Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
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Mauro Rogerio
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simao
Cidoka
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
simao escreveu:A salvação é um dom gratuito, e Ele dá esse dom para os que creem.
s para a vida eterna. Atos 13:48
A vc e ao PM eu devo o fato de terem me OBRIGADO a olhar esse assunto mais de perto , muito obrigado!
Mas:
Seria útil saber que o povo atribui um significado para predestinação, mas o contexto bíblico apresenta outro um pouco diferente.
Para o povo, é crer que Deus traçou um plano para nossa vida, e que devemos segui-lo sem o direito de escolha. Para a Bíblia, predestinar refere-se ao decreto de Deus que possibilita a salvação a todos os que aceitam a Cristo.
Para compreender bem Atos 13:48 os seguintes pontos são importantes:
1º) A palavra predestinação não aparece na Bíblia, mas o verbo predestinar é usado quatro vezes (Romanos 8:28-29; Efésios 1:5 e 11).
2º) O livre arbítrio é uma plena verdade bíblica. Se há livre arbítrio, é impossível haver Deus escolhido um grupo para a salvação e outro para a perdição, sem considerar o privilégio humano da escolha.
3º) Três princípios exegéticos (explicativos) devem ser observados no estudo desta passagem:
a) Que palavra original foi traduzida por “predestinados”;
b) A passagem bíblica deve ser compreendida à luz de todas as outras passagens. Uma passagem não pode contradizer outras;
c) Ter em mente o contexto. Ler o que está antes e o que está depois para concluir o que o autor tinha em mente.
Aplicação desses princípios a Atos 13:48: As traduções não transmitem exatamente a ideia do original. O verbo usado por Lucas é tasso, que significa ordenar, designar, determinar, colocar, mas nesta específica passagem os dicionários gregos lhe atribuem o sentido de dispor, ajustar, submeter-se a um esquema. O verbo não transmite nenhuma ideia de predestinação. Se a palavra original tem vários significados, o contexto deve determinar o sentido em que foi usada.
R. C. H. Lenski, em seu Comentário sobre Atos, pág. 553, afirma: “Embora esta passagem trate da doutrina da conversão, tem sido muitas vezes considerada como um pronunciamento sobre a predestinação. Esta concepção teve início com Jerônimo, que modificou a antiga tradução latina ao trocar ‘ordinati’ por ‘praeordinati’ a fim de tornar a aceitação da fé e da salvação produto de um decreto predestinatório-eterno.
O contexto nos ajuda a compreender o verdadeiro significado de Atos 13:48. O verso 45 declara que os judeus blasfemadores rejeitaram a salvação que Paulo lhes apresentava. Esta rejeição o fez voltar-se para os gentios, que se alegraram ao saber que eles também tinham o privilégio da salvação, concluindo que creram todos aqueles que se dispuseram a aceitar a salvação oferecida.
No contexto das passagens de Romanos e Efésios, onde aparece o verbo predestinar, Paulo ensina que através de Cristo todos fomos predestinados para a salvação.
Se a doutrina da predestinação fosse verdadeira, como harmonizá-la-íamos com as passagens que trazem convites e apelos de Deus aos pecadores para que se arrependam? A leitura atenta de oito versos bíblicos (Jeremias 21:8; Ezequiel 18:32; João 3:16; Atos 10:34; 1Tessalonicenses 5:9; 1Timóteo 2:4; Tito 2:11; 2Pedro3:9) é suficiente para provar que a predestinação não é defensável na Bíblia. Essas passagens e outras que poderiam ser acrescentadas desmoronam o frágil edifício da predestinação calvinista.
Muitas provas poderiam ser adicionadas, confirmantes de que não há nesta passagem nenhuma base para a defesa da predestinação.
Segue-se apenas parte do comentário de Adam Clarke sobre Atos 13:48:
“Esse texto tem sido muito lamentavelmente mal entendido. Muitos supõem que ele signifique simplesmente que os que naquela Assembleia estavam destinados por decreto divino, para a vida eterna creram, dada a força do decreto. Ora, deveríamos ter o cuidado de examinar o que uma palavra significa, antes de tentar estabelecer seu significado. Apalavra original não inclui nenhuma ideia de predeterminação de qualquer espécie”.
Após apresentar vários significados para a palavra original, ele prossegue:
“Portanto tem sido considerada aqui como implicada disposição e prontidão de várias pessoas da congregação, como os prosélitos piedosos mencionados no verso 43, que possuíam o reverso da disposição dos judeus que falavam contra aquelas coisas; contradizendo e blasfemando, verso 45, embora a palavra aqui tenha sido traduzida de várias formas, em todos os sentidos, mesmo assim, de todos os significados que se lhe atribuíram nenhuma discorda mais de sua natureza e significação conhecida do que o que a representa como designando os que foram predestinados para a vida eterna: este não é absolutamente o significado do termo, e jamais se aplicaria a ele”.
Há traduções como esta do Novo Testamento Vivo: “…e todos os que queriam a vida eterna, creram”, que transmitem bem o sentido original.
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
Localização : Planeta Terra
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Muito grande a sua explicação, mas sem a força da verdade.
Agora explica esse: ... Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas ...
Agora explica esse: ... Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas ...
simao- Mensagens : 1323
Data de inscrição : 02/01/2011
Localização : Brasília
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
simao escreveu:Muito grande a sua explicação, mas sem a força da verdade.
Agora explica esse: ... Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas ...
Leia toda esta frase a seguir: “João não gosta de ver pessoas pobres sendo maltratadas pelos que têm grandes e gordas contas bancárias. Ele deseja que essas injustiças que ocorrem com tais pessoas sejam extirpadas da sociedade de uma vez por todas.”
(Agora volte e leia apenas as partes sublinhadas desta mesma frase.)
Eu achei essa comparação na internet e achei interessante, eu pensei em como os textos isolados são perniciosos e quando esquartejados são prejudiciais a todos e é isso que vc faz com os versículos!
Uma vergonha!
Agora vamos ao contexto de fato:
Jo 10.24-26
Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
Versículos 24-26. Rodearam-no, pois, os judeus, etc. – Aqui os judeus vieram e pediram que ele lhes tirasse toda dúvida, dizendo abertamente se ele era ou não o Messias. Sabendo Jesus que esta não era a informação que eles estavam buscando, mas uma oportunidade de acusá-lo aos romanos, como um sedicioso, que aspirava ser rei, orientou-os, como anteriormente, a formar um julgamento dele a partir de suas ações. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes – O que nosso Senhor recentemente disse de si mesmo, (veja os versículos precedentes,) como o bom pastor, era equivalente a uma declaração de ser o Messias. Além disso, ele já tinha realizado aqueles milagres que caracterizariam e distinguiriam o Messias, tais como limpar os leprosos, dar vista aos cegos, etc., e se eles tivessem apenas seguido os ditames de seus próprios rabinos, ou de sua própria razão imparcial, eles deveriam ter reconhecido que ele tinha suficientemente estabelecido sua reivindicação ao título do Messias. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas – Porque vocês não me seguem e nem querem me seguir: porque vocês são orgulhosos, ímpios, amantes de louvor, do mundo, do prazer, mas não amantes de Deus. A razão porque vocês não creem em mim não é que as provas de minha missão são insuficientes, mas porque vocês não são de uma disposição humilde e ensinável, livre de paixões mundanas e não estão desejosos de receber a doutrina que vem de Deus. Pessoas desta personalidade facilmente conhecem, pela natureza de minha doutrina e milagres, quem eu sou, e por conseguinte prontamente creem em mim e me seguem.
Fonte: The New Testament of Our Lord and Saviour Jesus Christ, pp. 599, 600
Tradução: Paulo Cesar Antunes
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
Localização : Planeta Terra
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la” (TOMÁS DE AQUINO)
Eu sempre fui ensinado, desde criança, que o calvinismo era um erro teológico. Mas isso foi só até a época em que eu passei a estudar melhor o assunto. Depois que comecei a ler os escritos de Calvino, descobri que eu estava enganado. Não, o calvinismo não era apenas um erro teológico: era um ensino terrível e assombroso, como o próprio Calvino admitiu, quando disse: “certamente confesso ser esse um decretum horribile”.
Por que Calvino chamou sua doutrina do decreto divino de “horrível” ou “espantosa”? Porque ele sabia que, se levada às suas consequencias irredutíveis, sua doutrina transformaria Deus em um mostro moral que predestina todos os acontecimentos maléficos da humanidade, que faz dos seres humanos marionetes nas mãos de um Criador que faz acepção de pessoas, que só ama os eleitos e que não deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.
Um deus que predestina alguns para a salvação e outros para um tormento eterno. Que criou seres pré-ordenados a sofrerem eternamente. Que criou o mal e que ordenou o pecado. Que determinou cada evento que aconteceria neste planeta, inclusive esposas que seriam espancadas por seus maridos, crianças estupradas por pedófilos, genocídios, Holocausto, tortura, assassinato. Um deus que, como disse Olson, “só pode ser temido e mal pode ser diferenciado do diabo”. E o pior: que faz tudo isso para a sua glória!
Como disse Dave Hunt:
“Todos os argumentos dos calvinistas possuem um propósito: provar que Deus não ama a todos, isto é, provar que Cristo não morreu por todos, provar que Deus não é bondoso com todos. E que, na verdade, Ele se agrada em mandar multidões para o inferno. Que amor é este?”
Além disso, a teologia calvinista nos leva a outros problemas. Por exemplo: por que eu oraria para um descrente ser salvo? Se ele foi predestinado por Deus para ser salvo (e essa predestinação é fatalista e a graça é irresistível), então não há qualquer necessidade de eu orar para que esse descrente seja salvo, pois ele será salvo de qualquer jeito. Mas, se ele não foi predestinado (o que significa que ele foi predestinado para a perdição), então qualquer oração que eu faça por ele será completamente inútil, pois ele já estaria pré-ordenado para ir para o inferno e não haveria nada que alguém pudesse fazer para reverter isso. Ou seja: a oração seria inútil de um jeito ou de outro.
A mesma coisa se aplica a missões: para que sair daqui para pregar o evangelho na África ou na Ásia em países perseguidos se aqueles que foram predestinados serão salvos de qualquer jeito? E, se não foram predestinados, não será a minha pregação que irá mudar isso. Ou seja: a oração e a pregação seriam completamente inúteis, sem sentido lógico de existir – de acordo com o método calvinista.
Por outro lado, se Deus não determinou tudo o que irá acontecer – embora saiba tudo o que irá ocorrer –, então a oração e evangelização são absolutamente necessárias. Então vidas podem ser salvas se orarmos, e perder-se pela falta de oração. Então almas podem ser ganhas para Cristo se formos pregar onde Cristo não é pregado – vidas essas que poderiam não ser salvas se não fôssemos pregar. Isso dá sentido à vida cristã. Faz com que a prática do evangelho não seja algo inútil e sem razão de ser. Ou, para ser mais claro, isso é ser arminiano.
Calvinistas admitem tudo isso? Nem todos. Eles disfarçam isso em meio à sua teologia, mascarada sob o nome de “soberania divina”. Assim, eles pretendem dizer que todos aqueles que não creem no calvinismo não creem na soberania de Deus ou na graça soberana. Fazem verdadeiros espantalhos da teologia arminiana, comparando-a ao pelagianismo, ao semipelagianismo e ao romanismo. Tudo isso para encobrir as conclusões que se chegam através de sua própria teologia.
Como disse Jerry Walls:
“O debate entre calvinismo e arminianismo não tem sua ênfase na liberdade, mas na bondade de Deus. O arminiano defende, em primeiro lugar, não a liberdade humana, mas a bondade divina, que o calvinista parece afogar em nome da soberania”
Aqui um calvinista poderia alegar: “Mas você está fazendo um espantalho da doutrina calvinista. Ela não ensina isso!”. De fato, muitos calvinistas, quando refutados por arminianos, se defendem dizendo que “o calvinismo não ensina isso”. Em um debate televisivo, o pastor presbiteriano Welerson Alves Duarte disse: “Muitas críticas e argumentos que nós ouvimos contra o calvinismo, na verdade não tratam de calvinismo. Um espantalho é criado e conceitos que nenhum calvinista defende são apresentados como se fosse calvinismo, e então fica fácil argumentar contra a outra parte”.
