação, é lógico que esse efeito é anulado na vida daquelas pessoas. Portanto, a garantia eterna da salvação não existe, pois há a possibilidade do efeito da graça ser anulado pela própria pessoa, o que, como consequencia lógica, implica na perda da salvação.
• Hebreus 2:1-3
“Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque se a mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hebreus 2:1-3)
O autor de Hebreus traça uma analogia com o povo israelita no deserto e diz que é possível negligenciar a salvação (v.3). Que os israelitas que foram punidos não foram salvos, fica claro pelo fato de eles terem sido considerados “desobedientes” (v.2), “desviados” (v.1), “transgressores” (v.2) e de terem recebido a “devida punição” (v.2) para os seus atos. Se a analogia está correta, isso deve implicar no fato de que a negligência da salvação implica na perda desta salvação, assim como os israelitas rebeldes no deserto, que não foram salvos.
• 1ª Tessalonicenses 5:19
“Não extingais o Espírito” (1ª Tessalonicenses 5:19)
A palavra aqui usada no grego foi sbennumi, que significa “extinguir, apagar”. Apague o fogo e não há mais fogo. Extinga qualquer coisa que ela cessa de existir. A linguagem não denota apenas uma operação menor da parte do Espírito, mas a completa cessação dele na vida da pessoa. Em outras palavras, o Espírito é apagado da mesma forma que o fogo é apagado – não há mais fogo, não há mais Espírito.
Para que o Espírito Santo deixasse de habitar em uma pessoa, é porque essa pessoa já foi habitada por ele. Se ela já foi habitação do Espírito Santo, é porque em algum momento ela tinha sido salva, pois o Espírito só habita naqueles que são filhos de Deus, como diz a Bíblia em todo lugar (Jo.14:17; Rm.8:15,16). Em contrapartida, o Espírito não deixa de habitar em alguém a não ser que se perca a salvação, pois ele não deixa um salvo sem sua presença. Todos os salvos possuem o Espírito Santo, e os que não são salvos não o possuem (Jo.14:17; 1Co.2:14).
Assim sendo, a lógica nos diz que é possível que alguém seja salvo (possua o Espírito Santo) e deixe de ser salvo (apague o Espírito Santo). Se a presença ou a falta de presença do Espírito implica em alguém ser filho de Deus ou não ser filho dele, é impossível escapar ao fato de que a possibilidade de se perder a salvação está aberta.
Para evitar isso, os calvinistas teriam que inventar uma teologia onde alguém pode ter o Espírito sem ser salvo, ou ser salvo sem tê-lo. Ou, em última hipótese, que é possível apagar o Espírito e o Espírito ainda estar ali, o que é tão antilógico quanto alguém apagar o fogo e ainda haver fogo. De qualquer forma, teriam que reconstruir a teologia com algo antibíblico e antilógico.
• 2ª Pedro 3:17
“Portanto, amados, sabendo disso, guardem-se para que não sejam levados pelo erro dos que não têm princípios morais, nem percam a sua firmeza e caiam” (2ª Pedro 3:17)
Ninguém “cai” a não ser que se esteja de pé. Nenhum não-regenerado e totalmente depravado está “de pé”. Eles já estão caídos. Se Pedro induz que eles estavam de pé, é porque estavam salvos naquele momento. Mas ele diz que é possível perder essa firmeza e cair.
Esta queda não parece ser algo como uma mera perda de recompensa ou um pequeno deslize sem relevância, porque ele diz que tais pessoas poderiam ser levadas pelo erro dos que “não tem princípios morais” (v.17). Concordando-se com o fato de que a inexistência de princípios morais implica na impossibilidade de salvação, não há como escapar ao fato de que esta queda implica na perda da salvação.
• 2ª Pedro 2:1
“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2ª Pedro 2:1)
Este texto é um dos mais interessantes, pois coloca um ponto da TULIP contra outro ponto. O texto diz que aqueles falsos profetas foram resgatados pelo Senhor Jesus, o que significa que Cristo morreu por eles. Mas há um problema: o “L” da TULIP é o da Expiação Limitada, que afirma que Cristo não morreu por todos, mas somente pelos eleitos (os salvos).
Portanto, se o texto fala que aqueles falsos profetas foram resgatados pelo Senhor, e os que são resgatados são apenas os eleitos, temos que chegar à infeliz conclusão de que aqueles falsos profetas com heresias destruidoras e que negavam a Cristo eram salvos e eleitos! É claro que qualquer um pode perceber o problema aqui. Ou o “L” da TULIP é falso, ou o “P” da TULIP é falso, ou os dois são falsos. Eles não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, pois o texto bíblico fala de pessoas resgatadas por Cristo que caíram a tal ponto que se tornaram os piores hereges e que teriam uma destruição repentina – a condenação.
Sendo assim, ou todos são resgatados por Cristo através da cruz – o que é rejeitado por eles – ou os que são resgatados podem apostatar e perder a salvação, se o texto mostra resgatados negando Cristo, introduzindo heresias destruidoras, enganando os humildes e caminhando para a perdição. Como se isso não fosse suficientemente claro para mostrar o destino de tais infieis (a perdição), Pedro prossegue dizendo:
“Eles abandonaram o caminho reto e se desviaram, seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o salário da injustiça, mas em sua transgressão foi repreendido por uma jumenta, um animal mudo, que falou com voz humana e refreou a insensatez do profeta. Esses homens são fontes sem água e névoas impelidas pela tempestade. A escuridão das trevas lhes está reservada, pois eles, com palavras de vaidosa arrogância e provocando os desejos libertinos da carne, seduzem os que estão quase conseguindo fugir daqueles que vivem no erro” (2ª Pedro 2:15-18)
A nova terra, o destino futuro dos salvos, não é a “escuridão das trevas”. Pedro está dizendo que tais falsos profetas estarão em trevas (perdidos), e não salvos. Toda a descrição é claramente de pessoas que foram resgatadas por Cristo (v.1), mas que “abandonaram o caminho reto e se desviaram” (v.15) a tal ponto que perderam a salvação, pois de outra forma ele não teria dito que tais indivíduos iriam para as trevas e seriam destruídos repentinamente, mas sim que eles nunca se desviaram o suficiente para serem condenados à morte eterna – o que não é dito em lugar nenhum. A descrição é de um desvio total e de um destino certo para tais apóstatas, que não tem nada a ver com o Céu.
• Hebreus 3:7-14
“Assim, como diz o Espírito Santo: ‘Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como na rebelião, durante o tempo de provação no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-me à prova, apesar de, durante quarenta anos, terem visto o que eu fiz. Por isso fiquei irado contra aquela geração e disse: Os seus corações estão sempre se desviando, e eles não reconheceram os meus caminhos. Assim jurei na minha ira: Jamais entrarão no meu descanso. Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Pelo contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘hoje’, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado, pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio” (Hebreus 3:7-14)
O contexto inteiro não deixa dúvidas de que o autor de Hebreus estava alertando à possibilidade da perda da salvação pelo endurecimento do pecado. Ele não estava escrevendo a “não-eleitos” ou a pessoas que “nunca haviam sido salvas verdadeiramente” (como calvinistas geralmente objetam), mas a pessoas que passaram a ser participantes de Cristo (v.14). Se elas passaram a ser participantes de Cristo, é porque o Espírito Santo habitava nelas como consequencia da regeneração. Ou seja: estava falando a pessoas já salvas.
Porém, ao invés de ele dizer que tais pessoas já estavam absolutamente garantidas na salvação e que de modo nenhum poderiam perdê-la, ele afirma justamente o contrário: que poderiam ser endurecidas pelo engano do pecado (.13), que o apego até o fim era condicional (v.14), que poderiam endurecer seus próprios corações (v.8), que poderiam se desviar (v.10) e não reconhecer os caminhos de Deus (v.10), que poderiam ter um coração perverso (v.12), incrédulo (v.12) e que se afasta do Deus vivo (v.12), e, como se tudo isso não fosse suficientemente claro, afirma ainda que poderiam jamais entrar no descanso de Deus (v.11).
Ele ainda traça uma analogia com os israelitas rebeldes do deserto, que fizeram tudo isso e que não entraram no descanso de Deus, que, naquele caso, era a terra prometida, e, no nosso caso, é a Jerusalém celestial (Hb.11:16). Se aqueles israelitas jamais entraram no descanso de Deus e a analogia lançada por ele é válida, então segue-se logicamente que aqueles que “passaram a ser participantes de Cristo” (v.14) também poderiam não entrar no descanso de Deus, na vida eterna.
Mas, se fosse impossível perder a salvação, toda a analogia se perderia e seria totalmente inútil mostrar os exemplos do povo israelita que se desviou e que não alcançou a promessa. Se os que se tornam participantes de Cristo sempre necessariamente entram no descanso de Deus e não tem a mínima possibilidade de se perder, o escritor inspirado estaria perdendo tempo citando tantos exemplos de perdição como analogias aos que se tornam participantes de Cristo. A exortação à possibilidade de tais pessoas não entrarem no descanso de Deus seria falsa e nada do que aconteceu com os israelitas apóstatas se aplicaria a cristãos eleitos.
Em contrapartida, se a analogia por ele feita é válida, a conclusão que se segue é uma lição: aqueles que se tornam participantes de Cristo devem estar atentos à possibilidade de se desviarem do caminho e de terem o mesmo fim daqueles antigos israelitas, que é de não entrar no descanso de Deus, por não se apegar até o fim à confiança que teve no princípio (v.14).
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
“Vocês, que procuram ser justificados pela lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça” (Gálatas 5:4)
Se há uma linguagem forte o suficiente para esvaziar qualquer dúvida sobre a possibilidade da perda da salvação, é o “cair da graça”. Como já vimos, um texto que diz que alguém se separou de Cristo só pode existir se este um dia já esteve ligado a Cristo, sendo “um” com ele. Somente duas pessoas que um dia foram casadas podem se separar. Se João nunca foi casado com Maria, ele não pode se “separar” dela. Se aqueles gálatas nunca tivessem tido um real relacionamento com Cristo, Paulo jamais teria dito que eles se separaram dEle.
Assim também, da mesma forma que se João se separa de Maria ele não está mais com ela, alguém que se separa de Cristo não tem mais parte com ele. A linguagem implica em alguém que era uma só carne com Cristo, que tinha um relacionamento com ele, que estava ligado ao Corpo, mas que se separou, deixando tudo isso para trás. Para ser mais claro, a linguagem implica na perda da salvação, que uma vez já se teve. Se separar de Cristo é se separar da salvação, pois Ele é a nossa salvação.
Essas pessoas que se separaram de Cristo, para Paulo, “caíram da graça” (Gl.5:4). Eles não poderiam “cair” da graça se não estivessem na graça uma vez. A linguagem, mais uma vez, denota que eles tinham aceitado a graça, pois somente desta forma eles poderiam “cair” dela. Se eles tinham aceitado a graça, isso significa que eles eram salvos. Eles só caíram porque estavam de pé. E, ao caírem da graça, se apartaram dela. Não é preciso dizer que, sem a graça, não há qualquer salvação. Nós só somos salvos pela graça (Ef.2:8-9).
Da mesma forma que algum time que “caiu da Série A” não está mais na Série A, alguém que “caiu da graça” não está mais na graça. Se não está mais na graça, não está mais salvo, pois é a graça que nos salva, se estamos nela. Uma pessoa salva à parte de graça não tem sentido algum. Novamente, é uma linguagem que expressa a possibilidade clara de perder a salvação, desde que concordemos que somos salvos pela graça. Essa possibilidade de cair da graça é o que levou Paulo a escrever:
“Mantenham-se firmes na graça de Deus” (1ª Pedro 5:12)
Se aquele que foi uma vez salvo pela graça não pode se apartar desta graça de jeito nenhum até o fim da vida, não haveria qualquer sentido em Paulo dizer para se manter firme na graça de Deus. Se temos que nos manter firmes, é porque existe a possibilidade de não nos mantermos firmes, o que significa cair. Manter-se firme é condicional, nunca incondicional. Deus salva pela graça, mas é possível que alguém não se mantenha na graça, ao deixar de exercer fé, que é a ponte que nos liga à graça (Rm.5:1-2; Ef.2:8).
O autor de Hebreus também conhecia muito bem a possibilidade de alguém se excluir da graça. Ele disse:
“Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos” (Hebreus 12:15)
É possível que alguém que está na graça de Deus permaneça firme nela ou se exclua dela. É possível que alguém caia dela ou permaneça de pé. A perseverança nunca foi incondicional. Não há nenhum lugar da Bíblia que diga que aquele que foi uma vez salvo pela graça não pode cair dela ou ser excluído dela. O testemunho bíblico unânime ressoa o contrário. É exatamente em função da possibilidade de alguém não continuar na graça de Deus que Paulo e Barnabé disseram:
“Despedida a congregação, muitos dos judeus e estrangeiros piedosos convertidos ao judaísmo seguiram Paulo e Barnabé. Estes conversavam com eles, recomendando-lhes que continuassem na graça de Deus” (Atos 13:43)
Há sentido em recomendar algo se este algo irá acontecer inevitavelmente, sem qualquer possibilidade do contrário? Há sentido em exortar a permanecer na graça, se não há chances de não permanecer? Não, não há. A exortação só ganha um sentido se há a possibilidade de alguém se excluir da graça, o que, de fato, implica em perder a salvação, já que ninguém é salvo longe da graça.
As “explicações” calvinistas não convencem. Geisler, por exemplo, disse que “eles [os gálatas] não haviam perdido a salvação, mas somente a verdadeira santificação, que também vem pela graça, não pela Lei”. O problema com uma afirmação dessas é duplo. Primeiro, porque não trabalha com o fato da exclusão da graça. Para alguém excluído da graça (como os gálatas – Gl.5:4) permanecer salvo mesmo assim, teriam que inventar um evangelho onde a graça não é mais o fator determinante para a salvação, mas somente para a “verdadeira santificação”. Ou seja: teriam que assassinar o evangelho.
Além disso, a perda da santificação sempre implicou na perda da salvação. Jesus disse que, “se eu não os lavar, você não terá parte comigo” (Jo.13:8). O autor de Hebreus foi ainda mais claro ao dizer que “sem santificação ninguém verá ao Senhor” (Hb.12:14). Alguém será salvo e proibido de ver a Deus? É claro que não. Os que não verão a Deus são os condenados. Sem santificação ninguém verá ao Senhor. Sem santificação ninguém será salvo. Perder a santificação e permanecer com a salvação é algo que pode parecer cabível para um calvinista, mas é completamente repudiável à luz da Bíblia.
• O naufrágio
“Mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé. Entre eles estão Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1ª Timóteo 1:19-20)
Quem leu o capítulo 3 deste livro ao invés de pular direto para este capítulo deve ter notado a analogia bíblica da salvação em Cristo como um navio, onde os crentes salvos estão sendo dirigidos pelo Senhor à Jerusalém eterna. Isso foi representado no Antigo Testamento pela arca, que salvou do dilúvio Noé e sua família, e hoje é representado pela Igreja, que guarda os cristãos da condenação proclamada ao mundo. A Igreja é como a arca, é como um navio. Quem está neste navio está a salvo da condenação do mundo.
Sabemos que este navio não pode afundar. Mas será que é possível alguém, individualmente, deixar este navio? Em outras palavras: é possível “naufragar na fé”? Paulo afirma que sim. Ele até cita dois exemplos: Himeneu e Alexandre. Primeiramente é bom esclarecer que ninguém pode “naufragar na fé” se nunca esteve na fé. Aquelas pessoas estavam no navio (Igreja), não eram infieis ou falsos cristãos. O joio não é o trigo, o joio se finge de trigo. Os falsos crentes não estão no navio, embora externamente possa parecer que sim.
Himeneu e Alexandre, contudo, realmente estavam no navio, senão não teriam naufragado na fé. E esse naufrágio, por sua vez, jamais pode ser considerado uma mera “perda da recompensa”, mas implica em estar fora do navio, em cair na mesma condenação do mundo. Não é à toa que Paulo diz que eles estavam “entregues a Satanás” (1Tm.1:20), porque blasfemaram (1Tm.1:20). A conclusão que se chega é que é sim possível que alguém que hoje está a salvo no navio (Igreja) venha a deixar o navio e naufragar, estando entregue à Satanás e ao mesmo destino final dos incrédulos.
• A apostasia
Um ensinamento muito recorrente na Bíblia é a apostasia. Davi há muito tempo já dizia que “os que se alongam de Ti perecerão; Tu tens destruído todos aqueles que, apostatando, se desviam de Ti" (Sl.73:27). Jeremias também era enfático ao dizer que "todos aqueles que Te deixam serão envergonhados; os que se apartam de Ti serão escritos sobre a terra; porque abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas" (Jr.17:13).
O apóstolo Paulo confirmou isso em suas epístolas. Ele disse que “o Espírito expressamente diz que nos últimos dias alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios” (1Tm.4:1), e que, “na verdade, alguns já se desviaram, para seguir a Satanás” (1Tm.5:15). Como vemos, a Bíblia frequentemente fala da apostasia e sempre diz que tais apóstatas perecerão, serão destruídos, envergonhados e que estão seguindo a Satanás.
A primeira pergunta que deve ser feita a um calvinista que crê que esses apóstatas nunca foram salvos é a seguinte: eles se apostataram do que? Se eram salvos, é muito fácil responder a esta pergunta: apostataram da salvação. Se estavam em Cristo, também é muito fácil a resposta: se apostataram de Cristo. Mas os calvinistas afirmam que estes apóstatas nunca foram salvos, e, consequentemente, nunca estiveram em Cristo. Então, repito: apostataram do que?
Se eles estavam no mundo, teriam que “apostatar do mundo”. Mas isso não faz qualquer sentido, já que o mundo “jaz no maligno” (1Jo.5:19) e uma “apostasia do mundo” seria algo bom, e não algo tão ferrenhamente repudiado. É claro que para alguém apostatar da fé tem que ter um precedendo necessário: estar na fé. Apostatar simplesmente de uma “revelação parcial” mesmo antes de ter sido salvo é uma explicação que está longe de ser convincente, para qualquer pessoa que tenha bom senso.
O salmista é claro ao afirmar que estes que apostataram não se apostataram de qualquer coisa, ou de uma revelação parcial, mas “de Ti” (Sl.73:27), ou seja, do próprio Deus. Isso significa que eles estavam em Deus antes de apostatarem, pois aphistemi significa exatamente “retroceder, ir embora, deixar alguém, abandonar”, e ninguém pode retroceder, deixar ou abandonar algo a não ser que se estivesse neste algo antes. Como o sujeito nos textos bíblicos é Deus, então é de Deus que eles se apartaram, e é em Deus que eles estavam antes de se apartar. Consequentemente, a apostasia não pode ser de uma mera “revelação parcial”, mas de alguém que estava realmente firmado em Deus.
Se o “apóstata” não é um salvo, e os não-salvos estão em trevas e totalmente depravados, como corretamente ensina o calvinismo, teríamos que entender tais textos como dizendo que algum cego, surdo e mudo espiritual, em estado de total depravação e absolutamente incapaz de iniciar um relacionamento com Deus, apostatou dele. Ou seja: que alguém que nunca teve um relacionamento real com Deus abandonou Deus!
Tais “apóstatas” teriam se apostatado de algo, mas com certeza não seria de Deus, com quem eles não tinham um relacionamento antes. Se eles eram joio, certamente não teriam se “apostatado da fé” (1Tm.4:1), pois não estavam na fé para poderem apostatar dela! A fé verdadeira, a fé real, é trilhada por pessoas já regeneradas e salvas pelo Espírito Santo. É absurdo, senão ridículo, afirmar que a apostasia não implica na perda da salvação. Seria um termo desnecessário e com pouco ou nenhum significado se estivesse se referindo a pessoas que nunca foram mesmo salvas.
• As igrejas do Apocalipse
O Apocalipse também é repleto de citações às igrejas onde a possibilidade da perda da salvação é visível e patente. À Igreja de Éfeso, por exemplo, Jesus disse:
“Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido. Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar” (Apocalipse 2:3-5)
Os cristãos de Éfeso não eram pessoas “não-salvas”. Eles estavam perseverando na fé sem desfalecer (v.3). Contudo, isso não impediu o Senhor de ter aberto a possibilidade da apostasia a eles, dizendo-lhes que poderiam não se arrepender e que, neste caso, tiraria o seu candelabro do seu lugar, o que significaria o fim daquela igreja. Sabemos que sem arrependimento não há salvação (Lc.13:3; At.17:30), o que deve significar que Cristo estava abrindo uma possibilidade de perda da salvação, para cristãos salvos naquele momento.
À Igreja de Pérgamo, Cristo é ainda mais claro ao dizer:
“Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve até você e lutarei contra eles com a espada da minha boca” (Apocalipse 2:16)
Ele não estava falando a falsos cristãos, pois tinha acabado de dizer que “você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim” (v.13). Mesmo assim, havia a possibilidade de não se arrependerem de seus pecados e de serem condenados. A linguagem figurada de Cristo sobre “lutar contra eles com a espada da minha boca” é uma alusão a Apocalipse 19:21, onde é registrado que “os demais foram mortos com a espada que saía da boca daquele que está montado no cavalo, e todas as aves se fartaram com a carne deles”. É obviamente uma linguagem de condenação, e não de salvação.
À Igreja de Tiatira, Jesus também disse:
“Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender. Por isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que ela pratica” (Apocalipse 2:21,22)
Mais uma vez, aqui ele estava falando a pessoas salvas, dizendo que “conheço as suas obras, o seu amor, a sua fé, o seu serviço e a sua perseverança, e sei que você está fazendo mais agora do que no princípio” (v.19). Mesmo assim, o arrependimento é colocado como sendo condicional e a possibilidade de eles não se arrependerem dos pecados cometidos estava aberta, junto à condenação que aconteceria neste caso.
À Igreja de Sardes, Cristo diz algo semelhante:
“Lembre-se, portanto, do que você recebeu e ouviu; obedeça e arrependa-se. Mas se você não estiver atento, virei como um ladrão e você não saberá a que hora virei contra você” (Apocalipse 3:3)
Paulo disse que Cristo viria como um ladrão para os ímpios, e não para a Igreja (1Ts.5:4-5). Jesus diz aqui que, se eles não se arrependerem, ele viria contra eles como um ladrão, significando, com isso, que eles incorreriam na mesma condenação dos ímpios, no último dia.
A possibilidade da perda da salvação estava aberta até mesmo para aquelas igrejas que estavam bem e que só receberam elogios, como a igreja da Filadélfia, que “guardou a minha palavra de exortação à perseverança” (Ap.3:10). Mesmo assim, Jesus deixou aberta a possibilidade de eles perderem a sua coroa:
“Retenha o que você tem, para que ninguém tome a sua coroa” (Apocalipse 3:11)
Tudo isso nos mostra que, na visão bíblica, a perseverança nunca foi incondicional, como ensinam os calvinistas, onde “uma vez salvo está para sempre salvo”, e onde não há nada que possa fazer com que o crente perca a salvação. As cartas às sete igrejas anunciam o fato amplamente ressaltado em toda a Bíblia, de que é possível perder a salvação e que a permanência até o fim não é mais que condicional.
Se há uma linguagem forte o suficiente para esvaziar qualquer dúvida sobre a possibilidade da perda da salvação, é o “cair da graça”. Como já vimos, um texto que diz que alguém se separou de Cristo só pode existir se este um dia já esteve ligado a Cristo, sendo “um” com ele. Somente duas pessoas que um dia foram casadas podem se separar. Se João nunca foi casado com Maria, ele não pode se “separar” dela. Se aqueles gálatas nunca tivessem tido um real relacionamento com Cristo, Paulo jamais teria dito que eles se separaram dEle.
Assim também, da mesma forma que se João se separa de Maria ele não está mais com ela, alguém que se separa de Cristo não tem mais parte com ele. A linguagem implica em alguém que era uma só carne com Cristo, que tinha um relacionamento com ele, que estava ligado ao Corpo, mas que se separou, deixando tudo isso para trás. Para ser mais claro, a linguagem implica na perda da salvação, que uma vez já se teve. Se separar de Cristo é se separar da salvação, pois Ele é a nossa salvação.
Essas pessoas que se separaram de Cristo, para Paulo, “caíram da graça” (Gl.5:4). Eles não poderiam “cair” da graça se não estivessem na graça uma vez. A linguagem, mais uma vez, denota que eles tinham aceitado a graça, pois somente desta forma eles poderiam “cair” dela. Se eles tinham aceitado a graça, isso significa que eles eram salvos. Eles só caíram porque estavam de pé. E, ao caírem da graça, se apartaram dela. Não é preciso dizer que, sem a graça, não há qualquer salvação. Nós só somos salvos pela graça (Ef.2:8-9).
Da mesma forma que algum time que “caiu da Série A” não está mais na Série A, alguém que “caiu da graça” não está mais na graça. Se não está mais na graça, não está mais salvo, pois é a graça que nos salva, se estamos nela. Uma pessoa salva à parte de graça não tem sentido algum. Novamente, é uma linguagem que expressa a possibilidade clara de perder a salvação, desde que concordemos que somos salvos pela graça. Essa possibilidade de cair da graça é o que levou Paulo a escrever:
“Mantenham-se firmes na graça de Deus” (1ª Pedro 5:12)
Se aquele que foi uma vez salvo pela graça não pode se apartar desta graça de jeito nenhum até o fim da vida, não haveria qualquer sentido em Paulo dizer para se manter firme na graça de Deus. Se temos que nos manter firmes, é porque existe a possibilidade de não nos mantermos firmes, o que significa cair. Manter-se firme é condicional, nunca incondicional. Deus salva pela graça, mas é possível que alguém não se mantenha na graça, ao deixar de exercer fé, que é a ponte que nos liga à graça (Rm.5:1-2; Ef.2:8).
O autor de Hebreus também conhecia muito bem a possibilidade de alguém se excluir da graça. Ele disse:
“Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos” (Hebreus 12:15)
É possível que alguém que está na graça de Deus permaneça firme nela ou se exclua dela. É possível que alguém caia dela ou permaneça de pé. A perseverança nunca foi incondicional. Não há nenhum lugar da Bíblia que diga que aquele que foi uma vez salvo pela graça não pode cair dela ou ser excluído dela. O testemunho bíblico unânime ressoa o contrário. É exatamente em função da possibilidade de alguém não continuar na graça de Deus que Paulo e Barnabé disseram:
“Despedida a congregação, muitos dos judeus e estrangeiros piedosos convertidos ao judaísmo seguiram Paulo e Barnabé. Estes conversavam com eles, recomendando-lhes que continuassem na graça de Deus” (Atos 13:43)
Há sentido em recomendar algo se este algo irá acontecer inevitavelmente, sem qualquer possibilidade do contrário? Há sentido em exortar a permanecer na graça, se não há chances de não permanecer? Não, não há. A exortação só ganha um sentido se há a possibilidade de alguém se excluir da graça, o que, de fato, implica em perder a salvação, já que ninguém é salvo longe da graça.
As “explicações” calvinistas não convencem. Geisler, por exemplo, disse que “eles [os gálatas] não haviam perdido a salvação, mas somente a verdadeira santificação, que também vem pela graça, não pela Lei”. O problema com uma afirmação dessas é duplo. Primeiro, porque não trabalha com o fato da exclusão da graça. Para alguém excluído da graça (como os gálatas – Gl.5:4) permanecer salvo mesmo assim, teriam que inventar um evangelho onde a graça não é mais o fator determinante para a salvação, mas somente para a “verdadeira santificação”. Ou seja: teriam que assassinar o evangelho.
Além disso, a perda da santificação sempre implicou na perda da salvação. Jesus disse que, “se eu não os lavar, você não terá parte comigo” (Jo.13:8). O autor de Hebreus foi ainda mais claro ao dizer que “sem santificação ninguém verá ao Senhor” (Hb.12:14). Alguém será salvo e proibido de ver a Deus? É claro que não. Os que não verão a Deus são os condenados. Sem santificação ninguém verá ao Senhor. Sem santificação ninguém será salvo. Perder a santificação e permanecer com a salvação é algo que pode parecer cabível para um calvinista, mas é completamente repudiável à luz da Bíblia.
• O naufrágio
“Mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé. Entre eles estão Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1ª Timóteo 1:19-20)
Quem leu o capítulo 3 deste livro ao invés de pular direto para este capítulo deve ter notado a analogia bíblica da salvação em Cristo como um navio, onde os crentes salvos estão sendo dirigidos pelo Senhor à Jerusalém eterna. Isso foi representado no Antigo Testamento pela arca, que salvou do dilúvio Noé e sua família, e hoje é representado pela Igreja, que guarda os cristãos da condenação proclamada ao mundo. A Igreja é como a arca, é como um navio. Quem está neste navio está a salvo da condenação do mundo.
Sabemos que este navio não pode afundar. Mas será que é possível alguém, individualmente, deixar este navio? Em outras palavras: é possível “naufragar na fé”? Paulo afirma que sim. Ele até cita dois exemplos: Himeneu e Alexandre. Primeiramente é bom esclarecer que ninguém pode “naufragar na fé” se nunca esteve na fé. Aquelas pessoas estavam no navio (Igreja), não eram infieis ou falsos cristãos. O joio não é o trigo, o joio se finge de trigo. Os falsos crentes não estão no navio, embora externamente possa parecer que sim.
Himeneu e Alexandre, contudo, realmente estavam no navio, senão não teriam naufragado na fé. E esse naufrágio, por sua vez, jamais pode ser considerado uma mera “perda da recompensa”, mas implica em estar fora do navio, em cair na mesma condenação do mundo. Não é à toa que Paulo diz que eles estavam “entregues a Satanás” (1Tm.1:20), porque blasfemaram (1Tm.1:20). A conclusão que se chega é que é sim possível que alguém que hoje está a salvo no navio (Igreja) venha a deixar o navio e naufragar, estando entregue à Satanás e ao mesmo destino final dos incrédulos.
• A apostasia
Um ensinamento muito recorrente na Bíblia é a apostasia. Davi há muito tempo já dizia que “os que se alongam de Ti perecerão; Tu tens destruído todos aqueles que, apostatando, se desviam de Ti" (Sl.73:27). Jeremias também era enfático ao dizer que "todos aqueles que Te deixam serão envergonhados; os que se apartam de Ti serão escritos sobre a terra; porque abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas" (Jr.17:13).
O apóstolo Paulo confirmou isso em suas epístolas. Ele disse que “o Espírito expressamente diz que nos últimos dias alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios” (1Tm.4:1), e que, “na verdade, alguns já se desviaram, para seguir a Satanás” (1Tm.5:15). Como vemos, a Bíblia frequentemente fala da apostasia e sempre diz que tais apóstatas perecerão, serão destruídos, envergonhados e que estão seguindo a Satanás.
A primeira pergunta que deve ser feita a um calvinista que crê que esses apóstatas nunca foram salvos é a seguinte: eles se apostataram do que? Se eram salvos, é muito fácil responder a esta pergunta: apostataram da salvação. Se estavam em Cristo, também é muito fácil a resposta: se apostataram de Cristo. Mas os calvinistas afirmam que estes apóstatas nunca foram salvos, e, consequentemente, nunca estiveram em Cristo. Então, repito: apostataram do que?
Se eles estavam no mundo, teriam que “apostatar do mundo”. Mas isso não faz qualquer sentido, já que o mundo “jaz no maligno” (1Jo.5:19) e uma “apostasia do mundo” seria algo bom, e não algo tão ferrenhamente repudiado. É claro que para alguém apostatar da fé tem que ter um precedendo necessário: estar na fé. Apostatar simplesmente de uma “revelação parcial” mesmo antes de ter sido salvo é uma explicação que está longe de ser convincente, para qualquer pessoa que tenha bom senso.
O salmista é claro ao afirmar que estes que apostataram não se apostataram de qualquer coisa, ou de uma revelação parcial, mas “de Ti” (Sl.73:27), ou seja, do próprio Deus. Isso significa que eles estavam em Deus antes de apostatarem, pois aphistemi significa exatamente “retroceder, ir embora, deixar alguém, abandonar”, e ninguém pode retroceder, deixar ou abandonar algo a não ser que se estivesse neste algo antes. Como o sujeito nos textos bíblicos é Deus, então é de Deus que eles se apartaram, e é em Deus que eles estavam antes de se apartar. Consequentemente, a apostasia não pode ser de uma mera “revelação parcial”, mas de alguém que estava realmente firmado em Deus.
Se o “apóstata” não é um salvo, e os não-salvos estão em trevas e totalmente depravados, como corretamente ensina o calvinismo, teríamos que entender tais textos como dizendo que algum cego, surdo e mudo espiritual, em estado de total depravação e absolutamente incapaz de iniciar um relacionamento com Deus, apostatou dele. Ou seja: que alguém que nunca teve um relacionamento real com Deus abandonou Deus!