Para evitar que um calvinista use tal argumento contra este livro, dizendo que certa afirmação não representa o que é crido no calvinismo, farei questão de expor mais de duas centenas de citações de Calvino e outras centenas de citações de outros autores calvinistas famosos ao longo de todo o livro.
Uma análise meticulosa nos escritos de Calvino nos mostra claramente que ele era muito mais “calvinista” do que se imagina, e que os calvinistas extremados têm razão em se dizerem os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Embora muitos hoje tentem suavizar os ensinos de Calvino, o próprio Calvino não suavizou sua doutrina nem um pouco, mas foi bem aberto em dizer, por exemplo, que o assassino mata os inocentes por um decreto de Deus:
“Imaginemos, por exemplo, um mercador que, havendo entrado em uma zona de mata com um grupo de homens de confiança, imprudentemente se desgarre dos companheiros, em seu próprio divagar seja levado a um covil de salteadores, caia nas mãos dos ladrões, tenha o pescoço cortado. Sua morte fora não meramente antevista pelo olho de Deus, mas, além disso, é estabelecida por seu decreto”
Ou então que Deus deseja os roubos, os adultérios e os homicídios:
“Mas, replicarão, a não ser que ele quisesse os roubos, os adultérios e os homicídios, não o haveríamos de fazer. Concordo. Entretanto, porventura fazemos as coisas más com este propósito, ou, seja, que lhe prestemos obediência? Com efeito, de maneira alguma Deus não no-las ordena; antes, pelo contrário, a elas nos arremetemos, nem mesmo cogitando se ele o queira, mas de nosso desejo incontido, a fremir tão desenfreadamente, que de intento deliberado lutamos contra ele”
Ou então que o único motivo pelo qual os crimes acontecem é pela administração de Deus, e que os próprios homicidas e malfeitores são meros instrumentos nas mãos de Deus para praticar tais atos horrendos:
“Os crimes não são cometidos senão pela administração de Deus. E eu concedo mais: os ladrões e os homicidas, e os demais malfeitores, são instrumentos da divina providência, dos quais o próprio Senhor se utiliza para executar os juízos que ele mesmo determinou. Nego, no entanto, que daí se deva permitir-lhes qualquer escusa por seus maus feitos”
Ou então que Deus lança os infantes a uma morte eterna por causa de um decreto horrível, porque assim lhe pareceu bem:
“De novo, pergunto: donde vem que tanta gente, juntamente com seus filhos infantes, a queda de Adão lançasse, sem remédio, à morte eterna, a não ser porque a Deus assim pareceu bem? Aqui importa que suas línguas emudeçam, de outro modo tão loquazes. Certamente confesso ser esse um decretum horribile. Entretanto, ninguém poderá negar que Deus já sabia qual fim o homem haveria de ter, antes que o criasse, e que ele sabia de antemão porque assim ordenara por seu decreto”
Ou então que Deus não só permite, mas incita os ímpios às maldades contra nós:
“A suma vem a ser isto: que, feridos injustamente pelos homens, posta de parte sua iniqüidade, que nada faria senão exasperar-nos a dor e acicatar-nos o ânimo à vingança, nos lembremos de elevar-nos a Deus e aprendamos a ter por certo que foi, por sua justa adminitração, não só permitido, mas até inculcado, tudo quanto o inimigo impiamente intentou contra nós”
Ou então que o pecado dos ímpios provém de Deus:
“Que os maus pequem, isso eles fazem por natureza; porém que ao pecarem, ou façam isto ou aquilo, isso provém do poder de Deus, que divide as trevas conforme lhe apraz”
Ou então que a própria Queda de Adão foi preordenada por Deus:
“A Queda de Adão foi preordenada por Deus, e daí a perdição dos réprobos e de sua linhagem”
Ou então que essa Queda e a condição depravada do ser humano ocorreram pela vontade de Deus:
“Quando perecem em sua corrupção, outra coisa não estão pagando senão as penas de sua miséria, na qual, por sua predestinação, Adão caiu e arrastou com ele toda sua progênie. Deus, pois, não será injusto, que tão cruelmente escarnece de suas criaturas? Sem dúvida confesso que foi pela vontade de Deus que todos os filhos de Adão nesta miserável condição em que ora se acham enredilhados”
Ou então que o homem caiu (no pecado) porque Deus assim achou conveniente:
“Além disso, sua perdição de tal maneira pende da predestinação divina, que ao mesmo tempo há de haver neles a causa e a matéria dela. O primeiro homem, pois, caiu porque o Senhor assim julgara ser conveniente. Por que ele assim o julgou nos é oculto”
Se você não concorda com esses ensinos absolutamente repudiáveis, você pode ser qualquer coisa, menos um calvinista – ainda que pense que é um. Pois o que Calvino afirmou são conclusões inevitáveis dos pressupostos calvinistas, dos quais dependem toda a doutrina. Mas, se você concorda com o que Calvino disse nas linhas acima, convido-lhe a prosseguir na leitura deste livro, onde estes e outros ensinos serão derrubados por argumentos lógicos e Escriturísticos.
Finalmente, o maior objetivo, para deixar claro desde o início, não é defender o arminianismo – embora o arminianismo seja a doutrina bíblica sobre a salvação – mas resgatar os princípios morais sobre um Deus cheio de amor, graça, misericórdia, justiça, retidão e compaixão por todos os homens – sentidos esses abandonados por um calvinismo ansioso em apresentar Deus aos perdidos como alguém que só os ama se eles estiverem no rol dos eleitos, e se não tiverem essa sorte serão lançados para sempre em um inferno eterno, não tendo nada a fazer contra isso, pois para isso já foram pré-ordenados desde antes da fundação do mundo.
Tudo isso nos mostrará que o calvinismo, de fato, não é isso que mostram por aí – é muito pior.
Eu sempre fui ensinado, desde criança, que o calvinismo era um erro teológico. Mas isso foi só até a época em que eu passei a estudar melhor o assunto. Depois que comecei a ler os escritos de Calvino, descobri que eu estava enganado. Não, o calvinismo não era apenas um erro teológico: era um ensino terrível e assombroso, como o próprio Calvino admitiu, quando disse: “certamente confesso ser esse um decretum horribile”.
Por que Calvino chamou sua doutrina do decreto divino de “horrível” ou “espantosa”? Porque ele sabia que, se levada às suas consequencias irredutíveis, sua doutrina transformaria Deus em um mostro moral que predestina todos os acontecimentos maléficos da humanidade, que faz dos seres humanos marionetes nas mãos de um Criador que faz acepção de pessoas, que só ama os eleitos e que não deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.
Um deus que predestina alguns para a salvação e outros para um tormento eterno. Que criou seres pré-ordenados a sofrerem eternamente. Que criou o mal e que ordenou o pecado. Que determinou cada evento que aconteceria neste planeta, inclusive esposas que seriam espancadas por seus maridos, crianças estupradas por pedófilos, genocídios, Holocausto, tortura, assassinato. Um deus que, como disse Olson, “só pode ser temido e mal pode ser diferenciado do diabo”. E o pior: que faz tudo isso para a sua glória!
Como disse Dave Hunt:
“Todos os argumentos dos calvinistas possuem um propósito: provar que Deus não ama a todos, isto é, provar que Cristo não morreu por todos, provar que Deus não é bondoso com todos. E que, na verdade, Ele se agrada em mandar multidões para o inferno. Que amor é este?”
Além disso, a teologia calvinista nos leva a outros problemas. Por exemplo: por que eu oraria para um descrente ser salvo? Se ele foi predestinado por Deus para ser salvo (e essa predestinação é fatalista e a graça é irresistível), então não há qualquer necessidade de eu orar para que esse descrente seja salvo, pois ele será salvo de qualquer jeito. Mas, se ele não foi predestinado (o que significa que ele foi predestinado para a perdição), então qualquer oração que eu faça por ele será completamente inútil, pois ele já estaria pré-ordenado para ir para o inferno e não haveria nada que alguém pudesse fazer para reverter isso. Ou seja: a oração seria inútil de um jeito ou de outro.
A mesma coisa se aplica a missões: para que sair daqui para pregar o evangelho na África ou na Ásia em países perseguidos se aqueles que foram predestinados serão salvos de qualquer jeito? E, se não foram predestinados, não será a minha pregação que irá mudar isso. Ou seja: a oração e a pregação seriam completamente inúteis, sem sentido lógico de existir – de acordo com o método calvinista.
Por outro lado, se Deus não determinou tudo o que irá acontecer – embora saiba tudo o que irá ocorrer –, então a oração e evangelização são absolutamente necessárias. Então vidas podem ser salvas se orarmos, e perder-se pela falta de oração. Então almas podem ser ganhas para Cristo se formos pregar onde Cristo não é pregado – vidas essas que poderiam não ser salvas se não fôssemos pregar. Isso dá sentido à vida cristã. Faz com que a prática do evangelho não seja algo inútil e sem razão de ser. Ou, para ser mais claro, isso é ser arminiano.
Calvinistas admitem tudo isso? Nem todos. Eles disfarçam isso em meio à sua teologia, mascarada sob o nome de “soberania divina”. Assim, eles pretendem dizer que todos aqueles que não creem no calvinismo não creem na soberania de Deus ou na graça soberana. Fazem verdadeiros espantalhos da teologia arminiana, comparando-a ao pelagianismo, ao semipelagianismo e ao romanismo. Tudo isso para encobrir as conclusões que se chegam através de sua própria teologia.
Como disse Jerry Walls:
“O debate entre calvinismo e arminianismo não tem sua ênfase na liberdade, mas na bondade de Deus. O arminiano defende, em primeiro lugar, não a liberdade humana, mas a bondade divina, que o calvinista parece afogar em nome da soberania”
Aqui um calvinista poderia alegar: “Mas você está fazendo um espantalho da doutrina calvinista. Ela não ensina isso!”. De fato, muitos calvinistas, quando refutados por arminianos, se defendem dizendo que “o calvinismo não ensina isso”. Em um debate televisivo, o pastor presbiteriano Welerson Alves Duarte disse: “Muitas críticas e argumentos que nós ouvimos contra o calvinismo, na verdade não tratam de calvinismo. Um espantalho é criado e conceitos que nenhum calvinista defende são apresentados como se fosse calvinismo, e então fica fácil argumentar contra a outra parte”.
Para evitar que um calvinista use tal argumento contra este livro, dizendo que certa afirmação não representa o que é crido no calvinismo, farei questão de expor mais de duas centenas de citações de Calvino e outras centenas de citações de outros autores calvinistas famosos ao longo de todo o livro.
Uma análise meticulosa nos escritos de Calvino nos mostra claramente que ele era muito mais “calvinista” do que se imagina, e que os calvinistas extremados têm razão em se dizerem os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Embora muitos hoje tentem suavizar os ensinos de Calvino, o próprio Calvino não suavizou sua doutrina nem um pouco, mas foi bem aberto em dizer, por exemplo, que o assassino mata os inocentes por um decreto de Deus:
“Imaginemos, por exemplo, um mercador que, havendo entrado em uma zona de mata com um grupo de homens de confiança, imprudentemente se desgarre dos companheiros, em seu próprio divagar seja levado a um covil de salteadores, caia nas mãos dos ladrões, tenha o pescoço cortado. Sua morte fora não meramente antevista pelo olho de Deus, mas, além disso, é estabelecida por seu decreto”
Ou então que Deus deseja os roubos, os adultérios e os homicídios:
“Mas, replicarão, a não ser que ele quisesse os roubos, os adultérios e os homicídios, não o haveríamos de fazer. Concordo. Entretanto, porventura fazemos as coisas más com este propósito, ou, seja, que lhe prestemos obediência? Com efeito, de maneira alguma Deus não no-las ordena; antes, pelo contrário, a elas nos arremetemos, nem mesmo cogitando se ele o queira, mas de nosso desejo incontido, a fremir tão desenfreadamente, que de intento deliberado lutamos contra ele”
Ou então que o único motivo pelo qual os crimes acontecem é pela administração de Deus, e que os próprios homicidas e malfeitores são meros instrumentos nas mãos de Deus para praticar tais atos horrendos:
“Os crimes não são cometidos senão pela administração de Deus. E eu concedo mais: os ladrões e os homicidas, e os demais malfeitores, são instrumentos da divina providência, dos quais o próprio Senhor se utiliza para executar os juízos que ele mesmo determinou. Nego, no entanto, que daí se deva permitir-lhes qualquer escusa por seus maus feitos”
Ou então que Deus lança os infantes a uma morte eterna por causa de um decreto horrível, porque assim lhe pareceu bem:
“De novo, pergunto: donde vem que tanta gente, juntamente com seus filhos infantes, a queda de Adão lançasse, sem remédio, à morte eterna, a não ser porque a Deus assim pareceu bem? Aqui importa que suas línguas emudeçam, de outro modo tão loquazes. Certamente confesso ser esse um decretum horribile. Entretanto, ninguém poderá negar que Deus já sabia qual fim o homem haveria de ter, antes que o criasse, e que ele sabia de antemão porque assim ordenara por seu decreto”
Ou então que Deus não só permite, mas incita os ímpios às maldades contra nós:
“A suma vem a ser isto: que, feridos injustamente pelos homens, posta de parte sua iniqüidade, que nada faria senão exasperar-nos a dor e acicatar-nos o ânimo à vingança, nos lembremos de elevar-nos a Deus e aprendamos a ter por certo que foi, por sua justa adminitração, não só permitido, mas até inculcado, tudo quanto o inimigo impiamente intentou contra nós”
Ou então que o pecado dos ímpios provém de Deus:
“Que os maus pequem, isso eles fazem por natureza; porém que ao pecarem, ou façam isto ou aquilo, isso provém do poder de Deus, que divide as trevas conforme lhe apraz”
Ou então que a própria Queda de Adão foi preordenada por Deus:
“A Queda de Adão foi preordenada por Deus, e daí a perdição dos réprobos e de sua linhagem”
Ou então que essa Queda e a condição depravada do ser humano ocorreram pela vontade de Deus:
“Quando perecem em sua corrupção, outra coisa não estão pagando senão as penas de sua miséria, na qual, por sua predestinação, Adão caiu e arrastou com ele toda sua progênie. Deus, pois, não será injusto, que tão cruelmente escarnece de suas criaturas? Sem dúvida confesso que foi pela vontade de Deus que todos os filhos de Adão nesta miserável condição em que ora se acham enredilhados”
Ou então que o homem caiu (no pecado) porque Deus assim achou conveniente:
“Além disso, sua perdição de tal maneira pende da predestinação divina, que ao mesmo tempo há de haver neles a causa e a matéria dela. O primeiro homem, pois, caiu porque o Senhor assim julgara ser conveniente. Por que ele assim o julgou nos é oculto”
Se você não concorda com esses ensinos absolutamente repudiáveis, você pode ser qualquer coisa, menos um calvinista – ainda que pense que é um. Pois o que Calvino afirmou são conclusões inevitáveis dos pressupostos calvinistas, dos quais dependem toda a doutrina. Mas, se você concorda com o que Calvino disse nas linhas acima, convido-lhe a prosseguir na leitura deste livro, onde estes e outros ensinos serão derrubados por argumentos lógicos e Escriturísticos.
Finalmente, o maior objetivo, para deixar claro desde o início, não é defender o arminianismo – embora o arminianismo seja a doutrina bíblica sobre a salvação – mas resgatar os princípios morais sobre um Deus cheio de amor, graça, misericórdia, justiça, retidão e compaixão por todos os homens – sentidos esses abandonados por um calvinismo ansioso em apresentar Deus aos perdidos como alguém que só os ama se eles estiverem no rol dos eleitos, e se não tiverem essa sorte serão lançados para sempre em um inferno eterno, não tendo nada a fazer contra isso, pois para isso já foram pré-ordenados desde antes da fundação do mundo.
Tudo isso nos mostrará que o calvinismo, de fato, não é isso que mostram por aí – é muito pior.
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
Localização : Planeta Terra
Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Em termos simples, “o calvinismo crê que Deus elegeu algumas pessoas para irem para o Céu e outras para o inferno, ou seja, predestinou uns para a salvação e outros para a perdição, enquanto o arminianismo crê que a salvação parte de Deus, que estende sua graça ao homem perdido, mas que o pecador pode aceitar ou rejeitar o convite divino”.
Mas tanto o calvinismo como o arminianismo são bem mais que isso. O calvinismo, como o próprio nome indica, foi sistematizado por João Calvino (1509-1564), um grande pregador e teólogo francês, um dos principais Reformadores junto a Lutero, Zwínglio e Knox. Calvino restaurou o pensamento de Agostinho (354-430), que defendeu as teses de determinismo e predestinação fatalista contra Pelágio (350-423).
Jacó Armínio (1560-1609), por outro lado, foi um dos maiores pregadores da doutrina que leva o seu nome, sendo também reconhecido como um teólogo neerlandês proeminente de sua época, enfatizando a doutrina do amor de Deus por todos e da expiação universal, que foi pregada por todos os Pais da Igreja que viveram antes de Agostinho e pela grande maioria dos teólogos que viveram depois dele até a Reforma. Pelo fato de Armínio ser da geração posterior a Calvino, não houve debate direto entre os dois, mas o que faltou entre eles sobrou nos séculos que se seguiram, se tornando o tema mais disputado entre os cristãos evangélicos até os dias atuais.
Infelizmente, há muitas distorções da verdadeira teologia arminiana sendo feita. Muitos conhecem Calvino, mas poucos conhecem Armínio. Muitos conhecem o calvinismo, mas poucos conhecem o arminianismo. É mais fácil alguém pensar que arminianismo tem alguma relação com a Armênia do que com Armínio. Consequentemente, distorções grotescas do ensino arminiano tem sido feitas por leigos e teólogos nestes cinco séculos.
Poucos calvinistas já leram alguma obra de Armínio, e seus ataques à teologia arminiana são quase sempre em segunda mão, atacando conceitos falsos criados por pseudos-arminianos, ao invés de refutar precisamente aquilo que foi crido e ensinado por Armínio. É interessante notar que os livros calvinistas em geral quase nunca citam uma obra de Armínio ou fazem alguma citação direta de um remonstrante. Pouquíssimos interagem com autores arminianos renomados, e quase sempre a defesa do calvinismo se fundamenta em bases falsas, atacando um espantalho ao invés de lidar com aquilo que é o arminianismo verdadeiro.
É uma pena, mas muitos calvinistas ainda pensam que o arminianismo clássico nega a depravação total e o pecado original, apregoa que o homem caído pode iniciar a salvação ou que não crê em predestinação, eleição ou na soberania divina. Dilemas falsos, tais como “predestinação vs livre-arbítrio” e “soberania divina vs responsabilidade humana” tem sido feitos como se um lado (calvinismo) cresse no primeiro e o outro lado (arminianismo) cresse no segundo, quando, na verdade, arminianos clássicos creem em ambos.
Esta ignorância quanto ao verdadeiro arminianismo, que será chamado neste livro de “arminianismo clássico” (em contraste ao “arminianismo popular”, que será explicado mais adiante), não está presente apenas em leigos, mas até mesmo em muitos dos mais proeminentes teólogos calvinistas na história. O grande Charles Spurgeon, conhecido como o “príncipe dos pregadores” e auto-denominado calvinista, chegou a dizer em uma de suas pregações que se tornou calvinista após crer que ele não poderia iniciar sua salvação sem que Deus o tivesse buscado primeiro:
“Lembro-me que quando me converti, eu era um arminiano completo. Pensei que eu mesmo havia começado a boa obra e costumava me sentar e pensar: ‘Bem, busquei o Senhor por quatro anos antes de encontrá-lo’, e acho que comecei a me elogiar porque havia clamado por Ele insistentemente em meio a muito desânimo! Mas um dia me ocorreu um pensamento: ‘O que me levou a buscar a Deus?’, e num instante a resposta veio de minha alma: ‘Por quê? Por que Ele me conduziu a isto! Primeiro deve ter me mostrado minha necessidade Dele, senão eu nunca O teria buscado! Deve ter me mostrado Sua preciosidade, ou eu nunca teria achado que vale a pena buscá-Lo’. Então de uma vez enxerguei com a maior clareza possível as Doutrinas da Graça. Deus deve começar!”
Spurgeon tinha uma visão distorcida do verdadeiro arminianismo. Ele lidava com o arminianismo popular, que é uma distorção do arminianismo clássico, crendo, por conseguinte, que os arminianos ensinam que o homem começa a boa obra e inicia a salvação. Contra esse arminianismo popular de sua época ele foi para o outro extremo – o calvinismo, que lhe parecia ser a única opção que ensinava o contrário.
Na verdade, todos os arminianos clássicos creem e defendem que é Deus que inicia a salvação, que sem a graça divina ninguém poderia buscar ou aceitá-lo, que ninguém pode “se elogiar” ou se orgulhar de algo que é fruto inteiramente da graça de Deus e que sem Ele nós nunca o teríamos buscado. Se Spurgeon entendesse que o verdadeiro arminianismo não era nada daquilo que ele pensava que era, provavelmente não teria nenhuma razão para se tornar calvinista – apenas iria abandonar o arminianismo popular, o qual eu também rejeito, assim como todos os arminianos clássicos.
Infelizmente o mesmo ocorre nos dias de hoje. Muitos grandes teólogos atuais preferem se auto-denominar “calvinistas” mesmo sendo “arminianos” na prática, porque possuem um conceito equivocado do que vem a ser arminianismo. Norman Geisler, por exemplo, que é provavelmente o apologista mais respeitado na atualidade, rejeita quatro dos cinco pontos da TULIP calvinista, mas mesmo assim prefere se intitular “calvinista moderado” do que “arminiano”. Em seu livro mais famoso sobre o tema, ele faz uma confissão impressionante:
“A idéia de Calvino foi contraposta por Armínio e tem sido rejeitada por todos os calvinistas moderados”
Mas se os “calvinistas moderados” (como Geisler) aceitam Armínio e rejeitam Calvino, por que ainda insistem em se rotularem “calvinistas” e não “arminianos”? Não há nenhuma razão lógica, a não ser pelo preconceito que possuem ao termo “arminianismo”, tendo em mente não o arminianismo clássico, mas o popular, que distorce muitos pontos ensinados por Armínio.
Contra esse tipo de arminianismo, e não contra o verdadeiro arminianismo, muitos teólogos tem se intitulado “calvinistas”, ainda que sejam totalmente arminianos em seu ensino. Talvez o leitor que se crê calvinista se identifique “arminiano” ao fim desta leitura, após se deparar com o verdadeiro calvinismo (o de Calvino) e com o verdadeiro arminianismo (o de Armínio).
Mas tanto o calvinismo como o arminianismo são bem mais que isso. O calvinismo, como o próprio nome indica, foi sistematizado por João Calvino (1509-1564), um grande pregador e teólogo francês, um dos principais Reformadores junto a Lutero, Zwínglio e Knox. Calvino restaurou o pensamento de Agostinho (354-430), que defendeu as teses de determinismo e predestinação fatalista contra Pelágio (350-423).
Jacó Armínio (1560-1609), por outro lado, foi um dos maiores pregadores da doutrina que leva o seu nome, sendo também reconhecido como um teólogo neerlandês proeminente de sua época, enfatizando a doutrina do amor de Deus por todos e da expiação universal, que foi pregada por todos os Pais da Igreja que viveram antes de Agostinho e pela grande maioria dos teólogos que viveram depois dele até a Reforma. Pelo fato de Armínio ser da geração posterior a Calvino, não houve debate direto entre os dois, mas o que faltou entre eles sobrou nos séculos que se seguiram, se tornando o tema mais disputado entre os cristãos evangélicos até os dias atuais.
Infelizmente, há muitas distorções da verdadeira teologia arminiana sendo feita. Muitos conhecem Calvino, mas poucos conhecem Armínio. Muitos conhecem o calvinismo, mas poucos conhecem o arminianismo. É mais fácil alguém pensar que arminianismo tem alguma relação com a Armênia do que com Armínio. Consequentemente, distorções grotescas do ensino arminiano tem sido feitas por leigos e teólogos nestes cinco séculos.