Tais “apóstatas” teriam se apostatado de algo, mas com certeza não seria de Deus, com quem eles não tinham um relacionamento antes. Se eles eram joio, certamente não teriam se “apostatado da fé” (1Tm.4:1), pois não estavam na fé para poderem apostatar dela! A fé verdadeira, a fé real, é trilhada por pessoas já regeneradas e salvas pelo Espírito Santo. É absurdo, senão ridículo, afirmar que a apostasia não implica na perda da salvação. Seria um termo desnecessário e com pouco ou nenhum significado se estivesse se referindo a pessoas que nunca foram mesmo salvas.
• As igrejas do Apocalipse
O Apocalipse também é repleto de citações às igrejas onde a possibilidade da perda da salvação é visível e patente. À Igreja de Éfeso, por exemplo, Jesus disse:
“Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido. Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar” (Apocalipse 2:3-5)
Os cristãos de Éfeso não eram pessoas “não-salvas”. Eles estavam perseverando na fé sem desfalecer (v.3). Contudo, isso não impediu o Senhor de ter aberto a possibilidade da apostasia a eles, dizendo-lhes que poderiam não se arrepender e que, neste caso, tiraria o seu candelabro do seu lugar, o que significaria o fim daquela igreja. Sabemos que sem arrependimento não há salvação (Lc.13:3; At.17:30), o que deve significar que Cristo estava abrindo uma possibilidade de perda da salvação, para cristãos salvos naquele momento.
À Igreja de Pérgamo, Cristo é ainda mais claro ao dizer:
“Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve até você e lutarei contra eles com a espada da minha boca” (Apocalipse 2:16)
Ele não estava falando a falsos cristãos, pois tinha acabado de dizer que “você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim” (v.13). Mesmo assim, havia a possibilidade de não se arrependerem de seus pecados e de serem condenados. A linguagem figurada de Cristo sobre “lutar contra eles com a espada da minha boca” é uma alusão a Apocalipse 19:21, onde é registrado que “os demais foram mortos com a espada que saía da boca daquele que está montado no cavalo, e todas as aves se fartaram com a carne deles”. É obviamente uma linguagem de condenação, e não de salvação.
À Igreja de Tiatira, Jesus também disse:
“Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender. Por isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que ela pratica” (Apocalipse 2:21,22)
Mais uma vez, aqui ele estava falando a pessoas salvas, dizendo que “conheço as suas obras, o seu amor, a sua fé, o seu serviço e a sua perseverança, e sei que você está fazendo mais agora do que no princípio” (v.19). Mesmo assim, o arrependimento é colocado como sendo condicional e a possibilidade de eles não se arrependerem dos pecados cometidos estava aberta, junto à condenação que aconteceria neste caso.
À Igreja de Sardes, Cristo diz algo semelhante:
“Lembre-se, portanto, do que você recebeu e ouviu; obedeça e arrependa-se. Mas se você não estiver atento, virei como um ladrão e você não saberá a que hora virei contra você” (Apocalipse 3:3)
Paulo disse que Cristo viria como um ladrão para os ímpios, e não para a Igreja (1Ts.5:4-5). Jesus diz aqui que, se eles não se arrependerem, ele viria contra eles como um ladrão, significando, com isso, que eles incorreriam na mesma condenação dos ímpios, no último dia.
A possibilidade da perda da salvação estava aberta até mesmo para aquelas igrejas que estavam bem e que só receberam elogios, como a igreja da Filadélfia, que “guardou a minha palavra de exortação à perseverança” (Ap.3:10). Mesmo assim, Jesus deixou aberta a possibilidade de eles perderem a sua coroa:
“Retenha o que você tem, para que ninguém tome a sua coroa” (Apocalipse 3:11)
Tudo isso nos mostra que, na visão bíblica, a perseverança nunca foi incondicional, como ensinam os calvinistas, onde “uma vez salvo está para sempre salvo”, e onde não há nada que possa fazer com que o crente perca a salvação. As cartas às sete igrejas anunciam o fato amplamente ressaltado em toda a Bíblia, de que é possível perder a salvação e que a permanência até o fim não é mais que condicional.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• A perseverança é condicional
O ensino de que a perseverança é condicional é expresso várias vezes ao longo da Sagrada Escritura. Calvinistas creem na incondicionalidade da perseverança da mesma forma que creem na “eleição incondicional”, ou seja, que todos salvos perseverarão até o fim, e que isto é incondicional, não depende do homem em nenhuma medida, ele sempre estará perseverando e nunca cairá ao ponto de perder a salvação.
Se analisássemos um milhão de casos de pessoas que foram salvas uma vez, nestes um milhão de casos todas elas teriam sempre perseverado até o fim. Nenhuma delas teria perdido a fé, nenhuma delas teria apostatado, nenhuma delas teria caído. Os que caem, para eles, são sempre aqueles que nunca foram salvos. A perseverança é incondicional, pois só assim o crente não pode perder a salvação.
Este ensino calvinista, contudo, não encontra base nas Escrituras, pois a Bíblia sempre apresenta a perseverança como sendo algo condicional e sempre mostra o outro lado da moeda, que é a possibilidade de não perseverar até o fim. Em 1ª Coríntios, por exemplo, o apóstolo Paulo disse:
“Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão” (1ª Coríntios 15:2)
Eles eram salvos por meio do evangelho, desde que...
A salvação final, como está implícito neste e em outros textos, é condicional ao apego firme à Palavra até o fim. A salvação deles não era absolutamente garantida sob qualquer circunstância. Eles eram salvos e permaneceriam assim sob uma condição, o apego à Palavra. Essa condição não seria bem uma condição se a promessa da perseverança fosse incondicional. Uma condição incondicional é uma impossibilidade lógica e uma contradição de termos. A declaração faz presumir a possibilidade da falta da perseverança e da consequente perda da salvação.
O mesmo apóstolo também disse:
“Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido proclamado a todos os que estão debaixo do céu” (Colossenses 1:22,23)
Mais uma vez, vemos aqui o mesmo princípio que vimos no outro texto: a condicionalidade da perseverança. Seria inócua a exortação a não se afastar da esperança do evangelho se esse afastamento e consequente perdição fosse algo impossível de acontecer. Além de um desperdício de tinta, induziria que é possível que eles não ficassem alicerçados e firmes na fé até o fim. O simples fato de Paulo fazer ressalvas à declaração inicial de que eles eram salvos já deveria ser suficiente para mostrar que a perseverança não é incondicional.
O autor de Hebreus segue o mesmo conceito e diz:
“Mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos” (Hebreus 3:6)
Pedro também faz o mesmo, ao dizer:
“Portanto, irmãos, empenhem-se ainda mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês, pois se agirem dessa forma, jamais tropeçarão, e assim vocês estarão ricamente providos quando entrarem no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2ª Pedro 1:10,11)
Judas igualmente nos mostra que não basta estar no amor de Deus, é preciso se manter neste amor:
“Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna” (Judas 1:21)
A conclusão inferida destes e de outros textos semelhantes é a de que a perseverança, longe de ser incondicional, é sempre apresentada de modo a presumir que é possível que alguém não persevere, e, consequentemente, não seja salvo. Isso chamamos de perseverança condicional, pois ela depende da fé do início ao fim, e é possível que alguém não exerça fé até o último momento, abrindo a possibilidade da salvação não ser mantida.
• O Livro da Vida
Um assunto quase nunca tocado por calvinistas é o livro da vida, onde está o nome de todos os salvos. Se Deus risca o nome de alguém do livro da vida, isso significa que uma pessoa salva está sendo tirada do rol dos que obterão a vida eterna, e, consequentemente, perdendo a salvação. Assim sendo, se o arminianismo é verdadeiro, devemos encontrar algum tipo de descrição bíblica onde um nome é retirado do livro da vida. Por outro lado, se o calvinismo for verdadeiro, não devemos encontrar nenhuma descrição assim, ou teríamos que esperar citações dizendo que é impossível que um nome seja retirado do livro.
Norman Geisler, que crê que o crente não pode perder a salvação, alegou em seu livro que “jamais se diz que Deus apagará o nome de alguém do livro da vida”. Essa afirmação é claramente falsa à luz das Escrituras, pois é notável, por toda parte, citações que mostram Deus riscando o nome de alguém no livro. O livro da vida aparece desde o Antigo Testamento, e desde aquela época já estava explícita a ideia de que Deus tira nomes do livro:
“Sejam eles tirados do livro da vida e não sejam incluídos no rol dos justos” (Salmos 69:28)
Se Moisés, o autor do Pentateuco, cresse que era impossível que Deus tirasse algum nome do livro da vida, jamais teria pedido isso:
“Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro” (Êxodo 32:32-33)
Como vemos, ao invés de Deus responder a Moisés dizendo-lhe que nunca tiraria alguém do livro, ele diz expressamente o contrário: que aquele que pecar contra Ele, teria seu nome riscado. É explícito e claro que é possível que um nome seja retirado do livro da vida. A ideia de que nome nenhum pode ser retirado do livro da vida é estranha às Escrituras e só foi inserida no pensamento de alguns em função de suas crenças calvinistas, que não admitem algo como isso.
No Apocalipse, João reflete o mesmo pensamento ao dizer:
“O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Apocalipse 3:5)
A ideia novamente é a de que é possível um nome ser riscado do livro, e que é necessário “vencer” para não ter o nome riscado. Se fosse impossível que um nome fosse riscado, jamais Jesus teria dito que o que vencer não teria o nome riscado. Seria uma redundância desnecessária. A afirmação presume que nomes podem ser riscados. Portanto, de modo implícito e também explícito, tanto o Antigo como o Novo Testamento atestam a possibilidade de um nome ser retirado do livro da vida. Desde Moisés (Êx.32:32-33), passando por Davi (Sl.69:28) até João (Ap.3:5), esse pensamento era claro.
Nomes seriam “tirados do livro da vida” (Sl.69:28), “riscados do meu livro” (Êx.32:32-33) e somente o que vencer é que não teria seu nome riscado (Ap.3:5). Impressiona que mesmo diante dessas evidências tão claras na Bíblia ainda tenha pessoas que se oponham a este ensino e creiam que Deus não risca ninguém do seu livro, ou que “jamais se diz que Deus apagará o nome de alguém do livro da vida”. Esperar-se-ia isso de principiantes no estudo da Bíblia, não de teólogos renomados.
• Analisando os “textos calvinistas”
Como é a prática deste livro, não basta apenas mostrarmos as provas bíblicas do nosso lado, é preciso também desfazer os argumentos apresentados do lado deles. Calvinistas também tem textos que, segundo eles, “provam” que o crente não pode perder a salvação, e se baseiam nestes textos quando algum arminiano tenta provar o contrário. Curiosamente, nenhum dos textos apresentados por eles são claros e explícitos como são os apresentados pelos arminianos.
É preciso mais que uma leitura nos “textos calvinistas” para chegarmos às conclusões apresentadas por eles. O principal defeito nos argumentos deles e aquilo que refuta todos os argumentos contrários de uma só vez é que todos eles fazem presumir a fidelidade do homem a partir da fidelidade de Deus. Isso é mais do que falso: isso é falacioso. É por meio deste raciocínio não deduzível nos textos que os calvinistas concluem que não podemos perder a salvação.
Há sempre uma inferência que todo calvinista faz na hora de apresentar os textos do lado deles, que é uma inferência não dedutiva nos próprios textos, mas uma que é meramente o reflexo de suas próprias convicções teológicas, e em parte pela interpretação de Calvino. Para citarmos um exemplo prático, vejamos este texto:
“Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hebreus 13:5)
Um arminiano lê um texto como este e conclui que Deus nunca nos deixará nem nos abandonará. Um calvinista lê um texto como este e conclui que Deus nunca nos deixará nem nos abandonará, e que nós também nunca deixaremos nem abandonaremos a Deus. Em termos simples, o arminiano interpreta o texto como o texto diz, enquanto o calvinista coloca no texto o que ele quer. A conclusão do arminiano, a partir disso, é que a fidelidade de Deus não implica necessariamente na fidelidade do homem, enquanto o calvinista inclui a fidelidade do homem em textos que somente falam da fidelidade de Deus.
Vejamos este outro texto:
“Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” (2ª Timóteo 1:12)
O arminiano lê este texto e conclui que Deus tem poder para guardar o depósito de Paulo até aquele dia. O calvinista lê este texto e conclui que Deus tem poder para guardar o depósito de Paulo até aquele dia e que Paulo necessariamente seria fiel e estaria salvo até aquele dia, para receber seu depósito. De um lado vemos a afirmação bíblica (de Deus tendo poder para guardar uma recompensa), e do outro lado temos uma suposição humana (de alguém necessariamente perseverando até o fim).
Suponhamos, por exemplo, que a taça da Copa Libertadores da América do ano que vem esteja em minha posse e que eu a entregarei ao time que conquistar o título, e que, diante das críticas, assegurasse ao presidente do São Paulo F. C. que “eu sou plenamente capaz de guardar a taça até a final do torneio”. Dessa afirmação apenas se deduz que eu guardarei bem a taça, e não que o São Paulo F. C. irá necessariamente ser o campeão. A fidelidade de Deus é sempre incondicional; a perseverança do homem, contudo, é condicional.
Vejamos também este texto:
“Todo o que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei” (João 6:37)
Arminianos leem este texto e concluem que Deus jamais rejeita quem vem a ele. Calvinistas leem este texto e concluem que Deus jamais rejeita quem vem a ele e que o homem também jamais rejeita a Deus. Mais uma vez, calvinistas leem mais do que o texto diz. Eles praticam frequentemente a eisegese, que é quando se força o texto para fazer com que uma passagem diga o que na verdade não se acha ali, e não exegese, que é quando se extrai o significado de um texto mediante legítimos métodos de interpretação.
Um típico exemplo de eisegese é essa declaração de Geisler, que reflete o parecer de muitos calvinistas:
“Todos os crentes estão em Cristo (2Co 5.17; Ef 1.4) e são parte de seu corpo (ICo 12.13). Por conseguinte, se alguém fosse separado de Cristo, parte de Cristo seria separada de si mesmo!”
Sim, todos os crentes estão em Cristo, e são parte de seu corpo. Isso é fato. O que não é fato e que é fruto de pura especulação é que, ao alguém ser separado de Cristo, partes do corpo de Cristo se separem de si mesmo. Isso é tão absurdo e patético quanto seria caso afirmássemos que, quando um novo convertido passa a crer e é salvo, uma nova parte corporal é inserida ao corpo de Cristo em um lugar que não existia antes. Isso, além de trazer ao campo literal algo originalmente alegórico, ainda consiste no mais puro método de eisegese conhecido pelo homem, levando uma argumentação boba para o campo do reductio ad absurdum, como se isso constituísse um argumento.
Calvinistas também costumam citar o texto de 1ª João 2:18-19, que diz:
“Filhinhos, esta é a última hora; e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora. Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos” (1ª João 2:18-19)
Porém, da premissa de que aqueles indivíduos não eram verdadeiros cristãos e deixaram a Igreja não segue a conclusão de que todos os que deixam a Igreja nunca foram verdadeiros convertidos. João nem ao menos estava falando de todas as pessoas, mas de um grupo específico, os “anticristos” (v.18), que, naquele contexto, se aplicava aos gnósticos que se infiltravam entre os cristãos passando-se por cristãos, quando descriam nos pontos mais fundamentais da fé. Nem de longe é um texto universal, que se aplica a qualquer pessoa que não permanece na Igreja.
Outro texto citado por eles é o de Romanos 8:38-39, que diz:
“Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38-39)
Novamente a lente de aumento calvinista entra em ação e onde o texto diz que nada nos separará do amor de Deus eles colocam como sendo “nada nos separará de Deus”. Isso não é mais do que uma adulteração no texto bíblico. Logicamente, nada nos pode separar do amor de Deus. O amor de Deus é infinito e universal, é para todos e incondicional, é eterno e ilimitado. Nada poderá nos separar do amor dele por nós. Mesmo se perdermos a salvação e ainda que caiamos em recorrentes pecados, Deus continuará nos amando, da mesma forma que ele ama o mundo todo (Jo.3:16), até mesmo aqueles que não são “eleitos”. Do amor de Cristo, nada os separa. De uma correta interpretação, o calvinismo os separa.
John Feinberg é outro que defende que o crente não pode perder a salvação, e ainda diz que encontra “abundante evidência bíblica” para isso, citando versículos clichês que em absolutamente nada indicam isso, a não ser sob a ótica da eisegese calvinista, onde se aumenta um texto e inclui nele inferências que o calvinista quer encontrar ali. Ele afirma:
“Encontro abundante evidência bíblica segundo a qual a apostasia é impossível. Passagens como João 6:37-39: 10:28-30: Romanos 8:28-30; 1ª Coríntios 1:8-9; Filipenses 1:6; e 1ª Pedro 1:5-9 parecem suportar a doutrina da segurança do crente”
Para não dizer que não citamos os textos mencionados por Feinberg, comecemos pelo trecho citado do evangelho de João:
“Todo o que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei. Pois desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia” (João 6:37-39)
São tantas as inferências calvinistas neste texto que podemos até traçar um quadro comparativo entre o que a Bíblia diz e como o calvinista lê:
O ensino de que a perseverança é condicional é expresso várias vezes ao longo da Sagrada Escritura. Calvinistas creem na incondicionalidade da perseverança da mesma forma que creem na “eleição incondicional”, ou seja, que todos salvos perseverarão até o fim, e que isto é incondicional, não depende do homem em nenhuma medida, ele sempre estará perseverando e nunca cairá ao ponto de perder a salvação.
Se analisássemos um milhão de casos de pessoas que foram salvas uma vez, nestes um milhão de casos todas elas teriam sempre perseverado até o fim. Nenhuma delas teria perdido a fé, nenhuma delas teria apostatado, nenhuma delas teria caído. Os que caem, para eles, são sempre aqueles que nunca foram salvos. A perseverança é incondicional, pois só assim o crente não pode perder a salvação.
Este ensino calvinista, contudo, não encontra base nas Escrituras, pois a Bíblia sempre apresenta a perseverança como sendo algo condicional e sempre mostra o outro lado da moeda, que é a possibilidade de não perseverar até o fim. Em 1ª Coríntios, por exemplo, o apóstolo Paulo disse:
“Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão” (1ª Coríntios 15:2)
Eles eram salvos por meio do evangelho, desde que...
A salvação final, como está implícito neste e em outros textos, é condicional ao apego firme à Palavra até o fim. A salvação deles não era absolutamente garantida sob qualquer circunstância. Eles eram salvos e permaneceriam assim sob uma condição, o apego à Palavra. Essa condição não seria bem uma condição se a promessa da perseverança fosse incondicional. Uma condição incondicional é uma impossibilidade lógica e uma contradição de termos. A declaração faz presumir a possibilidade da falta da perseverança e da consequente perda da salvação.
O mesmo apóstolo também disse:
“Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido proclamado a todos os que estão debaixo do céu” (Colossenses 1:22,23)
Mais uma vez, vemos aqui o mesmo princípio que vimos no outro texto: a condicionalidade da perseverança. Seria inócua a exortação a não se afastar da esperança do evangelho se esse afastamento e consequente perdição fosse algo impossível de acontecer. Além de um desperdício de tinta, induziria que é possível que eles não ficassem alicerçados e firmes na fé até o fim. O simples fato de Paulo fazer ressalvas à declaração inicial de que eles eram salvos já deveria ser suficiente para mostrar que a perseverança não é incondicional.
O autor de Hebreus segue o mesmo conceito e diz:
“Mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos” (Hebreus 3:6)
Pedro também faz o mesmo, ao dizer:
“Portanto, irmãos, empenhem-se ainda mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês, pois se agirem dessa forma, jamais tropeçarão, e assim vocês estarão ricamente providos quando entrarem no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2ª Pedro 1:10,11)
Judas igualmente nos mostra que não basta estar no amor de Deus, é preciso se manter neste amor:
“Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna” (Judas 1:21)
A conclusão inferida destes e de outros textos semelhantes é a de que a perseverança, longe de ser incondicional, é sempre apresentada de modo a presumir que é possível que alguém não persevere, e, consequentemente, não seja salvo. Isso chamamos de perseverança condicional, pois ela depende da fé do início ao fim, e é possível que alguém não exerça fé até o último momento, abrindo a possibilidade da salvação não ser mantida.
• O Livro da Vida
Um assunto quase nunca tocado por calvinistas é o livro da vida, onde está o nome de todos os salvos. Se Deus risca o nome de alguém do livro da vida, isso significa que uma pessoa salva está sendo tirada do rol dos que obterão a vida eterna, e, consequentemente, perdendo a salvação. Assim sendo, se o arminianismo é verdadeiro, devemos encontrar algum tipo de descrição bíblica onde um nome é retirado do livro da vida. Por outro lado, se o calvinismo for verdadeiro, não devemos encontrar nenhuma descrição assim, ou teríamos que esperar citações dizendo que é impossível que um nome seja retirado do livro.
Norman Geisler, que crê que o crente não pode perder a salvação, alegou em seu livro que “jamais se diz que Deus apagará o nome de alguém do livro da vida”. Essa afirmação é claramente falsa à luz das Escrituras, pois é notável, por toda parte, citações que mostram Deus riscando o nome de alguém no livro. O livro da vida aparece desde o Antigo Testamento, e desde aquela época já estava explícita a ideia de que Deus tira nomes do livro:
“Sejam eles tirados do livro da vida e não sejam incluídos no rol dos justos” (Salmos 69:28)
Se Moisés, o autor do Pentateuco, cresse que era impossível que Deus tirasse algum nome do livro da vida, jamais teria pedido isso:
“Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro” (Êxodo 32:32-33)
Como vemos, ao invés de Deus responder a Moisés dizendo-lhe que nunca tiraria alguém do livro, ele diz expressamente o contrário: que aquele que pecar contra Ele, teria seu nome riscado. É explícito e claro que é possível que um nome seja retirado do livro da vida. A ideia de que nome nenhum pode ser retirado do livro da vida é estranha às Escrituras e só foi inserida no pensamento de alguns em função de suas crenças calvinistas, que não admitem algo como isso.
No Apocalipse, João reflete o mesmo pensamento ao dizer:
“O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Apocalipse 3:5)
A ideia novamente é a de que é possível um nome ser riscado do livro, e que é necessário “vencer” para não ter o nome riscado. Se fosse impossível que um nome fosse riscado, jamais Jesus teria dito que o que vencer não teria o nome riscado. Seria uma redundância desnecessária. A afirmação presume que nomes podem ser riscados. Portanto, de modo implícito e também explícito, tanto o Antigo como o Novo Testamento atestam a possibilidade de um nome ser retirado do livro da vida. Desde Moisés (Êx.32:32-33), passando por Davi (Sl.69:28) até João (Ap.3:5), esse pensamento era claro.
Nomes seriam “tirados do livro da vida” (Sl.69:28), “riscados do meu livro” (Êx.32:32-33) e somente o que vencer é que não teria seu nome riscado (Ap.3:5). Impressiona que mesmo diante dessas evidências tão claras na Bíblia ainda tenha pessoas que se oponham a este ensino e creiam que Deus não risca ninguém do seu livro, ou que “jamais se diz que Deus apagará o nome de alguém do livro da vida”. Esperar-se-ia isso de principiantes no estudo da Bíblia, não de teólogos renomados.
• Analisando os “textos calvinistas”
Como é a prática deste livro, não basta apenas mostrarmos as provas bíblicas do nosso lado, é preciso também desfazer os argumentos apresentados do lado deles. Calvinistas também tem textos que, segundo eles, “provam” que o crente não pode perder a salvação, e se baseiam nestes textos quando algum arminiano tenta provar o contrário. Curiosamente, nenhum dos textos apresentados por eles são claros e explícitos como são os apresentados pelos arminianos.
É preciso mais que uma leitura nos “textos calvinistas” para chegarmos às conclusões apresentadas por eles. O principal defeito nos argumentos deles e aquilo que refuta todos os argumentos contrários de uma só vez é que todos eles fazem presumir a fidelidade do homem a partir da fidelidade de Deus. Isso é mais do que falso: isso é falacioso. É por meio deste raciocínio não deduzível nos textos que os calvinistas concluem que não podemos perder a salvação.
Há sempre uma inferência que todo calvinista faz na hora de apresentar os textos do lado deles, que é uma inferência não dedutiva nos próprios textos, mas uma que é meramente o reflexo de suas próprias convicções teológicas, e em parte pela interpretação de Calvino. Para citarmos um exemplo prático, vejamos este texto:
“Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hebreus 13:5)
Um arminiano lê um texto como este e conclui que Deus nunca nos deixará nem nos abandonará. Um calvinista lê um texto como este e conclui que Deus nunca nos deixará nem nos abandonará, e que nós também nunca deixaremos nem abandonaremos a Deus. Em termos simples, o arminiano interpreta o texto como o texto diz, enquanto o calvinista coloca no texto o que ele quer. A conclusão do arminiano, a partir disso, é que a fidelidade de Deus não implica necessariamente na fidelidade do homem, enquanto o calvinista inclui a fidelidade do homem em textos que somente falam da fidelidade de Deus.
Vejamos este outro texto:
“Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” (2ª Timóteo 1:12)
O arminiano lê este texto e conclui que Deus tem poder para guardar o depósito de Paulo até aquele dia. O calvinista lê este texto e conclui que Deus tem poder para guardar o depósito de Paulo até aquele dia e que Paulo necessariamente seria fiel e estaria salvo até aquele dia, para receber seu depósito. De um lado vemos a afirmação bíblica (de Deus tendo poder para guardar uma recompensa), e do outro lado temos uma suposição humana (de alguém necessariamente perseverando até o fim).
Suponhamos, por exemplo, que a taça da Copa Libertadores da América do ano que vem esteja em minha posse e que eu a entregarei ao time que conquistar o título, e que, diante das críticas, assegurasse ao presidente do São Paulo F. C. que “eu sou plenamente capaz de guardar a taça até a final do torneio”. Dessa afirmação apenas se deduz que eu guardarei bem a taça, e não que o São Paulo F. C. irá necessariamente ser o campeão. A fidelidade de Deus é sempre incondicional; a perseverança do homem, contudo, é condicional.
Vejamos também este texto:
“Todo o que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei” (João 6:37)
Arminianos leem este texto e concluem que Deus jamais rejeita quem vem a ele. Calvinistas leem este texto e concluem que Deus jamais rejeita quem vem a ele e que o homem também jamais rejeita a Deus. Mais uma vez, calvinistas leem mais do que o texto diz. Eles praticam frequentemente a eisegese, que é quando se força o texto para fazer com que uma passagem diga o que na verdade não se acha ali, e não exegese, que é quando se extrai o significado de um texto mediante legítimos métodos de interpretação.
Um típico exemplo de eisegese é essa declaração de Geisler, que reflete o parecer de muitos calvinistas:
“Todos os crentes estão em Cristo (2Co 5.17; Ef 1.4) e são parte de seu corpo (ICo 12.13). Por conseguinte, se alguém fosse separado de Cristo, parte de Cristo seria separada de si mesmo!”
Sim, todos os crentes estão em Cristo, e são parte de seu corpo. Isso é fato. O que não é fato e que é fruto de pura especulação é que, ao alguém ser separado de Cristo, partes do corpo de Cristo se separem de si mesmo. Isso é tão absurdo e patético quanto seria caso afirmássemos que, quando um novo convertido passa a crer e é salvo, uma nova parte corporal é inserida ao corpo de Cristo em um lugar que não existia antes. Isso, além de trazer ao campo literal algo originalmente alegórico, ainda consiste no mais puro método de eisegese conhecido pelo homem, levando uma argumentação boba para o campo do reductio ad absurdum, como se isso constituísse um argumento.
Calvinistas também costumam citar o texto de 1ª João 2:18-19, que diz:
“Filhinhos, esta é a última hora; e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora. Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos” (1ª João 2:18-19)
Porém, da premissa de que aqueles indivíduos não eram verdadeiros cristãos e deixaram a Igreja não segue a conclusão de que todos os que deixam a Igreja nunca foram verdadeiros convertidos. João nem ao menos estava falando de todas as pessoas, mas de um grupo específico, os “anticristos” (v.18), que, naquele contexto, se aplicava aos gnósticos que se infiltravam entre os cristãos passando-se por cristãos, quando descriam nos pontos mais fundamentais da fé. Nem de longe é um texto universal, que se aplica a qualquer pessoa que não permanece na Igreja.
Outro texto citado por eles é o de Romanos 8:38-39, que diz:
“Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38-39)
Novamente a lente de aumento calvinista entra em ação e onde o texto diz que nada nos separará do amor de Deus eles colocam como sendo “nada nos separará de Deus”. Isso não é mais do que uma adulteração no texto bíblico. Logicamente, nada nos pode separar do amor de Deus. O amor de Deus é infinito e universal, é para todos e incondicional, é eterno e ilimitado. Nada poderá nos separar do amor dele por nós. Mesmo se perdermos a salvação e ainda que caiamos em recorrentes pecados, Deus continuará nos amando, da mesma forma que ele ama o mundo todo (Jo.3:16), até mesmo aqueles que não são “eleitos”. Do amor de Cristo, nada os separa. De uma correta interpretação, o calvinismo os separa.
John Feinberg é outro que defende que o crente não pode perder a salvação, e ainda diz que encontra “abundante evidência bíblica” para isso, citando versículos clichês que em absolutamente nada indicam isso, a não ser sob a ótica da eisegese calvinista, onde se aumenta um texto e inclui nele inferências que o calvinista quer encontrar ali. Ele afirma:
“Encontro abundante evidência bíblica segundo a qual a apostasia é impossível. Passagens como João 6:37-39: 10:28-30: Romanos 8:28-30; 1ª Coríntios 1:8-9; Filipenses 1:6; e 1ª Pedro 1:5-9 parecem suportar a doutrina da segurança do crente”
Para não dizer que não citamos os textos mencionados por Feinberg, comecemos pelo trecho citado do evangelho de João:
“Todo o que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei. Pois desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia” (João 6:37-39)
São tantas as inferências calvinistas neste texto que podemos até traçar um quadro comparativo entre o que a Bíblia diz e como o calvinista lê:
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
O QUE O TEXTO DIZ COMO O ARMINIANO LÊ COMO O CALVINISTA LÊ
Deus jamais rejeita quem vem a ele Deus jamais rejeita quem vem a ele Deus jamais rejeita quem vem a ele, e o homem também jamais pode rejeitar a Deus
Deus não quer que ninguém que veio a ele se perca Deus não quer que ninguém que veio a ele se perca Deus não quer que ninguém que veio a ele se perca, e ninguém que veio a ele se perderá
É necessário acrescentar que nenhum arminiano crê que Deus quer que alguém que veio a Cristo se perca. Jesus estava plenamente certo quando disse que Deus não quer que ninguém se perca. Mas daí não se segue a conclusão de que efetivamente ninguém se perde. Isso é concluir no vazio, sem o apoio de premissas básicas de fundamento. O testemunho bíblico unânime é que pessoas se perdem, mesmo sem ser da vontade de Deus:
“Desejaria eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová; não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?” (Ezequiel 18:23)
“Pois não me agrada a morte de ninguém; palavra do Soberano Senhor. Arrependam-se e vivam!” (Ezequiel 18:32)
“Deus não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” (Ezequiel 33:11)
“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2ª Pedro 3:9)
“Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1ª Timóteo 2:3,4)
Em síntese, da premissa que diz que Deus não quer que alguém se perca não se segue a conclusão de que tal pessoa não irá se perder. Jesus também não queria que Jerusalém fosse destruída (Mt.23:37). Ele chegou até a chorar sobre ela (Lc.19:41). Mas ela foi destruída assim mesmo (Mt.23:38).
Feinberg também citou o texto de João 10:28-29, que diz:
“Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai” (João 10:28-29)
Mais uma vez, o problema do calvinista é enxergar neste texto a impossibilidade de que as próprias pessoas, por livre e espontânea vontade, o abandonem. O texto diz que ninguém poderá tirá-las do Pai, não fala nada sobre se aquelas próprias pessoas podem ou não deixá-lo. A conclusão de que as próprias pessoas também não podem deixá-lo fica por conta da especulação calvinista, e não do texto bíblico. O fato de ninguém poder tirar algo da mão de alguém de modo algum implica em este algo não poder fazer nada.
Suponhamos que eu carregue um labrador no colo e diga a todo mundo que ninguém pode tirá-lo de mim. Isso significa que nenhuma outra pessoa pode vir até mim e arrancá-lo da minha mão. Mas isso não significa que eu estou impedindo o labrador de, por si mesmo e por livre e espontânea vontade, sair do meu colo. Se eu fizesse isso, não estaria cuidando dele, mas dominando-o. Deus não é um ditador celestial que impede que seus filhos saiam de seus braços, e sim um pai amável que os protege das ameaças externas, mas que respeita a livre decisão de cada filho.