Poucos calvinistas já leram alguma obra de Armínio, e seus ataques à teologia arminiana são quase sempre em segunda mão, atacando conceitos falsos criados por pseudos-arminianos, ao invés de refutar precisamente aquilo que foi crido e ensinado por Armínio. É interessante notar que os livros calvinistas em geral quase nunca citam uma obra de Armínio ou fazem alguma citação direta de um remonstrante. Pouquíssimos interagem com autores arminianos renomados, e quase sempre a defesa do calvinismo se fundamenta em bases falsas, atacando um espantalho ao invés de lidar com aquilo que é o arminianismo verdadeiro.
É uma pena, mas muitos calvinistas ainda pensam que o arminianismo clássico nega a depravação total e o pecado original, apregoa que o homem caído pode iniciar a salvação ou que não crê em predestinação, eleição ou na soberania divina. Dilemas falsos, tais como “predestinação vs livre-arbítrio” e “soberania divina vs responsabilidade humana” tem sido feitos como se um lado (calvinismo) cresse no primeiro e o outro lado (arminianismo) cresse no segundo, quando, na verdade, arminianos clássicos creem em ambos.
Esta ignorância quanto ao verdadeiro arminianismo, que será chamado neste livro de “arminianismo clássico” (em contraste ao “arminianismo popular”, que será explicado mais adiante), não está presente apenas em leigos, mas até mesmo em muitos dos mais proeminentes teólogos calvinistas na história. O grande Charles Spurgeon, conhecido como o “príncipe dos pregadores” e auto-denominado calvinista, chegou a dizer em uma de suas pregações que se tornou calvinista após crer que ele não poderia iniciar sua salvação sem que Deus o tivesse buscado primeiro:
“Lembro-me que quando me converti, eu era um arminiano completo. Pensei que eu mesmo havia começado a boa obra e costumava me sentar e pensar: ‘Bem, busquei o Senhor por quatro anos antes de encontrá-lo’, e acho que comecei a me elogiar porque havia clamado por Ele insistentemente em meio a muito desânimo! Mas um dia me ocorreu um pensamento: ‘O que me levou a buscar a Deus?’, e num instante a resposta veio de minha alma: ‘Por quê? Por que Ele me conduziu a isto! Primeiro deve ter me mostrado minha necessidade Dele, senão eu nunca O teria buscado! Deve ter me mostrado Sua preciosidade, ou eu nunca teria achado que vale a pena buscá-Lo’. Então de uma vez enxerguei com a maior clareza possível as Doutrinas da Graça. Deus deve começar!”
Spurgeon tinha uma visão distorcida do verdadeiro arminianismo. Ele lidava com o arminianismo popular, que é uma distorção do arminianismo clássico, crendo, por conseguinte, que os arminianos ensinam que o homem começa a boa obra e inicia a salvação. Contra esse arminianismo popular de sua época ele foi para o outro extremo – o calvinismo, que lhe parecia ser a única opção que ensinava o contrário.
Na verdade, todos os arminianos clássicos creem e defendem que é Deus que inicia a salvação, que sem a graça divina ninguém poderia buscar ou aceitá-lo, que ninguém pode “se elogiar” ou se orgulhar de algo que é fruto inteiramente da graça de Deus e que sem Ele nós nunca o teríamos buscado. Se Spurgeon entendesse que o verdadeiro arminianismo não era nada daquilo que ele pensava que era, provavelmente não teria nenhuma razão para se tornar calvinista – apenas iria abandonar o arminianismo popular, o qual eu também rejeito, assim como todos os arminianos clássicos.
Infelizmente o mesmo ocorre nos dias de hoje. Muitos grandes teólogos atuais preferem se auto-denominar “calvinistas” mesmo sendo “arminianos” na prática, porque possuem um conceito equivocado do que vem a ser arminianismo. Norman Geisler, por exemplo, que é provavelmente o apologista mais respeitado na atualidade, rejeita quatro dos cinco pontos da TULIP calvinista, mas mesmo assim prefere se intitular “calvinista moderado” do que “arminiano”. Em seu livro mais famoso sobre o tema, ele faz uma confissão impressionante:
“A idéia de Calvino foi contraposta por Armínio e tem sido rejeitada por todos os calvinistas moderados”
Mas se os “calvinistas moderados” (como Geisler) aceitam Armínio e rejeitam Calvino, por que ainda insistem em se rotularem “calvinistas” e não “arminianos”? Não há nenhuma razão lógica, a não ser pelo preconceito que possuem ao termo “arminianismo”, tendo em mente não o arminianismo clássico, mas o popular, que distorce muitos pontos ensinados por Armínio.
Contra esse tipo de arminianismo, e não contra o verdadeiro arminianismo, muitos teólogos tem se intitulado “calvinistas”, ainda que sejam totalmente arminianos em seu ensino. Talvez o leitor que se crê calvinista se identifique “arminiano” ao fim desta leitura, após se deparar com o verdadeiro calvinismo (o de Calvino) e com o verdadeiro arminianismo (o de Armínio).
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• A “TULIP” calvinista
“TULIP” é um acróstico que significa:
Total Depravity (Depravação Total)
Unconditional Election (Eleição Incondicional)
Limited Atonement (Expiação Limitada)
Irresistible Grace (Graça Irresistível)
Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos)
Esses são os cinco pontos considerados mais importantes dentro do sistema calvinista, ainda que o calvinismo em si seja mais do que apenas isso. Eles são um sistema fechado, o que significa que os pontos permanecem ou caem juntos. O que passa disso é petição de princípio ou non sequitur. Isso é reconhecido pelos próprios calvinistas, como Boettner, que disse:
“Prove que qualquer um destes pontos seja falso e o sistema como um todo precisa ser abandonado”
Engelsma também observa:
“Negue esta doutrina, e todo o sistema calvinista é demolido”
Geisler igualmente discerne que, “se um ponto é rejeitado, logicamente todos serão”. Isso porque, do ponto 2 ao 5, uma coisa leva à outra. Calvinistas e arminianos clássicos creem na depravação total, mas tem uma visão diferente sobre como Deus resolve esse problema. Para os calvinistas, a solução é uma graça irresistível que atua somente nos eleitos. Para os arminianos, a solução é uma graça preveniente universal, que pode ser aceita ou rejeitada pelo ser humano.
Consequentemente, os calvinistas creem em uma eleição individual incondicional, onde certas pessoas (os eleitos) têm que ser salvas e outras pessoas (os não-eleitos) têm que ser condenadas. Como os arminianos não creem em uma predestinação individual incondicional, e sim que a salvação está disponível a todos, a eleição é condicional à fé em Jesus, significando que todos os que creem fazem parte do grupo corporativo de eleitos – a Igreja.
Em consequencia do fato de que apenas os eleitos podem ser salvos e os demais já foram predestinados à perdição, os calvinistas tem que crer em uma expiação limitada, isto é, que Jesus só morreu pelos eleitos. E como os arminianos creem que a salvação está disponível a todos, Cristo morreu por todos.
Por fim, se a eleição é incondicional e tudo só depende de Deus, então ninguém que uma vez foi salvo pode cair da fé e apostatar. Os arminianos, ao contrário, creem que a apostasia é possível porque a graça de Deus não é irresistível, e o homem pode rejeitá-la a qualquer momento. Como vemos, os últimos quatro pontos do calvinismo ficam de pé ou caem juntos. Refutando ou descrendo em um dos pontos do acróstico, os outros caem igualmente por um non sequitur.
• Um “calminianismo” é possível?
Uma moda recente, inventada por muitos pregadores que querem se manter afastados da polêmica entre calvinismo e arminianismo é dizer que não é nem calvinista nem arminiano. Palavras de efeito, mas sem nenhum significado real, tais como: “não sou nem calvinista nem arminiano, eu sigo a Bíblia” e “não sigo Calvino nem Armínio, eu sigo a Cristo” tem sido ditas no objetivo de se afastar do debate e tentar safisfazer ambos os lados.
Ainda outros, tentando conciliar as duas doutrinas para ser simpatizante de ambos, se auto-rotulam como “calminianos” (o que seria uma mistura de calvinismo e arminianismo), afirmando que os dois sistemas são bíblicos, como se a verdade fosse relativa ou a Bíblia fosse contraditória e afirmasse doutrinas mutuamente excludentes como mutuamente verdadeiras.
Primeiramente, é necessário esclarecer que é simplesmente impossível uma mistura de calvinismo com arminianismo. A razão é simples: ou a eleição é condicional ou é incondicional; ou a graça é resistível ou é irresistível; ou o livre-arbítrio existe ou ele não existe; ou Deus determina tudo ou Ele não determina tudo; ou Cristo morreu por todos ou ele não morreu por todos; ou uma vez salvo está salvo para sempre ou é possível perder a salvação.
É impossível, para qualquer pessoa que queira manter o mínimo de consistência, afirmar ambas as doutrinas como sendo completamentares e não como sendo excludentes. É uma coisa ou outra, não pode haver um meio-termo. Isso é reconhecido tanto por calvinistas como por arminianos. Spurgeon mesmo reconhecia que “não há nada entre eles senão uma vastidão estéril”, e William Shedd disse que “somente estes dois esquemas gerais de doutrina cristã são logicamente possíveis”. É como disse Boettner:
“Deve ser evidente que há apenas duas teorias que podem ser mantidas pelos cristãos evangélicos sobre este importante tema; que todos os homens que têm feito qualquer estudo dele, e que têm alcançado toda as conclusões estabelecidas sobre isto, deve ser ou calvinistas ou arminianos. Não há nenhuma outra posição que um cristão pode tomar”
O arminiano Roger Olson também comenta:
“Apesar dos pontos comuns, o calvinismo e o arminianismo são sistemas de teologia cristã incompatíveis; não há um meio termo estável entre eles nas questões determinantes para ambos”
Portanto, a não ser que você seja um humanista secular relativista e inconsistente, que crê em duas coisas contraditórias como sendo verdadeiras ao mesmo tempo, não pode afirmar que é “meio calvinista” e “meio arminiano”. Ou você é calvinista, ou você é arminiano. Como vimos anteriormente, os cinco pontos são um sistema fechado, onde toda a doutrina cai ou permanece de pé, como em um dominó. Se um ponto do calvinismo está errado, todos os outros estão.
Por mais que palavras de efeito e sem sentido sejam utilizadas hoje em dia por pregadores que querem se parecer mais “cristãos” se não se rotularem de “arminiano” nem “calvinista”, no final das contas ele sempre é ou calvinista ou arminiano, se ele tem mesmo alguma opinião formada. Ele nunca é realmente um “meio-termo”, a não ser que seja inconsistente. O pastor Ciro Sanches, por exemplo, gosta de dizer que não é arminiano nem calvinista. Ele diz que “segue só a Bíblia”. Mas a teologia dele é inteiramente arminiana em todos os detalhes.
Seria mais honesto, e melhor para a comunidade arminiana no Brasil, que ele simplesmente admitisse que é um arminiano. Ele, assim como outros pregadores, são arminianos mesmo que escondam isso, da mesma forma que existem calvinistas que evitam se intitularem calvinistas, mas em ambos os casos a doutrina que é ensinada por tais pregadores é exatamente a mesma daqueles que se intitulam calvinistas ou arminianos de forma aberta.
Não muda absolutamente nada em termos de doutrina, muda apenas o discurso. Dizer que “não sou nem calvinista nem arminiano” parece um discurso bonito, parece mais “bíblico”, mas se perguntar para essa pessoa o que ela crê ela sempre irá responder algo que seja plenamente compatível ou com o calvinismo ou com o arminianismo, embora evite o rótulo.
Portanto, tais frases de efeito são inúteis e completamente superficiais. É lógico que um dos pontos é bíblico e o outro não. Se o calvinismo é verdadeiro, o arminianismo é falso; da mesma forma, se o arminianismo é verdadeiro, o calvinismo é falso. A Bíblia ensina um e não ensina outro. A razão ensina um e não ensina outro. A moral ensina um e não ensina outro. Não há como escapar disso, por mais que se tente evitar. De fato, tais pregadores que não se intitulam nem calvinistas nem arminianos só podem ser uma coisa: inconsistentes.
“TULIP” é um acróstico que significa:
Total Depravity (Depravação Total)
Unconditional Election (Eleição Incondicional)
Limited Atonement (Expiação Limitada)
Irresistible Grace (Graça Irresistível)
Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos)
Esses são os cinco pontos considerados mais importantes dentro do sistema calvinista, ainda que o calvinismo em si seja mais do que apenas isso. Eles são um sistema fechado, o que significa que os pontos permanecem ou caem juntos. O que passa disso é petição de princípio ou non sequitur. Isso é reconhecido pelos próprios calvinistas, como Boettner, que disse:
“Prove que qualquer um destes pontos seja falso e o sistema como um todo precisa ser abandonado”
Engelsma também observa:
“Negue esta doutrina, e todo o sistema calvinista é demolido”
Geisler igualmente discerne que, “se um ponto é rejeitado, logicamente todos serão”. Isso porque, do ponto 2 ao 5, uma coisa leva à outra. Calvinistas e arminianos clássicos creem na depravação total, mas tem uma visão diferente sobre como Deus resolve esse problema. Para os calvinistas, a solução é uma graça irresistível que atua somente nos eleitos. Para os arminianos, a solução é uma graça preveniente universal, que pode ser aceita ou rejeitada pelo ser humano.
Consequentemente, os calvinistas creem em uma eleição individual incondicional, onde certas pessoas (os eleitos) têm que ser salvas e outras pessoas (os não-eleitos) têm que ser condenadas. Como os arminianos não creem em uma predestinação individual incondicional, e sim que a salvação está disponível a todos, a eleição é condicional à fé em Jesus, significando que todos os que creem fazem parte do grupo corporativo de eleitos – a Igreja.
Em consequencia do fato de que apenas os eleitos podem ser salvos e os demais já foram predestinados à perdição, os calvinistas tem que crer em uma expiação limitada, isto é, que Jesus só morreu pelos eleitos. E como os arminianos creem que a salvação está disponível a todos, Cristo morreu por todos.
Por fim, se a eleição é incondicional e tudo só depende de Deus, então ninguém que uma vez foi salvo pode cair da fé e apostatar. Os arminianos, ao contrário, creem que a apostasia é possível porque a graça de Deus não é irresistível, e o homem pode rejeitá-la a qualquer momento. Como vemos, os últimos quatro pontos do calvinismo ficam de pé ou caem juntos. Refutando ou descrendo em um dos pontos do acróstico, os outros caem igualmente por um non sequitur.
• Um “calminianismo” é possível?
Uma moda recente, inventada por muitos pregadores que querem se manter afastados da polêmica entre calvinismo e arminianismo é dizer que não é nem calvinista nem arminiano. Palavras de efeito, mas sem nenhum significado real, tais como: “não sou nem calvinista nem arminiano, eu sigo a Bíblia” e “não sigo Calvino nem Armínio, eu sigo a Cristo” tem sido ditas no objetivo de se afastar do debate e tentar safisfazer ambos os lados.
Ainda outros, tentando conciliar as duas doutrinas para ser simpatizante de ambos, se auto-rotulam como “calminianos” (o que seria uma mistura de calvinismo e arminianismo), afirmando que os dois sistemas são bíblicos, como se a verdade fosse relativa ou a Bíblia fosse contraditória e afirmasse doutrinas mutuamente excludentes como mutuamente verdadeiras.
Primeiramente, é necessário esclarecer que é simplesmente impossível uma mistura de calvinismo com arminianismo. A razão é simples: ou a eleição é condicional ou é incondicional; ou a graça é resistível ou é irresistível; ou o livre-arbítrio existe ou ele não existe; ou Deus determina tudo ou Ele não determina tudo; ou Cristo morreu por todos ou ele não morreu por todos; ou uma vez salvo está salvo para sempre ou é possível perder a salvação.
É impossível, para qualquer pessoa que queira manter o mínimo de consistência, afirmar ambas as doutrinas como sendo completamentares e não como sendo excludentes. É uma coisa ou outra, não pode haver um meio-termo. Isso é reconhecido tanto por calvinistas como por arminianos. Spurgeon mesmo reconhecia que “não há nada entre eles senão uma vastidão estéril”, e William Shedd disse que “somente estes dois esquemas gerais de doutrina cristã são logicamente possíveis”. É como disse Boettner:
“Deve ser evidente que há apenas duas teorias que podem ser mantidas pelos cristãos evangélicos sobre este importante tema; que todos os homens que têm feito qualquer estudo dele, e que têm alcançado toda as conclusões estabelecidas sobre isto, deve ser ou calvinistas ou arminianos. Não há nenhuma outra posição que um cristão pode tomar”
O arminiano Roger Olson também comenta:
“Apesar dos pontos comuns, o calvinismo e o arminianismo são sistemas de teologia cristã incompatíveis; não há um meio termo estável entre eles nas questões determinantes para ambos”
Portanto, a não ser que você seja um humanista secular relativista e inconsistente, que crê em duas coisas contraditórias como sendo verdadeiras ao mesmo tempo, não pode afirmar que é “meio calvinista” e “meio arminiano”. Ou você é calvinista, ou você é arminiano. Como vimos anteriormente, os cinco pontos são um sistema fechado, onde toda a doutrina cai ou permanece de pé, como em um dominó. Se um ponto do calvinismo está errado, todos os outros estão.
Por mais que palavras de efeito e sem sentido sejam utilizadas hoje em dia por pregadores que querem se parecer mais “cristãos” se não se rotularem de “arminiano” nem “calvinista”, no final das contas ele sempre é ou calvinista ou arminiano, se ele tem mesmo alguma opinião formada. Ele nunca é realmente um “meio-termo”, a não ser que seja inconsistente. O pastor Ciro Sanches, por exemplo, gosta de dizer que não é arminiano nem calvinista. Ele diz que “segue só a Bíblia”. Mas a teologia dele é inteiramente arminiana em todos os detalhes.
Seria mais honesto, e melhor para a comunidade arminiana no Brasil, que ele simplesmente admitisse que é um arminiano. Ele, assim como outros pregadores, são arminianos mesmo que escondam isso, da mesma forma que existem calvinistas que evitam se intitularem calvinistas, mas em ambos os casos a doutrina que é ensinada por tais pregadores é exatamente a mesma daqueles que se intitulam calvinistas ou arminianos de forma aberta.
Não muda absolutamente nada em termos de doutrina, muda apenas o discurso. Dizer que “não sou nem calvinista nem arminiano” parece um discurso bonito, parece mais “bíblico”, mas se perguntar para essa pessoa o que ela crê ela sempre irá responder algo que seja plenamente compatível ou com o calvinismo ou com o arminianismo, embora evite o rótulo.
Portanto, tais frases de efeito são inúteis e completamente superficiais. É lógico que um dos pontos é bíblico e o outro não. Se o calvinismo é verdadeiro, o arminianismo é falso; da mesma forma, se o arminianismo é verdadeiro, o calvinismo é falso. A Bíblia ensina um e não ensina outro. A razão ensina um e não ensina outro. A moral ensina um e não ensina outro. Não há como escapar disso, por mais que se tente evitar. De fato, tais pregadores que não se intitulam nem calvinistas nem arminianos só podem ser uma coisa: inconsistentes.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Pelagianismo e Semi-Pelagianismo
Antes de estudarmos mais a fundo o que os arminianos clássicos acreditam, será necessário explicar um pouco sobre o que os arminianos não acreditam, mas que frequentemente é colocado na conta deles por pessoas ignorantes ou simplesmente mal intencionadas. Como Olson observa, “identificaram o arminianismo com o arianismo, o socianismo, o pelagianismo, o semipelagianismo, o humanismo e a teologia liberal”, e “as distorções e informações incorretas que são ditas sobre o arminianismo na literatura teológica não são nada menos que apavorantes”.
Os críticos calvinistas, na tentativa de passarem uma caricatura da doutrina arminiana para afastarem as pessoas do arminianismo e mantê-las alicerçadas no calvinismo, inventam verdadeiras loucuras sobre a teologia arminiana, dentre as quais se destaca a acusação de que os arminianos são semipelagianos, ou até mesmo pelagianos. O pelagianismo veio de Pelágio (350-423), que foi condenado por heresia por ter ensinado que o homem pode iniciar a salvação e por negar o pecado original.
Nas palavras de Godfrey, “Pelágio insistia que a vontade do homem era tão livre que lhe era possível ser salvo unicamente através de suas próprias habilidades naturais”. Obviamente, nenhum arminiano clássico crê nisso. Arminianos clássicos creem no pecado original, na depravação total, na necessidade e dependência total da graça e que só Deus pode iniciar a salvação. Armínio, como veremos mais adiante, foi verdadeiramente enfático em negar o livre-arbítrio espiritual à parte da graça preveniente. Sobre a negação de Pelágio da depravação herdada, Calvino comentou:
“Esta relutância não pôde impedir que Pelágio entrasse em cena, cuja profana invenção foi haver Adão pecado tão-somente para seu próprio dano, e que aos descendentes nada afetou”
Olson diferencia o pelagianismo de sua forma suavizada, o semipelagianismo, dizendo:
"O pelagianismo nega o pecado original e eleva as habilidades humanas morais e naturais para viver vidas espiritualmente completas. O semipelagianismo abraça uma versão modificada do pecado original, mas acredita que os humanos têm a habilidade, mesmo em seu estado caído, de iniciar a salvação ao exercer uma boa vontade para com Deus”
Em outras palavras, pelagianismo e semipelagianismo não têm absolutamente ligação alguma com o verdadeiro arminianismo. Os acusadores afirmam isso apenas para acrescentarem insulto à injúria. Embora alguns tenham sido enganados pelo “arminianismo popular” e neguem a depravação total (ou deem uma ênfase demasiada ao livre-arbítrio humano), Armínio e os arminianos clássicos afirmam repetidamente que o ser humano é totalmente depravado e não pode iniciar nenhuma salvação, e que a graça precisa primeiro ser derramada para então o livre-arbítrio espiritual ser restaurado para que a pessoa possa aceitar ou rejeitar a graça divina.
Ele disse:
“O livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou de aperfeiçoar qualquer verdade ou bem espiritual sem a graça. Que não digam a meu respeito, como dizem de Pelágio, que pratico uma ilusão em relação à palavra ‘graça’, o que quero dizer com isso é que é a graça de Cristo e que pertence à regeneração (...) Confesso que a mente de um homem carnal e natural é obscura e sombria, que suas afeições são corruptas e excessivas, que sua vontade é obstinada e desobediente, e que o homem está morto em pecados”
O arminiano William Pope acrescenta:
“Nenhuma habilidade permanece no homem para voltar-se a Deus; e esta declaração concede e vindica o âmago do pecado original como interno. O homem natural está sem o poder de até mesmo cooperar com a influência divina. A cooperação com a graça é da graça. Portanto, ela se mantém eternamente livre do pelagianismo e do semipelagianismo”
A diferença entre arminianismo e as formas de pelagianismo é total, enquanto a diferença entre arminianismo e calvinismo neste aspecto é mínima, pois ambos creem no pecado original, ambos creem na depravação herdada, ambos creem que a depravação é total, ambos creem que Deus inicia a salvação, ambos creem que Deus precisa estender a graça ao homem perdido, e o único ponto em que calvinistas e arminianos divergem é no modus operandi dessa graça – se ela é resistível (arminianismo) ou irresistível (calvinismo).
Podemos sintetizar a situação da seguinte maneira:
PELAGIANISMO SEMIPELAGIANISMO ARMINIANISMO CALVINISMO
Não existe depravação herdada A depravação herdada é parcial e o homem ainda tem algo que possa iniciar a salvação A depravação herdada é total e Deus precisa salvar o homem perdido mediante uma graça preveniente resistível A depravação herdada é total e Deus precisa salvar o homem perdido mediante uma graça preveniente irresistível
Em suma, arminianos clássicos rejeitam o pelagianismo e o semipelagianismo como heresias de modo tão enfático quanto qualquer calvinista, e a acusação de que o arminianismo é uma forma de pelagianismo é simplesmente injuriosa e falsa, seja por fruto da ignorância de tais acusadores ou por más intenções de gente que precisa de uma caricatura para refutar algo que não entende. É como disse Thomas Summers: “Que ignorância ou descaramento tem estes homens que acusam Armínio de pelagianismo ou de qualquer inclinação para tal!”