Quando alguém deixa os braços de Cristo, não é porque outra pessoa a arrancou das mãos do Pai, mas porque o próprio indivíduo optou pelo outro caminho. É digno de nota que neste mesmo Evangelho de João, poucos capítulos adiante, vemos Jesus dizendo isso:
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. "Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (João 15:1-7)
"...todo ramo que estando em mim não dá fruto, ele corta"
"...permaneçam em mim e eu permanecerei em vocês"
"...vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim"
"...se alguém permanecer em mim"
"...se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora"
"...tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados"
Assim, o próprio Senhor Jesus esclareceu que, embora ninguém de fora possa arrebatar dele as suas ovelhas, as ovelhas podem se separar de Cristo por sua própria conta, não permanecendo nele e sendo por fim queimadas. Como no exemplo do navio, ninguém de outro navio pode entrar no navio de Cristo para tirar à força os crentes que ali estão e lançá-los ao mar, mas os próprios crentes podem por sua própria conta e liberdade se lançarem e se perderem. É como disse o pastor Ciro Zibordi:
“Quem quiser pode ‘navegar’ em outras ‘embarcações’ ou ‘canoas furadas’. Contudo, é melhor permanecer no ‘navio da salvação’, em Cristo, pois a segurança da salvação é para quem nEle permanecer (Jo 10.28). Ninguém pode arrebatar, raptar, o crente da mão de Jesus, a menos que o próprio crente negue a sua fé, seguindo a falsos doutores (2 Tm 4.1-5)”
Outro texto mencionado por Feinberg foi o de 1ª Pedro 1:8-9, que diz:
“Mesmo não o tendo visto, vocês o amam; e apesar de não o verem agora, crêem nele e exultam com alegria indizível e gloriosa, pois vocês estão alcançando o alvo da sua fé, a salvação das suas almas” (1ª Pedro 1:8-9)
Não sei onde Feinberg viu neste texto a garantia de que a salvação não pode ser perdida, ainda mais quando o texto diz que eles “estão alcançando” o alvo da fé, e não que “já alcançaram”. Todos os versículos que mostramos anteriormente provam que a finalização deste processo não é incondicional, e que o homem pode perder a salvação, caso não persevere até o fim.
Feinberg também fez menção ao texto de Filipenses 1:6, que diz:
“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6)
Presumir a fidelidade e perseverança incondicional do homem à luz de um texto que meramente diz que é Deus quem começa e aperfeiçoa a obra é desonestidade intelectual. Paulo estava dizendo que a glória e o mérito é todo de Deus, é ele quem inicia a salvação e é ele quem nos aperfeiçoa. Ele não garante que o homem não possa rejeitar a Deus ou recusar a obra dele em sua vida. Vimos no capítulo 5 que a graça não é irresistível e que o homem pode resistir a Deus. O texto garante a parte de Deus, não garante a parte do homem.
Por fim, o último texto citado por Feinberg na defesa de seu calvinismo de cinco pontos foi o de 1ª Coríntios 1:8-9, que, semelhante à construção do texto anterior, diz:
“Ele os manterá firmes até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1ª Coríntios 1:8-9)
O erro na interpretação deste texto é o mesmo do anterior. O texto diz que “fiel é Deus” (v.9), e não que o homem é fiel. A fidelidade de Deus não presume a fidelidade do homem. É Deus que nos mantém firmes, mas o homem não é um robô passivo, ele pode resistir a Deus. Se o homem permanece firme é por causa da fidelidade de Deus, e se ele não permanece firme é por culpa de sua própria infidelidade. Do início ao fim é por Deus que estamos firmes, e não por nós mesmos.
Isso, obviamente, não significa que nós não possamos ser infieis mesmo em vista da fidelidade de Deus. É isso o que Paulo diz em 2ª Timóteo 2:12-13:
“Se o negamos, ele também nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo” (2ª Timóteo 2:12-13)
O homem que se aparta de Deus é infiel, mas o próprio Deus permanece fiel. A culpa da separação não foi de Deus, foi do homem. Deus permaneceu fiel o tempo todo, mesmo vendo a infidelidade do homem. Paulo diz que Deus permanece fiel mesmo com os que se tornaram infieis, e que ele, exatamente por ter sido fiel, nos negará, porque nós o negamos. Deus não pode ser infiel a quem é infiel com ele, mas ele pode negar a quem o nega, e quem o nega é quem é infiel.
Desta forma, vemos que a fidelidade de Deus não implica na fidelidade do homem. O homem pode ser infiel mesmo com Deus permanecendo fiel, e, ao tornar-se infiel, nega a Deus e é negado por ele, tendo por fim a condenação. Este é o mesmo princípio que o Senhor Jesus revelou em Mateus 10:33, ao dizer:
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
“Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus” (Mateus 10:33)
Desde o Antigo Testamento este conceito já era vigente. Azarias já dizia:
“Escutem-me, Asa e todo o povo de Judá e de Benjamim. O Senhor está com vocês quando vocês estão com ele. Se o buscarem, ele deixará que o encontrem, mas, se o abandonarem, ele os abandonará” (2ª Crônicas 15:2)
Deus é sempre fiel, mas o homem pode se tornar infiel e abandonar ao Senhor, sendo, por isso, abandonado por ele. Este abandono divino não é infidelidade, mas é uma consequencia do pecado. A infidelidade, que é o “divórcio”, foi praticada pelo homem. Deus apenas respeita a decisão do homem e permite que ele viva longe dele, se assim é o desejo do homem, que deverá pagar as consequencias naturais de suas próprias escolhas, por ter abandonado a Deus.
O Espírito Santo é o penhor (garantia) de que Deus será fiel conosco. Ele é o selo da nossa redenção (Ef.4:30). Mesmo assim, podemos entristecer (Ef.4:30) e até mesmo extinguir o Espírito Santo das nossas vidas (1Ts.5:19). O selo garante as promessas de Deus a respeito do homem, e não a resposta do homem às promessas de Deus. Como já foi dito, Deus é poderoso para cumprir tudo aquilo que ele promete aos seus santos e para guardar o galardão até aquele dia, mas o homem pode tornar-se infiel mesmo com Deus sendo fiel para com ele.
Infelizmente, calvinistas moldam as passagens que falam da fidelidade da parte de Deus para tentar incluir nelas a ideia de que os homens também serão fieis. Deus não prometeu cumprir a sua parte e forçar o homem a cumprir a dele. Se fosse assim, seria impossível alguém se tornar infiel, como Paulo disse (2Tm.2:12-13). Deus cumpre a parte dele, mantém sua palavra e fidelidade, mas o homem continua livre para aceitar ou rejeitar a operação de Deus em sua vida, para se arrepender ou resistir ao arrependimento (Ap.2:3-5; 2:16; 2:21-22; 3:3), para ser fiel ou infiel (2Tm.2:12-13), para perseverar ou cair (Hb.6:4-6; Gl.5:4).
• A perda da salvação implica em salvação pelas obras?
Um argumento final dado pelos calvinistas na tentativa de refutar o ensinamento bíblico da perda da salvação é que, se a salvação é perdida quando alguém cai em pecados deliberados e recorrentes, ela estaria dependente das obras, e, consequentemente, a salvação seria por obras e não pela fé. Se é a fé que nos salva, então o pecado ou a falta de boas obras não podem ocasionar a perda da salvação, segundo o raciocínio deles.
O problema com essa lógica calvinista é que o que determina a perda da salvação não é a perda das obras, mas a perda da fé, que ocasiona a perda das obras. Da mesma forma que é a fé que nos salva, mas essa fé gera frutos (obras) de nossa parte (Tg.2:14-26), senão é uma fé morta (Tg.2:17), aquele que volta aos vícios e ao estado de pecados deliberados e recorrentes faz isso em função da perda da fé, que, consequentemente, gerou a perda das obras.
O fator determinante e causativo em primeira instância para a perda da salvação não foi, portanto, a perda das obras, mas a perda da fé. A perda das obras é meramente uma consequencia natural da perda da fé. Se a fé genuína é a fé que gera obras e sem essa fé com obras o homem não é salvo (Tg.2:14-26), então a perda das obras significa que o homem perdeu a fé. Em termos práticos, a fé é a causa e as obras o efeito. Tendo a fé verdadeira (causa), temos as obras (efeito) que provém da fé. Mas, quando as obras (efeito) se vão, é porque a fé (causa) não está mais operando. É assim que entendemos o texto de Tiago, que disse:
“Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (Tiago 2:17-18)
Tiago não estava pregando a salvação por obras, mas a salvação pela fé genuína que gera obras. Mas, se as obras são geradas pela fé, a consequencia lógica da perda do efeito é a inoperância da causa. Não é à toa que Jesus disse que o amor de muitos se esfriaria (Mt.24:12). É possível que uma fé “quente” se torne uma fé “fria”, até o ponto de desaparecer, como disse Paulo:
“Mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé” (1ª Timóteo 1:19)
Desta forma, vemos que é possível manter a fé ou não manter a fé, que significa rejeitar a fé. É por isso que temos que ter “cuidado para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo” (Hb.3:12). Se é possível esfriar e perder a fé, tornando-se “incrédulo”, a consequencia será a perda daquilo que era gerado pela fé, no que se refere à santidade e às obras. É por isso que a Bíblia diz que “sem santidade ninguém verá ao Senhor” (Hb.12:14).
Não é que a santidade salve, mas que ela mostra quando alguém tem a fé genuína que produz santidade e quando alguém tem uma fé morta que não produz nada, e que mantém o homem nos mesmos pecados de antes. Assim sendo, sem santidade ninguém será salvo, não porque a santidade salve, mas porque a falta dela mostra que alguém não tem fé. A fé, no sentido bíblico real, não é uma simples convicção intelectual de que Deus existe (como creem alguns), pois esse tipo de fé até os demônios tem:
“Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem – e tremem! Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil?” (Tiago 2:19-20)
A fé verdadeira não é um “sentimento” ou uma convicção intelectual, mas algo tão profundo que nos leva a amar a Deus de tal maneira e de tal modo que venhamos a buscá-lo e a corresponder neste amor. Da mesma forma que um marido que realmente ama sua esposa fará questão de demonstrar isso sendo fiel, mas aquele que trai está demonstrando que não ama da forma que amava antes, quem ama a Deus demonstra este amor com atitudes, e a falta dessas atitudes mostram que o primeiro amor se esfriou.
O mecanismo não funciona tendo as obras como o fundamento, mas com a fé sendo a base de tudo. É a fé que nos justifica (Ef.2:8), e a justiça do Evangelho é “do princípio ao fim pela fé” (Rm.1:17). Da mesma forma que é pela fé que somos salvos, é pela falta dela que perdemos a salvação. A consequencia desta perda da fé será o pecado deliberado e a falta das obras do primeiro amor. Elas são aquilo que mostra que o homem está em declínio espiritual, prestes a cair por completo (Ap.2:5).
• Últimas considerações
Queiram ou não, a perda da salvação à luz da Bíblia é algo claro e indiscutível. As tentativas de remendar textos bíblicos que objetivamente mostram o homem caindo da graça tem se demonstrado fracas e ineficazes, mostrando quase que um desespero em encaixar uma teologia dentro da Bíblia, ao invés de extrair da Bíblia a verdadeira teologia. Da mesma forma, as tentativas calvinistas em argumentar em cima da perda da salvação como uma zombaria, tentando amedontrar os arminianos na incerteza da salvação, tem se mostrado débeis ao extremo, pois o mesmo volta ainda com mais força contra eles.
Se é verdade que nenhum arminiano pode ter absoluta convicção de sua salvação final, pois a possibilidade da apostasia existe, também é verdade que nenhum calvinista pode ter absoluta convicção de que é um “escolhido”, pois nenhum deles tem acesso ao livro da vida. O próprio Calvino rejeitou a ideia daqueles que tentam “buscar fora do caminho, digo, quando um mísero homem tenta irromper pelos recônditos recessos da divina sabedoria e, para que saiba o que foi a seu respeito estabelecido no tribunal de Deus, tenta penetrar até a suma eternidade”.
Agostinho, que provavelmente podemos considerar o “primeiro calvinista”, também admitia isso:
“Pois quem da multidão de crentes pode presumir, enquanto vivendo neste estado mortal, que ele está entre o número dos predestinados?”
J. C. Ryle também é claro em afirmar que “não sabemos quem são os eleitos de Deus”, que “não temos como descobrir os planos eternos de Deus nem podemos ler o livro da vida” e que “chamar alguém que vive em pecado de eleito não passa de asneira e blasfêmia”. O simples fato de alguém parecer estar firme na fé não significa necessariamente que essa pessoa é eleita, pois, como diz Geisler, “Calvino mesmo fala de ‘uma falsa obra da graça’, e Sproul assevera que podemos pensar que temos fé quando de fato não temos fé”.
Desde o Antigo Testamento este conceito já era vigente. Azarias já dizia:
“Escutem-me, Asa e todo o povo de Judá e de Benjamim. O Senhor está com vocês quando vocês estão com ele. Se o buscarem, ele deixará que o encontrem, mas, se o abandonarem, ele os abandonará” (2ª Crônicas 15:2)
Deus é sempre fiel, mas o homem pode se tornar infiel e abandonar ao Senhor, sendo, por isso, abandonado por ele. Este abandono divino não é infidelidade, mas é uma consequencia do pecado. A infidelidade, que é o “divórcio”, foi praticada pelo homem. Deus apenas respeita a decisão do homem e permite que ele viva longe dele, se assim é o desejo do homem, que deverá pagar as consequencias naturais de suas próprias escolhas, por ter abandonado a Deus.
O Espírito Santo é o penhor (garantia) de que Deus será fiel conosco. Ele é o selo da nossa redenção (Ef.4:30). Mesmo assim, podemos entristecer (Ef.4:30) e até mesmo extinguir o Espírito Santo das nossas vidas (1Ts.5:19). O selo garante as promessas de Deus a respeito do homem, e não a resposta do homem às promessas de Deus. Como já foi dito, Deus é poderoso para cumprir tudo aquilo que ele promete aos seus santos e para guardar o galardão até aquele dia, mas o homem pode tornar-se infiel mesmo com Deus sendo fiel para com ele.
Infelizmente, calvinistas moldam as passagens que falam da fidelidade da parte de Deus para tentar incluir nelas a ideia de que os homens também serão fieis. Deus não prometeu cumprir a sua parte e forçar o homem a cumprir a dele. Se fosse assim, seria impossível alguém se tornar infiel, como Paulo disse (2Tm.2:12-13). Deus cumpre a parte dele, mantém sua palavra e fidelidade, mas o homem continua livre para aceitar ou rejeitar a operação de Deus em sua vida, para se arrepender ou resistir ao arrependimento (Ap.2:3-5; 2:16; 2:21-22; 3:3), para ser fiel ou infiel (2Tm.2:12-13), para perseverar ou cair (Hb.6:4-6; Gl.5:4).
• A perda da salvação implica em salvação pelas obras?
Um argumento final dado pelos calvinistas na tentativa de refutar o ensinamento bíblico da perda da salvação é que, se a salvação é perdida quando alguém cai em pecados deliberados e recorrentes, ela estaria dependente das obras, e, consequentemente, a salvação seria por obras e não pela fé. Se é a fé que nos salva, então o pecado ou a falta de boas obras não podem ocasionar a perda da salvação, segundo o raciocínio deles.
O problema com essa lógica calvinista é que o que determina a perda da salvação não é a perda das obras, mas a perda da fé, que ocasiona a perda das obras. Da mesma forma que é a fé que nos salva, mas essa fé gera frutos (obras) de nossa parte (Tg.2:14-26), senão é uma fé morta (Tg.2:17), aquele que volta aos vícios e ao estado de pecados deliberados e recorrentes faz isso em função da perda da fé, que, consequentemente, gerou a perda das obras.
O fator determinante e causativo em primeira instância para a perda da salvação não foi, portanto, a perda das obras, mas a perda da fé. A perda das obras é meramente uma consequencia natural da perda da fé. Se a fé genuína é a fé que gera obras e sem essa fé com obras o homem não é salvo (Tg.2:14-26), então a perda das obras significa que o homem perdeu a fé. Em termos práticos, a fé é a causa e as obras o efeito. Tendo a fé verdadeira (causa), temos as obras (efeito) que provém da fé. Mas, quando as obras (efeito) se vão, é porque a fé (causa) não está mais operando. É assim que entendemos o texto de Tiago, que disse:
“Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (Tiago 2:17-18)
Tiago não estava pregando a salvação por obras, mas a salvação pela fé genuína que gera obras. Mas, se as obras são geradas pela fé, a consequencia lógica da perda do efeito é a inoperância da causa. Não é à toa que Jesus disse que o amor de muitos se esfriaria (Mt.24:12). É possível que uma fé “quente” se torne uma fé “fria”, até o ponto de desaparecer, como disse Paulo:
“Mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé” (1ª Timóteo 1:19)
Desta forma, vemos que é possível manter a fé ou não manter a fé, que significa rejeitar a fé. É por isso que temos que ter “cuidado para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo” (Hb.3:12). Se é possível esfriar e perder a fé, tornando-se “incrédulo”, a consequencia será a perda daquilo que era gerado pela fé, no que se refere à santidade e às obras. É por isso que a Bíblia diz que “sem santidade ninguém verá ao Senhor” (Hb.12:14).
Não é que a santidade salve, mas que ela mostra quando alguém tem a fé genuína que produz santidade e quando alguém tem uma fé morta que não produz nada, e que mantém o homem nos mesmos pecados de antes. Assim sendo, sem santidade ninguém será salvo, não porque a santidade salve, mas porque a falta dela mostra que alguém não tem fé. A fé, no sentido bíblico real, não é uma simples convicção intelectual de que Deus existe (como creem alguns), pois esse tipo de fé até os demônios tem:
“Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem – e tremem! Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil?” (Tiago 2:19-20)
A fé verdadeira não é um “sentimento” ou uma convicção intelectual, mas algo tão profundo que nos leva a amar a Deus de tal maneira e de tal modo que venhamos a buscá-lo e a corresponder neste amor. Da mesma forma que um marido que realmente ama sua esposa fará questão de demonstrar isso sendo fiel, mas aquele que trai está demonstrando que não ama da forma que amava antes, quem ama a Deus demonstra este amor com atitudes, e a falta dessas atitudes mostram que o primeiro amor se esfriou.
O mecanismo não funciona tendo as obras como o fundamento, mas com a fé sendo a base de tudo. É a fé que nos justifica (Ef.2:8), e a justiça do Evangelho é “do princípio ao fim pela fé” (Rm.1:17). Da mesma forma que é pela fé que somos salvos, é pela falta dela que perdemos a salvação. A consequencia desta perda da fé será o pecado deliberado e a falta das obras do primeiro amor. Elas são aquilo que mostra que o homem está em declínio espiritual, prestes a cair por completo (Ap.2:5).
• Últimas considerações
Queiram ou não, a perda da salvação à luz da Bíblia é algo claro e indiscutível. As tentativas de remendar textos bíblicos que objetivamente mostram o homem caindo da graça tem se demonstrado fracas e ineficazes, mostrando quase que um desespero em encaixar uma teologia dentro da Bíblia, ao invés de extrair da Bíblia a verdadeira teologia. Da mesma forma, as tentativas calvinistas em argumentar em cima da perda da salvação como uma zombaria, tentando amedontrar os arminianos na incerteza da salvação, tem se mostrado débeis ao extremo, pois o mesmo volta ainda com mais força contra eles.
Se é verdade que nenhum arminiano pode ter absoluta convicção de sua salvação final, pois a possibilidade da apostasia existe, também é verdade que nenhum calvinista pode ter absoluta convicção de que é um “escolhido”, pois nenhum deles tem acesso ao livro da vida. O próprio Calvino rejeitou a ideia daqueles que tentam “buscar fora do caminho, digo, quando um mísero homem tenta irromper pelos recônditos recessos da divina sabedoria e, para que saiba o que foi a seu respeito estabelecido no tribunal de Deus, tenta penetrar até a suma eternidade”.
Agostinho, que provavelmente podemos considerar o “primeiro calvinista”, também admitia isso:
“Pois quem da multidão de crentes pode presumir, enquanto vivendo neste estado mortal, que ele está entre o número dos predestinados?”
J. C. Ryle também é claro em afirmar que “não sabemos quem são os eleitos de Deus”, que “não temos como descobrir os planos eternos de Deus nem podemos ler o livro da vida” e que “chamar alguém que vive em pecado de eleito não passa de asneira e blasfêmia”. O simples fato de alguém parecer estar firme na fé não significa necessariamente que essa pessoa é eleita, pois, como diz Geisler, “Calvino mesmo fala de ‘uma falsa obra da graça’, e Sproul assevera que podemos pensar que temos fé quando de fato não temos fé”.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
“Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus” (Mateus 10:33)
Desde o Antigo Testamento este conceito já era vigente. Azarias já dizia:
“Escutem-me, Asa e todo o povo de Judá e de Benjamim. O Senhor está com vocês quando vocês estão com ele. Se o buscarem, ele deixará que o encontrem, mas, se o abandonarem, ele os abandonará” (2ª Crônicas 15:2)
Deus é sempre fiel, mas o homem pode se tornar infiel e abandonar ao Senhor, sendo, por isso, abandonado por ele. Este abandono divino não é infidelidade, mas é uma consequencia do pecado. A infidelidade, que é o “divórcio”, foi praticada pelo homem. Deus apenas respeita a decisão do homem e permite que ele viva longe dele, se assim é o desejo do homem, que deverá pagar as consequencias naturais de suas próprias escolhas, por ter abandonado a Deus.
O Espírito Santo é o penhor (garantia) de que Deus será fiel conosco. Ele é o selo da nossa redenção (Ef.4:30). Mesmo assim, podemos entristecer (Ef.4:30) e até mesmo extinguir o Espírito Santo das nossas vidas (1Ts.5:19). O selo garante as promessas de Deus a respeito do homem, e não a resposta do homem às promessas de Deus. Como já foi dito, Deus é poderoso para cumprir tudo aquilo que ele promete aos seus santos e para guardar o galardão até aquele dia, mas o homem pode tornar-se infiel mesmo com Deus sendo fiel para com ele.
Infelizmente, calvinistas moldam as passagens que falam da fidelidade da parte de Deus para tentar incluir nelas a ideia de que os homens também serão fieis. Deus não prometeu cumprir a sua parte e forçar o homem a cumprir a dele. Se fosse assim, seria impossível alguém se tornar infiel, como Paulo disse (2Tm.2:12-13). Deus cumpre a parte dele, mantém sua palavra e fidelidade, mas o homem continua livre para aceitar ou rejeitar a operação de Deus em sua vida, para se arrepender ou resistir ao arrependimento (Ap.2:3-5; 2:16; 2:21-22; 3:3), para ser fiel ou infiel (2Tm.2:12-13), para perseverar ou cair (Hb.6:4-6; Gl.5:4).
• A perda da salvação implica em salvação pelas obras?
Um argumento final dado pelos calvinistas na tentativa de refutar o ensinamento bíblico da perda da salvação é que, se a salvação é perdida quando alguém cai em pecados deliberados e recorrentes, ela estaria dependente das obras, e, consequentemente, a salvação seria por obras e não pela fé. Se é a fé que nos salva, então o pecado ou a falta de boas obras não podem ocasionar a perda da salvação, segundo o raciocínio deles.
O problema com essa lógica calvinista é que o que determina a perda da salvação não é a perda das obras, mas a perda da fé, que ocasiona a perda das obras. Da mesma forma que é a fé que nos salva, mas essa fé gera frutos (obras) de nossa parte (Tg.2:14-26), senão é uma fé morta (Tg.2:17), aquele que volta aos vícios e ao estado de pecados deliberados e recorrentes faz isso em função da perda da fé, que, consequentemente, gerou a perda das obras.
O fator determinante e causativo em primeira instância para a perda da salvação não foi, portanto, a perda das obras, mas a perda da fé. A perda das obras é meramente uma consequencia natural da perda da fé. Se a fé genuína é a fé que gera obras e sem essa fé com obras o homem não é salvo (Tg.2:14-26), então a perda das obras significa que o homem perdeu a fé. Em termos práticos, a fé é a causa e as obras o efeito. Tendo a fé verdadeira (causa), temos as obras (efeito) que provém da fé. Mas, quando as obras (efeito) se vão, é porque a fé (causa) não está mais operando. É assim que entendemos o texto de Tiago, que disse:
“Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (Tiago 2:17-18)
Tiago não estava pregando a salvação por obras, mas a salvação pela fé genuína que gera obras. Mas, se as obras são geradas pela fé, a consequencia lógica da perda do efeito é a inoperância da causa. Não é à toa que Jesus disse que o amor de muitos se esfriaria (Mt.24:12). É possível que uma fé “quente” se torne uma fé “fria”, até o ponto de desaparecer, como disse Paulo:
“Mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé” (1ª Timóteo 1:19)
Desta forma, vemos que é possível manter a fé ou não manter a fé, que significa rejeitar a fé. É por isso que temos que ter “cuidado para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo” (Hb.3:12). Se é possível esfriar e perder a fé, tornando-se “incrédulo”, a consequencia será a perda daquilo que era gerado pela fé, no que se refere à santidade e às obras. É por isso que a Bíblia diz que “sem santidade ninguém verá ao Senhor” (Hb.12:14).
Não é que a santidade salve, mas que ela mostra quando alguém tem a fé genuína que produz santidade e quando alguém tem uma fé morta que não produz nada, e que mantém o homem nos mesmos pecados de antes. Assim sendo, sem santidade ninguém será salvo, não porque a santidade salve, mas porque a falta dela mostra que alguém não tem fé. A fé, no sentido bíblico real, não é uma simples convicção intelectual de que Deus existe (como creem alguns), pois esse tipo de fé até os demônios tem:
“Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem – e tremem! Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil?” (Tiago 2:19-20)
A fé verdadeira não é um “sentimento” ou uma convicção intelectual, mas algo tão profundo que nos leva a amar a Deus de tal maneira e de tal modo que venhamos a buscá-lo e a corresponder neste amor. Da mesma forma que um marido que realmente ama sua esposa fará questão de demonstrar isso sendo fiel, mas aquele que trai está demonstrando que não ama da forma que amava antes, quem ama a Deus demonstra este amor com atitudes, e a falta dessas atitudes mostram que o primeiro amor se esfriou.
O mecanismo não funciona tendo as obras como o fundamento, mas com a fé sendo a base de tudo. É a fé que nos justifica (Ef.2:8), e a justiça do Evangelho é “do princípio ao fim pela fé” (Rm.1:17). Da mesma forma que é pela fé que somos salvos, é pela falta dela que perdemos a salvação. A consequencia desta perda da fé será o pecado deliberado e a falta das obras do primeiro amor. Elas são aquilo que mostra que o homem está em declínio espiritual, prestes a cair por completo (Ap.2:5).
• Últimas considerações
Queiram ou não, a perda da salvação à luz da Bíblia é algo claro e indiscutível. As tentativas de remendar textos bíblicos que objetivamente mostram o homem caindo da graça tem se demonstrado fracas e ineficazes, mostrando quase que um desespero em encaixar uma teologia dentro da Bíblia, ao invés de extrair da Bíblia a verdadeira teologia. Da mesma forma, as tentativas calvinistas em argumentar em cima da perda da salvação como uma zombaria, tentando amedontrar os arminianos na incerteza da salvação, tem se mostrado débeis ao extremo, pois o mesmo volta ainda com mais força contra eles.
Se é verdade que nenhum arminiano pode ter absoluta convicção de sua salvação final, pois a possibilidade da apostasia existe, também é verdade que nenhum calvinista pode ter absoluta convicção de que é um “escolhido”, pois nenhum deles tem acesso ao livro da vida. O próprio Calvino rejeitou a ideia daqueles que tentam “buscar fora do caminho, digo, quando um mísero homem tenta irromper pelos recônditos recessos da divina sabedoria e, para que saiba o que foi a seu respeito estabelecido no tribunal de Deus, tenta penetrar até a suma eternidade”.
Agostinho, que provavelmente podemos considerar o “primeiro calvinista”, também admitia isso:
“Pois quem da multidão de crentes pode presumir, enquanto vivendo neste estado mortal, que ele está entre o número dos predestinados?”
J. C. Ryle também é claro em afirmar que “não sabemos quem são os eleitos de Deus”, que “não temos como descobrir os planos eternos de Deus nem podemos ler o livro da vida” e que “chamar alguém que vive em pecado de eleito não passa de asneira e blasfêmia”. O simples fato de alguém parecer estar firme na fé não significa necessariamente que essa pessoa é eleita, pois, como diz Geisler, “Calvino mesmo fala de ‘uma falsa obra da graça’, e Sproul assevera que podemos pensar que temos fé quando de fato não temos fé”.
Desde o Antigo Testamento este conceito já era vigente. Azarias já dizia:
“Escutem-me, Asa e todo o povo de Judá e de Benjamim. O Senhor está com vocês quando vocês estão com ele. Se o buscarem, ele deixará que o encontrem, mas, se o abandonarem, ele os abandonará” (2ª Crônicas 15:2)
Deus é sempre fiel, mas o homem pode se tornar infiel e abandonar ao Senhor, sendo, por isso, abandonado por ele. Este abandono divino não é infidelidade, mas é uma consequencia do pecado. A infidelidade, que é o “divórcio”, foi praticada pelo homem. Deus apenas respeita a decisão do homem e permite que ele viva longe dele, se assim é o desejo do homem, que deverá pagar as consequencias naturais de suas próprias escolhas, por ter abandonado a Deus.
O Espírito Santo é o penhor (garantia) de que Deus será fiel conosco. Ele é o selo da nossa redenção (Ef.4:30). Mesmo assim, podemos entristecer (Ef.4:30) e até mesmo extinguir o Espírito Santo das nossas vidas (1Ts.5:19). O selo garante as promessas de Deus a respeito do homem, e não a resposta do homem às promessas de Deus. Como já foi dito, Deus é poderoso para cumprir tudo aquilo que ele promete aos seus santos e para guardar o galardão até aquele dia, mas o homem pode tornar-se infiel mesmo com Deus sendo fiel para com ele.
Infelizmente, calvinistas moldam as passagens que falam da fidelidade da parte de Deus para tentar incluir nelas a ideia de que os homens também serão fieis. Deus não prometeu cumprir a sua parte e forçar o homem a cumprir a dele. Se fosse assim, seria impossível alguém se tornar infiel, como Paulo disse (2Tm.2:12-13). Deus cumpre a parte dele, mantém sua palavra e fidelidade, mas o homem continua livre para aceitar ou rejeitar a operação de Deus em sua vida, para se arrepender ou resistir ao arrependimento (Ap.2:3-5; 2:16; 2:21-22; 3:3), para ser fiel ou infiel (2Tm.2:12-13), para perseverar ou cair (Hb.6:4-6; Gl.5:4).
• A perda da salvação implica em salvação pelas obras?
Um argumento final dado pelos calvinistas na tentativa de refutar o ensinamento bíblico da perda da salvação é que, se a salvação é perdida quando alguém cai em pecados deliberados e recorrentes, ela estaria dependente das obras, e, consequentemente, a salvação seria por obras e não pela fé. Se é a fé que nos salva, então o pecado ou a falta de boas obras não podem ocasionar a perda da salvação, segundo o raciocínio deles.
O problema com essa lógica calvinista é que o que determina a perda da salvação não é a perda das obras, mas a perda da fé, que ocasiona a perda das obras. Da mesma forma que é a fé que nos salva, mas essa fé gera frutos (obras) de nossa parte (Tg.2:14-26), senão é uma fé morta (Tg.2:17), aquele que volta aos vícios e ao estado de pecados deliberados e recorrentes faz isso em função da perda da fé, que, consequentemente, gerou a perda das obras.
O fator determinante e causativo em primeira instância para a perda da salvação não foi, portanto, a perda das obras, mas a perda da fé. A perda das obras é meramente uma consequencia natural da perda da fé. Se a fé genuína é a fé que gera obras e sem essa fé com obras o homem não é salvo (Tg.2:14-26), então a perda das obras significa que o homem perdeu a fé. Em termos práticos, a fé é a causa e as obras o efeito. Tendo a fé verdadeira (causa), temos as obras (efeito) que provém da fé. Mas, quando as obras (efeito) se vão, é porque a fé (causa) não está mais operando. É assim que entendemos o texto de Tiago, que disse:
“Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (Tiago 2:17-18)
Tiago não estava pregando a salvação por obras, mas a salvação pela fé genuína que gera obras. Mas, se as obras são geradas pela fé, a consequencia lógica da perda do efeito é a inoperância da causa. Não é à toa que Jesus disse que o amor de muitos se esfriaria (Mt.24:12). É possível que uma fé “quente” se torne uma fé “fria”, até o ponto de desaparecer, como disse Paulo:
“Mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé” (1ª Timóteo 1:19)
Desta forma, vemos que é possível manter a fé ou não manter a fé, que significa rejeitar a fé. É por isso que temos que ter “cuidado para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo” (Hb.3:12). Se é possível esfriar e perder a fé, tornando-se “incrédulo”, a consequencia será a perda daquilo que era gerado pela fé, no que se refere à santidade e às obras. É por isso que a Bíblia diz que “sem santidade ninguém verá ao Senhor” (Hb.12:14).