Antes de estudarmos mais a fundo o que os arminianos clássicos acreditam, será necessário explicar um pouco sobre o que os arminianos não acreditam, mas que frequentemente é colocado na conta deles por pessoas ignorantes ou simplesmente mal intencionadas. Como Olson observa, “identificaram o arminianismo com o arianismo, o socianismo, o pelagianismo, o semipelagianismo, o humanismo e a teologia liberal”, e “as distorções e informações incorretas que são ditas sobre o arminianismo na literatura teológica não são nada menos que apavorantes”.
Os críticos calvinistas, na tentativa de passarem uma caricatura da doutrina arminiana para afastarem as pessoas do arminianismo e mantê-las alicerçadas no calvinismo, inventam verdadeiras loucuras sobre a teologia arminiana, dentre as quais se destaca a acusação de que os arminianos são semipelagianos, ou até mesmo pelagianos. O pelagianismo veio de Pelágio (350-423), que foi condenado por heresia por ter ensinado que o homem pode iniciar a salvação e por negar o pecado original.
Nas palavras de Godfrey, “Pelágio insistia que a vontade do homem era tão livre que lhe era possível ser salvo unicamente através de suas próprias habilidades naturais”. Obviamente, nenhum arminiano clássico crê nisso. Arminianos clássicos creem no pecado original, na depravação total, na necessidade e dependência total da graça e que só Deus pode iniciar a salvação. Armínio, como veremos mais adiante, foi verdadeiramente enfático em negar o livre-arbítrio espiritual à parte da graça preveniente. Sobre a negação de Pelágio da depravação herdada, Calvino comentou:
“Esta relutância não pôde impedir que Pelágio entrasse em cena, cuja profana invenção foi haver Adão pecado tão-somente para seu próprio dano, e que aos descendentes nada afetou”
Olson diferencia o pelagianismo de sua forma suavizada, o semipelagianismo, dizendo:
"O pelagianismo nega o pecado original e eleva as habilidades humanas morais e naturais para viver vidas espiritualmente completas. O semipelagianismo abraça uma versão modificada do pecado original, mas acredita que os humanos têm a habilidade, mesmo em seu estado caído, de iniciar a salvação ao exercer uma boa vontade para com Deus”
Em outras palavras, pelagianismo e semipelagianismo não têm absolutamente ligação alguma com o verdadeiro arminianismo. Os acusadores afirmam isso apenas para acrescentarem insulto à injúria. Embora alguns tenham sido enganados pelo “arminianismo popular” e neguem a depravação total (ou deem uma ênfase demasiada ao livre-arbítrio humano), Armínio e os arminianos clássicos afirmam repetidamente que o ser humano é totalmente depravado e não pode iniciar nenhuma salvação, e que a graça precisa primeiro ser derramada para então o livre-arbítrio espiritual ser restaurado para que a pessoa possa aceitar ou rejeitar a graça divina.
Ele disse:
“O livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou de aperfeiçoar qualquer verdade ou bem espiritual sem a graça. Que não digam a meu respeito, como dizem de Pelágio, que pratico uma ilusão em relação à palavra ‘graça’, o que quero dizer com isso é que é a graça de Cristo e que pertence à regeneração (...) Confesso que a mente de um homem carnal e natural é obscura e sombria, que suas afeições são corruptas e excessivas, que sua vontade é obstinada e desobediente, e que o homem está morto em pecados”
O arminiano William Pope acrescenta:
“Nenhuma habilidade permanece no homem para voltar-se a Deus; e esta declaração concede e vindica o âmago do pecado original como interno. O homem natural está sem o poder de até mesmo cooperar com a influência divina. A cooperação com a graça é da graça. Portanto, ela se mantém eternamente livre do pelagianismo e do semipelagianismo”
A diferença entre arminianismo e as formas de pelagianismo é total, enquanto a diferença entre arminianismo e calvinismo neste aspecto é mínima, pois ambos creem no pecado original, ambos creem na depravação herdada, ambos creem que a depravação é total, ambos creem que Deus inicia a salvação, ambos creem que Deus precisa estender a graça ao homem perdido, e o único ponto em que calvinistas e arminianos divergem é no modus operandi dessa graça – se ela é resistível (arminianismo) ou irresistível (calvinismo).
Podemos sintetizar a situação da seguinte maneira:
PELAGIANISMO SEMIPELAGIANISMO ARMINIANISMO CALVINISMO
Não existe depravação herdada A depravação herdada é parcial e o homem ainda tem algo que possa iniciar a salvação A depravação herdada é total e Deus precisa salvar o homem perdido mediante uma graça preveniente resistível A depravação herdada é total e Deus precisa salvar o homem perdido mediante uma graça preveniente irresistível
Em suma, arminianos clássicos rejeitam o pelagianismo e o semipelagianismo como heresias de modo tão enfático quanto qualquer calvinista, e a acusação de que o arminianismo é uma forma de pelagianismo é simplesmente injuriosa e falsa, seja por fruto da ignorância de tais acusadores ou por más intenções de gente que precisa de uma caricatura para refutar algo que não entende. É como disse Thomas Summers: “Que ignorância ou descaramento tem estes homens que acusam Armínio de pelagianismo ou de qualquer inclinação para tal!”
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Arminianismo Clássico
Vimos o que o arminianismo não é. Agora, é preciso saber o que exatamente o arminianismo trata. Ele não é, como muitos pensam, uma posição oposta aos cinco pontos da TULIP calvinista. Arminianos sustentam o primeiro ponto (da depravação total), rejeitam os três seguintes (da eleição incondicional, da expiação limitada e da graça resistível) e se dividem quanto ao quinto ponto (da perseverança dos santos), porque nem Armínio nem os remonstrantes imediatos definiram essa questão, mas a deixaram em aberto, dizendo:
“Que os verdadeiros cristãos tenham força suficiente, através da graça divina, para enfrentar Satanás, o pecado, o mundo, sua própria carne, e a todos vencê-los; mas que se por negligência eles pudessem se apostatar da verdadeira fé, perder a felicidade de uma boa consciência e deixar de ter essa graça, tal assunto deveria ser mais profundamente investigado de acordo com as Sagradas Escrituras”
Essa é a razão pela qual parte dos arminianos clássicos creem que uma vez salvo está salvo para sempre, conquanto que a maioria creia na possibilidade de apostasia, como foi definido pelos remonstrantes posteriores e propagado firmemente por John Wesley.
O cerne da doutrina do arminianismo clássico é a da graça preveniente. Nenhum arminiano verdadeiro crê que o livre-arbítrio, por si só, seja suficiente para que o homem chegue à Deus. Nós cremos que o homem caído está morto em seus pecados e que é preciso que Deus derrame a graça preveniente, que restaura o livre-arbítrio espiritual e o torna capaz de aceitar ou rejeitar a graça divina. Por isso, Armínio disse:
“Se qualquer contradição for oferecida a esta doutrina, Deus é necessariamente privado da glória de sua graça, e então o mérito da salvação é atribuído ao livre-arbítrio do homem e a seus próprios poderes e força – cuja declaração cheira a pelagianismo”
Arminianos clássicos também creem em todos os cinco princípios da Reforma Protestante: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Sola Christus e Soli Deo Gloria. A salvação é somente pela graça, através somente da fé. No concernente à doutrina da justificação do homem, Armínio disse:
“Eu não estou ciente de ter ensinado ou considerado quaisquer outros sentimentos em relação à justificação do homem ante Deus que sejam diferentes dos que são mantidos unanimemente pelas Igrejas Reformadas e Protestantes e que estão em completa concordância com suas opiniões expressas”
Igualmente, nenhum arminiano rejeita a doutrina da predestinação, mas a crê em termos corporativos e, portanto, condicional à fé em Cristo. Da mesma forma, nenhum arminiano rejeita a soberania divina, o que não implica, obviamente, que Deus tenha que determinar cada evento e cada detalhe que ocorra no universo.
Deus é soberano por estar no controle de tudo, e não por determinar tudo – o que tornaria Deus o autor do pecado. É por isso que os arminianos creem no livre-arbítrio e em atos autocausados, porque somente assim o pecado seria totalmente da conta do homem, e não por um impulso ou ordem de Deus, como cria Calvino e como creem a maioria dos calvinistas.
O arminianismo clássico difere do arminianismo popular porque o “arminianismo popular” não é o verdadeiro arminianismo, mas uma distorção posterior ao arminianismo de Armínio. Remonstrantes posteriores, como Philipp van Limborch, distorceram o arminianismo clássico e o aproximaram ao semipelagianismo. Consequentemente, nos séculos seguintes, e até hoje, muitos pregadores ensinam nos púlpitos das igrejas cristãs ensinamentos que se parecem muito mais com Pelágio do que com Armínio.
Os exemplos existem aos montões. “Dê um passo em direção a Deus, e Ele dará dois em direção a você”; “Deus vota ‘sim’, o diabo vota ‘não’ e você tem o voto de minerva”, e outros casos do tipo mostram que muitos pregadores não estão nem um pouco familiarizados com a verdadeira doutrina arminiana, mas colocam uma ênfase por vezes maior no homem do que no próprio Deus.
O arminianismo popular nada mais é senão uma distorção do ensino arminiano por pessoas que não tiveram contato com o verdadeiro arminianismo, e por isso não merece esse nome. Assim como a maioria dos calvinistas rejeitam formas extremadas que distorcem o próprio calvinismo – como geralmente é atribuído ao hipercalvinismo –, também nós rejeitamos essa forma distorcida de arminianismo que em nada reflete o ensino de Armínio, que põe um foco demasiado no homem e que por vezes coloca Deus em um papel secundário na obra da salvação. Não é a toa que a maioria deles sequer já ouviu falar em “graça preveniente”.
Arminianos clássicos também não tem qualquer problema com lemas calvinistas como “a regeneração precede a fé” e “a fé é um dom de Deus”. Sim, Armínio cria – e se expressou assim diversas vezes – que a fé é um dom de Deus, embora não no sentido de um dom imposto como no calvinismo, mas de um dom oferecido, como um presente. Da mesma forma, arminianos clássicos não tem problemas em assumirem que, em certo sentido, a regeneração precede a fé, pois a graça preveniente é precisamente uma graça regeneradora, que resgata o livre-arbítrio espiritual e torna o homem apto a aceitar ou rejeitar o convite, embora a regeneração completa só aconteça caso o homem aceite o convite.
Por fim, concordo com Olson quando ele diz que “antes de dizer ‘eu discordo’, devemos ser capazes de verdadeiramente dizer ‘eu entendo’”, e isso vale tanto para calvinistas como para arminianos. Se os pentecostais lessem mais Armínio e pensadores arminianos clássicos, iriam abandonar toda proximidade com o semipelagianismo, que era veementemente rejeitado por Armínio. E se os calvinistas estudassem mais a doutrina arminiana clássica, certamente muitas dúvidas se dissipariam e muitos se identificariam muito mais com Armínio do que com Calvino.
Se os calvinistas lessem Armínio ou pelo menos dois ou três teólogos arminianos clássicos, dificilmente Roger Olson teria que escrever um livro inteiro refutando as distorções que são feitas até hoje em torno do arminianismo, em sua obra: “Teologia Arminiana: Mitos e Realidades”. As distorções só são feitas porque a procura pela informação é pequena, e a ansiedade por uma refutação é grande. Como disse Olson, “espero que no futuro os críticos do arminianismo o escrevam como seus proponentes o descrevem e que rigidamente evitem a caricatura ou deturpações, assim como esperam que os outros tratem sua própria teologia”.
Vimos o que o arminianismo não é. Agora, é preciso saber o que exatamente o arminianismo trata. Ele não é, como muitos pensam, uma posição oposta aos cinco pontos da TULIP calvinista. Arminianos sustentam o primeiro ponto (da depravação total), rejeitam os três seguintes (da eleição incondicional, da expiação limitada e da graça resistível) e se dividem quanto ao quinto ponto (da perseverança dos santos), porque nem Armínio nem os remonstrantes imediatos definiram essa questão, mas a deixaram em aberto, dizendo:
“Que os verdadeiros cristãos tenham força suficiente, através da graça divina, para enfrentar Satanás, o pecado, o mundo, sua própria carne, e a todos vencê-los; mas que se por negligência eles pudessem se apostatar da verdadeira fé, perder a felicidade de uma boa consciência e deixar de ter essa graça, tal assunto deveria ser mais profundamente investigado de acordo com as Sagradas Escrituras”
Essa é a razão pela qual parte dos arminianos clássicos creem que uma vez salvo está salvo para sempre, conquanto que a maioria creia na possibilidade de apostasia, como foi definido pelos remonstrantes posteriores e propagado firmemente por John Wesley.
O cerne da doutrina do arminianismo clássico é a da graça preveniente. Nenhum arminiano verdadeiro crê que o livre-arbítrio, por si só, seja suficiente para que o homem chegue à Deus. Nós cremos que o homem caído está morto em seus pecados e que é preciso que Deus derrame a graça preveniente, que restaura o livre-arbítrio espiritual e o torna capaz de aceitar ou rejeitar a graça divina. Por isso, Armínio disse:
“Se qualquer contradição for oferecida a esta doutrina, Deus é necessariamente privado da glória de sua graça, e então o mérito da salvação é atribuído ao livre-arbítrio do homem e a seus próprios poderes e força – cuja declaração cheira a pelagianismo”
Arminianos clássicos também creem em todos os cinco princípios da Reforma Protestante: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Sola Christus e Soli Deo Gloria. A salvação é somente pela graça, através somente da fé. No concernente à doutrina da justificação do homem, Armínio disse:
“Eu não estou ciente de ter ensinado ou considerado quaisquer outros sentimentos em relação à justificação do homem ante Deus que sejam diferentes dos que são mantidos unanimemente pelas Igrejas Reformadas e Protestantes e que estão em completa concordância com suas opiniões expressas”
Igualmente, nenhum arminiano rejeita a doutrina da predestinação, mas a crê em termos corporativos e, portanto, condicional à fé em Cristo. Da mesma forma, nenhum arminiano rejeita a soberania divina, o que não implica, obviamente, que Deus tenha que determinar cada evento e cada detalhe que ocorra no universo.
Deus é soberano por estar no controle de tudo, e não por determinar tudo – o que tornaria Deus o autor do pecado. É por isso que os arminianos creem no livre-arbítrio e em atos autocausados, porque somente assim o pecado seria totalmente da conta do homem, e não por um impulso ou ordem de Deus, como cria Calvino e como creem a maioria dos calvinistas.
O arminianismo clássico difere do arminianismo popular porque o “arminianismo popular” não é o verdadeiro arminianismo, mas uma distorção posterior ao arminianismo de Armínio. Remonstrantes posteriores, como Philipp van Limborch, distorceram o arminianismo clássico e o aproximaram ao semipelagianismo. Consequentemente, nos séculos seguintes, e até hoje, muitos pregadores ensinam nos púlpitos das igrejas cristãs ensinamentos que se parecem muito mais com Pelágio do que com Armínio.
Os exemplos existem aos montões. “Dê um passo em direção a Deus, e Ele dará dois em direção a você”; “Deus vota ‘sim’, o diabo vota ‘não’ e você tem o voto de minerva”, e outros casos do tipo mostram que muitos pregadores não estão nem um pouco familiarizados com a verdadeira doutrina arminiana, mas colocam uma ênfase por vezes maior no homem do que no próprio Deus.
O arminianismo popular nada mais é senão uma distorção do ensino arminiano por pessoas que não tiveram contato com o verdadeiro arminianismo, e por isso não merece esse nome. Assim como a maioria dos calvinistas rejeitam formas extremadas que distorcem o próprio calvinismo – como geralmente é atribuído ao hipercalvinismo –, também nós rejeitamos essa forma distorcida de arminianismo que em nada reflete o ensino de Armínio, que põe um foco demasiado no homem e que por vezes coloca Deus em um papel secundário na obra da salvação. Não é a toa que a maioria deles sequer já ouviu falar em “graça preveniente”.
Arminianos clássicos também não tem qualquer problema com lemas calvinistas como “a regeneração precede a fé” e “a fé é um dom de Deus”. Sim, Armínio cria – e se expressou assim diversas vezes – que a fé é um dom de Deus, embora não no sentido de um dom imposto como no calvinismo, mas de um dom oferecido, como um presente. Da mesma forma, arminianos clássicos não tem problemas em assumirem que, em certo sentido, a regeneração precede a fé, pois a graça preveniente é precisamente uma graça regeneradora, que resgata o livre-arbítrio espiritual e torna o homem apto a aceitar ou rejeitar o convite, embora a regeneração completa só aconteça caso o homem aceite o convite.
Por fim, concordo com Olson quando ele diz que “antes de dizer ‘eu discordo’, devemos ser capazes de verdadeiramente dizer ‘eu entendo’”, e isso vale tanto para calvinistas como para arminianos. Se os pentecostais lessem mais Armínio e pensadores arminianos clássicos, iriam abandonar toda proximidade com o semipelagianismo, que era veementemente rejeitado por Armínio. E se os calvinistas estudassem mais a doutrina arminiana clássica, certamente muitas dúvidas se dissipariam e muitos se identificariam muito mais com Armínio do que com Calvino.
Se os calvinistas lessem Armínio ou pelo menos dois ou três teólogos arminianos clássicos, dificilmente Roger Olson teria que escrever um livro inteiro refutando as distorções que são feitas até hoje em torno do arminianismo, em sua obra: “Teologia Arminiana: Mitos e Realidades”. As distorções só são feitas porque a procura pela informação é pequena, e a ansiedade por uma refutação é grande. Como disse Olson, “espero que no futuro os críticos do arminianismo o escrevam como seus proponentes o descrevem e que rigidamente evitem a caricatura ou deturpações, assim como esperam que os outros tratem sua própria teologia”.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Calvinismo
Se o arminianismo sofreu distorções com o passar dos séculos que foram além dos ensinos de Jacó Armínio, o calvinismo não fica atrás. Após a morte de Calvino, seus seguidores acrescentaram e retiraram doutrinas importantes de sua teologia. Como veremos no capítulo 8, Calvino era abertamente defensor da expiação universal, contra a expiação limitada que foi crida depois dele, a partir de Teodoro de Beza.
Mas se por um lado os seguidores de Calvino acrescentaram mais extremos à sua teologia, também foi muito mais comum o inverso: seguidores que suavizaram sua doutrina, retirando pontos importantes para torná-la mais aceitável ao povo. Por exemplo, como veremos mais adiante no livro, Calvino defendia explicitamente que Deus determina o pecado e que ordenou a Queda. Nem todos os calvinistas pensam assim. Calvino também defendeu a dupla predestinação, em que Deus não apenas elege um grupo para si, mas também elege outro para ser condenado.
Embora ele defendesse a responsabilidade humana (ainda que de forma contraditória), ele rejeitava o livre-arbítrio libertário e cria que tudo, incluindo os desejos no coração do homem, provinha de Deus e não do próprio homem. Então, com o passar dos séculos, os calvinistas foram aumentando e diminuindo aspectos importantes na teologia de Calvino. Os que aumentaram são comumente chamados de “hipercalvinistas”, e os que diminuíram são comumente chamados de “calvinistas moderados”.
Mas há um problema fundamental: nenhum hipercalvinista aceita essa nomenclatura, pois eles pensam que são eles os verdadeiros seguidores da doutrina original de Calvino, e, portanto, eles são os verdadeiros calvinistas, e não “hiper”. Da mesma forma, a maior parte dos calvinistas moderados se chama apenas de “calvinista”, pois também se creem os verdadeiros calvinistas. No fim das contas, temos dois grupos lutando pelo centro e pela hegemonia de seu próprio calvinismo e lançando o outro mais para a esquerda ou para a direita.
Boettner, por exemplo, se referiu ao “calvinismo moderado” nestas palavras:
“Calvinismo brando é sinônimo de calvinismo enfermo, e a enfermidade, se não curada, é o início do fim”
Por outro lado, um calvinista moderado, Charles Spurgeon, se referiu a seu próprio calvinismo dizendo: “Somos os calvinistas verdadeiros!”. Ele também disse que o hipercalvinismo é “um sistema de teologia com que muitos se identificam e que tem esfriado muitas igrejas, pois as tem levado a omitir os convites gratuitos do evangelho, e negar que é dever dos pecadores crer em Jesus”.
Se isso já torna a situação complicada, fica ainda pior quando vemos calvinistas auto-denominados “moderados” chamando de “calvinistas extremados” aqueles que também se denominam “moderados”, para se distinguirem dos hipercalvinistas. Foi assim que Norman Geisler se referiu a R. C. Sproul ao longo de todo o livro “Eleitos, mas Livres”, sendo que o próprio Sproul não se considera um “calvinista extremado”, e disse que “o hipercalvinismo é anticalvinismo”.
Para ser mais claro, não há nenhum calvinista que admita estar “fora do centro”. Todos se creem os verdadeiros calvinistas e puxam para a esquerda ou para direita aqueles que têm uma teologia mais branda ou mais severa que a dele. Calvinistas que se consideram moderados são considerados extremados por outros, e vice-versa. Deste modo, é difícil tratar do calvinismo como algo fixo e imutável.
Mas será que essa distinção é tão clara? Ainda que em alguns aspectos da teologia eles tenham divergências, elas são doutrinariamente mínimas, visto que ambos defendem os cinco pontos da TULIP calvinista. Na verdade, a diferença é mais prática do que teórica. Como Laurence Vance diz, “os calvinistas e os assim chamados hipercalvinistas creem, ensinam, e pregam as mesmas coisas sobre o calvinismo – os ‘hipercalvinistas’ apenas as colocam em prática mais consistentemente do que os calvinistas”.
Para esclarecer melhor o que Vance afirma, os hipercalvinistas seguem as premissas lógicas do calvinismo até as últimas consequencias, enquanto os calvinistas moderados as seguem até certo ponto, apelando para o “mistério” naquilo onde a conclusão segue às premissas. Um hipercalvinista entende que, se Cristo não morreu por todos (expiação limitada), então não há razão para crer que Deus deseje que todos se salvem, ou que o evangelho se aplique a todos que ouvem, ou que a fé seja dever de todo pecador, ou que a oferta de salvação deva ser feita a um não-eleito. É uma conclusão lógica do “L” da TULIP.
Da mesma forma, se o “mundo” de João 3:16 se refere apenas aos eleitos e se foi só por eles que Deus amou e enviou Seu Filho unigênito para que todos os eleitos que nele creem não pereçam mas tenham a vida eterna, então é lógico que Deus não ama o não-eleito. É certo que nenhum calvinista (nem mesmo o moderado) crê que Deus ama o eleito da mesma forma que ama o não-eleito, mas o hipercalvinista leva a sério os “textos calvinistas” que dizem que Deus “amou Jacó e odiou Esaú” (Rm.9:13), como uma “prova” de que Deus odeia (ou não ama) o não-eleito, mas apenas o eleito.
Como vemos, a distinção é mais prática do que teórica. Ambos creem nos cinco pontos da TULIP, mas apenas os hipercalvinistas assumem as consequencias de sua própria lógica, admitindo os resultados de seus próprios pressupostos, ao passo em que o calvinista moderado crê na premissa mas não crê na conclusão lógica da premissa, preferindo apelar ao “mistério” e deixar as coisas obscuras, sem fazer o mínimo esforço para solucionar “dilemas” calvinistas como “predestinação vs livre arbítrio” e “soberania divina vs responsabilidade humana” – quando os hipercalvinistas assumem que uma existe e a outra não.