Não é que a santidade salve, mas que ela mostra quando alguém tem a fé genuína que produz santidade e quando alguém tem uma fé morta que não produz nada, e que mantém o homem nos mesmos pecados de antes. Assim sendo, sem santidade ninguém será salvo, não porque a santidade salve, mas porque a falta dela mostra que alguém não tem fé. A fé, no sentido bíblico real, não é uma simples convicção intelectual de que Deus existe (como creem alguns), pois esse tipo de fé até os demônios tem:
“Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem – e tremem! Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil?” (Tiago 2:19-20)
A fé verdadeira não é um “sentimento” ou uma convicção intelectual, mas algo tão profundo que nos leva a amar a Deus de tal maneira e de tal modo que venhamos a buscá-lo e a corresponder neste amor. Da mesma forma que um marido que realmente ama sua esposa fará questão de demonstrar isso sendo fiel, mas aquele que trai está demonstrando que não ama da forma que amava antes, quem ama a Deus demonstra este amor com atitudes, e a falta dessas atitudes mostram que o primeiro amor se esfriou.
O mecanismo não funciona tendo as obras como o fundamento, mas com a fé sendo a base de tudo. É a fé que nos justifica (Ef.2:8), e a justiça do Evangelho é “do princípio ao fim pela fé” (Rm.1:17). Da mesma forma que é pela fé que somos salvos, é pela falta dela que perdemos a salvação. A consequencia desta perda da fé será o pecado deliberado e a falta das obras do primeiro amor. Elas são aquilo que mostra que o homem está em declínio espiritual, prestes a cair por completo (Ap.2:5).
• Últimas considerações
Queiram ou não, a perda da salvação à luz da Bíblia é algo claro e indiscutível. As tentativas de remendar textos bíblicos que objetivamente mostram o homem caindo da graça tem se demonstrado fracas e ineficazes, mostrando quase que um desespero em encaixar uma teologia dentro da Bíblia, ao invés de extrair da Bíblia a verdadeira teologia. Da mesma forma, as tentativas calvinistas em argumentar em cima da perda da salvação como uma zombaria, tentando amedontrar os arminianos na incerteza da salvação, tem se mostrado débeis ao extremo, pois o mesmo volta ainda com mais força contra eles.
Se é verdade que nenhum arminiano pode ter absoluta convicção de sua salvação final, pois a possibilidade da apostasia existe, também é verdade que nenhum calvinista pode ter absoluta convicção de que é um “escolhido”, pois nenhum deles tem acesso ao livro da vida. O próprio Calvino rejeitou a ideia daqueles que tentam “buscar fora do caminho, digo, quando um mísero homem tenta irromper pelos recônditos recessos da divina sabedoria e, para que saiba o que foi a seu respeito estabelecido no tribunal de Deus, tenta penetrar até a suma eternidade”.
Agostinho, que provavelmente podemos considerar o “primeiro calvinista”, também admitia isso:
“Pois quem da multidão de crentes pode presumir, enquanto vivendo neste estado mortal, que ele está entre o número dos predestinados?”
J. C. Ryle também é claro em afirmar que “não sabemos quem são os eleitos de Deus”, que “não temos como descobrir os planos eternos de Deus nem podemos ler o livro da vida” e que “chamar alguém que vive em pecado de eleito não passa de asneira e blasfêmia”. O simples fato de alguém parecer estar firme na fé não significa necessariamente que essa pessoa é eleita, pois, como diz Geisler, “Calvino mesmo fala de ‘uma falsa obra da graça’, e Sproul assevera que podemos pensar que temos fé quando de fato não temos fé”.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
“Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:44-45)
“Porque ele” remete ao padrão. Nós devemos amar a todos indistintamente porque Ele (o nosso Pai celestial) faz o mesmo. Para isso, Cristo cita como exemplos o sol e a chuva que ele derrama sobre todos, sem distinção. Seria trágico se tudo isso se perdesse no principal, naquilo que é o mais importante: a expiação. Deus ama a todos indistintamente, faz raiar o sol sobre todos indistintamente, derrama a chuva sobre todos indistintamente... mas só morre exclusivamente pelos eleitos? Isso iria contra toda a mensagem que é transmitida, contra todo o caráter moral de Deus.
É como disse Olson:
“Na verdade, para dizer sem rodeios, o calvinismo necessariamente implica, quer qualquer calvinista diga ou não, que Deus exige uma melhor qualidade de amor de nossa parte do que o amor que ele mesmo exerce! Em Lucas 6.35 e em passagens paralelas, Jesus pede para que amemos nossos inimigos; não há uma única sugestão de qualquer exceção. Mas, de acordo com o calvinismo, Deus não faz isso”
Em outras palavras, o que Cristo sempre fez foi dizer: “faça isso, porque o seu Pai celestial faz assim”, e o que os calvinistas fazem é dizer: “faça isso, embora o seu Pai celestial faça o contrário”.
• Analisando os “textos calvinistas”
Os calvinistas tem pouquíssimos textos que eles encontraram na Bíblia para defenderem a expiação limitada, até porque esta doutrina nunca surgiu através da descoberta de textos bíblicos, mas apenas para dar sentido ao restante do calvinismo. E o pior é que nenhum dos versículos utilizados por eles dizem qualquer coisa parecida com: “eu morro somente pelos eleitos”, ou então: “eu não morro pelos não-eleitos”. No máximo, no melhor dos cenários, o que eles têm são textos que dizem que Deus morreu pelos eleitos, o que nenhum arminiano nega:
“Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10:15)
“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (Efésios 5:25)
Estes textos, assim como outros análogos, dizem que Cristo morreu pelas ovelhas/Igreja, o que absolutamente nenhum arminiano neste mundo nega. Para que estes textos provem alguma coisa em favor do calvinismo, eles teriam que acrescentar a palavra somente neles, ficando assim:
“Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida somente pelas ovelhas” (João 10:15)
“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo somente por ela” (Efésios 5:25)
Logicamente, os textos não dizem isso. Qualquer calvinista que use textos como esses na tentativa de colocar a expiação limitada na Bíblia está explicitamente adulterando as Escrituras, acrescentando uma palavra que simplesmente não se encontra ali, mas que é absolutamente necessária para dar peso aos argumentos deles. Estarão incorrendo na maldição que João lançou:
“Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro” (Apocalipse 22:18)
Para deixarmos ainda mais claro a desonestidade de se usar versos como esses na defesa de uma expiação limitada, podemos usar Gálatas 2:20 e, com a mesma lógica calvinista, concuir que Jesus morreu somente por Paulo, pois ele disse:
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20)
A estrutura do texto é exatamente igual a dos anteriores. O texto diz que Cristo se entregou por Paulo, como os outros que dizem que Cristo se entregou pelas ovelhas e que Cristo se entregou pela Igreja. Mas ninguém que não seja um herege seria capaz de dizer que Cristo morreu somente por Paulo. Eles teriam que acrescentar uma palavra que não se encontra no original grego.
A conclusão lógica é que um texto dizer que Jesus morreu por Paulo não significa dizer que Jesus morreu somente por Paulo, da mesma forma que os textos que dizem que Cristo morreu pela Igreja não significam que Cristo morreu somente pela Igreja.
Roger Olson fala sobre isso nas seguintes palavras:
“Que Cristo morreu por eles [a saber, os cristãos] de forma alguma exige que ele tenha morrido apenas por eles. O crítico David Allen corretamente enfatiza que o fato de que muitos versículos falam de Cristo morrendo por suas ‘ovelhas’, sua ‘igreja’ ou seus ‘amigos’ não prova que Ele não tenha morrido por outros não incluídos nestas categorias”
Norman Geisler também observa:
“Quando a Bíblia usa termos como ‘nós’, ‘nossos’ ou ‘nos’ com referência à expiação, diz respeito somente àqueles a quem a expiação foi aplicada, não a todos a quem ela foi proporcionada. Fazendo assim, ela não limita a expiação em sua aplicação possível a todas as pessoas. Antes, fala de alguns a quem a expiação já foi aplicada”
Sendo que os calvinistas não têm mais qualquer texto que minimamente implique em uma expiação limitada, passaremos aos nossos.
• João 3:16 e o “mundo”
Uma vez que os calvinistas não têm mais textos, analisaremos agora os vários versículos bíblicos que foram usados pelos Pais e doutores da Igreja cristã por quinze séculos até Teodoro de Beza, na defesa da doutrina da expiação universal, a qual nem o próprio Calvino tinha a mínima dúvida a respeito. O primeiro e mais famoso texto é o de João 3:16, que diz:
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16)
Os calvinistas interpretam o termo “mundo” como se referindo apenas aos eleitos. Isso tem tanta cara de distorção bíblica que até o calvinista Arthur Pink, um dos maiores defensores da expiação limitada, admitiu:
“Pode parecer para alguns de nossos leitores que a exposição que demos de João 3:16 no capítulo sobre ‘Dificuldades e Objeções’ é forçada e não natural, na medida em que nossa definição do termo ‘mundo’ parece estar fora de harmonia com o significado e escopo desta palavra em outras passagens, onde, fornecer o mundo de crentes (os eleitos de Deus) como uma definição de ‘mundo’ parece não fazer sentido”
A verdade é que qualquer pessoa que ler o Evangelho de João, pelo menos uma vez na vida, irá facilmente se deparar com o fato de que a palavra “mundo” ali nunca significa somente os eleitos. A palavra “mundo” aparece 57 vezes em João, e em lugar nenhum tem esse significado. Tente, por exemplo, interpretar “mundo” como se referindo somente aos eleitos nestas passagens:
“Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos” (João 21:25)
“Disse Jesus: ‘O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui’” (João 18:36)
“Pai justo, embora o mundo não te conheça, eu te conheço, e estes sabem que me enviaste” (João 17:25)
“Eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:16)
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:14)
“Eu rogo por eles. Não estou rogando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus” (João 17:9)
“Já não lhes falarei muito, pois o príncipe deste mundo está vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim” (João 14:30)
“Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou” (João 15:18)
“Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia” (João 15:19)
“Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria” (João 16:20)
“O Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês” (João 14:17)
“Disse então Judas (não o Iscariotes): ‘Senhor, mas por que te revelarás a nós e não ao mundo?’” (João 14:22)
“Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (João 14:27)
“O mundo não pode odiá-los, mas a mim odeia porque dou testemunho de que o que ele faz é mau” (João 7:7)
Interpretar “mundo” nestas e em outras passagens similares no Evangelho de João como significando “os eleitos” seria um delírio. Um exame mais detido deste evangelho nos mostra que a palavra “mundo” só possui dois significados: o natural (o mundo geográfico) e o espiritual (os perdidos). Em nenhum texto há o significado intrínseco de “mundo dos eleitos”, como uma referência exclusiva aos crentes. Afirmar que João 3:16 e textos similares que estendem a expiação ao mundo todo são exceções à regra geral é algo infundado e oriundo puramente dos próprios pré-conceitos calvinistas, onde a exegese é deixada de lado para dar luz à interpretações fantasiosas que se encaixem na sua teologia.
João também escreveu sobre a expiação ilimitada de Cristo ao mundo inteiro em sua primeira epístola, em dois momentos diferentes:
“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1ª João 2:2)
“Nós temos visto e testificamos que o Pai enviou a seu Filho como Salvador do mundo” (1ª João 4:14)
Ele não diz que Cristo era somente salvador dos eleitos, ou que expiou somente os nossos pecados. Ele diz que ele é o salvador do mundo e que propiciou não somente os nossos pecados, mas também os pecados do mundo todo. João usou a palavra “mundo” em sua primeira epístola 16 vezes, e, mais uma vez, ela nunca teve o sentido de “eleitos”, como podemos ver nestes textos:
“Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1ª João 5:19)
“Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus” (1ª João 5:5)
“O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1ª João 5:4)
“Eles vêm do mundo. Por isso, o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve” (1ª João 4:5)
“Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (1ª João 4:4)
“Meus irmãos, não se admirem se o mundo os odeia” (1ª João 3:3)
“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu” (1ª João 3:1)
“O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1ª João 2:17)
“Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provém do Pai, mas do mundo” (1ª João 2:17)
“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1ª João 2:15)
Substituir “mundo” por “eleitos” nestas passagens seria cômico. João sempre usava a palavra “mundo”, quando em sentido espiritual, para se referir aos incrédulos. Portanto, pelo mesmo critério e coerência, o “mundo” de 1ª João 2:2 e de 1ª João 4:14 deve ser estendido aos próprios descrentes. Cristo também morreu por eles e expiou seus pecados. Paulo diz que “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação” (2Co.5:19).
O calvinista tem todo o direito de interpretar a palavra “mundo” do jeito que bem entender. Só não tem o direito de dizer que a interpretação de “eleitos” é séria, exegética ou criteriosa, porque não é. À luz de uma exegese criteriosa, tal interpretação soa mais como um deboche.
“Porque ele” remete ao padrão. Nós devemos amar a todos indistintamente porque Ele (o nosso Pai celestial) faz o mesmo. Para isso, Cristo cita como exemplos o sol e a chuva que ele derrama sobre todos, sem distinção. Seria trágico se tudo isso se perdesse no principal, naquilo que é o mais importante: a expiação. Deus ama a todos indistintamente, faz raiar o sol sobre todos indistintamente, derrama a chuva sobre todos indistintamente... mas só morre exclusivamente pelos eleitos? Isso iria contra toda a mensagem que é transmitida, contra todo o caráter moral de Deus.
É como disse Olson:
“Na verdade, para dizer sem rodeios, o calvinismo necessariamente implica, quer qualquer calvinista diga ou não, que Deus exige uma melhor qualidade de amor de nossa parte do que o amor que ele mesmo exerce! Em Lucas 6.35 e em passagens paralelas, Jesus pede para que amemos nossos inimigos; não há uma única sugestão de qualquer exceção. Mas, de acordo com o calvinismo, Deus não faz isso”
Em outras palavras, o que Cristo sempre fez foi dizer: “faça isso, porque o seu Pai celestial faz assim”, e o que os calvinistas fazem é dizer: “faça isso, embora o seu Pai celestial faça o contrário”.
• Analisando os “textos calvinistas”
Os calvinistas tem pouquíssimos textos que eles encontraram na Bíblia para defenderem a expiação limitada, até porque esta doutrina nunca surgiu através da descoberta de textos bíblicos, mas apenas para dar sentido ao restante do calvinismo. E o pior é que nenhum dos versículos utilizados por eles dizem qualquer coisa parecida com: “eu morro somente pelos eleitos”, ou então: “eu não morro pelos não-eleitos”. No máximo, no melhor dos cenários, o que eles têm são textos que dizem que Deus morreu pelos eleitos, o que nenhum arminiano nega:
“Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10:15)
“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (Efésios 5:25)
Estes textos, assim como outros análogos, dizem que Cristo morreu pelas ovelhas/Igreja, o que absolutamente nenhum arminiano neste mundo nega. Para que estes textos provem alguma coisa em favor do calvinismo, eles teriam que acrescentar a palavra somente neles, ficando assim:
“Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida somente pelas ovelhas” (João 10:15)
“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo somente por ela” (Efésios 5:25)
Logicamente, os textos não dizem isso. Qualquer calvinista que use textos como esses na tentativa de colocar a expiação limitada na Bíblia está explicitamente adulterando as Escrituras, acrescentando uma palavra que simplesmente não se encontra ali, mas que é absolutamente necessária para dar peso aos argumentos deles. Estarão incorrendo na maldição que João lançou:
“Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro” (Apocalipse 22:18)
Para deixarmos ainda mais claro a desonestidade de se usar versos como esses na defesa de uma expiação limitada, podemos usar Gálatas 2:20 e, com a mesma lógica calvinista, concuir que Jesus morreu somente por Paulo, pois ele disse:
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20)
A estrutura do texto é exatamente igual a dos anteriores. O texto diz que Cristo se entregou por Paulo, como os outros que dizem que Cristo se entregou pelas ovelhas e que Cristo se entregou pela Igreja. Mas ninguém que não seja um herege seria capaz de dizer que Cristo morreu somente por Paulo. Eles teriam que acrescentar uma palavra que não se encontra no original grego.
A conclusão lógica é que um texto dizer que Jesus morreu por Paulo não significa dizer que Jesus morreu somente por Paulo, da mesma forma que os textos que dizem que Cristo morreu pela Igreja não significam que Cristo morreu somente pela Igreja.
Roger Olson fala sobre isso nas seguintes palavras:
“Que Cristo morreu por eles [a saber, os cristãos] de forma alguma exige que ele tenha morrido apenas por eles. O crítico David Allen corretamente enfatiza que o fato de que muitos versículos falam de Cristo morrendo por suas ‘ovelhas’, sua ‘igreja’ ou seus ‘amigos’ não prova que Ele não tenha morrido por outros não incluídos nestas categorias”
Norman Geisler também observa:
“Quando a Bíblia usa termos como ‘nós’, ‘nossos’ ou ‘nos’ com referência à expiação, diz respeito somente àqueles a quem a expiação foi aplicada, não a todos a quem ela foi proporcionada. Fazendo assim, ela não limita a expiação em sua aplicação possível a todas as pessoas. Antes, fala de alguns a quem a expiação já foi aplicada”
Sendo que os calvinistas não têm mais qualquer texto que minimamente implique em uma expiação limitada, passaremos aos nossos.
• João 3:16 e o “mundo”
Uma vez que os calvinistas não têm mais textos, analisaremos agora os vários versículos bíblicos que foram usados pelos Pais e doutores da Igreja cristã por quinze séculos até Teodoro de Beza, na defesa da doutrina da expiação universal, a qual nem o próprio Calvino tinha a mínima dúvida a respeito. O primeiro e mais famoso texto é o de João 3:16, que diz:
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16)
Os calvinistas interpretam o termo “mundo” como se referindo apenas aos eleitos. Isso tem tanta cara de distorção bíblica que até o calvinista Arthur Pink, um dos maiores defensores da expiação limitada, admitiu:
“Pode parecer para alguns de nossos leitores que a exposição que demos de João 3:16 no capítulo sobre ‘Dificuldades e Objeções’ é forçada e não natural, na medida em que nossa definição do termo ‘mundo’ parece estar fora de harmonia com o significado e escopo desta palavra em outras passagens, onde, fornecer o mundo de crentes (os eleitos de Deus) como uma definição de ‘mundo’ parece não fazer sentido”
A verdade é que qualquer pessoa que ler o Evangelho de João, pelo menos uma vez na vida, irá facilmente se deparar com o fato de que a palavra “mundo” ali nunca significa somente os eleitos. A palavra “mundo” aparece 57 vezes em João, e em lugar nenhum tem esse significado. Tente, por exemplo, interpretar “mundo” como se referindo somente aos eleitos nestas passagens:
“Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos” (João 21:25)
“Disse Jesus: ‘O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui’” (João 18:36)
“Pai justo, embora o mundo não te conheça, eu te conheço, e estes sabem que me enviaste” (João 17:25)
“Eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:16)
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:14)
“Eu rogo por eles. Não estou rogando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus” (João 17:9)
“Já não lhes falarei muito, pois o príncipe deste mundo está vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim” (João 14:30)
“Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou” (João 15:18)
“Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia” (João 15:19)
“Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria” (João 16:20)
“O Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês” (João 14:17)
“Disse então Judas (não o Iscariotes): ‘Senhor, mas por que te revelarás a nós e não ao mundo?’” (João 14:22)
“Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (João 14:27)
“O mundo não pode odiá-los, mas a mim odeia porque dou testemunho de que o que ele faz é mau” (João 7:7)
Interpretar “mundo” nestas e em outras passagens similares no Evangelho de João como significando “os eleitos” seria um delírio. Um exame mais detido deste evangelho nos mostra que a palavra “mundo” só possui dois significados: o natural (o mundo geográfico) e o espiritual (os perdidos). Em nenhum texto há o significado intrínseco de “mundo dos eleitos”, como uma referência exclusiva aos crentes. Afirmar que João 3:16 e textos similares que estendem a expiação ao mundo todo são exceções à regra geral é algo infundado e oriundo puramente dos próprios pré-conceitos calvinistas, onde a exegese é deixada de lado para dar luz à interpretações fantasiosas que se encaixem na sua teologia.
João também escreveu sobre a expiação ilimitada de Cristo ao mundo inteiro em sua primeira epístola, em dois momentos diferentes:
“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1ª João 2:2)
“Nós temos visto e testificamos que o Pai enviou a seu Filho como Salvador do mundo” (1ª João 4:14)
Ele não diz que Cristo era somente salvador dos eleitos, ou que expiou somente os nossos pecados. Ele diz que ele é o salvador do mundo e que propiciou não somente os nossos pecados, mas também os pecados do mundo todo. João usou a palavra “mundo” em sua primeira epístola 16 vezes, e, mais uma vez, ela nunca teve o sentido de “eleitos”, como podemos ver nestes textos:
“Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1ª João 5:19)
“Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus” (1ª João 5:5)
“O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1ª João 5:4)
“Eles vêm do mundo. Por isso, o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve” (1ª João 4:5)
“Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (1ª João 4:4)
“Meus irmãos, não se admirem se o mundo os odeia” (1ª João 3:3)
“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu” (1ª João 3:1)
“O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1ª João 2:17)
“Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provém do Pai, mas do mundo” (1ª João 2:17)
“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1ª João 2:15)
Substituir “mundo” por “eleitos” nestas passagens seria cômico. João sempre usava a palavra “mundo”, quando em sentido espiritual, para se referir aos incrédulos. Portanto, pelo mesmo critério e coerência, o “mundo” de 1ª João 2:2 e de 1ª João 4:14 deve ser estendido aos próprios descrentes. Cristo também morreu por eles e expiou seus pecados. Paulo diz que “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação” (2Co.5:19).
O calvinista tem todo o direito de interpretar a palavra “mundo” do jeito que bem entender. Só não tem o direito de dizer que a interpretação de “eleitos” é séria, exegética ou criteriosa, porque não é. À luz de uma exegese criteriosa, tal interpretação soa mais como um deboche.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Todos não são todos?
Por mais forçada que seja a interpretação deles do “mundo”, nada se compara à explicação sobre o “todos”. Como Palmer disse, para os calvinistas “todos não são todos”. “Todos” pode significar qualquer coisa, menos todos. Observe, por exemplo, os textos abaixo:
“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9)
“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo” (1ª Timóteo 2:5-6)
Limitar o “todos” aos eleitos é no mínimo subestimar a capacidade dos escritores bíblicos em usarem a palavra “alguns”, que passaria este sentido com muito mais exatidão, uma vez que nem todos são eleitos, mas alguns são eleitos. A palavra grega para “alguns” é tis, que foi empregada 526 vezes no NT, mas que, curiosamente, não foi empregada nestes textos e em nenhum outro que fala da extensão da expiação. Em lugar disso, Paulo dizia que a expiação foi por pas, que significa todos, no sentido completo da palavra. Simplesmente não existe outra palavra no grego que transmita um grau maior de extensão do que essa.
Além disso, os calvinistas encontram problemas pela frente quando são obrigados a interpretarem como “alguns” os textos que dizem “todos”, em especial quando eles mesmos fazem coisa diferente quando o assunto é a extensão do pecado. Pois Paulo disse que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm.3:23), e todo bom calvinista crê que o texto se refere a todas as pessoas, individualmente, sem exceção.
Mas quando o mesmo apóstolo emprega a mesma palavra em contextos semelhantes acerca da expiação de Cristo, a palavra imediatamente e como em um passe de mágica ganha um sentido oposto que significa qualquer coisa, menos “todos”. Geisler observa essa contradição e diz que, “se ‘todos’ não significa ‘todos’ os seres humanos caídos, então o que o termo significa em Romanos 3.23: ‘Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus’? Significa que somente os eleitos que pecaram?”
Contra os calvinistas que dizem que “todos não é todos”, ele diz que “isso não carece de resposta, mas de um lembrete moderado de que Deus repetidamente nos exorta a não acrescentar ou subtrair nada de suas palavras (Dt 4.2; Pv 30.6; Ap 22.18,19)”. Vernon Grounds vai além e diz que “é exigido uma ingenuidade exegética, que não é nada mais do que virtuosidade aprendida para evacuar estes textos de seus significados óbvios; é preciso uma ingenuidade exegética beirando a sofisma para negar sua explícita universalidade”.
O fato da palavra “todos” ser em raríssimas ocasiões utilizada de maneira figurada ou hiperbólica, como quando os fariseus disseram que “o mundo todo vai atrás dele [Jesus]” (Jo.12:19), de modo nenhum justifica aplicar o mesmo sentido em passagens dentro de contextos teológicos, como ocorre em Hebreus 2:9 e em 1ª Timóteo 2:5-6.
É comum que em nossa linguagem informal do dia-a-dia usemos a expressão “todo mundo” em sentido figurado, como quando dizemos que “todo mundo gosta de chocolate”, o que na verdade não significa cada pessoa do planeta. Foi isso o que ocorreu na conversa dos fariseus registrada em João 12:19, que em absolutamente nada tem a ver com os contextos puramente teológicos de Hebreus 2:9 e de 1ª Timóteo 2:5-6, que de modo nenhum admitiam uma linguagem vulgar como a conversa informal registrada no outro texto.
Da mesma forma que nenhum calvinista admite que em Romanos 3:23 o “todos” seja interpretado como “alguns” (porque sabem que está em um contexto teológico e não informal), nós também sabemos que a exceção de João 12:19 não se aplica a Hebreus 2:9 e a 1ª Timóteo 2:5-6, pela mesma razão que também não se aplica a Romanos 3:23 – o contexto. Tomar uma exceção como regra, ainda mais em contextos completamente diferentes, é ridículo.
• 2ª Pedro 2:1
“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos mestres, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2ª Pedro 2:1)
O texto fala de falsos profetas e de falsos mestres, tão satânicos que negam a Cristo e propagam heresias destrutivas ao ponto de levar à perdição, e que não teriam como fim a vida eterna, mas repentina destruição. Obviamente, o texto está falando de ímpios, de hereges que serão condenados. Mas observe que Pedro diz que eles negarão o Senhor que os resgatou. Isso significa que, mesmo eles sendo ímpios e hereges, Cristo os resgatou também. Este texto sozinho coloca por terra toda a teologia que diz que apenas os eleitos foram resgatados por Cristo.
A palavra agorazo também significa “comprar ou redimir”. Aquelas pessoas, por mais ímpias que fossem, haviam sido compradas, redimidas, resgatadas por Cristo na cruz. Essa palavra aqui utilizada por Pedro é exatamente a mesma palavra usada por Paulo quando ele disse que os cristãos de Corinto foram comprados por alto preço:
“Vocês foram comprados [agorazo] por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês” (1ª Coríntios 6:20)
“Vocês foram comprados [agorazo] por alto preço; não se tornem escravos de homens” (1ª Coríntios 7:23)
Portanto, agorazo se refere à obra de redenção de Cristo na cruz, quando os “comprou” (agorazo) por um alto preço. Paulo diz que os coríntios foram comprados por Cristo na cruz, mas Pedro vai além e diz que até os falsos mestres e hereges foram comprados (agorazo) pelo Senhor (2Pe.2:1). Sendo assim, o emprego de agorazo em 2ª Pedro 2:1 deixa claro que não apenas os eleitos, mas até mesmo os ímpios foram comprados (redimidos) pelo Senhor Jesus na cruz do Calvário.
Por mais forçada que seja a interpretação deles do “mundo”, nada se compara à explicação sobre o “todos”. Como Palmer disse, para os calvinistas “todos não são todos”. “Todos” pode significar qualquer coisa, menos todos. Observe, por exemplo, os textos abaixo:
“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9)
“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo” (1ª Timóteo 2:5-6)
Limitar o “todos” aos eleitos é no mínimo subestimar a capacidade dos escritores bíblicos em usarem a palavra “alguns”, que passaria este sentido com muito mais exatidão, uma vez que nem todos são eleitos, mas alguns são eleitos. A palavra grega para “alguns” é tis, que foi empregada 526 vezes no NT, mas que, curiosamente, não foi empregada nestes textos e em nenhum outro que fala da extensão da expiação. Em lugar disso, Paulo dizia que a expiação foi por pas, que significa todos, no sentido completo da palavra. Simplesmente não existe outra palavra no grego que transmita um grau maior de extensão do que essa.
Além disso, os calvinistas encontram problemas pela frente quando são obrigados a interpretarem como “alguns” os textos que dizem “todos”, em especial quando eles mesmos fazem coisa diferente quando o assunto é a extensão do pecado. Pois Paulo disse que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm.3:23), e todo bom calvinista crê que o texto se refere a todas as pessoas, individualmente, sem exceção.
Mas quando o mesmo apóstolo emprega a mesma palavra em contextos semelhantes acerca da expiação de Cristo, a palavra imediatamente e como em um passe de mágica ganha um sentido oposto que significa qualquer coisa, menos “todos”. Geisler observa essa contradição e diz que, “se ‘todos’ não significa ‘todos’ os seres humanos caídos, então o que o termo significa em Romanos 3.23: ‘Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus’? Significa que somente os eleitos que pecaram?”
Contra os calvinistas que dizem que “todos não é todos”, ele diz que “isso não carece de resposta, mas de um lembrete moderado de que Deus repetidamente nos exorta a não acrescentar ou subtrair nada de suas palavras (Dt 4.2; Pv 30.6; Ap 22.18,19)”. Vernon Grounds vai além e diz que “é exigido uma ingenuidade exegética, que não é nada mais do que virtuosidade aprendida para evacuar estes textos de seus significados óbvios; é preciso uma ingenuidade exegética beirando a sofisma para negar sua explícita universalidade”.
O fato da palavra “todos” ser em raríssimas ocasiões utilizada de maneira figurada ou hiperbólica, como quando os fariseus disseram que “o mundo todo vai atrás dele [Jesus]” (Jo.12:19), de modo nenhum justifica aplicar o mesmo sentido em passagens dentro de contextos teológicos, como ocorre em Hebreus 2:9 e em 1ª Timóteo 2:5-6.
É comum que em nossa linguagem informal do dia-a-dia usemos a expressão “todo mundo” em sentido figurado, como quando dizemos que “todo mundo gosta de chocolate”, o que na verdade não significa cada pessoa do planeta. Foi isso o que ocorreu na conversa dos fariseus registrada em João 12:19, que em absolutamente nada tem a ver com os contextos puramente teológicos de Hebreus 2:9 e de 1ª Timóteo 2:5-6, que de modo nenhum admitiam uma linguagem vulgar como a conversa informal registrada no outro texto.
Da mesma forma que nenhum calvinista admite que em Romanos 3:23 o “todos” seja interpretado como “alguns” (porque sabem que está em um contexto teológico e não informal), nós também sabemos que a exceção de João 12:19 não se aplica a Hebreus 2:9 e a 1ª Timóteo 2:5-6, pela mesma razão que também não se aplica a Romanos 3:23 – o contexto. Tomar uma exceção como regra, ainda mais em contextos completamente diferentes, é ridículo.
• 2ª Pedro 2:1
“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos mestres, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2ª Pedro 2:1)
O texto fala de falsos profetas e de falsos mestres, tão satânicos que negam a Cristo e propagam heresias destrutivas ao ponto de levar à perdição, e que não teriam como fim a vida eterna, mas repentina destruição. Obviamente, o texto está falando de ímpios, de hereges que serão condenados. Mas observe que Pedro diz que eles negarão o Senhor que os resgatou. Isso significa que, mesmo eles sendo ímpios e hereges, Cristo os resgatou também. Este texto sozinho coloca por terra toda a teologia que diz que apenas os eleitos foram resgatados por Cristo.
A palavra agorazo também significa “comprar ou redimir”. Aquelas pessoas, por mais ímpias que fossem, haviam sido compradas, redimidas, resgatadas por Cristo na cruz. Essa palavra aqui utilizada por Pedro é exatamente a mesma palavra usada por Paulo quando ele disse que os cristãos de Corinto foram comprados por alto preço:
“Vocês foram comprados [agorazo] por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês” (1ª Coríntios 6:20)
“Vocês foram comprados [agorazo] por alto preço; não se tornem escravos de homens” (1ª Coríntios 7:23)
Portanto, agorazo se refere à obra de redenção de Cristo na cruz, quando os “comprou” (agorazo) por um alto preço. Paulo diz que os coríntios foram comprados por Cristo na cruz, mas Pedro vai além e diz que até os falsos mestres e hereges foram comprados (agorazo) pelo Senhor (2Pe.2:1). Sendo assim, o emprego de agorazo em 2ª Pedro 2:1 deixa claro que não apenas os eleitos, mas até mesmo os ímpios foram comprados (redimidos) pelo Senhor Jesus na cruz do Calvário.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• 1ª Timóteo 4:10
“Se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado a nossa esperança no Deus vivo, o Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem” (1ª Timóteo 4:10)
O texto é claro em dizer que Deus é o salvador de todos os homens, especialmente dos que creem, e não somente dos que creem. Como disse Robert Picirilli, “que ele [Jesus] é o salvador de todos os homens, fala de provisão; que Ele é o salvador especialmente dos que creem, fala de aplicação”. Este texto nos leva a crer que a expiação de Cristo na cruz foi para a salvação de todos os homens, embora ela tenha sido aplicada apenas àqueles que creem. Um versículo semelhante empregado pelo mesmo apóstolo diz:
“Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gálatas 6:10)
Logicamente, o que Paulo estava dizendo não era que nós só temos que fazer o bem aos da família da fé e que tenhamos que fazer o mal aos demais; ao contrário, diz que devemos fazer o bem a todos (salvos e não-salvos), em especial aos da fé. Da mesma forma, o texto de 1ª Timóteo 4:10 não diz que Cristo é o salvador somente dos que creem e que não morreu pelos demais, e sim que ele é o salvador de todos (salvos e não-salvos), em especial dos que creem. “Especial” é diferente de “somente”, o que entraria em contradição com o “todos”. A expiação, portanto, foi para todos (ilimitada).
• 2ª Pedro 3:9
“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2ª Pedro 3:9)
É difícil acreditar que Deus queira mesmo que ninguém pereça, se ele nem sequer propiciou uma oportunidade de salvação a eles, que seria através da expiação de Jesus Cristo na cruz. As tentativas calvinistas em afirmar que este texto se refere apenas aos cristãos falha em inúmeros aspectos. Primeiro, porque o texto emprega a expressão “ninguém” em relação a quem ele quer que pereça, e “todos” em relação a quem ele quer que chegue ao arrependimento. Tais expressões passam a ideia de totalidade, e não de uma parte de pessoas (os cristãos).
Segundo, porque o texto fala que o desejo de Deus é que todos cheguem ao arrependimento. Se Deus quer que eles cheguem ao arrependimento, é porque eles não se arrependeram ainda. Da mesma forma que alguém que deseja chegar a São Paulo ainda não está em São Paulo, aquele que tem que chegar ao arrependimento ainda não se arrependeu. Mas o arrependimento é o resultado imediato da regeneração, e sem ele não há salvação (Lc.13:3; At.17:30). Consequentemente, o texto tem que estar se referindo a pessoas que ainda não se arrependeram, e que, portanto, ainda não eram regeneradas e salvas.
O sentido, então, é que Deus deseja que todos – até mesmo os não-regenerados – venham a alcançar o arrependimento. Este sentido fica mais claro à luz de textos do Antigo Testamento que passam explicitamente essa ideia. Em Ezequiel, por exemplo, é o próprio Deus que diz que “não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” (Ez.33:11), que “não me agrada a morte de ninguém; palavra do Soberano Senhor. Arrependam-se e vivam!” (Ez.18:32), e também:
“Desejaria eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová; não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?” (Ezequiel 18:23)
Assim sendo, o que Pedro estava dizendo não era nada além daquilo que o próprio Deus já havia dito há muito tempo. Ele deseja que todos – incluindo os ímpios – cheguem ao arrependimento e sejam salvos. Mas isso só poderia acontecer se Cristo tivesse expiado seus pecados também. Sem a expiação de Cristo não há perdão de pecados e, consequentemente, não há salvação. Portanto, é necessário que a expiação de Cristo tenha sido universal e ilimitada.
• 1ª Timóteo 2:4
“Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1ª Timóteo 2:3-4)
Este texto é tão claro quanto o anterior, pois Paulo diz basicamente o mesmo que Pedro: que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. A evidência de que o “todos” inclui também os não-regenerados é que o apóstolo diz desejar que eles cheguem ao conhecimento da verdade, o que implica que tais pessoas ainda não conheciam a verdade. Portanto, dentro da expressão “todos”, estão incluídos também aqueles que ainda estão nas trevas, afastados da verdade, precisando ainda conhecê-la e serem libertos por ela (Jo.8:32).
As tentativas de corromper o significado da palavra “todos” neste texto têm sido tão frustradas quanto nos demais, chegando ao ponto de um dos maiores pregadores calvinistas na história, Spurgeon, tê-las repudiado vigorosamente. Ele reconheceu:
“Nossos amigos calvinistas mais antigos tratam esse texto. ‘Todos os homens’, dizem eles – isto é, ‘alguns homens’: como se o Espírito Santo não pudesse ter dito ‘alguns homens’ se quisesse dizer ‘alguns homens’. ‘Alguns homens’, dizem eles, como se o Senhor não pudesse ter dito ‘todos os tipos de homens’ se quisesse dizer isso. O Espírito Santo, por meio do apóstolo, escreveu ‘todos homens’, e é inquestionável que ele quer dizer todos os homens”
Ele era tão firme neste ponto que chegou a zombar dos calvinistas que interpretavam o “todos” como não sendo “todos”, dizendo que, se fosse assim, seria melhor e mais fácil que Paulo tivesse dito o contrário:
“Eu pensei, quando li sua exposição, que teria sido um comentário muito bom sobre o texto se esse dissesse: ‘Que não quer que todos os homens sejam salvos nem venham ao conhecimento da verdade’”
De fato, se o texto dissesse o contrário daquilo que diz, expressaria perfeitamente a opinião da maioria dos calvinistas acerca dele. Spurgeon, portanto, rejeitava a interpretação calvinista tradicional deste texto pelas seguintes razões:
• Se Paulo quisesse dizer “alguns” onde ele disse “todos”, ele poderia e teria feito isso, dizendo “alguns homens” no lugar de “todos os homens”.
• Se Paulo estivesse falando dos tipos de homens, ele poderia e teria feito isso, dizendo “todos os tipos de homens” ao invés de “todos os homens”.
• Se o texto estivesse dizendo o contrário do que diz, afirmando que Deus não quer que todos os homens sejam salvos, estaria expressando com muito mais exatidão a interpretação calvinista do que do jeito que ele está escrito.
Resumidamente, o que Spurgeon se recusava a fazer era lutar contra o óbvio do texto bíblico, corrompendo o significado daquilo que está claro. Mas isso não entra em contradição direta com a tese calvinista da expiação limitada? Sim, enta. E ele reconhecia isso. Mesmo assim, ele preferia parecer inconsistente com sua própria teologia do que com o texto bíblico:
“Eu preferiria centenas de vezes parecer incoerente comigo mesmo que ser incoerente com a Palavra de Deus”
Roger Olson também observa que “a mesma palavra grega para ‘todos’ é utilizada em 2ª Timóteo 3.16 para dizer que ‘toda’ a Escritura é inspirada. Se a palavra não significar literalmente ‘todos’ em 1ª Timóteo 2.4, então ela também não significa ‘toda’ em 2ª Timóteo 3.16 (‘toda a Escritura é inspirada’)”. Seria mais honesto que os calvinistas fizessem como Spurgeon e reconhecessem o óbvio do texto de 1ª Timóteo 2:4, mesmo conflitando com sua própria teologia, do que insistirem em interpretar um texto diferente do seu significado evidente.
• 1ª Coríntios 8:11
“Pois, se alguém que tem a consciência fraca vir você que tem este conhecimento comer num templo de ídolos, não será induzido a comer do que foi sacrificado a ídolos? Assim, esse irmão fraco, por quem Cristo morreu, é destruído por causa do conhecimento que você tem” (1ª Coríntios 8:10-11)
O texto em questão fala de um cristão fraco, por quem Cristo morreu, que pode ser destruído. Como Olson observa, “uma pessoa por quem Cristo morreu não pode ser destruída”. A palavra grega aqui traduzida por “destruído” é apothnesko, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa:
599 αποθνησκω apothnesko
de 575 e 2348; TDNT - 3:7,312; v
1) morrer;
1a) de morte natural do ser humano;
1b) de morte violenta de seres humanos ou animais;
1c) perecer por meio de algo;
1d) de árvores que secam, de sementes que apodrecem quando plantadas;
1e) a morte eterna.
Como vemos, sempre quando apothnesko aparece aplicada a seres humanos ela tem o sentido de morte, seja em relação à morte natural ou à morte eterna. Neste texto Paulo obviamente não estava falando da morte natural, pois ele fala da consciência da pessoa, e ninguém “morre” por comer algo sacrificado aos ídolos. Portanto, o texto se refere à morte eterna, o que foi traduzido por “destruição”. Essa palavra aparece em 112 ocorrências no NT e sempre quando é aplicada a humanos tem este sentido. Vejamos algumas ocorrências:
“Disse: ‘Saiam! A menina não está morta [apothnesko], mas dorme’. Todos começaram a rir dele” (Mateus 9:24)
“Mestre, Moisés disse que se um homem morrer [apothnesko] sem deixar filhos, seu irmão deverá casar-se com a viúva e dar-lhe descendência” (Mateus 22:24)
“Finalmente, depois de todos, morreu [apothnesko] a mulher” (Mateus 22:27)
“Mas Pedro declarou: ‘Mesmo que seja preciso que eu morra [apothnesko] contigo, nunca te negarei’. E todos os outros discípulos disseram o mesmo” (Mateus 26:35)
“Enquanto Jesus ainda estava falando, chegaram algumas pessoas da casa de Jairo, o dirigente da sinagoga. ‘Sua filha morreu [apothnesko]’, disseram eles. ‘Não precisa mais incomodar o mestre!’” (Marcos 5:35)
“O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu. O menino ficou como morto [apothnesko], a ponto de muitos dizerem: ‘Ele morreu [apothnesko]’” (Marcos 9:26)
“Havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu [apothnesko] sem deixar filhos” (Marcos 12:20)
“Pilatos ficou surpreso ao ouvir que ele já tinha morrido [apothnesko]. Chamando o centurião, perguntou-lhe se Jesus já tinha morrido [apothnesko]” (Marcos 15:44)
“Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos. Não estou escrevendo na esperança de que vocês façam isso por mim. Prefiro morrer [apothnesko] a permitir que alguém me prive deste meu orgulho” (1ª Coríntios 9:15)
“Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram [apothnesko] por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos!” (Romanos 5:15)
“Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão [apothnesko]; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão” (Romanos 8:13)
“Esteja atento! Fortaleça o que resta e que estava para morrer [apothnesko], pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus” (Apocalipse 3:2)
Qualquer leitor que desejar pode conferir todas as 112 ocorrências do termo e perceberá que em todas as ocasiões, sem exceção, o significado é sempre o mesmo: morte. Essa morte pode ter três conotações: (a) a morte natural ao término da vida terrena; (b) a morte eterna após a ressurreição; (c) a morte dos cristãos para o pecado e o mundo. Diante do contexto de 1ª Coríntios 8:10-11, a única alternativa plausível é a segunda, pois Paulo não está falando da morte natural (a) nem de uma coisa boa (c).
Consequentemente, o termo implica na morte eterna, independentemente de como cada um a entende. Essa morte eterna, biblicamente, é o oposto à vida eterna (Rm.6:23; 8:13), o que significa que essas pessoas por quem Cristo morreu, que foram induzidas a comer a comida sacrificada aos ídolos, seriam condenadas. O que Paulo estava dizendo é que a pessoa que come o alimento oferecido aos ídolos corre risco de morte eterna, e ele diz também que Cristo morreu por essa pessoa (1Co.8:11). Por conseguinte, Cristo morreu por todos, não somente pelos que herdarão a vida eterna, mas também pelos que cairão em apothnesko.
• 2ª Coríntios 5:14-15
“Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2ª Coríntios 5:14-15)
Não há muito o que acrescentar sobre este texto. Cristo morreu por todos (pas), e não apenas por alguns (tis). Mais uma vez, negar que o todos seja todos é lutar contra a clareza do texto bíblico e subestimar a capacidade do apóstolo em escrever “alguns” em vez de “todos”, o que definiria bem a expiação limitada do calvinismo.
“Se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado a nossa esperança no Deus vivo, o Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem” (1ª Timóteo 4:10)
O texto é claro em dizer que Deus é o salvador de todos os homens, especialmente dos que creem, e não somente dos que creem. Como disse Robert Picirilli, “que ele [Jesus] é o salvador de todos os homens, fala de provisão; que Ele é o salvador especialmente dos que creem, fala de aplicação”. Este texto nos leva a crer que a expiação de Cristo na cruz foi para a salvação de todos os homens, embora ela tenha sido aplicada apenas àqueles que creem. Um versículo semelhante empregado pelo mesmo apóstolo diz:
“Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gálatas 6:10)
Logicamente, o que Paulo estava dizendo não era que nós só temos que fazer o bem aos da família da fé e que tenhamos que fazer o mal aos demais; ao contrário, diz que devemos fazer o bem a todos (salvos e não-salvos), em especial aos da fé. Da mesma forma, o texto de 1ª Timóteo 4:10 não diz que Cristo é o salvador somente dos que creem e que não morreu pelos demais, e sim que ele é o salvador de todos (salvos e não-salvos), em especial dos que creem. “Especial” é diferente de “somente”, o que entraria em contradição com o “todos”. A expiação, portanto, foi para todos (ilimitada).
• 2ª Pedro 3:9
“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2ª Pedro 3:9)
É difícil acreditar que Deus queira mesmo que ninguém pereça, se ele nem sequer propiciou uma oportunidade de salvação a eles, que seria através da expiação de Jesus Cristo na cruz. As tentativas calvinistas em afirmar que este texto se refere apenas aos cristãos falha em inúmeros aspectos. Primeiro, porque o texto emprega a expressão “ninguém” em relação a quem ele quer que pereça, e “todos” em relação a quem ele quer que chegue ao arrependimento. Tais expressões passam a ideia de totalidade, e não de uma parte de pessoas (os cristãos).
Segundo, porque o texto fala que o desejo de Deus é que todos cheguem ao arrependimento. Se Deus quer que eles cheguem ao arrependimento, é porque eles não se arrependeram ainda. Da mesma forma que alguém que deseja chegar a São Paulo ainda não está em São Paulo, aquele que tem que chegar ao arrependimento ainda não se arrependeu. Mas o arrependimento é o resultado imediato da regeneração, e sem ele não há salvação (Lc.13:3; At.17:30). Consequentemente, o texto tem que estar se referindo a pessoas que ainda não se arrependeram, e que, portanto, ainda não eram regeneradas e salvas.
O sentido, então, é que Deus deseja que todos – até mesmo os não-regenerados – venham a alcançar o arrependimento. Este sentido fica mais claro à luz de textos do Antigo Testamento que passam explicitamente essa ideia. Em Ezequiel, por exemplo, é o próprio Deus que diz que “não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” (Ez.33:11), que “não me agrada a morte de ninguém; palavra do Soberano Senhor. Arrependam-se e vivam!” (Ez.18:32), e também:
“Desejaria eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová; não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?” (Ezequiel 18:23)
Assim sendo, o que Pedro estava dizendo não era nada além daquilo que o próprio Deus já havia dito há muito tempo. Ele deseja que todos – incluindo os ímpios – cheguem ao arrependimento e sejam salvos. Mas isso só poderia acontecer se Cristo tivesse expiado seus pecados também. Sem a expiação de Cristo não há perdão de pecados e, consequentemente, não há salvação. Portanto, é necessário que a expiação de Cristo tenha sido universal e ilimitada.
• 1ª Timóteo 2:4
“Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1ª Timóteo 2:3-4)
Este texto é tão claro quanto o anterior, pois Paulo diz basicamente o mesmo que Pedro: que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. A evidência de que o “todos” inclui também os não-regenerados é que o apóstolo diz desejar que eles cheguem ao conhecimento da verdade, o que implica que tais pessoas ainda não conheciam a verdade. Portanto, dentro da expressão “todos”, estão incluídos também aqueles que ainda estão nas trevas, afastados da verdade, precisando ainda conhecê-la e serem libertos por ela (Jo.8:32).
As tentativas de corromper o significado da palavra “todos” neste texto têm sido tão frustradas quanto nos demais, chegando ao ponto de um dos maiores pregadores calvinistas na história, Spurgeon, tê-las repudiado vigorosamente. Ele reconheceu:
“Nossos amigos calvinistas mais antigos tratam esse texto. ‘Todos os homens’, dizem eles – isto é, ‘alguns homens’: como se o Espírito Santo não pudesse ter dito ‘alguns homens’ se quisesse dizer ‘alguns homens’. ‘Alguns homens’, dizem eles, como se o Senhor não pudesse ter dito ‘todos os tipos de homens’ se quisesse dizer isso. O Espírito Santo, por meio do apóstolo, escreveu ‘todos homens’, e é inquestionável que ele quer dizer todos os homens”
Ele era tão firme neste ponto que chegou a zombar dos calvinistas que interpretavam o “todos” como não sendo “todos”, dizendo que, se fosse assim, seria melhor e mais fácil que Paulo tivesse dito o contrário:
“Eu pensei, quando li sua exposição, que teria sido um comentário muito bom sobre o texto se esse dissesse: ‘Que não quer que todos os homens sejam salvos nem venham ao conhecimento da verdade’”
De fato, se o texto dissesse o contrário daquilo que diz, expressaria perfeitamente a opinião da maioria dos calvinistas acerca dele. Spurgeon, portanto, rejeitava a interpretação calvinista tradicional deste texto pelas seguintes razões:
• Se Paulo quisesse dizer “alguns” onde ele disse “todos”, ele poderia e teria feito isso, dizendo “alguns homens” no lugar de “todos os homens”.
• Se Paulo estivesse falando dos tipos de homens, ele poderia e teria feito isso, dizendo “todos os tipos de homens” ao invés de “todos os homens”.
• Se o texto estivesse dizendo o contrário do que diz, afirmando que Deus não quer que todos os homens sejam salvos, estaria expressando com muito mais exatidão a interpretação calvinista do que do jeito que ele está escrito.
Resumidamente, o que Spurgeon se recusava a fazer era lutar contra o óbvio do texto bíblico, corrompendo o significado daquilo que está claro. Mas isso não entra em contradição direta com a tese calvinista da expiação limitada? Sim, enta. E ele reconhecia isso. Mesmo assim, ele preferia parecer inconsistente com sua própria teologia do que com o texto bíblico:
“Eu preferiria centenas de vezes parecer incoerente comigo mesmo que ser incoerente com a Palavra de Deus”
Roger Olson também observa que “a mesma palavra grega para ‘todos’ é utilizada em 2ª Timóteo 3.16 para dizer que ‘toda’ a Escritura é inspirada. Se a palavra não significar literalmente ‘todos’ em 1ª Timóteo 2.4, então ela também não significa ‘toda’ em 2ª Timóteo 3.16 (‘toda a Escritura é inspirada’)”. Seria mais honesto que os calvinistas fizessem como Spurgeon e reconhecessem o óbvio do texto de 1ª Timóteo 2:4, mesmo conflitando com sua própria teologia, do que insistirem em interpretar um texto diferente do seu significado evidente.
• 1ª Coríntios 8:11
“Pois, se alguém que tem a consciência fraca vir você que tem este conhecimento comer num templo de ídolos, não será induzido a comer do que foi sacrificado a ídolos? Assim, esse irmão fraco, por quem Cristo morreu, é destruído por causa do conhecimento que você tem” (1ª Coríntios 8:10-11)
O texto em questão fala de um cristão fraco, por quem Cristo morreu, que pode ser destruído. Como Olson observa, “uma pessoa por quem Cristo morreu não pode ser destruída”. A palavra grega aqui traduzida por “destruído” é apothnesko, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa:
599 αποθνησκω apothnesko
de 575 e 2348; TDNT - 3:7,312; v
1) morrer;
1a) de morte natural do ser humano;
1b) de morte violenta de seres humanos ou animais;
1c) perecer por meio de algo;
1d) de árvores que secam, de sementes que apodrecem quando plantadas;
1e) a morte eterna.
Como vemos, sempre quando apothnesko aparece aplicada a seres humanos ela tem o sentido de morte, seja em relação à morte natural ou à morte eterna. Neste texto Paulo obviamente não estava falando da morte natural, pois ele fala da consciência da pessoa, e ninguém “morre” por comer algo sacrificado aos ídolos. Portanto, o texto se refere à morte eterna, o que foi traduzido por “destruição”. Essa palavra aparece em 112 ocorrências no NT e sempre quando é aplicada a humanos tem este sentido. Vejamos algumas ocorrências:
“Disse: ‘Saiam! A menina não está morta [apothnesko], mas dorme’. Todos começaram a rir dele” (Mateus 9:24)
“Mestre, Moisés disse que se um homem morrer [apothnesko] sem deixar filhos, seu irmão deverá casar-se com a viúva e dar-lhe descendência” (Mateus 22:24)
“Finalmente, depois de todos, morreu [apothnesko] a mulher” (Mateus 22:27)
“Mas Pedro declarou: ‘Mesmo que seja preciso que eu morra [apothnesko] contigo, nunca te negarei’. E todos os outros discípulos disseram o mesmo” (Mateus 26:35)
“Enquanto Jesus ainda estava falando, chegaram algumas pessoas da casa de Jairo, o dirigente da sinagoga. ‘Sua filha morreu [apothnesko]’, disseram eles. ‘Não precisa mais incomodar o mestre!’” (Marcos 5:35)
“O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu. O menino ficou como morto [apothnesko], a ponto de muitos dizerem: ‘Ele morreu [apothnesko]’” (Marcos 9:26)
“Havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu [apothnesko] sem deixar filhos” (Marcos 12:20)
“Pilatos ficou surpreso ao ouvir que ele já tinha morrido [apothnesko]. Chamando o centurião, perguntou-lhe se Jesus já tinha morrido [apothnesko]” (Marcos 15:44)
“Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos. Não estou escrevendo na esperança de que vocês façam isso por mim. Prefiro morrer [apothnesko] a permitir que alguém me prive deste meu orgulho” (1ª Coríntios 9:15)
“Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram [apothnesko] por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos!” (Romanos 5:15)
“Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão [apothnesko]; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão” (Romanos 8:13)
“Esteja atento! Fortaleça o que resta e que estava para morrer [apothnesko], pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus” (Apocalipse 3:2)
Qualquer leitor que desejar pode conferir todas as 112 ocorrências do termo e perceberá que em todas as ocasiões, sem exceção, o significado é sempre o mesmo: morte. Essa morte pode ter três conotações: (a) a morte natural ao término da vida terrena; (b) a morte eterna após a ressurreição; (c) a morte dos cristãos para o pecado e o mundo. Diante do contexto de 1ª Coríntios 8:10-11, a única alternativa plausível é a segunda, pois Paulo não está falando da morte natural (a) nem de uma coisa boa (c).
Consequentemente, o termo implica na morte eterna, independentemente de como cada um a entende. Essa morte eterna, biblicamente, é o oposto à vida eterna (Rm.6:23; 8:13), o que significa que essas pessoas por quem Cristo morreu, que foram induzidas a comer a comida sacrificada aos ídolos, seriam condenadas. O que Paulo estava dizendo é que a pessoa que come o alimento oferecido aos ídolos corre risco de morte eterna, e ele diz também que Cristo morreu por essa pessoa (1Co.8:11). Por conseguinte, Cristo morreu por todos, não somente pelos que herdarão a vida eterna, mas também pelos que cairão em apothnesko.
• 2ª Coríntios 5:14-15
“Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2ª Coríntios 5:14-15)
Não há muito o que acrescentar sobre este texto. Cristo morreu por todos (pas), e não apenas por alguns (tis). Mais uma vez, negar que o todos seja todos é lutar contra a clareza do texto bíblico e subestimar a capacidade do apóstolo em escrever “alguns” em vez de “todos”, o que definiria bem a expiação limitada do calvinismo.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• 1ª João 2:2
“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1ª João 2:2)
João diz que Cristo é a propiciação não apenas dos nossos pecados (dos cristãos), mas pelos pecados do mundo inteiro, estendendo a expiação a um grau universal e ilimitado, exatamente como é crido no arminianismo. Ao invés de João dizer que Jesus é a propiciação somente dos nossos pecados, ele faz questão de estender essa expiação a todos. Foi a negação da clareza de um texto como este que levou Geisler a dizer:
“Isso parece tão evidente que, se não fosse pela afirmação distorcida dos calvinistas extremados, nenhum comentário seria necessário (...) isso é um caso óbvio de eisegese (ver no texto o que não está nele), que não merece um tratamento extensivo”
Um calvinista que nega a expiação universal à luz de um texto como este teria que corromper o significado de “mundo”, de “todos” e de “não somente”. Em termos simples, teria que corromper tudo e esquecer este texto.
• Romanos 5
É em Romanos 5 que encontramos uma das mais perfeitas descrições de Jesus morrendo pelos ímpios, ao analisarmos todo o contexto. Paulo diz que, “no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios” (Rm.5:6). Os calvinistas entendem que este texto se refere apenas aos eleitos enquanto eles ainda eram ímpios, mas Paulo segue dizendo que a graça veio sobre todos os homens da mesma forma que o pecado veio sobre todos os homens:
"Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Romanos 5:18)
O texto fala do pecado como condenação natural a todos os homens e da graça de Cristo como justificação a todos os homens. O calvinista consegue crer que realmente todos caíram em pecado e mereceram a condenação, mas não consegue crer que a graça da justificação também foi para todos os homens. Em outras palavras, dentro de um mesmo verso bíblico, eles entendem o primeiro “todos” como sendo “todos”, e o segundo “todos” como sendo “alguns”. Se isso não é a mais grosseira deturpação exegética, eu não sei o que pode ser.
Paulo acentua este paralelismo mais adiante, ao dizer:
“Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12)
E depois:
“Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos!” (Romanos 5:15)
A mensagem é clara: a morte veio sobre todos os homens, porque todos os homens pecaram. Isso todo bom calvinista interpreta como sendo todos mesmo, sem exceção. Mas o texto segue dizendo que a graça de Deus muito mais transbordou sobre muitos. Como que o pecado por ter tido uma extensão universal e limitada e a graça não teve uma extensão ilimitada e universal, se ela transbordou muito mais do que o pecado? Em outras palavras, se o “todos” em relação ao pecado é “todos” mesmo, por que o “todos” em relação à graça não é todos, se Paulo coloca a graça sobre transbordando sobre a vida de muitos, em uma medida maior do que a transgressão?
E Paulo segue dizendo:
“Conseqüentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens” (Romanos 5:18)
Este verso resume bem toda esta linha de pensamento. Paulo diz que o pecado resultou na condenação natural de todos os homens. Os calvinistas creem que todos, sem exceção, pecaram e se fizeram merecedores da condenação. Então, eles interpretam “todos os homens” na primeira parte do verso como sendo literalmente todos os homens. Mas Paulo prossegue dizendo que o ato de justiça de Cristo resultou em justificação para todos os homens, e isso os calvinistas interpretam como sendo “alguns homens”.
Isso, além de corromper tudo aquilo que conhecemos por critério e bom senso, ainda invalidaria a lógica empregada por Paulo, pois ele compara o pecado com a graça, e em ambos os casos ele coloca a expressão “todos os homens”. Se o pecado tivesse vindo realmente sobre todos os homens mas a graça apenas sobre alguns, toda a lógica de pensamento dele cairia por terra e seria derrubada por um calvinista.
Além disso, o “assim também” que ele acentua no verso 18 perderia completamente o sentido, pois ele só teria lógica caso “todos os homens” do início do verso fosse o mesmo que “todos os homens” da continuação do verso. Se todos os homens é todos os homens em sentido completo em ambas as vezes, o “assim também” tem sentido, pois iguala ambos. Mas se na primeira parte do verso significa “todos” e na segunda parte significa apenas “alguns”, o “assim também” perde completamente o sentido, pois não seriam iguais, mas diferentes.
Um estaria em oposição ao outro, e não em igualdade. Seria mais um contraste do que uma analogia, como ocorre no texto. Portanto, o emprego do “assim também” exige uma igualdade de interpretação sobre o “todos os homens”. Uma vez que os calvinistas creem que realmente todos os homens caíram em pecado, são obrigados a crerem também que todos os homens são recipientes do “ato de justiça” (v.18) de Cristo na cruz, em trazer justificação através de sua morte expiatória.
• Romanos 11:32
“Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos” (Romanos 11:32)
O princípio passado aqui é o mesmo do texto anterior. Deus colocou todos sobre a desobediência, para usar de misericórdia sobre todos. O texto perderia a força e o sentido caso estivesse na verdade dizendo que Deus colocou todos sobre a desobediência para exercer misericórdia sobre alguns. A concordância no texto exige uma equivalência entre os que desobedeceram (todos, pois todos pecaram) e os que Deus usou de misericórdia (todos, através da cruz). Interpretar arbitrariamente o primeiro “todos” como “todos” e o segundo “todos” como “alguns” é aleijar a concordância e ignorar o critério.
• Mateus 18:14
“Da mesma forma, o Pai de vocês, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mateus 18:14)
Os “pequeninos” que Jesus dizia eram as crianças (v.5), sobre quem ele afirmou:
“Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo. Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar” (Mateus 18:5-6)
Ele diz que não quer que nenhuma destas crianças se perca (v.14), o que seria impossível de acontecer caso Jesus não tivesse expiado os pecados de todos, indistintamente. Caso contrário, existiriam crianças eleitas que cresceriam e manteriam a salvação, e crianças não-eleitas que inevitavelmente se perderiam. Para que houvesse a possibilidade de nenhuma daquelas crianças se perder era necessário que Cristo morresse por todas, o que daria uma chance de salvação para todas.
Seria irônico se Jesus quisesse que nenhuma daquelas crianças se perdesse, sem ter feito nada para salvar muitas delas, e ainda já tendo pré-determinado que muitas delas se perderiam, recusando-se a morrer por elas e restringindo a possibilidade da salvação aos eleitos. O “querer” de Cristo só tem sentido caso ele morresse por todos e, assim, garantisse uma chance de salvação, com a condição de crer. Um querer destituído de ação seria, na melhor das hipóteses, um desejo hipócrita.
• João 5:34
“Não que eu busque testemunho humano, mas menciono isso para que vocês sejam salvos” (João 5:34)
A finalidade de Jesus naquela conversa com os judeus incrédulos era salvá-los. Ele disse claramente que lhes pregava o evangelho com esta finalidade. Contudo, sabemos que muitos deles não foram salvos, pois continuaram sem crer em Cristo. Assim, temos duas possibilidades: ou eles não foram salvos porque Jesus se recusou a morrer por eles, ou eles não foram salvos porque eles se recusaram a crer. À vista do desejo de Cristo de que eles fossem salvos, a primeira opção se torna improvável, e a morte de Jesus por eles muito mais aceitável.
• João 11:42
“Eu sabia que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste” (João 11:42)
À exemplo do anterior, o texto afirma que Jesus disse aquilo com a finalidade de que o povo cresse, que é o precedente necessário para a salvação. Mas como Jesus poderia querer que eles fossem salvos, se não fez o mínimo necessário para a salvação deles, que é morrer por eles para expiar seus pecados? Sem a ação, o desejo por si só é nulo. Querer a salvação de alguém e ao mesmo tempo impedir a salvação de alguém é uma contradição que só pode ser solucionada se ele realmente morreu pelos pecadores, proporcionando-lhes uma oportunidade de salvação.
• Refutando objeções
Uma objeção comum dos calvinistas contra a expiação universal é que, se Cristo pagou o preço por todos, por que nem todos são salvos? A resposta que os próprios calvinistas encontram é que Cristo não pagou o preço por todos, e por isso nem todos são salvos. Os arminianos, sabendo que a explicação de que Cristo não pagou o preço por todos é antibíblica, respondem que a razão pela qual nem todos são salvos é porque é preciso se apropriar da salvação através da fé.
O preço pago por Cristo na cruz proporciona a possibilidade de salvação para todos, o que não haveria caso ele não tivesse pago o preço por nós. Mas é necessário que nós creiamos no que ele fez por nós, para nos apropriarmos pela fé da promessa da vida eterna. A expiação, portanto, é universal, no sentido de que Cristo morreu por todos para disponibilizar salvação a todos, mas nem todos são salvos, porque nem todos creem. Mesmo com Cristo tendo morrido por nós, a fé ainda é completamente necessária para a salvação. Orton Wiley explica isso nas seguintes palavras:
“A expiação é universal. Isto não quer dizer que toda a humanidade será salva incondicionalmente, mas que a oferta sacrificial de Cristo, até certa extensão, atendeu às reivindicações da lei divina, de modo a tornar a salvação possível a todos. A redenção, portanto, é universal ou geral no sentido provisional, mas especial ou condicional em sua aplicação ao indivíduo”
Assim sendo, é verdade que Cristo morreu para a justificação de todos, que a graça de Deus abundou sobre todos e que Ele exerceu misericórdia sobre todos. Contudo, o homem pode rejeitar a graça e recusar-se a crer, o que torna nulo na vida dele o que Cristo fez por ele. Olson fala sobre isso por meio de uma analogia:
“Imagine uma pessoa que é multada por uma corte em mil reais por um mau comportamento e alguém entra e paga a multa. E se a pessoa multada se recusar a aceitar aquele pagamento e insistir que ela mesma pague a multa? A corte irá automaticamente restituir os primeiros mil reais? Provavelmente não. É o risco que a primeira pessoa corre em pagar a multa de seu amigo(a) por ele(a)”
Geisler também usa uma analogia semelhante para chegar ao mesmo ponto:
“Se um benfeitor compra um presente e o oferece livremente a uma pessoa, isso não significa que ela tem de recebê-lo. Igualmente, se Cristo pagou pelos nossos pecados, isso não significa que tenhamos de aceitar o perdão dos pecados pagos com seu sangue”
Olson ainda cita como exemplo a anistia do governo norte-americano aos que fugiram da guerra do Vietnã:
“Apenas um dia após a posse do presidente Jimmy Carter, ele deu prosseguimento à sua promessa de campanha e concedeu perdão total a todos os que resistiram ao recrutamento durante a Guerra do Vietnã ao fugir dos EUA para o Canadá e outros países. O momento em que ele assinou aquela ordem executiva, cada exilado estava livre para retornar aos EUA com a garantia legal de que ele não seria processado. ‘Todos estão perdoados, voltem para casa’, foi a mensagem para cada um deles (...) Ainda que houvesse uma anistia e perdão total, todavia, muitos exilados escolheram permanecer no Canadá ou outros países para os quais eles fugiram. Alguns morreram sem sequer fazer uso da oportunidade de estar em casa com os familiares e amigos novamente. O custoso perdão não lhes fez bem algum, pois ele precisava ser subjetivamente apropriado a fim de ser usufruído objetivamente. Colocando de outra forma, embora o perdão era objetivamente deles, para que pudessem se beneficiar dele, eles precisavam tê-lo aceitado subjetivamente. Muitos não o fizeram”
Da mesma forma que a anistia concedida pelo governo norte-americano precisava ser aceita para ter efeito na vida daquelas pessoas, a expiação precisa ser aceita através da fé por aqueles que desejam ser salvos. É por isso que é a fé que nos justifica (Gl.2:16; Ef.2:8-9; Rm.4:5; Fp.2:9), e não somente o ato da morte de Cristo na cruz. A morte de Cristo possibilita a fé, mas sem a fé não há salvação. A morte de Cristo em nosso lugar não nos salva automaticamente; é preciso se apropriar pela fé dos benefícios dessa expiação.
Geisler também aborda isso, dizendo:
“O pagamento que Cristo fez pelos pecados de toda a humanidade não a salva automaticamente; apenas a tornou passível de ser salva. Ela não aplicou automaticamente a graça salvadora de Deus à vida das pessoas; apenas satisfez a Deus, tornando-o favorável (propício) a eles (Jo 2.2), à espera da fé da parte deles para poderem receber a salvação como dom incondicional de Deus, o que foi tornado possível”
Olson acrescenta:
“Estas objeções presumem que a morte de Cristo, por si só e em qualquer aceitação, automaticamente salva algumas pessoas. Isto não sugere que o arrependimento humano e a fé são supérfluos? Por que Deus exige fé e arrependimento? Os eleitos, presumidamente, são salvos pela cruz antes e à parte de suas respostas ao evangelho”
É por isso que somos salvos a partir de quando cremos, e não a partir de quando Jesus morreu. O fato de Jesus ter morrido nos possibilita a salvação e torna a fé possível, mas, se nos recusarmos a crer, estaremos tão perdidos quanto estávamos antes de crer. Até mesmo os eleitos estavam mortos em seus pecados antes de Cristos os vivificar (Ef.2:1-2), mesmo à luz do fato de que Jesus já tinha morrido por eles. Essa morte só passou a ter valor e aplicação na vida deles a partir de quando eles creram, e se alguém se recusa a crer durante toda a vida não terá essa aplicação por toda a vida.
A consequencia disso é que o que faz com que uma pessoa não seja salva é a resistência dela em crer no que Cristo fez por ela, e não porque Cristo não fez nada por ela. Como disse Paulo César Antunes, “a Bíblia em nenhum lugar afirma que as pessoas se perdem porque Cristo não morreu por elas, mas elas se perdem por causa da incredulidade, por rejeitarem o que Cristo fez na cruz em seu favor”.
Por tudo isso, a objeção calvinista de que a expiação universal leva ao universalismo (a crença de que todos serão salvos) é uma falácia. Olson foi preciso quanto a isso quando escreveu:
“Os calvinistas temem que a ênfase humana na universalidade da expiação resulte inexoravelmente em universalismo; se Cristo, na verdade, padeceu os pecados de todas as pessoas, por que é que alguém iria para o inferno? Todos não seriam salvos pela morte expiatória de Cristo? O inferno não seria uma punição redundante? Os arminianos respondem que é exatamente isto que torna o inferno tão trágico – ele é absolutamente desnecessário. As pessoas vão para lá não porque suas punições não foram sofridas por Cristo, mas porque rejeitam a anistia fornecida por Cristo por intermédio da morte substitutiva de Cristo”
• Últimas considerações
A crença na expiação limitada nunca surgiu através de um exame detido das Escrituras, razão pela qual eles possuem quase nenhuma fonte de apoio acerca disso, exceto alguns versículos que, como mostramos, nem de longe favorecem a visão limitada da expiação. Se a expiação limitada é verdadeira, ela passou despercebida pela Bíblia, por todos os Pais da Igreja, por Lutero e até pelo próprio Calvino. Até que um homem, sucessor de Calvino, percebeu que limitar a extensão da expiação era totalmente necessário para dar sentido e ligação às demais crenças calvinistas.
Por isso, a Bíblia não apenas foi revista, mas muitas vezes manipulada, corrompida e flagrantemente adulterada nas tentativas de reinterpretação de textos históricos que sempre foram usados na defesa da expiação universal e que claramente atestam que Cristo morreu por todos. Lutar contra eles, tentando forçar os textos a dizer algo diferente daquilo que eles explicitamente dizem, não melhoram nada – apenas demonstra como alguém é capaz de lutar contra o óbvio.
Como resultado das interpretações manipuladas, o “mundo” não é mundo, o “todos” não é todos, o “querer” não é querer, o “redimir” não é redimir, o “destruir” não é destruir e a palavra “alguns” não existia no vocabulário de Paulo e dos demais escritores neotestamentários. Foi um trabalho árduo a revisão de textos que claramente apontam para a expiação universal, mas, infelizmente, foi onde eles tiveram que chegar para assumir as consequencias de uma doutrina que começa errada, e que termina pior ainda.
“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1ª João 2:2)
João diz que Cristo é a propiciação não apenas dos nossos pecados (dos cristãos), mas pelos pecados do mundo inteiro, estendendo a expiação a um grau universal e ilimitado, exatamente como é crido no arminianismo. Ao invés de João dizer que Jesus é a propiciação somente dos nossos pecados, ele faz questão de estender essa expiação a todos. Foi a negação da clareza de um texto como este que levou Geisler a dizer:
“Isso parece tão evidente que, se não fosse pela afirmação distorcida dos calvinistas extremados, nenhum comentário seria necessário (...) isso é um caso óbvio de eisegese (ver no texto o que não está nele), que não merece um tratamento extensivo”
Um calvinista que nega a expiação universal à luz de um texto como este teria que corromper o significado de “mundo”, de “todos” e de “não somente”. Em termos simples, teria que corromper tudo e esquecer este texto.
• Romanos 5
É em Romanos 5 que encontramos uma das mais perfeitas descrições de Jesus morrendo pelos ímpios, ao analisarmos todo o contexto. Paulo diz que, “no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios” (Rm.5:6). Os calvinistas entendem que este texto se refere apenas aos eleitos enquanto eles ainda eram ímpios, mas Paulo segue dizendo que a graça veio sobre todos os homens da mesma forma que o pecado veio sobre todos os homens:
"Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Romanos 5:18)
O texto fala do pecado como condenação natural a todos os homens e da graça de Cristo como justificação a todos os homens. O calvinista consegue crer que realmente todos caíram em pecado e mereceram a condenação, mas não consegue crer que a graça da justificação também foi para todos os homens. Em outras palavras, dentro de um mesmo verso bíblico, eles entendem o primeiro “todos” como sendo “todos”, e o segundo “todos” como sendo “alguns”. Se isso não é a mais grosseira deturpação exegética, eu não sei o que pode ser.
Paulo acentua este paralelismo mais adiante, ao dizer:
“Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12)
E depois:
“Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos!” (Romanos 5:15)
A mensagem é clara: a morte veio sobre todos os homens, porque todos os homens pecaram. Isso todo bom calvinista interpreta como sendo todos mesmo, sem exceção. Mas o texto segue dizendo que a graça de Deus muito mais transbordou sobre muitos. Como que o pecado por ter tido uma extensão universal e limitada e a graça não teve uma extensão ilimitada e universal, se ela transbordou muito mais do que o pecado? Em outras palavras, se o “todos” em relação ao pecado é “todos” mesmo, por que o “todos” em relação à graça não é todos, se Paulo coloca a graça sobre transbordando sobre a vida de muitos, em uma medida maior do que a transgressão?
E Paulo segue dizendo:
“Conseqüentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens” (Romanos 5:18)
Este verso resume bem toda esta linha de pensamento. Paulo diz que o pecado resultou na condenação natural de todos os homens. Os calvinistas creem que todos, sem exceção, pecaram e se fizeram merecedores da condenação. Então, eles interpretam “todos os homens” na primeira parte do verso como sendo literalmente todos os homens. Mas Paulo prossegue dizendo que o ato de justiça de Cristo resultou em justificação para todos os homens, e isso os calvinistas interpretam como sendo “alguns homens”.
Isso, além de corromper tudo aquilo que conhecemos por critério e bom senso, ainda invalidaria a lógica empregada por Paulo, pois ele compara o pecado com a graça, e em ambos os casos ele coloca a expressão “todos os homens”. Se o pecado tivesse vindo realmente sobre todos os homens mas a graça apenas sobre alguns, toda a lógica de pensamento dele cairia por terra e seria derrubada por um calvinista.
Além disso, o “assim também” que ele acentua no verso 18 perderia completamente o sentido, pois ele só teria lógica caso “todos os homens” do início do verso fosse o mesmo que “todos os homens” da continuação do verso. Se todos os homens é todos os homens em sentido completo em ambas as vezes, o “assim também” tem sentido, pois iguala ambos. Mas se na primeira parte do verso significa “todos” e na segunda parte significa apenas “alguns”, o “assim também” perde completamente o sentido, pois não seriam iguais, mas diferentes.
Um estaria em oposição ao outro, e não em igualdade. Seria mais um contraste do que uma analogia, como ocorre no texto. Portanto, o emprego do “assim também” exige uma igualdade de interpretação sobre o “todos os homens”. Uma vez que os calvinistas creem que realmente todos os homens caíram em pecado, são obrigados a crerem também que todos os homens são recipientes do “ato de justiça” (v.18) de Cristo na cruz, em trazer justificação através de sua morte expiatória.
• Romanos 11:32
“Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos” (Romanos 11:32)
O princípio passado aqui é o mesmo do texto anterior. Deus colocou todos sobre a desobediência, para usar de misericórdia sobre todos. O texto perderia a força e o sentido caso estivesse na verdade dizendo que Deus colocou todos sobre a desobediência para exercer misericórdia sobre alguns. A concordância no texto exige uma equivalência entre os que desobedeceram (todos, pois todos pecaram) e os que Deus usou de misericórdia (todos, através da cruz). Interpretar arbitrariamente o primeiro “todos” como “todos” e o segundo “todos” como “alguns” é aleijar a concordância e ignorar o critério.
• Mateus 18:14
“Da mesma forma, o Pai de vocês, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mateus 18:14)
Os “pequeninos” que Jesus dizia eram as crianças (v.5), sobre quem ele afirmou:
“Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo. Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar” (Mateus 18:5-6)
Ele diz que não quer que nenhuma destas crianças se perca (v.14), o que seria impossível de acontecer caso Jesus não tivesse expiado os pecados de todos, indistintamente. Caso contrário, existiriam crianças eleitas que cresceriam e manteriam a salvação, e crianças não-eleitas que inevitavelmente se perderiam. Para que houvesse a possibilidade de nenhuma daquelas crianças se perder era necessário que Cristo morresse por todas, o que daria uma chance de salvação para todas.
Seria irônico se Jesus quisesse que nenhuma daquelas crianças se perdesse, sem ter feito nada para salvar muitas delas, e ainda já tendo pré-determinado que muitas delas se perderiam, recusando-se a morrer por elas e restringindo a possibilidade da salvação aos eleitos. O “querer” de Cristo só tem sentido caso ele morresse por todos e, assim, garantisse uma chance de salvação, com a condição de crer. Um querer destituído de ação seria, na melhor das hipóteses, um desejo hipócrita.
• João 5:34
“Não que eu busque testemunho humano, mas menciono isso para que vocês sejam salvos” (João 5:34)
A finalidade de Jesus naquela conversa com os judeus incrédulos era salvá-los. Ele disse claramente que lhes pregava o evangelho com esta finalidade. Contudo, sabemos que muitos deles não foram salvos, pois continuaram sem crer em Cristo. Assim, temos duas possibilidades: ou eles não foram salvos porque Jesus se recusou a morrer por eles, ou eles não foram salvos porque eles se recusaram a crer. À vista do desejo de Cristo de que eles fossem salvos, a primeira opção se torna improvável, e a morte de Jesus por eles muito mais aceitável.
• João 11:42
“Eu sabia que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste” (João 11:42)
À exemplo do anterior, o texto afirma que Jesus disse aquilo com a finalidade de que o povo cresse, que é o precedente necessário para a salvação. Mas como Jesus poderia querer que eles fossem salvos, se não fez o mínimo necessário para a salvação deles, que é morrer por eles para expiar seus pecados? Sem a ação, o desejo por si só é nulo. Querer a salvação de alguém e ao mesmo tempo impedir a salvação de alguém é uma contradição que só pode ser solucionada se ele realmente morreu pelos pecadores, proporcionando-lhes uma oportunidade de salvação.
• Refutando objeções
Uma objeção comum dos calvinistas contra a expiação universal é que, se Cristo pagou o preço por todos, por que nem todos são salvos? A resposta que os próprios calvinistas encontram é que Cristo não pagou o preço por todos, e por isso nem todos são salvos. Os arminianos, sabendo que a explicação de que Cristo não pagou o preço por todos é antibíblica, respondem que a razão pela qual nem todos são salvos é porque é preciso se apropriar da salvação através da fé.
O preço pago por Cristo na cruz proporciona a possibilidade de salvação para todos, o que não haveria caso ele não tivesse pago o preço por nós. Mas é necessário que nós creiamos no que ele fez por nós, para nos apropriarmos pela fé da promessa da vida eterna. A expiação, portanto, é universal, no sentido de que Cristo morreu por todos para disponibilizar salvação a todos, mas nem todos são salvos, porque nem todos creem. Mesmo com Cristo tendo morrido por nós, a fé ainda é completamente necessária para a salvação. Orton Wiley explica isso nas seguintes palavras:
“A expiação é universal. Isto não quer dizer que toda a humanidade será salva incondicionalmente, mas que a oferta sacrificial de Cristo, até certa extensão, atendeu às reivindicações da lei divina, de modo a tornar a salvação possível a todos. A redenção, portanto, é universal ou geral no sentido provisional, mas especial ou condicional em sua aplicação ao indivíduo”
Assim sendo, é verdade que Cristo morreu para a justificação de todos, que a graça de Deus abundou sobre todos e que Ele exerceu misericórdia sobre todos. Contudo, o homem pode rejeitar a graça e recusar-se a crer, o que torna nulo na vida dele o que Cristo fez por ele. Olson fala sobre isso por meio de uma analogia:
“Imagine uma pessoa que é multada por uma corte em mil reais por um mau comportamento e alguém entra e paga a multa. E se a pessoa multada se recusar a aceitar aquele pagamento e insistir que ela mesma pague a multa? A corte irá automaticamente restituir os primeiros mil reais? Provavelmente não. É o risco que a primeira pessoa corre em pagar a multa de seu amigo(a) por ele(a)”
Geisler também usa uma analogia semelhante para chegar ao mesmo ponto:
“Se um benfeitor compra um presente e o oferece livremente a uma pessoa, isso não significa que ela tem de recebê-lo. Igualmente, se Cristo pagou pelos nossos pecados, isso não significa que tenhamos de aceitar o perdão dos pecados pagos com seu sangue”
Olson ainda cita como exemplo a anistia do governo norte-americano aos que fugiram da guerra do Vietnã:
“Apenas um dia após a posse do presidente Jimmy Carter, ele deu prosseguimento à sua promessa de campanha e concedeu perdão total a todos os que resistiram ao recrutamento durante a Guerra do Vietnã ao fugir dos EUA para o Canadá e outros países. O momento em que ele assinou aquela ordem executiva, cada exilado estava livre para retornar aos EUA com a garantia legal de que ele não seria processado. ‘Todos estão perdoados, voltem para casa’, foi a mensagem para cada um deles (...) Ainda que houvesse uma anistia e perdão total, todavia, muitos exilados escolheram permanecer no Canadá ou outros países para os quais eles fugiram. Alguns morreram sem sequer fazer uso da oportunidade de estar em casa com os familiares e amigos novamente. O custoso perdão não lhes fez bem algum, pois ele precisava ser subjetivamente apropriado a fim de ser usufruído objetivamente. Colocando de outra forma, embora o perdão era objetivamente deles, para que pudessem se beneficiar dele, eles precisavam tê-lo aceitado subjetivamente. Muitos não o fizeram”
Da mesma forma que a anistia concedida pelo governo norte-americano precisava ser aceita para ter efeito na vida daquelas pessoas, a expiação precisa ser aceita através da fé por aqueles que desejam ser salvos. É por isso que é a fé que nos justifica (Gl.2:16; Ef.2:8-9; Rm.4:5; Fp.2:9), e não somente o ato da morte de Cristo na cruz. A morte de Cristo possibilita a fé, mas sem a fé não há salvação. A morte de Cristo em nosso lugar não nos salva automaticamente; é preciso se apropriar pela fé dos benefícios dessa expiação.
Geisler também aborda isso, dizendo:
“O pagamento que Cristo fez pelos pecados de toda a humanidade não a salva automaticamente; apenas a tornou passível de ser salva. Ela não aplicou automaticamente a graça salvadora de Deus à vida das pessoas; apenas satisfez a Deus, tornando-o favorável (propício) a eles (Jo 2.2), à espera da fé da parte deles para poderem receber a salvação como dom incondicional de Deus, o que foi tornado possível”
Olson acrescenta:
“Estas objeções presumem que a morte de Cristo, por si só e em qualquer aceitação, automaticamente salva algumas pessoas. Isto não sugere que o arrependimento humano e a fé são supérfluos? Por que Deus exige fé e arrependimento? Os eleitos, presumidamente, são salvos pela cruz antes e à parte de suas respostas ao evangelho”
É por isso que somos salvos a partir de quando cremos, e não a partir de quando Jesus morreu. O fato de Jesus ter morrido nos possibilita a salvação e torna a fé possível, mas, se nos recusarmos a crer, estaremos tão perdidos quanto estávamos antes de crer. Até mesmo os eleitos estavam mortos em seus pecados antes de Cristos os vivificar (Ef.2:1-2), mesmo à luz do fato de que Jesus já tinha morrido por eles. Essa morte só passou a ter valor e aplicação na vida deles a partir de quando eles creram, e se alguém se recusa a crer durante toda a vida não terá essa aplicação por toda a vida.
A consequencia disso é que o que faz com que uma pessoa não seja salva é a resistência dela em crer no que Cristo fez por ela, e não porque Cristo não fez nada por ela. Como disse Paulo César Antunes, “a Bíblia em nenhum lugar afirma que as pessoas se perdem porque Cristo não morreu por elas, mas elas se perdem por causa da incredulidade, por rejeitarem o que Cristo fez na cruz em seu favor”.
Por tudo isso, a objeção calvinista de que a expiação universal leva ao universalismo (a crença de que todos serão salvos) é uma falácia. Olson foi preciso quanto a isso quando escreveu:
“Os calvinistas temem que a ênfase humana na universalidade da expiação resulte inexoravelmente em universalismo; se Cristo, na verdade, padeceu os pecados de todas as pessoas, por que é que alguém iria para o inferno? Todos não seriam salvos pela morte expiatória de Cristo? O inferno não seria uma punição redundante? Os arminianos respondem que é exatamente isto que torna o inferno tão trágico – ele é absolutamente desnecessário. As pessoas vão para lá não porque suas punições não foram sofridas por Cristo, mas porque rejeitam a anistia fornecida por Cristo por intermédio da morte substitutiva de Cristo”
• Últimas considerações
A crença na expiação limitada nunca surgiu através de um exame detido das Escrituras, razão pela qual eles possuem quase nenhuma fonte de apoio acerca disso, exceto alguns versículos que, como mostramos, nem de longe favorecem a visão limitada da expiação. Se a expiação limitada é verdadeira, ela passou despercebida pela Bíblia, por todos os Pais da Igreja, por Lutero e até pelo próprio Calvino. Até que um homem, sucessor de Calvino, percebeu que limitar a extensão da expiação era totalmente necessário para dar sentido e ligação às demais crenças calvinistas.
Por isso, a Bíblia não apenas foi revista, mas muitas vezes manipulada, corrompida e flagrantemente adulterada nas tentativas de reinterpretação de textos históricos que sempre foram usados na defesa da expiação universal e que claramente atestam que Cristo morreu por todos. Lutar contra eles, tentando forçar os textos a dizer algo diferente daquilo que eles explicitamente dizem, não melhoram nada – apenas demonstra como alguém é capaz de lutar contra o óbvio.
Como resultado das interpretações manipuladas, o “mundo” não é mundo, o “todos” não é todos, o “querer” não é querer, o “redimir” não é redimir, o “destruir” não é destruir e a palavra “alguns” não existia no vocabulário de Paulo e dos demais escritores neotestamentários. Foi um trabalho árduo a revisão de textos que claramente apontam para a expiação universal, mas, infelizmente, foi onde eles tiveram que chegar para assumir as consequencias de uma doutrina que começa errada, e que termina pior ainda.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este foi para mim o livro mais difícil de ser escrito, porque tenho um grande apreço pelos calvinistas, embora considere o calvinismo um acentuado erro teológico. Três dos seis teólogos cristãos que eu mais admiro são calvinistas – incluindo Paul Washer e John Piper. Como disse no início, considero os calvinistas totalmente cristãos no sentido mais completo da palavra, embora falhem em alguns pontos soteriológicos, naquilo que foi apresentado neste livro. Ao refutar o calvinismo, não foi minha intenção desprezar o calvinista, que tem todo o meu respeito. Se algum calvinista se sentiu ofendido com a leitura deste livro assim como muitos se sentiram com a leitura dos livros de Roger Olson, peço minhas sinceras desculpas.
A verdade, no entanto, não pode ser suprimida, por causa de laços de comunhão. Para cada livro arminiano nas lojas, há pelo menos dez calvinistas. Para cada arminiano debatendo em fóruns de discussões na internet, há dúzias de calvinistas. Muitos seminários e escolas teológicas impedem a presença de professores arminianos e os consideram hereges. Arminianos são frequentemente ridicularizados por calvinistas em todos os lugares, como se fossem menos cristãos, ou nem isso.
A verdade não pode continuar sendo calada, como muitas vezes foi no passado. Arminianos merecem ter espaço para expressar suas ideias tanto quanto o calvinista merece. O debate democrático tem que ser incentivado, pois é através dele que vem a luz. Foi estudando posições contrárias que Armínio se tornou arminiano. Tempos depois, ele disse:
“Eu não me envergonho de ter ocasionalmente abandonado algumas opiniões que tinham sido instiladas por meus próprios mestres, visto que me parece que eu posso provar pelos argumentos mais convincentes que tal mudança ocorreu para melhor”
A intenção deste livro é que todos possam lê-lo de mente aberta da mesma forma que Armínio pôde ter tido contato com uma doutrina contrária à do calvinismo quando teve oportunidade, e de não ter tido vergonha de rever seus conceitos ao perceber que estava equivocado. Que o lema dos reformadores, “Ecclesia reformata, semper reformanda” (Igreja reformada, sempre reformando), possa estar no coração de cada leitor que não quer parar no tempo, mas continuar reformando.
Este foi para mim o livro mais difícil de ser escrito, porque tenho um grande apreço pelos calvinistas, embora considere o calvinismo um acentuado erro teológico. Três dos seis teólogos cristãos que eu mais admiro são calvinistas – incluindo Paul Washer e John Piper. Como disse no início, considero os calvinistas totalmente cristãos no sentido mais completo da palavra, embora falhem em alguns pontos soteriológicos, naquilo que foi apresentado neste livro. Ao refutar o calvinismo, não foi minha intenção desprezar o calvinista, que tem todo o meu respeito. Se algum calvinista se sentiu ofendido com a leitura deste livro assim como muitos se sentiram com a leitura dos livros de Roger Olson, peço minhas sinceras desculpas.
A verdade, no entanto, não pode ser suprimida, por causa de laços de comunhão. Para cada livro arminiano nas lojas, há pelo menos dez calvinistas. Para cada arminiano debatendo em fóruns de discussões na internet, há dúzias de calvinistas. Muitos seminários e escolas teológicas impedem a presença de professores arminianos e os consideram hereges. Arminianos são frequentemente ridicularizados por calvinistas em todos os lugares, como se fossem menos cristãos, ou nem isso.
A verdade não pode continuar sendo calada, como muitas vezes foi no passado. Arminianos merecem ter espaço para expressar suas ideias tanto quanto o calvinista merece. O debate democrático tem que ser incentivado, pois é através dele que vem a luz. Foi estudando posições contrárias que Armínio se tornou arminiano. Tempos depois, ele disse:
“Eu não me envergonho de ter ocasionalmente abandonado algumas opiniões que tinham sido instiladas por meus próprios mestres, visto que me parece que eu posso provar pelos argumentos mais convincentes que tal mudança ocorreu para melhor”
A intenção deste livro é que todos possam lê-lo de mente aberta da mesma forma que Armínio pôde ter tido contato com uma doutrina contrária à do calvinismo quando teve oportunidade, e de não ter tido vergonha de rever seus conceitos ao perceber que estava equivocado. Que o lema dos reformadores, “Ecclesia reformata, semper reformanda” (Igreja reformada, sempre reformando), possa estar no coração de cada leitor que não quer parar no tempo, mas continuar reformando.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
APÊNDICE 1 – O LIVRE-ARBÍTRIO É INJUSTO?
“A Palavra de Deus é, em certo sentido, universalmente proclamada, mesmo quando não registrada em uma língua escrita” (ORTON WILEY)
Alguns calvinistas afirmam que o livre-arbítrio, se é real, é tão injusto quanto seria caso tudo já estivesse pré-determinado por Deus. Isso porque nem todos nascem sob as mesmas condições. Alguns povos não têm sequer a oportunidade de ouvirem falar de Jesus ou do evangelho, como muitos indígenas, por exemplo. Outros ouvem, mas apenas superficialmente, e poucas vezes na vida. Em contrapartida, existem muitos que vivem em países onde o evangelho é amplamente difundido e que é praticamente impossível que alguém nunca tenha ouvido o evangelho várias vezes na vida – o Brasil é um belo exemplo.
Para os calvinistas, isso significa que o livre-arbítrio também é injusto, pois não há possibilidades iguais para todos. Sproul disse que “certamente as oportunidades não são iguais, uma vez que vastas multidões morrem sem jamais ouvir o evangelho”. Calvino ia além e dizia que o próprio fato de alguns povos nunca terem ouvido do evangelho é uma prova de que Deus os rejeitou de antemão e os predestinou à perdição, não dando-lhes nenhuma chance de salvação. Ele disse:
“Se, como dizem, foi determinado pelo eterno conselho de Deus que todos sejam feitos participantes da doutrina da vida, o que significam as palavras de Moisés: ‘que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados, como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?’ [Dt 4.7]. Qual é a causa de Deus privar a muitos povos da luz do evangelho da qual outros usufruíam? Qual é a causa de o puro conhecimento da doutrina da piedade nunca haver chegado a alguns, quando outros mal tenham degustado certos rudimentos obscuros?”
Ele ainda fez uso de um texto de Paulo, que supostamente ensinava que tais pessoas já estavam perdidas:
“Pouco antes ele dissera que aqueles que sob a lei pecaram, segundo a lei são julgados; os que sem a lei pecaram, sem a lei perecem. Visto que isso poderia parecer absurdo, que os gentios pereçam sem qualquer julgamento prévio, ele acrescenta imediatamente que sua consciência lhes está no lugar da lei, e por isso lhes é suficiente para justa condenação. Portanto, a finalidade da lei natural é tornar o homem inescusável. E poderíamos defini-la adequadamente dizendo que é um sentimento da consciência mediante o qual discerne entre o bem e o mal o suficiente para que os homens não pretextem ignorância, sendo convencidos por seu próprio testemunho”
A nota triste é que Calvino simplesmente distorceu o contexto do texto citado por ele, de Romanos 2:12. Ele deu a entender que Paulo estava dizendo que tais pessoas, independentemente se seguem ou não seguem a “lei natural” (que alguns chamam de “lei moral” ou “lei da consciência), já estavam condenadas, e não tinham como alcançar a vida eterna. Este é o famoso dilema do destino dos povos não-alcançados, que tem tudo a ver com o que foi tratado aqui. Para Calvino, tais já estavam condenados. Mas será mesmo que era isso o que o apóstolo estava dizendo? Se prosseguirmos a leitura, descobrimos que não:
“Todo aquele que pecar sem a lei, sem a lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a lei, pela lei será julgado. Porque não são os que ouvem a Lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à lei, estes serão declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho” (Romanos 2:12-16)
O contexto omitido por Calvino nos mostra claramente que há pessoas que nunca ouviram a lei, mas que seriam declaradas justas (v.13). Paulo usou o verbo justificar, no grego dikaioo, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa:
1344 δικαιοω dikaioo
de 1342; TDNT - 2:211,168; v
1) tornar justo ou com deve ser;
2) mostrar, exibir, evidenciar alguém ser justo, tal como é e deseja ser considerado;
3) declarar, pronunciar alguém justo, reto, ou tal como deve ser.
À luz das 39 ocorrências do termo no NT, vemos que ele tem o sentido de declarar justo (justificar), como nos textos abaixo:
“Portanto, ninguém será declarado justo [dikaioo] diante dele baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado” (Romanos 3:20)
“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados [dikaioo] gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:23-24)
“Pois sustentamos que o homem é justificado [dikaioo] pela fé, independente da obediência à lei” (Romanos 3:28)
“Visto que existe um só Deus, que pela fé justificará [dikaioo] os circuncisos e os incircuncisos” (Romanos 3:30)
Sendo assim, a ocorrência do termo em Romanos 2:13 nos mostra que é possível que alguém que nunca ouviu o evangelho seja dikaioo (declarado justo; justificado). Mas como? Paulo diz que é praticando naturalmente o que a lei moral ordena, mesmo sem ter uma lei escrita (Rm.2:14-15). Essa “lei moral” se refere à lei de consciência “gravada em nossos corações” (Rm.2:15), que todos nós possuímos, e é por meio dela que sabemos aquilo que é moralmente certo e aquilo que é moralmente errado.
Os israelitas já sabiam que o assassinato era proibido antes de Moisés descer do monte com as duas tábuas dizendo que era proibido matar. Isso porque em suas consciências eles podiam distinguir o certo do errado. Conceitos morais como honrar pai e mãe, não assassinar, não roubar, não adulterar e não dar falso testemunho existem em todas as civilizações, mesmo naquelas que nunca tiveram a lei de Moisés ou o evangelho de Jesus Cristo. Mesmo aqueles que nunca ouviram falar de Jesus sabem que estuprar um bebê é algo moralmente repugnante, porque possuem uma consciência que lhes diz isso.
Essa consciência moral foi implantada por Deus no coração de cada pessoa à despeito de qualquer lei escrita (Rm.2:14), e Paulo disse que é possível ser justificado (dikaioo) obedecendo-a, caso se não possua a lei escrita. Em outras palavras, Deus propiciou um meio pelo qual aqueles que nunca ouviram a Palavra escrita (a Lei ou o Evangelho) possam ser justificados, que é a obediência à lei moral.
A salvação permanece sendo pela graça e o salvador continua sendo Deus, mas a ponte que liga o pecador à graça, que no caso de quem conhece Jesus é a fé nEle (“temos acesso pela fé a esta graça” – Rm.5:2; “pela graça sois salvos, por meio da fé” – Ef.2:8), para quem não o conhece Deus sujeitou à própria consciência moral, ao invés de deixar-lhes sem uma “ponte” e sem oportunidade de salvação. Desta forma, os bilhões que nunca ouviram falar de Jesus na vida não estão todos automaticamente condenados, mas tem uma chance pela graça e misericórdia de Deus.
Mas a outra questão ainda está aberta: e quanto aos que ouviram? Sabemos que uns nasceram em lar evangélico e desde cedo desfrutaram da Palavra de Deus, outros viveram em lar não-cristão mas puderam ouvir alguma coisa da Palavra, e outros viveram em países afastados e poucas vezes ouviram falar de Jesus. Sendo assim, não seria injusto que o livre-arbítrio de cada um fosse o árbitro entre aceitar ou rejeitar a graça? Afinal de contas, o que sempre ouviu o evangelho não tem mais chances de aceitá-lo e vivê-lo do que aquele que ouviu menos? Não estamos falando de possibilidades desiguais, que tornariam o livre-arbítrio injusto?
Isso tudo seria verdade se não fosse por uma coisa: o princípio bíblico da proporcionalidade. Deus pensou até nisso e decidiu, em sua sabedoria, que aquele que ouviu mais fosse julgado com maior rigor em relação àquele que ouviu menos. Os dois não serão julgados com o mesmo rigor. Isso fica claro a partir da leitura de Lucas 12:48, que diz:
“A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lucas 12:48)
Deus vai cobrar muito mais de quem teve mais conhecimento. Isso ocorre tanto na questão da salvação como também na questão da perdição. Jesus disse que “aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites, mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites” (Lc.12:47-48).
A lei da proporcionalidade é clara e evidente, não apenas aqui, mas em diversos outros textos bíblicos. Jesus citou o maior rigor com que Corazim e Betsaida serão julgadas no dia do juízo em relação às cidades de Tiro e de Sidom, porque Corazim e Betsaida viram de perto os milagres de Cristo:
“Ai de você, Corazim! Ai de você, Betsaida! Porque se os milagres que foram realizados entre vocês tivessem sido realizados em Tiro e Sidom, há muito tempo elas se teriam arrependido, vestindo roupas de saco e cobrindo-se de cinzas. Mas eu lhes afirmo que no dia do juízo haverá menor rigor para Tiro e Sidom do que para vocês” (Mateus 11:21-22)
Quando Jesus enviou seus discípulos a pregarem nas cidades, ele disse que as que rejeitassem seriam julgadas com maior rigor do que Sodoma e Gomorra, porque tiveram mais oportunidade de ouvir a Palavra:
“Se alguém não os receber nem ouvir suas palavras, sacudam a poeira dos pés, quando saírem daquela casa ou cidade. Eu lhes digo a verdade: No dia do juízo haverá menor rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade” (Mateus 10:14-15)
O mesmo princípio da proporcionalidade é aplicado aos líderes religiosos. Eles serão julgados com maior rigor, porque são eles que têm a obrigação de ministrar a Palavra, e, consequentemente, de ter mais conhecimento dela:
“Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor” (Tiago 3:1)
Jesus deixou claro que “se eu não tivesse vindo e lhes falado, não seriam culpados de pecado; agora, contudo, eles não têm desculpa para o seu pecado” (Jo.15:22). Ele também disse que, “se vocês fossem cegos, não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece” (Jo.9:41). Em outras palavras, o princípio da proporcionalidade equilibra a questão. Se por um lado é verdade que um teve mais conhecimento, por outro lado também é verdade que este será julgado com maior rigor do que aquele que recebeu menos.
Uma analogia que podemos citar é de uma partida de futebol entre um time da 1ª divisão e um time da 3ª divisão. Teoricamente, o time da 1ª divisão leva vantagem por ter uma equipe mais forte, e o jogo poderia ser considerado “injusto”. Mas suponhamos que esta equipe precise ganhar de pelo menos 3 a 0 da outra para se classificar. Isso volta a equilibrar a balança, em uma condição onde ambos são iguais. Se por um lado um time é mais forte, por outro lado ele precisará fazer mais para vencer.
Esta lei de proporcionalidade retira toda e qualquer acusação de injustiça na questão do livre-arbítrio, e coloca todos sob um mesmo patamar final. Deus nunca trabalhou de maneira injusta e arbitrária, ele sempre trabalhou de forma justa e igualitária, mesmo que a igualdade atue mediante fatores que equilibram. O pensamento resumidamente exposto nas linhas acima é seguido de perto pelos arminianos clássicos como Wiley, que afirmou que “a Palavra de Deus é, em certo sentido [através da lei moral], universalmente proclamada, mesmo quando não registrada em uma língua escrita”.
Olson diz que “o Espírito Santo opera nos corações e mentes de todas as pessoas até certo ponto, dá-lhes consciência das expectativas e provisão de Deus, e as chama ao arrependimento e à fé. Deste modo, a Palavra de Deus é, em certo sentido, pregada universalmente, mesmo quando não registrada em uma linguagem escrita. Os que ouvem a proclamação e aceitam o chamado são conhecidos nas Escrituras como os eleitos. Os réprobos são os que resistem ao chamado de Deus”.
Em resumo, o livre-arbítrio não torna nada injusto ou arbitrário, como o calvinismo faz o tempo todo. Ele poderia ser injusto se estivesse desassociado do princípio da proporcionalidade, que equilibra as coisas. Mas, quando um está ligado ao outro, temos um perfeito equilíbrio, justo para todos, em uma medida equivalente.
“A Palavra de Deus é, em certo sentido, universalmente proclamada, mesmo quando não registrada em uma língua escrita” (ORTON WILEY)
Alguns calvinistas afirmam que o livre-arbítrio, se é real, é tão injusto quanto seria caso tudo já estivesse pré-determinado por Deus. Isso porque nem todos nascem sob as mesmas condições. Alguns povos não têm sequer a oportunidade de ouvirem falar de Jesus ou do evangelho, como muitos indígenas, por exemplo. Outros ouvem, mas apenas superficialmente, e poucas vezes na vida. Em contrapartida, existem muitos que vivem em países onde o evangelho é amplamente difundido e que é praticamente impossível que alguém nunca tenha ouvido o evangelho várias vezes na vida – o Brasil é um belo exemplo.
Para os calvinistas, isso significa que o livre-arbítrio também é injusto, pois não há possibilidades iguais para todos. Sproul disse que “certamente as oportunidades não são iguais, uma vez que vastas multidões morrem sem jamais ouvir o evangelho”. Calvino ia além e dizia que o próprio fato de alguns povos nunca terem ouvido do evangelho é uma prova de que Deus os rejeitou de antemão e os predestinou à perdição, não dando-lhes nenhuma chance de salvação. Ele disse:
“Se, como dizem, foi determinado pelo eterno conselho de Deus que todos sejam feitos participantes da doutrina da vida, o que significam as palavras de Moisés: ‘que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados, como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?’ [Dt 4.7]. Qual é a causa de Deus privar a muitos povos da luz do evangelho da qual outros usufruíam? Qual é a causa de o puro conhecimento da doutrina da piedade nunca haver chegado a alguns, quando outros mal tenham degustado certos rudimentos obscuros?”
Ele ainda fez uso de um texto de Paulo, que supostamente ensinava que tais pessoas já estavam perdidas:
“Pouco antes ele dissera que aqueles que sob a lei pecaram, segundo a lei são julgados; os que sem a lei pecaram, sem a lei perecem. Visto que isso poderia parecer absurdo, que os gentios pereçam sem qualquer julgamento prévio, ele acrescenta imediatamente que sua consciência lhes está no lugar da lei, e por isso lhes é suficiente para justa condenação. Portanto, a finalidade da lei natural é tornar o homem inescusável. E poderíamos defini-la adequadamente dizendo que é um sentimento da consciência mediante o qual discerne entre o bem e o mal o suficiente para que os homens não pretextem ignorância, sendo convencidos por seu próprio testemunho”
A nota triste é que Calvino simplesmente distorceu o contexto do texto citado por ele, de Romanos 2:12. Ele deu a entender que Paulo estava dizendo que tais pessoas, independentemente se seguem ou não seguem a “lei natural” (que alguns chamam de “lei moral” ou “lei da consciência), já estavam condenadas, e não tinham como alcançar a vida eterna. Este é o famoso dilema do destino dos povos não-alcançados, que tem tudo a ver com o que foi tratado aqui. Para Calvino, tais já estavam condenados. Mas será mesmo que era isso o que o apóstolo estava dizendo? Se prosseguirmos a leitura, descobrimos que não:
“Todo aquele que pecar sem a lei, sem a lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a lei, pela lei será julgado. Porque não são os que ouvem a Lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à lei, estes serão declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho” (Romanos 2:12-16)
O contexto omitido por Calvino nos mostra claramente que há pessoas que nunca ouviram a lei, mas que seriam declaradas justas (v.13). Paulo usou o verbo justificar, no grego dikaioo, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa:
1344 δικαιοω dikaioo
de 1342; TDNT - 2:211,168; v
1) tornar justo ou com deve ser;
2) mostrar, exibir, evidenciar alguém ser justo, tal como é e deseja ser considerado;
3) declarar, pronunciar alguém justo, reto, ou tal como deve ser.
À luz das 39 ocorrências do termo no NT, vemos que ele tem o sentido de declarar justo (justificar), como nos textos abaixo:
“Portanto, ninguém será declarado justo [dikaioo] diante dele baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado” (Romanos 3:20)
“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados [dikaioo] gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:23-24)
“Pois sustentamos que o homem é justificado [dikaioo] pela fé, independente da obediência à lei” (Romanos 3:28)
“Visto que existe um só Deus, que pela fé justificará [dikaioo] os circuncisos e os incircuncisos” (Romanos 3:30)
Sendo assim, a ocorrência do termo em Romanos 2:13 nos mostra que é possível que alguém que nunca ouviu o evangelho seja dikaioo (declarado justo; justificado). Mas como? Paulo diz que é praticando naturalmente o que a lei moral ordena, mesmo sem ter uma lei escrita (Rm.2:14-15). Essa “lei moral” se refere à lei de consciência “gravada em nossos corações” (Rm.2:15), que todos nós possuímos, e é por meio dela que sabemos aquilo que é moralmente certo e aquilo que é moralmente errado.
Os israelitas já sabiam que o assassinato era proibido antes de Moisés descer do monte com as duas tábuas dizendo que era proibido matar. Isso porque em suas consciências eles podiam distinguir o certo do errado. Conceitos morais como honrar pai e mãe, não assassinar, não roubar, não adulterar e não dar falso testemunho existem em todas as civilizações, mesmo naquelas que nunca tiveram a lei de Moisés ou o evangelho de Jesus Cristo. Mesmo aqueles que nunca ouviram falar de Jesus sabem que estuprar um bebê é algo moralmente repugnante, porque possuem uma consciência que lhes diz isso.
Essa consciência moral foi implantada por Deus no coração de cada pessoa à despeito de qualquer lei escrita (Rm.2:14), e Paulo disse que é possível ser justificado (dikaioo) obedecendo-a, caso se não possua a lei escrita. Em outras palavras, Deus propiciou um meio pelo qual aqueles que nunca ouviram a Palavra escrita (a Lei ou o Evangelho) possam ser justificados, que é a obediência à lei moral.
A salvação permanece sendo pela graça e o salvador continua sendo Deus, mas a ponte que liga o pecador à graça, que no caso de quem conhece Jesus é a fé nEle (“temos acesso pela fé a esta graça” – Rm.5:2; “pela graça sois salvos, por meio da fé” – Ef.2:8), para quem não o conhece Deus sujeitou à própria consciência moral, ao invés de deixar-lhes sem uma “ponte” e sem oportunidade de salvação. Desta forma, os bilhões que nunca ouviram falar de Jesus na vida não estão todos automaticamente condenados, mas tem uma chance pela graça e misericórdia de Deus.
Mas a outra questão ainda está aberta: e quanto aos que ouviram? Sabemos que uns nasceram em lar evangélico e desde cedo desfrutaram da Palavra de Deus, outros viveram em lar não-cristão mas puderam ouvir alguma coisa da Palavra, e outros viveram em países afastados e poucas vezes ouviram falar de Jesus. Sendo assim, não seria injusto que o livre-arbítrio de cada um fosse o árbitro entre aceitar ou rejeitar a graça? Afinal de contas, o que sempre ouviu o evangelho não tem mais chances de aceitá-lo e vivê-lo do que aquele que ouviu menos? Não estamos falando de possibilidades desiguais, que tornariam o livre-arbítrio injusto?
Isso tudo seria verdade se não fosse por uma coisa: o princípio bíblico da proporcionalidade. Deus pensou até nisso e decidiu, em sua sabedoria, que aquele que ouviu mais fosse julgado com maior rigor em relação àquele que ouviu menos. Os dois não serão julgados com o mesmo rigor. Isso fica claro a partir da leitura de Lucas 12:48, que diz:
“A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lucas 12:48)
Deus vai cobrar muito mais de quem teve mais conhecimento. Isso ocorre tanto na questão da salvação como também na questão da perdição. Jesus disse que “aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites, mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites” (Lc.12:47-48).
A lei da proporcionalidade é clara e evidente, não apenas aqui, mas em diversos outros textos bíblicos. Jesus citou o maior rigor com que Corazim e Betsaida serão julgadas no dia do juízo em relação às cidades de Tiro e de Sidom, porque Corazim e Betsaida viram de perto os milagres de Cristo:
“Ai de você, Corazim! Ai de você, Betsaida! Porque se os milagres que foram realizados entre vocês tivessem sido realizados em Tiro e Sidom, há muito tempo elas se teriam arrependido, vestindo roupas de saco e cobrindo-se de cinzas. Mas eu lhes afirmo que no dia do juízo haverá menor rigor para Tiro e Sidom do que para vocês” (Mateus 11:21-22)
Quando Jesus enviou seus discípulos a pregarem nas cidades, ele disse que as que rejeitassem seriam julgadas com maior rigor do que Sodoma e Gomorra, porque tiveram mais oportunidade de ouvir a Palavra:
“Se alguém não os receber nem ouvir suas palavras, sacudam a poeira dos pés, quando saírem daquela casa ou cidade. Eu lhes digo a verdade: No dia do juízo haverá menor rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade” (Mateus 10:14-15)
O mesmo princípio da proporcionalidade é aplicado aos líderes religiosos. Eles serão julgados com maior rigor, porque são eles que têm a obrigação de ministrar a Palavra, e, consequentemente, de ter mais conhecimento dela:
“Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor” (Tiago 3:1)
Jesus deixou claro que “se eu não tivesse vindo e lhes falado, não seriam culpados de pecado; agora, contudo, eles não têm desculpa para o seu pecado” (Jo.15:22). Ele também disse que, “se vocês fossem cegos, não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece” (Jo.9:41). Em outras palavras, o princípio da proporcionalidade equilibra a questão. Se por um lado é verdade que um teve mais conhecimento, por outro lado também é verdade que este será julgado com maior rigor do que aquele que recebeu menos.
Uma analogia que podemos citar é de uma partida de futebol entre um time da 1ª divisão e um time da 3ª divisão. Teoricamente, o time da 1ª divisão leva vantagem por ter uma equipe mais forte, e o jogo poderia ser considerado “injusto”. Mas suponhamos que esta equipe precise ganhar de pelo menos 3 a 0 da outra para se classificar. Isso volta a equilibrar a balança, em uma condição onde ambos são iguais. Se por um lado um time é mais forte, por outro lado ele precisará fazer mais para vencer.
Esta lei de proporcionalidade retira toda e qualquer acusação de injustiça na questão do livre-arbítrio, e coloca todos sob um mesmo patamar final. Deus nunca trabalhou de maneira injusta e arbitrária, ele sempre trabalhou de forma justa e igualitária, mesmo que a igualdade atue mediante fatores que equilibram. O pensamento resumidamente exposto nas linhas acima é seguido de perto pelos arminianos clássicos como Wiley, que afirmou que “a Palavra de Deus é, em certo sentido [através da lei moral], universalmente proclamada, mesmo quando não registrada em uma língua escrita”.
Olson diz que “o Espírito Santo opera nos corações e mentes de todas as pessoas até certo ponto, dá-lhes consciência das expectativas e provisão de Deus, e as chama ao arrependimento e à fé. Deste modo, a Palavra de Deus é, em certo sentido, pregada universalmente, mesmo quando não registrada em uma linguagem escrita. Os que ouvem a proclamação e aceitam o chamado são conhecidos nas Escrituras como os eleitos. Os réprobos são os que resistem ao chamado de Deus”.
Em resumo, o livre-arbítrio não torna nada injusto ou arbitrário, como o calvinismo faz o tempo todo. Ele poderia ser injusto se estivesse desassociado do princípio da proporcionalidade, que equilibra as coisas. Mas, quando um está ligado ao outro, temos um perfeito equilíbrio, justo para todos, em uma medida equivalente.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
APÊNDICE 2 – O LIVRE-ARBÍTRIO NOS PAIS DA IGREJA
“Porquanto Deus pôs em nosso poder o bem e o mal, deu-nos o livre-arbítrio da escolha, e quando não queremos não nos força; quando, porém, queremos, nos abraça” (JOÃO CRISÓSTOMO)
Dissemos no início do livro que o livre-arbítrio era crido por unanimidade pelos Pais da Igreja até Agostinho, que, a princípio, também cria nele, até a sua controvérsia com os donatistas, que o fez mudar de opinião e crer que Deus força alguém à conversão. Ainda assim, a posição de Agostinho não predominou nos séculos que se seguiram e o consenso unânime dos Pais permaneceu sendo a favor do livre-arbítrio, o que pode ser visto em seus livros e nos concílios da Igreja. Começaremos com as declarações do próprio Agostinho, antes de sua mudança:
• Agostinho “jovem” (354-430)
“Deus indubitavelmente deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade; mas não lhes tirando o livre-arbítrio, pelo bom ou o mau uso do qual é que poderão ser justamente julgados”
• Teodoreto (393-466)
“Aqueles cuja intenção Deus previu, Ele predestinou desde o princípio. Aqueles que predestinou, Ele chamou e justificou pelo batismo. Os que foram justificados, Ele glorificou, chamando-os filhos (...) Que ninguém diga que a presciência de Deus foi a causa unilateral dessas coisas. Não foi sua presciência que justificou as pessoas, mas Deus sabia o que aconteceria, porque Ele é Deus”
• Eusébio de Cesareia (265-339)
“O conhecimento prévio dos eventos não é a causa de que tenham ocorrido. As coisas não ocorrem [somente] porque Deus sabe. Quando as coisas estão para ocorrer, Deus o sabe”
• Atanásio de Alexandria (295-373)
“Pois, naturalmente, uma vez que a Palavra de Deus está acima de todos, quando Ele ofereceu Seu próprio templo e instrumento corpóreo como um substituto para a vida de todos, Ele cumpriu em morte todo o que era exigido”
“Foi tarefa própria ao Verbo restaurar o corruptível para a incorrupção e colocar acima de tudo a glória de Deus. Por ser precisamente Verbo de Deus, superior a toda criatura, somente Ele pode criar novamente todas as coisas e assumir a representação de todos os homens perante o Pai”
“Todos os homens estavam sujeitos à corrupção da morte. Substituindo a todos nós, o Verbo tomou um corpo semelhante ao nosso, entregando-o à morte e oferecendo ao Pai [...] Dessa maneira, morrendo todos nEle, pode ser abolida a lei universal da mortalidade humana. A exigência da morte foi satisfeita no corpo do Senhor e, doravante, deixa de atingir os homens feitos semelhantes a Cristo. Aos homens que se haviam entregue à corrupção foi restituída a incorrupção e, mediante a apropriação do corpo de Cristo e de sua ressurreição, os homens foram redivivos da morte”
“Portanto, desejando ajudar os homens, ele o Verbo habitou com os homens tomando forma de homem, tomando para si mesmo um corpo semelhante ao dos outros homens. Através das coisas sensoriais, isto é, mediante as ações de seu corpo, ele os ensinou que os que estavam privados de reconhecê-lo, mediante sua orientação e providência universais, podem por meio das ações de seu corpo reconhecer a Palavra de Deus encarnada e através dEle vir ao conhecimento do Pai”
• Hilário de Poitiers (300-368)
"Porque, conforme o Evangelho, muitos são os chamados e poucos os escolhidos [...] A eleição, portanto, não é questão de juízo acidental. É uma distinção feita por intermédio de uma seleção baseada no mérito. Feliz, então, aquele que elege a Deus: bendito em razão dele ser digno da eleição"
• João Crisóstomo (347-407)
“Porquanto Deus pôs em nosso poder o bem e o mal, deu-nos o livre-arbítrio da escolha, e quando não queremos não nos força; quando, porém, queremos, nos abraça”
“Não raro, aquele que é mau, se for desejado, muda-se em bom; e aquele que é bom, por inércia, cai e se torna mau, porquanto o Senhor nos fez com uma natureza dotada do livre-arbítrio. Nem impõe ele necessidade. Pelo contrário, providos os remédios apropriados, tudo deixa ficar ao arbítrio do enfermo”
“Assim como nada jamais podemos fazer retamente, a não ser se ajudados pela graça de Deus, assim também, a menos que tenhamos de acrescentar o que é nosso, não poderemos alcançar o favor supremo”
“Tudo está sob o poder de Deus, mas de um modo que nosso livre-arbítrio não é perdido [...] Ele depende, entretanto, de nós e dele. Devemos primeiro escolher o bem, e, então, ele acrescenta o que lhe pertence. Ele não precede nosso querer, aquilo que nosso livre-arbítrio não suporta. Mas quando nós escolhemos, então ele nos proporciona muita ajuda. [...] Cabe a nós escolher de antemão e querer, mas cabe a Deus aperfeiçoar e concretizar”
“Deus, tendo colocado o bem e o mal em nosso poder, nos deu plena liberdade de escolha; ele não retém o indeciso, mas abraça o que é disposto”
"Disse alguém: 'Então é suficiente crer no Filho para se ganhar a vida eterna?' De maneira nenhuma. Escuta esta declaração do próprio Cristo, dizendo: 'Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus'; e a blasfêmia contra o Espírito é suficiente para lançar um homem no inferno”
• Ambrósio de Milão (340-397)
"Ele quer ter para si todos os homens que criou. Possas tu, ó homem, não fugir para longe de Cristo, não te esconder dele! E, todavia, ele procura ainda aqueles que se escondem"
• Jerônimo (347-420)
“Nosso é o começar, de Deus, porém, o terminar; nosso, oferecer o que podemos, dele prover o que não podemos”
“E em vão que você tem uma idéia falsa a meu respeito e tenta convencer o ignorante de que eu condeno o livre-arbítrio. Deixe aquele que o condena ser ele próprio condenado. Fomos criados, capacitados com o livre-arbítrio; ainda não é isto que nos distingue dos bárbaros. Pois o livre-arbítrio humano, como eu disse, depende da ajuda de Deus e necessita de sua ajuda momento a momento, algo que você e os seus não escolhem admitir. Sua posição é a de que, uma vez que o ser humano tem livre-arbítrio, ele não mais necessita da ajuda de Deus. E verdade que a liberdade da vontade traz consigo a liberdade da decisão. Ainda assim o ser humano não age imediatamente sobre o seu livre-arbítrio, mas requer a ajuda de Deus que, em si mesmo, não precisa de ajuda”
“Quando nós estamos preocupados com a graça e a misericórdia, o livre-arbítrio é em parte anulado; em parte, eu digo, porque tanto depende dele, que queremos e desejamos, e damos consentimento ao curso que escolhemos. Mas depende de Deus se temos o poder em sua força e com sua ajuda para fazer o que desejamos, e para nosso trabalho e esforço darem resultado”
“Deus nos criou com livre-arbítrio e não somos forçados pela necessidade nem à virtude nem ao vício. Do contrário, se não estamos obrigados pela necessidade, não há coroa. Como nas boas obras, é Deus quem os traz à perfeição, já que não é de quem quer, nem do que corre, mas de Deus que piedosamente nos ajuda a ser capazes de atingir a meta"
• Orígenes de Alexandria (185-253)
“O livre-arbítrio é a faculdade da razão para discernir o bem ou o mal, a faculdade da vontade para escolher um ou outro desses dois”
“Ora, deve ser conhecido que os santos apóstolos, na pregação da fé de Cristo, pronunciaram-se com a maior clareza sobre certos pontos que eles criam ser necessários para todo mundo. [...] Isso também é claramente definido no ensino da Igreja de que cada alma racional é dotada de livre-arbítrio e volição”
“Há, de fato, inúmeras passagens nas Escrituras que estabelecem com extrema clareza a existência da liberdade da vontade”
• Metódio de Olimpos (†311)
“Ora, aqueles que decidem que o ser humano não possui livre-arbítrio, e afirmam que ele é governado pelas necessidades inevitáveis do destino [...] são culpados de impiedade para com o próprio Deus, fazendo-o ser a causa e o autor dos males humanos”
“Eu digo que o ser humano foi feito com livre-arbítrio, não como se já houvesse algum mal existente, que ele tinha o poder de escolher se quisesse [...], mas que o poder de obedecer e desobedecer a Deus é a única causa”
• Arquelau de Atenas (Séc.V)
“Todas as criaturas que Deus fez, ele fez muito boas, e deu a cada indivíduo o senso de livre-arbítrio, de acordo com o padrão que ele também instituiu na lei de julgamento. Pecar é característica nossa, e nosso pecado não é dom de Deus, já que nossa vontade é constituída de modo a escolher tanto pecar quanto não pecar”
• Arnóbio de Sicca (†330)
“Aquele que convida a todos não liberta igualmente a todos? Ou não empurra ele de volta ou repele qualquer um para longe da amabilidade do Supremo que dá a todos igualmente o poder de vir a ele? – A todos, ele diz, a fonte da vida está aberta, e ninguém é impedido ou retido de beber”
“Mais ainda, meu oponente diz que, se Deus é poderoso, misericordioso, desejando salvar-nos, que mude as nossas disposições e nos force a confiar em suas promessas. Isso, então, é violência, não é amabilidade nem generosidade do Deus supremo, mas uma luta vã e pueril na busca da obtenção do domínio. Pois o que seria tão injusto como forçar homens que são relutantes e indignos, reverter suas inclinações; imprimir forçadamente em suas mentes o que eles não estão desejando receber, e têm horror de...”
• Cirilo de Jerusalém (313-386)
“Saiba também que você tem uma alma autogovernada, a mais nobre obra de Deus, feita à imagem do Criador, imortal por causa de Deus que lhe dá imortalidade, um ser vivente racional, imperecível, por causa dele que concedeu esses dons: tendo livre poder para fazer o que deseja”
“Não há um tipo de alma pecando por natureza e outro de alma praticando justiça por natureza; ambas agem por escolha, a substância da alma sendo de uma espécie somente e igualmente em tudo”
“Sois feitos partícipes de uma videira santa: se permaneces na videira, crescerás como um cacho frutífero; porém, se não permaneces, serás consumido pelo fogo. Assim, pois, produzamos fruto dignamente. Que não nos suceda o mesmo que aquela videira infrutífera; não ocorra que, ao vir Jesus, a maldiga por sua esterilidade. Que todos possam, ao contrário, pronunciar estas palavras: 'Eu, porém, como oliveira verde na casa de Deus, confio no amor de Deus para todo o sempre'. Não se trata de uma oliveira sensível, mas inteligível, portadora da luz. O que é próprio d'Ele é plantar e regar; a ti, porém, cabe frutificar. Por isso, não desprezes a graça de Deus: guardai-a piedosamente quando a receberdes"
“A alma é autogovernada: e embora o Demônio possa sugerir, ele não tem o poder de obrigar a vontade. Ele lhe pinta o pensamento da fornicação: mas você pode rejeitá-lo, se quiser. Pois se você fosse fornicador por necessidade, por que razão Deus preparou o inferno? Se você fosse praticante da justiça por natureza, e não pela vontade, por que preparou Deus coroas de glória inefável?. A ovelha é afável, mas ela nunca foi coroada por sua afabilidade; visto que sua qualidade de ser afável lhe pertence por natureza, não por escolha”
“Porquanto Deus pôs em nosso poder o bem e o mal, deu-nos o livre-arbítrio da escolha, e quando não queremos não nos força; quando, porém, queremos, nos abraça” (JOÃO CRISÓSTOMO)
Dissemos no início do livro que o livre-arbítrio era crido por unanimidade pelos Pais da Igreja até Agostinho, que, a princípio, também cria nele, até a sua controvérsia com os donatistas, que o fez mudar de opinião e crer que Deus força alguém à conversão. Ainda assim, a posição de Agostinho não predominou nos séculos que se seguiram e o consenso unânime dos Pais permaneceu sendo a favor do livre-arbítrio, o que pode ser visto em seus livros e nos concílios da Igreja. Começaremos com as declarações do próprio Agostinho, antes de sua mudança:
• Agostinho “jovem” (354-430)
“Deus indubitavelmente deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade; mas não lhes tirando o livre-arbítrio, pelo bom ou o mau uso do qual é que poderão ser justamente julgados”
• Teodoreto (393-466)
“Aqueles cuja intenção Deus previu, Ele predestinou desde o princípio. Aqueles que predestinou, Ele chamou e justificou pelo batismo. Os que foram justificados, Ele glorificou, chamando-os filhos (...) Que ninguém diga que a presciência de Deus foi a causa unilateral dessas coisas. Não foi sua presciência que justificou as pessoas, mas Deus sabia o que aconteceria, porque Ele é Deus”
• Eusébio de Cesareia (265-339)
“O conhecimento prévio dos eventos não é a causa de que tenham ocorrido. As coisas não ocorrem [somente] porque Deus sabe. Quando as coisas estão para ocorrer, Deus o sabe”
• Atanásio de Alexandria (295-373)
“Pois, naturalmente, uma vez que a Palavra de Deus está acima de todos, quando Ele ofereceu Seu próprio templo e instrumento corpóreo como um substituto para a vida de todos, Ele cumpriu em morte todo o que era exigido”
“Foi tarefa própria ao Verbo restaurar o corruptível para a incorrupção e colocar acima de tudo a glória de Deus. Por ser precisamente Verbo de Deus, superior a toda criatura, somente Ele pode criar novamente todas as coisas e assumir a representação de todos os homens perante o Pai”
“Todos os homens estavam sujeitos à corrupção da morte. Substituindo a todos nós, o Verbo tomou um corpo semelhante ao nosso, entregando-o à morte e oferecendo ao Pai [...] Dessa maneira, morrendo todos nEle, pode ser abolida a lei universal da mortalidade humana. A exigência da morte foi satisfeita no corpo do Senhor e, doravante, deixa de atingir os homens feitos semelhantes a Cristo. Aos homens que se haviam entregue à corrupção foi restituída a incorrupção e, mediante a apropriação do corpo de Cristo e de sua ressurreição, os homens foram redivivos da morte”
“Portanto, desejando ajudar os homens, ele o Verbo habitou com os homens tomando forma de homem, tomando para si mesmo um corpo semelhante ao dos outros homens. Através das coisas sensoriais, isto é, mediante as ações de seu corpo, ele os ensinou que os que estavam privados de reconhecê-lo, mediante sua orientação e providência universais, podem por meio das ações de seu corpo reconhecer a Palavra de Deus encarnada e através dEle vir ao conhecimento do Pai”
• Hilário de Poitiers (300-368)
"Porque, conforme o Evangelho, muitos são os chamados e poucos os escolhidos [...] A eleição, portanto, não é questão de juízo acidental. É uma distinção feita por intermédio de uma seleção baseada no mérito. Feliz, então, aquele que elege a Deus: bendito em razão dele ser digno da eleição"
• João Crisóstomo (347-407)
“Porquanto Deus pôs em nosso poder o bem e o mal, deu-nos o livre-arbítrio da escolha, e quando não queremos não nos força; quando, porém, queremos, nos abraça”
“Não raro, aquele que é mau, se for desejado, muda-se em bom; e aquele que é bom, por inércia, cai e se torna mau, porquanto o Senhor nos fez com uma natureza dotada do livre-arbítrio. Nem impõe ele necessidade. Pelo contrário, providos os remédios apropriados, tudo deixa ficar ao arbítrio do enfermo”
“Assim como nada jamais podemos fazer retamente, a não ser se ajudados pela graça de Deus, assim também, a menos que tenhamos de acrescentar o que é nosso, não poderemos alcançar o favor supremo”
“Tudo está sob o poder de Deus, mas de um modo que nosso livre-arbítrio não é perdido [...] Ele depende, entretanto, de nós e dele. Devemos primeiro escolher o bem, e, então, ele acrescenta o que lhe pertence. Ele não precede nosso querer, aquilo que nosso livre-arbítrio não suporta. Mas quando nós escolhemos, então ele nos proporciona muita ajuda. [...] Cabe a nós escolher de antemão e querer, mas cabe a Deus aperfeiçoar e concretizar”
“Deus, tendo colocado o bem e o mal em nosso poder, nos deu plena liberdade de escolha; ele não retém o indeciso, mas abraça o que é disposto”
"Disse alguém: 'Então é suficiente crer no Filho para se ganhar a vida eterna?' De maneira nenhuma. Escuta esta declaração do próprio Cristo, dizendo: 'Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus'; e a blasfêmia contra o Espírito é suficiente para lançar um homem no inferno”
• Ambrósio de Milão (340-397)
"Ele quer ter para si todos os homens que criou. Possas tu, ó homem, não fugir para longe de Cristo, não te esconder dele! E, todavia, ele procura ainda aqueles que se escondem"
• Jerônimo (347-420)
“Nosso é o começar, de Deus, porém, o terminar; nosso, oferecer o que podemos, dele prover o que não podemos”
“E em vão que você tem uma idéia falsa a meu respeito e tenta convencer o ignorante de que eu condeno o livre-arbítrio. Deixe aquele que o condena ser ele próprio condenado. Fomos criados, capacitados com o livre-arbítrio; ainda não é isto que nos distingue dos bárbaros. Pois o livre-arbítrio humano, como eu disse, depende da ajuda de Deus e necessita de sua ajuda momento a momento, algo que você e os seus não escolhem admitir. Sua posição é a de que, uma vez que o ser humano tem livre-arbítrio, ele não mais necessita da ajuda de Deus. E verdade que a liberdade da vontade traz consigo a liberdade da decisão. Ainda assim o ser humano não age imediatamente sobre o seu livre-arbítrio, mas requer a ajuda de Deus que, em si mesmo, não precisa de ajuda”
“Quando nós estamos preocupados com a graça e a misericórdia, o livre-arbítrio é em parte anulado; em parte, eu digo, porque tanto depende dele, que queremos e desejamos, e damos consentimento ao curso que escolhemos. Mas depende de Deus se temos o poder em sua força e com sua ajuda para fazer o que desejamos, e para nosso trabalho e esforço darem resultado”
“Deus nos criou com livre-arbítrio e não somos forçados pela necessidade nem à virtude nem ao vício. Do contrário, se não estamos obrigados pela necessidade, não há coroa. Como nas boas obras, é Deus quem os traz à perfeição, já que não é de quem quer, nem do que corre, mas de Deus que piedosamente nos ajuda a ser capazes de atingir a meta"
• Orígenes de Alexandria (185-253)
“O livre-arbítrio é a faculdade da razão para discernir o bem ou o mal, a faculdade da vontade para escolher um ou outro desses dois”
“Ora, deve ser conhecido que os santos apóstolos, na pregação da fé de Cristo, pronunciaram-se com a maior clareza sobre certos pontos que eles criam ser necessários para todo mundo. [...] Isso também é claramente definido no ensino da Igreja de que cada alma racional é dotada de livre-arbítrio e volição”
“Há, de fato, inúmeras passagens nas Escrituras que estabelecem com extrema clareza a existência da liberdade da vontade”
• Metódio de Olimpos (†311)
“Ora, aqueles que decidem que o ser humano não possui livre-arbítrio, e afirmam que ele é governado pelas necessidades inevitáveis do destino [...] são culpados de impiedade para com o próprio Deus, fazendo-o ser a causa e o autor dos males humanos”
“Eu digo que o ser humano foi feito com livre-arbítrio, não como se já houvesse algum mal existente, que ele tinha o poder de escolher se quisesse [...], mas que o poder de obedecer e desobedecer a Deus é a única causa”
• Arquelau de Atenas (Séc.V)
“Todas as criaturas que Deus fez, ele fez muito boas, e deu a cada indivíduo o senso de livre-arbítrio, de acordo com o padrão que ele também instituiu na lei de julgamento. Pecar é característica nossa, e nosso pecado não é dom de Deus, já que nossa vontade é constituída de modo a escolher tanto pecar quanto não pecar”
• Arnóbio de Sicca (†330)
“Aquele que convida a todos não liberta igualmente a todos? Ou não empurra ele de volta ou repele qualquer um para longe da amabilidade do Supremo que dá a todos igualmente o poder de vir a ele? – A todos, ele diz, a fonte da vida está aberta, e ninguém é impedido ou retido de beber”
“Mais ainda, meu oponente diz que, se Deus é poderoso, misericordioso, desejando salvar-nos, que mude as nossas disposições e nos force a confiar em suas promessas. Isso, então, é violência, não é amabilidade nem generosidade do Deus supremo, mas uma luta vã e pueril na busca da obtenção do domínio. Pois o que seria tão injusto como forçar homens que são relutantes e indignos, reverter suas inclinações; imprimir forçadamente em suas mentes o que eles não estão desejando receber, e têm horror de...”
• Cirilo de Jerusalém (313-386)
“Saiba também que você tem uma alma autogovernada, a mais nobre obra de Deus, feita à imagem do Criador, imortal por causa de Deus que lhe dá imortalidade, um ser vivente racional, imperecível, por causa dele que concedeu esses dons: tendo livre poder para fazer o que deseja”
“Não há um tipo de alma pecando por natureza e outro de alma praticando justiça por natureza; ambas agem por escolha, a substância da alma sendo de uma espécie somente e igualmente em tudo”
“Sois feitos partícipes de uma videira santa: se permaneces na videira, crescerás como um cacho frutífero; porém, se não permaneces, serás consumido pelo fogo. Assim, pois, produzamos fruto dignamente. Que não nos suceda o mesmo que aquela videira infrutífera; não ocorra que, ao vir Jesus, a maldiga por sua esterilidade. Que todos possam, ao contrário, pronunciar estas palavras: 'Eu, porém, como oliveira verde na casa de Deus, confio no amor de Deus para todo o sempre'. Não se trata de uma oliveira sensível, mas inteligível, portadora da luz. O que é próprio d'Ele é plantar e regar; a ti, porém, cabe frutificar. Por isso, não desprezes a graça de Deus: guardai-a piedosamente quando a receberdes"
“A alma é autogovernada: e embora o Demônio possa sugerir, ele não tem o poder de obrigar a vontade. Ele lhe pinta o pensamento da fornicação: mas você pode rejeitá-lo, se quiser. Pois se você fosse fornicador por necessidade, por que razão Deus preparou o inferno? Se você fosse praticante da justiça por natureza, e não pela vontade, por que preparou Deus coroas de glória inefável?. A ovelha é afável, mas ela nunca foi coroada por sua afabilidade; visto que sua qualidade de ser afável lhe pertence por natureza, não por escolha”
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Basílio Magno (329-379)
"Eles, então, que foram selados pelo Espírito até o dia da redenção e preservaram puros e intactos os primeiros frutos que receberam do Espírito, ouvirão as palavras: 'Muito bem, servos bons! Como fostes fiéis no mínimo, tomai o governo de muitas coisas'. Da mesma forma, os que ofenderam o Espírito Santo pela maldade de seus caminhos, ou não forjaram para si o que Ele lhes deu, serão privados do que receberam e sua graça será dada a outros; ou, conforme um dos evangelistas, serão totalmente cortados em pedaços, cujo significado é ser separado do Espírito"
• Gregório de Nissa (330-395)
“Sendo à imagem e semelhança [...] do Poder que governa todas as coisas, o ser humano manteve também na questão do livre-arbítrio esta semelhança a ele cuja vontade domina tudo”
• Iriney de Lyon (130-202)
“A expressão: ‘Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos [...] mas vocês não quiseram’ ilustra bem a antiga lei da liberdade do homem, porque Deus o fez livre desde o início, com vontade e alma para consentir nos desejos de Deus sem ser coagido por ele. Deus não faz violência, e o bom conselho o assiste sempre, por isso dá o bom conselho a todos, mas também dá ao homem o poder de escolha, como o tinha dado aos anjos, que são seres racionais, para que os que obedecem recebam justamente o bem, dado por Deus e guardado para eles. [...] Se não dependesse de nós o fazer e o não fazer, por qual motivo o apóstolo, e bem antes dele o Senhor, nos aconselhariam a fazer coisas e a nos abster de outras? Sendo, porém, o homem livre na sua vontade, desde o princípio, e livre é Deus, à semelhança do qual foi feito, foi-lhe dado, desde sempre, o conselho de se ater ao bem, o que se realiza pela obediência a Deus”
“O Senhor, pois, nos remiu através de seu sangue, dando sua vida em favor da nossa vida, sua carne por nossa carne. Derramou o Espírito do Pai para que fosse possível a comunhão de Deus e do homem. Trouxe Deus aos homens mediante o Espírito, e levou os homens a Deus mediante sua encarnação”
"Por isso, dizia aquele presbítero: não devemos nos sentir orgulhosos nem reprovar os antigos; ao contrário, devemos temer; não ocorra que, depois de conhecermos a Cristo, façamos aquilo que não agrada a Deus e, consequentemente, já não nos sejam perdoados os nossos pecados, nos excluindo de seu Reino. Paulo disse a este propósito: 'Se não perdoou os ramos naturais, tampouco te perdoará, pois sois oliveira silvestre enxertada nos ramos da oliveira [boa] e recebes [vida] da sua seiva'"
• Atenágoras de Atenas (133-190)
“Justamente como homens que possuem liberdade de escolha assim como virtude e defeito (porque você não honraria tanto o bom quanto puniria o mau, a menos que o defeito e a virtude estivessem em seu próprio poder, e alguns são diligentes nos assuntos confiados a eles, e outros são infiéis), assim são os anjos”
• Teófilo de Antioquia (†186)
“Deus fez o homem livre, e esse poder sobre si próprio [...] Deus lhe concede como um dom por filantropia e compaixão, quando o homem lhe obedece. Pois como o homem, desobedecendo, atraiu morte sobre si próprio, assim, obedecendo ã vontade de Deus, aquele que deseja é capaz de obter para si mesmo a vida eterna”
• Taciano, o Sírio (120-180)
“Viva para Deus e, apreendendo-o, coloque de lado sua velha natureza. Não fomos criados para morrer, mas morremos por nossa própria falha. Nosso livre-arbítrio nos destruiu, nós que fomos livres nos tornamos escravos; fomos vendidos pelo pecado. Nada de mal foi criado por Deus; nós próprios manifestamos impiedade; mas nós, que a temos manifestado, somos capazes de rejeitá-la novamente”
• Bardesano da Síria (154-222)
“Como é que Deus não nos fez de modo que não pecássemos e não incorrêssemos na condenação? Se o ser humano fosse feito assim, não teria pertencido a si mesmo, mas seria instrumento daquele que o moveu. [...] E como, nesse caso, diferiria de uma harpa, sobre a qual outro toca; ou de um navio, que outra pessoa dirige: onde o louvor e a culpa residem na mão do músico ou do piloto, [...] eles sendo somente instrumentos feitos para uso daquele em quem está a habilidade? Mas Deus, em sua benignidade, escolheu fazer assim o ser humano; pela liberdade ele o exaltou acima de muitas de suas criaturas”
• Clemente de Alexandria (150-215)
“Mas nós, que temos ouvido pelas Escrituras que a escolha auto-determinadora e a recusa foram dadas pelo Senhor ao ser humano, descansamos no critério infalível da fé, manifestando um espírito desejoso, visto que escolhemos a vida e cremos em Deus através de sua voz”
“Mas nada existe sem a vontade do Senhor do universo. Resta dizer que essas coisas acontecem sem o impedimento do Senhor. Não devemos, portanto, pensar que ele ativamente produz aflições (longe esteja de nós pensar uma coisa dessas!); mas devemos ser persuadidos de que ele não impede os que as causam, mas anula para o bem os crimes dos seus inimigos”
• Clemente de Roma (35-97)
“Agora, pois, como seja certo que tudo é por Ele visto e ouvido, temamos e abandonemos os execráveis desejos de más obras, a fim de sermos protegidos por sua misericórdia nos juízos vindouros. Porque 'para onde algum de nós poderá fugir de sua poderosa mão?' Que mundo acolherá os desertores de Deus?"
• Tertuliano (160-220)
“Eu acho, então, que o ser humano foi feito livre por Deus, senhor de sua própria vontade e poder, indicando a presença da imagem de Deus e a semelhança com ele por nada melhor do que por esta constituição de sua natureza [...] Você verá que, quando ele coloca diante do ser humano o bem e o
mal, a vida e a morte, que o curso total da disciplina está disposto em preceitos pelos quais Deus chama o ser humano do pecado, ameaça e exorta-o; e isso em nenhuma outra base pela qual o ser humano é livre, com vontade ou para a obediência ou para a resistência [...] Portanto, tanto a bondade quanto o propósito de Deus são descobertos no dom da liberdade em sua vontade dado ao ser humano”
"Eles, então, que foram selados pelo Espírito até o dia da redenção e preservaram puros e intactos os primeiros frutos que receberam do Espírito, ouvirão as palavras: 'Muito bem, servos bons! Como fostes fiéis no mínimo, tomai o governo de muitas coisas'. Da mesma forma, os que ofenderam o Espírito Santo pela maldade de seus caminhos, ou não forjaram para si o que Ele lhes deu, serão privados do que receberam e sua graça será dada a outros; ou, conforme um dos evangelistas, serão totalmente cortados em pedaços, cujo significado é ser separado do Espírito"
• Gregório de Nissa (330-395)
“Sendo à imagem e semelhança [...] do Poder que governa todas as coisas, o ser humano manteve também na questão do livre-arbítrio esta semelhança a ele cuja vontade domina tudo”
• Iriney de Lyon (130-202)
“A expressão: ‘Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos [...] mas vocês não quiseram’ ilustra bem a antiga lei da liberdade do homem, porque Deus o fez livre desde o início, com vontade e alma para consentir nos desejos de Deus sem ser coagido por ele. Deus não faz violência, e o bom conselho o assiste sempre, por isso dá o bom conselho a todos, mas também dá ao homem o poder de escolha, como o tinha dado aos anjos, que são seres racionais, para que os que obedecem recebam justamente o bem, dado por Deus e guardado para eles. [...] Se não dependesse de nós o fazer e o não fazer, por qual motivo o apóstolo, e bem antes dele o Senhor, nos aconselhariam a fazer coisas e a nos abster de outras? Sendo, porém, o homem livre na sua vontade, desde o princípio, e livre é Deus, à semelhança do qual foi feito, foi-lhe dado, desde sempre, o conselho de se ater ao bem, o que se realiza pela obediência a Deus”
“O Senhor, pois, nos remiu através de seu sangue, dando sua vida em favor da nossa vida, sua carne por nossa carne. Derramou o Espírito do Pai para que fosse possível a comunhão de Deus e do homem. Trouxe Deus aos homens mediante o Espírito, e levou os homens a Deus mediante sua encarnação”
"Por isso, dizia aquele presbítero: não devemos nos sentir orgulhosos nem reprovar os antigos; ao contrário, devemos temer; não ocorra que, depois de conhecermos a Cristo, façamos aquilo que não agrada a Deus e, consequentemente, já não nos sejam perdoados os nossos pecados, nos excluindo de seu Reino. Paulo disse a este propósito: 'Se não perdoou os ramos naturais, tampouco te perdoará, pois sois oliveira silvestre enxertada nos ramos da oliveira [boa] e recebes [vida] da sua seiva'"
• Atenágoras de Atenas (133-190)
“Justamente como homens que possuem liberdade de escolha assim como virtude e defeito (porque você não honraria tanto o bom quanto puniria o mau, a menos que o defeito e a virtude estivessem em seu próprio poder, e alguns são diligentes nos assuntos confiados a eles, e outros são infiéis), assim são os anjos”
• Teófilo de Antioquia (†186)
“Deus fez o homem livre, e esse poder sobre si próprio [...] Deus lhe concede como um dom por filantropia e compaixão, quando o homem lhe obedece. Pois como o homem, desobedecendo, atraiu morte sobre si próprio, assim, obedecendo ã vontade de Deus, aquele que deseja é capaz de obter para si mesmo a vida eterna”
• Taciano, o Sírio (120-180)
“Viva para Deus e, apreendendo-o, coloque de lado sua velha natureza. Não fomos criados para morrer, mas morremos por nossa própria falha. Nosso livre-arbítrio nos destruiu, nós que fomos livres nos tornamos escravos; fomos vendidos pelo pecado. Nada de mal foi criado por Deus; nós próprios manifestamos impiedade; mas nós, que a temos manifestado, somos capazes de rejeitá-la novamente”
• Bardesano da Síria (154-222)
“Como é que Deus não nos fez de modo que não pecássemos e não incorrêssemos na condenação? Se o ser humano fosse feito assim, não teria pertencido a si mesmo, mas seria instrumento daquele que o moveu. [...] E como, nesse caso, diferiria de uma harpa, sobre a qual outro toca; ou de um navio, que outra pessoa dirige: onde o louvor e a culpa residem na mão do músico ou do piloto, [...] eles sendo somente instrumentos feitos para uso daquele em quem está a habilidade? Mas Deus, em sua benignidade, escolheu fazer assim o ser humano; pela liberdade ele o exaltou acima de muitas de suas criaturas”
• Clemente de Alexandria (150-215)
“Mas nós, que temos ouvido pelas Escrituras que a escolha auto-determinadora e a recusa foram dadas pelo Senhor ao ser humano, descansamos no critério infalível da fé, manifestando um espírito desejoso, visto que escolhemos a vida e cremos em Deus através de sua voz”
“Mas nada existe sem a vontade do Senhor do universo. Resta dizer que essas coisas acontecem sem o impedimento do Senhor. Não devemos, portanto, pensar que ele ativamente produz aflições (longe esteja de nós pensar uma coisa dessas!); mas devemos ser persuadidos de que ele não impede os que as causam, mas anula para o bem os crimes dos seus inimigos”
• Clemente de Roma (35-97)
“Agora, pois, como seja certo que tudo é por Ele visto e ouvido, temamos e abandonemos os execráveis desejos de más obras, a fim de sermos protegidos por sua misericórdia nos juízos vindouros. Porque 'para onde algum de nós poderá fugir de sua poderosa mão?' Que mundo acolherá os desertores de Deus?"
• Tertuliano (160-220)
“Eu acho, então, que o ser humano foi feito livre por Deus, senhor de sua própria vontade e poder, indicando a presença da imagem de Deus e a semelhança com ele por nada melhor do que por esta constituição de sua natureza [...] Você verá que, quando ele coloca diante do ser humano o bem e o
mal, a vida e a morte, que o curso total da disciplina está disposto em preceitos pelos quais Deus chama o ser humano do pecado, ameaça e exorta-o; e isso em nenhuma outra base pela qual o ser humano é livre, com vontade ou para a obediência ou para a resistência [...] Portanto, tanto a bondade quanto o propósito de Deus são descobertos no dom da liberdade em sua vontade dado ao ser humano”
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Novaciano de Roma (†258)
“Ele também colocou o ser humano no topo do mundo, e também o fez à imagem de Deus, e lhe comunicou mente, razão e perspicácia, para que pudesse imitar a Deus; e, embora os primeiros elementos do seu corpo fossem terrenos, a substância foi inspirada por um sopro divino e celestial. E, quando ele lhe deu todas as coisas para o seu serviço, quis que apenas ele fosse livre. E, para que novamente uma ilimitada liberdade não caísse em perigo, estabeleceu uma ordem, na qual ao ser humano foi ensinado que não havia qualquer mal no fruto da árvore; mas ele foi advertido previamente de que o mal surgiria se porventura ele exercesse o seu livre-arbítrio no desprezo à lei que lhe foi dada”
• Justino de Roma (100-165)
“Deus, no desejo de que homens e anjos seguissem sua vontade, resolveu criá-los livres para praticar a retidão. Se a Palavra de Deus prediz que alguns anjos e homens certamente serão punidos, isso é porque ela sabia de antemão que eles seriam imutavelmente ímpios, mas não porque Deus os criou assim. De forma que quem quiser, arrependendo-se, pode obter misericórdia”
“...Mas agora ele [Deus] nos persuade e nos conduz à fé para que sigamos o que lhe é grato, por livre escolha, através das potências racionais, com que ele mesmo nos presenteou”
“Do que dissemos anteriormente, ninguém deve tirar a conclusão de que afirmamos que tudo o que acontece, acontece por necessidade do destino, pelo fato de que dizemos que os acontecimentos foram conhecidos de antemão. Por isso, resolveremos também essa dificuldade. Nós aprendemos dos profetas e afirmamos que esta é a verdade: os castigos e tormentos, assim como as boas recompensas, são dadas a cada um conforme as suas obras. Se não fosse assim, mas tudo acontecesse por destino, não haveria absolutamente livre-arbítrio. Com efeito, se já está determinado que um seja bom e outro mau, nem aquele merece elogio, nem este vitupério. Se o gênero humano não tem poder de fugir, por livre determinação, do que é vergonhoso e escolher o belo, ele não é irresponsável de nenhuma ação que faça. Mas que o homem é virtuoso e peca por livre escolha, podemos demonstrar pelo seguinte argumento: vemos que o mesmo sujeito passa de um contrário a outro. Ora, se estivesse determinado ser mau ou bom, não seria capaz de coisas contrárias, nem mudaria com tanta frequência. Na realidade, nem se poderia dizer que uns são bons e outros maus, desde o momento que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que realiza coisas contrárias a si mesmo, ou que se deveria tomar como verdade o que já anteriormente insinuamos, isto é, que a virtude e maldade são puras palavras, e que só por opinião se tem algo como bom ou mau. Isso, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da impiedade e da iniquidade. Afirmamos ser destino ineludível que aqueles que escolheram o bem terão digna recompensa e os que escolheram o contrário, terão igualmente digno castigo. Com efeito, Deus não fez o homem como as outras criaturas. Por exemplo: árvores ou quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação. Nesse caso, não seria digno de recompensa e elogio, pois não teria escolhido o bem por si mesmo, mas nascido já bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois não o seria livremente, mas por não ter podido ser algo diferente do que foi”
• Didaquê (Séc.I)
“Vigiai sobre a vossa vida; não deixai que vossas lâmpadas se apaguem, nem afrouxai vossos cintos. Ao contrário, estai preparados porque não sabeis a hora em que virá o Senhor. Reuni-vos freqüentemente, procurando o que convém a vossas almas; porque de nada vos servirá todo o tempo a vossa fé se não fores perfeitos no último momento"
“Toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoarão”
• Sínodo de Arles – Proposições Condenadas (473)
"O trabalho da obediência humana não precisa cooperar com a graça. Cristo não morreu pela salvação de todos. A presciência de Deus violentamente compele o homem à perdição: os que perecem, perecem pela vontade divina”
“Concílio acrescentava a seguinte declaração: Concebemos a graça de Deus de tal maneira que o esforço do homem devam cooperar com ela, pois a liberdade de escolha do homem [libertatum voluntatis], embora atenuada e enfraquecida, não está extinta. Portanto, ainda esta em perigo aquele que se salvou e ainda pode ser salvo aquele que se perdeu”
• Sínodo de Orange (529)
“Através do pecado de Adão, nossa liberdade foi depravada e debilitada a tal ponto que, sem a graça preveniente misericordiosa de Deus, ninguém poderia amar a Deus como convém, nem crer nele, nem fazer o que é reto (Fp.1:6,29; Ef.2:8; 1Co. 4:7; 7:25; Tg.1:17; Jo 3:27)”
“Não só não aceitamos que certos homens têm sido predestinados ao mal pela divina disposição, mas lançamos anátemas horrorizados contra quem pensar coisa tão perversa”
• Concílio de Kiersy (853)
“Deus conheceu pela sua presciência os que devem se perder, mas ele não os predestinou a se perderem. Porque Deus é justo, ele predestinou uma pena eterna para a sua falta”
• Concílio de Valença (855)
“Com o concílio de Orange nós lançamos o anátema a todos os que disserem que alguns homens são predestinados para o mal pelo poder de Deus”
“Ele também colocou o ser humano no topo do mundo, e também o fez à imagem de Deus, e lhe comunicou mente, razão e perspicácia, para que pudesse imitar a Deus; e, embora os primeiros elementos do seu corpo fossem terrenos, a substância foi inspirada por um sopro divino e celestial. E, quando ele lhe deu todas as coisas para o seu serviço, quis que apenas ele fosse livre. E, para que novamente uma ilimitada liberdade não caísse em perigo, estabeleceu uma ordem, na qual ao ser humano foi ensinado que não havia qualquer mal no fruto da árvore; mas ele foi advertido previamente de que o mal surgiria se porventura ele exercesse o seu livre-arbítrio no desprezo à lei que lhe foi dada”
• Justino de Roma (100-165)
“Deus, no desejo de que homens e anjos seguissem sua vontade, resolveu criá-los livres para praticar a retidão. Se a Palavra de Deus prediz que alguns anjos e homens certamente serão punidos, isso é porque ela sabia de antemão que eles seriam imutavelmente ímpios, mas não porque Deus os criou assim. De forma que quem quiser, arrependendo-se, pode obter misericórdia”
“...Mas agora ele [Deus] nos persuade e nos conduz à fé para que sigamos o que lhe é grato, por livre escolha, através das potências racionais, com que ele mesmo nos presenteou”
“Do que dissemos anteriormente, ninguém deve tirar a conclusão de que afirmamos que tudo o que acontece, acontece por necessidade do destino, pelo fato de que dizemos que os acontecimentos foram conhecidos de antemão. Por isso, resolveremos também essa dificuldade. Nós aprendemos dos profetas e afirmamos que esta é a verdade: os castigos e tormentos, assim como as boas recompensas, são dadas a cada um conforme as suas obras. Se não fosse assim, mas tudo acontecesse por destino, não haveria absolutamente livre-arbítrio. Com efeito, se já está determinado que um seja bom e outro mau, nem aquele merece elogio, nem este vitupério. Se o gênero humano não tem poder de fugir, por livre determinação, do que é vergonhoso e escolher o belo, ele não é irresponsável de nenhuma ação que faça. Mas que o homem é virtuoso e peca por livre escolha, podemos demonstrar pelo seguinte argumento: vemos que o mesmo sujeito passa de um contrário a outro. Ora, se estivesse determinado ser mau ou bom, não seria capaz de coisas contrárias, nem mudaria com tanta frequência. Na realidade, nem se poderia dizer que uns são bons e outros maus, desde o momento que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que realiza coisas contrárias a si mesmo, ou que se deveria tomar como verdade o que já anteriormente insinuamos, isto é, que a virtude e maldade são puras palavras, e que só por opinião se tem algo como bom ou mau. Isso, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da impiedade e da iniquidade. Afirmamos ser destino ineludível que aqueles que escolheram o bem terão digna recompensa e os que escolheram o contrário, terão igualmente digno castigo. Com efeito, Deus não fez o homem como as outras criaturas. Por exemplo: árvores ou quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação. Nesse caso, não seria digno de recompensa e elogio, pois não teria escolhido o bem por si mesmo, mas nascido já bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois não o seria livremente, mas por não ter podido ser algo diferente do que foi”
• Didaquê (Séc.I)
“Vigiai sobre a vossa vida; não deixai que vossas lâmpadas se apaguem, nem afrouxai vossos cintos. Ao contrário, estai preparados porque não sabeis a hora em que virá o Senhor. Reuni-vos freqüentemente, procurando o que convém a vossas almas; porque de nada vos servirá todo o tempo a vossa fé se não fores perfeitos no último momento"
“Toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoarão”
• Sínodo de Arles – Proposições Condenadas (473)
"O trabalho da obediência humana não precisa cooperar com a graça. Cristo não morreu pela salvação de todos. A presciência de Deus violentamente compele o homem à perdição: os que perecem, perecem pela vontade divina”
“Concílio acrescentava a seguinte declaração: Concebemos a graça de Deus de tal maneira que o esforço do homem devam cooperar com ela, pois a liberdade de escolha do homem [libertatum voluntatis], embora atenuada e enfraquecida, não está extinta. Portanto, ainda esta em perigo aquele que se salvou e ainda pode ser salvo aquele que se perdeu”
• Sínodo de Orange (529)
“Através do pecado de Adão, nossa liberdade foi depravada e debilitada a tal ponto que, sem a graça preveniente misericordiosa de Deus, ninguém poderia amar a Deus como convém, nem crer nele, nem fazer o que é reto (Fp.1:6,29; Ef.2:8; 1Co. 4:7; 7:25; Tg.1:17; Jo 3:27)”
“Não só não aceitamos que certos homens têm sido predestinados ao mal pela divina disposição, mas lançamos anátemas horrorizados contra quem pensar coisa tão perversa”
• Concílio de Kiersy (853)
“Deus conheceu pela sua presciência os que devem se perder, mas ele não os predestinou a se perderem. Porque Deus é justo, ele predestinou uma pena eterna para a sua falta”
• Concílio de Valença (855)
“Com o concílio de Orange nós lançamos o anátema a todos os que disserem que alguns homens são predestinados para o mal pelo poder de Deus”
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
Localização : Planeta Terra
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Conclusão
Como bem definiu Geisler, “se não fosse por um lapso na história da pré-Reforma, não teria havido ‘calvinistas’ extremados notáveis nos primeiros 1.500 anos da Igreja. Essa exceção é encontrada nos últimos escritos de Agostinho”.
Como bem definiu Geisler, “se não fosse por um lapso na história da pré-Reforma, não teria havido ‘calvinistas’ extremados notáveis nos primeiros 1.500 anos da Igreja. Essa exceção é encontrada nos últimos escritos de Agostinho”.
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
Localização : Planeta Terra
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Não li nada do que você postou e até cheguei a pensar que você poderia ter surtado por conta da P x LA.., Mas o que tem haver Calvino e Agostinho com existência ou não da predestinação ou do livre arbítrio?
Irmão- Mensagens : 4412
Data de inscrição : 03/11/2010
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Irmão escreveu:Não li nada do que você postou e até cheguei a pensar que você poderia ter surtado por conta da P x LA.., Mas o que tem haver Calvino e Agostinho com existência ou não da predestinação ou do livre arbítrio?
Leiiiiaaaaa!!!!!
Senão vou te dar sugestões para leitura que custam caro!!
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
Localização : Planeta Terra
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Você não respondeu nada, simplesmente pôs palavras na boca de Jesus, que Ele não disse.Cidoka escreveu:simao escreveu:Muito grande a sua explicação, mas sem a força da verdade.
Agora explica esse: ... Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas ...
Leia toda esta frase a seguir: “João não gosta de ver pessoas pobres sendo maltratadas pelos que têm grandes e gordas contas bancárias. Ele deseja que essas injustiças que ocorrem com tais pessoas sejam extirpadas da sociedade de uma vez por todas.”
(Agora volte e leia apenas as partes sublinhadas desta mesma frase.)
Eu achei essa comparação na internet e achei interessante, eu pensei em como os textos isolados são perniciosos e quando esquartejados são prejudiciais a todos e é isso que vc faz com os versículos!
Uma vergonha!
Agora vamos ao contexto de fato:
Jo 10.24-26
Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
Versículos 24-26. Rodearam-no, pois, os judeus, etc. – Aqui os judeus vieram e pediram que ele lhes tirasse toda dúvida, dizendo abertamente se ele era ou não o Messias. Sabendo Jesus que esta não era a informação que eles estavam buscando, mas uma oportunidade de acusá-lo aos romanos, como um sedicioso, que aspirava ser rei, orientou-os, como anteriormente, a formar um julgamento dele a partir de suas ações. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes – O que nosso Senhor recentemente disse de si mesmo, (veja os versículos precedentes,) como o bom pastor, era equivalente a uma declaração de ser o Messias. Além disso, ele já tinha realizado aqueles milagres que caracterizariam e distinguiriam o Messias, tais como limpar os leprosos, dar vista aos cegos, etc., e se eles tivessem apenas seguido os ditames de seus próprios rabinos, ou de sua própria razão imparcial, eles deveriam ter reconhecido que ele tinha suficientemente estabelecido sua reivindicação ao título do Messias. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas – Porque vocês não me seguem e nem querem me seguir: porque vocês são orgulhosos, ímpios, amantes de louvor, do mundo, do prazer, mas não amantes de Deus. A razão porque vocês não creem em mim não é que as provas de minha missão são insuficientes, mas porque vocês não são de uma disposição humilde e ensinável, livre de paixões mundanas e não estão desejosos de receber a doutrina que vem de Deus. Pessoas desta personalidade facilmente conhecem, pela natureza de minha doutrina e milagres, quem eu sou, e por conseguinte prontamente creem em mim e me seguem.
Fonte: The New Testament of Our Lord and Saviour Jesus Christ, pp. 599, 600
Tradução: Paulo Cesar Antunes
Jesus apenas disse que o motivo de eles não crerem, era porque não eram ovelhas. Apenas isso. Quem é ovelha será salvo, quem não é, não será. Simples e sem enchimento de linguiça.
simao- Mensagens : 1323
Data de inscrição : 02/01/2011
Localização : Brasília
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Vai começar a A FAZENDA Simão!
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
Localização : Planeta Terra
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