É por isso que o calvinista Edwin Palmer escreveu:
“Ele [o calvinista moderado] percebe que o que ele defende é ridículo. É simplesmente impossível para o homem harmonizar esses dois conjuntos de dados. Dizer, por um lado, que Deus tornou certo tudo o que acontece e ainda dizer que o homem é responsável por aquilo que ele faz? Absurdo! Deve ser uma ou outra coisa, mas não ambas. Dizer que Deus preordenou o pecado de Judas e ainda Judas é o culpado? Insensatez! Logicamente o autor de ‘O Ladrão Predestinado’ estava certo. Deus não pode preordenar o roubo e então culpar o ladrão. E o calvinista admite francamente que essa posição é ilógica, ridícula, sem sentido e tola”
Por isso, como Vance bem define, “o termo ‘hipercalvinismo’ é altamente ambíguo e diz respeito à prática e não à profissão de alguém”, e que “o problema que calvinistas (incluindo Spurgeon) tem com o Dr. Gill [um hipercalvinista] é que eles consistentemente praticaram seu calvinismo”.
Outra tática frequentemente utilizada por calvinistas é “opor o arminianismo contra o hipercalvinismo e então tomar o calvinismo comum como uma posição moderada. Isto faz o calvinismo parecer ortodoxo”. Vance aponta que o termo “hipercalvinismo” é frequentemente referido “por aqueles calvinistas que querem desviar a atenção do que eles realmente crêem e por meio disso fazer sua forma de calvinismo parecer bíblica”.
E ele declara:
“Quando a verdadeira posição de um calvinista é finalmente revelada, ele geralmente alegará que ele está sendo deturpado. Por isso, um outro tipo de calvinismo foi inventado, e é para ele que toda objeção contra o sistema calvinista é depositada. Os partidários deste esquema fictício são referidos por vários termos: ‘ultra-calvinistas’, ‘calvinistas radicais’, ‘super-calvinistas’, ‘radicais’. A favorita designação para este grupo é ‘hiper-calvinistas’”
Em síntese, calvinismo é um termo ambíguo que envolve calvinistas moderados e extremados, cada qual defendendo seu próprio calvinismo como sendo o “verdadeiro” calvinismo, o calvinismo do centro. Conquanto haja algumas poucas diferenças em termos de doutrina, ambos creem nos cinco pontos da TULIP, embora apenas os hipercalvinistas pratiquem as consequencias lógicas destes cinco pontos, razão pela qual a diferença entre ambos é muito mais prática do que teórica. Enquanto calvinistas moderados seguem a lógica apenas até certo ponto e depois param e apelam ao mistério, hipercalvinistas seguem a lógica das suas próprias premissas até o fim, suportando as consequencias.
Se o arminianismo sofreu distorções com o passar dos séculos que foram além dos ensinos de Jacó Armínio, o calvinismo não fica atrás. Após a morte de Calvino, seus seguidores acrescentaram e retiraram doutrinas importantes de sua teologia. Como veremos no capítulo 8, Calvino era abertamente defensor da expiação universal, contra a expiação limitada que foi crida depois dele, a partir de Teodoro de Beza.
Mas se por um lado os seguidores de Calvino acrescentaram mais extremos à sua teologia, também foi muito mais comum o inverso: seguidores que suavizaram sua doutrina, retirando pontos importantes para torná-la mais aceitável ao povo. Por exemplo, como veremos mais adiante no livro, Calvino defendia explicitamente que Deus determina o pecado e que ordenou a Queda. Nem todos os calvinistas pensam assim. Calvino também defendeu a dupla predestinação, em que Deus não apenas elege um grupo para si, mas também elege outro para ser condenado.
Embora ele defendesse a responsabilidade humana (ainda que de forma contraditória), ele rejeitava o livre-arbítrio libertário e cria que tudo, incluindo os desejos no coração do homem, provinha de Deus e não do próprio homem. Então, com o passar dos séculos, os calvinistas foram aumentando e diminuindo aspectos importantes na teologia de Calvino. Os que aumentaram são comumente chamados de “hipercalvinistas”, e os que diminuíram são comumente chamados de “calvinistas moderados”.
Mas há um problema fundamental: nenhum hipercalvinista aceita essa nomenclatura, pois eles pensam que são eles os verdadeiros seguidores da doutrina original de Calvino, e, portanto, eles são os verdadeiros calvinistas, e não “hiper”. Da mesma forma, a maior parte dos calvinistas moderados se chama apenas de “calvinista”, pois também se creem os verdadeiros calvinistas. No fim das contas, temos dois grupos lutando pelo centro e pela hegemonia de seu próprio calvinismo e lançando o outro mais para a esquerda ou para a direita.
Boettner, por exemplo, se referiu ao “calvinismo moderado” nestas palavras:
“Calvinismo brando é sinônimo de calvinismo enfermo, e a enfermidade, se não curada, é o início do fim”
Por outro lado, um calvinista moderado, Charles Spurgeon, se referiu a seu próprio calvinismo dizendo: “Somos os calvinistas verdadeiros!”. Ele também disse que o hipercalvinismo é “um sistema de teologia com que muitos se identificam e que tem esfriado muitas igrejas, pois as tem levado a omitir os convites gratuitos do evangelho, e negar que é dever dos pecadores crer em Jesus”.
Se isso já torna a situação complicada, fica ainda pior quando vemos calvinistas auto-denominados “moderados” chamando de “calvinistas extremados” aqueles que também se denominam “moderados”, para se distinguirem dos hipercalvinistas. Foi assim que Norman Geisler se referiu a R. C. Sproul ao longo de todo o livro “Eleitos, mas Livres”, sendo que o próprio Sproul não se considera um “calvinista extremado”, e disse que “o hipercalvinismo é anticalvinismo”.
Para ser mais claro, não há nenhum calvinista que admita estar “fora do centro”. Todos se creem os verdadeiros calvinistas e puxam para a esquerda ou para direita aqueles que têm uma teologia mais branda ou mais severa que a dele. Calvinistas que se consideram moderados são considerados extremados por outros, e vice-versa. Deste modo, é difícil tratar do calvinismo como algo fixo e imutável.
Mas será que essa distinção é tão clara? Ainda que em alguns aspectos da teologia eles tenham divergências, elas são doutrinariamente mínimas, visto que ambos defendem os cinco pontos da TULIP calvinista. Na verdade, a diferença é mais prática do que teórica. Como Laurence Vance diz, “os calvinistas e os assim chamados hipercalvinistas creem, ensinam, e pregam as mesmas coisas sobre o calvinismo – os ‘hipercalvinistas’ apenas as colocam em prática mais consistentemente do que os calvinistas”.
Para esclarecer melhor o que Vance afirma, os hipercalvinistas seguem as premissas lógicas do calvinismo até as últimas consequencias, enquanto os calvinistas moderados as seguem até certo ponto, apelando para o “mistério” naquilo onde a conclusão segue às premissas. Um hipercalvinista entende que, se Cristo não morreu por todos (expiação limitada), então não há razão para crer que Deus deseje que todos se salvem, ou que o evangelho se aplique a todos que ouvem, ou que a fé seja dever de todo pecador, ou que a oferta de salvação deva ser feita a um não-eleito. É uma conclusão lógica do “L” da TULIP.
Da mesma forma, se o “mundo” de João 3:16 se refere apenas aos eleitos e se foi só por eles que Deus amou e enviou Seu Filho unigênito para que todos os eleitos que nele creem não pereçam mas tenham a vida eterna, então é lógico que Deus não ama o não-eleito. É certo que nenhum calvinista (nem mesmo o moderado) crê que Deus ama o eleito da mesma forma que ama o não-eleito, mas o hipercalvinista leva a sério os “textos calvinistas” que dizem que Deus “amou Jacó e odiou Esaú” (Rm.9:13), como uma “prova” de que Deus odeia (ou não ama) o não-eleito, mas apenas o eleito.
Como vemos, a distinção é mais prática do que teórica. Ambos creem nos cinco pontos da TULIP, mas apenas os hipercalvinistas assumem as consequencias de sua própria lógica, admitindo os resultados de seus próprios pressupostos, ao passo em que o calvinista moderado crê na premissa mas não crê na conclusão lógica da premissa, preferindo apelar ao “mistério” e deixar as coisas obscuras, sem fazer o mínimo esforço para solucionar “dilemas” calvinistas como “predestinação vs livre arbítrio” e “soberania divina vs responsabilidade humana” – quando os hipercalvinistas assumem que uma existe e a outra não.
É por isso que o calvinista Edwin Palmer escreveu:
“Ele [o calvinista moderado] percebe que o que ele defende é ridículo. É simplesmente impossível para o homem harmonizar esses dois conjuntos de dados. Dizer, por um lado, que Deus tornou certo tudo o que acontece e ainda dizer que o homem é responsável por aquilo que ele faz? Absurdo! Deve ser uma ou outra coisa, mas não ambas. Dizer que Deus preordenou o pecado de Judas e ainda Judas é o culpado? Insensatez! Logicamente o autor de ‘O Ladrão Predestinado’ estava certo. Deus não pode preordenar o roubo e então culpar o ladrão. E o calvinista admite francamente que essa posição é ilógica, ridícula, sem sentido e tola”
Por isso, como Vance bem define, “o termo ‘hipercalvinismo’ é altamente ambíguo e diz respeito à prática e não à profissão de alguém”, e que “o problema que calvinistas (incluindo Spurgeon) tem com o Dr. Gill [um hipercalvinista] é que eles consistentemente praticaram seu calvinismo”.
Outra tática frequentemente utilizada por calvinistas é “opor o arminianismo contra o hipercalvinismo e então tomar o calvinismo comum como uma posição moderada. Isto faz o calvinismo parecer ortodoxo”. Vance aponta que o termo “hipercalvinismo” é frequentemente referido “por aqueles calvinistas que querem desviar a atenção do que eles realmente crêem e por meio disso fazer sua forma de calvinismo parecer bíblica”.
E ele declara:
“Quando a verdadeira posição de um calvinista é finalmente revelada, ele geralmente alegará que ele está sendo deturpado. Por isso, um outro tipo de calvinismo foi inventado, e é para ele que toda objeção contra o sistema calvinista é depositada. Os partidários deste esquema fictício são referidos por vários termos: ‘ultra-calvinistas’, ‘calvinistas radicais’, ‘super-calvinistas’, ‘radicais’. A favorita designação para este grupo é ‘hiper-calvinistas’”
Em síntese, calvinismo é um termo ambíguo que envolve calvinistas moderados e extremados, cada qual defendendo seu próprio calvinismo como sendo o “verdadeiro” calvinismo, o calvinismo do centro. Conquanto haja algumas poucas diferenças em termos de doutrina, ambos creem nos cinco pontos da TULIP, embora apenas os hipercalvinistas pratiquem as consequencias lógicas destes cinco pontos, razão pela qual a diferença entre ambos é muito mais prática do que teórica. Enquanto calvinistas moderados seguem a lógica apenas até certo ponto e depois param e apelam ao mistério, hipercalvinistas seguem a lógica das suas próprias premissas até o fim, suportando as consequencias.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Diálogo entre calvinistas e arminianos na história
Por mais que desde sempre na história do Protestantismo tenha havido arminianos e calvinistas, estes querem, a todo e qualquer custo, serem considerados os únicos verdadeiros protestantes, como se o fato de alguém ser calvinista fosse primordial para alguém ser verdadeiramente cristão. É lógico que nem todos os calvinistas são exclusivistas ou intolerantes, mas muitos querem fazer da sua doutrina aquilo que diferencia uma igreja verdadeira de uma igreja falsa.
Isso é realmente lamentável, mas, como disse Olson, é fato que “alguns calvinistas evangélicos trabalham arduamente para transformar a teologia calvinista como a norma da fé evangélica. Os arminianos são marginalizados, se não excluídos às escondidas”. Os ataques de calvinistas a arminianos, muitas vezes os excluindo e os considerando não-cristãos, têm sido feitos aos montões.
Fred Phelps, o autor da obra “Os Cinco Pontos do Calvinismo”, alegou que, “se você não conhece os cinco pontos do calvinismo, você não conhece o evangelho, mas alguma perversão dele”. Além de chamar o arminianismo de perversão do evangelho, ele também disse que os não-calvinistas estão verdadeiramente nas trevas e na ignorância de toda a verdade divina, não tem nenhuma religião e estão presos nas superstições e nas mentiras religiosas:
“Se você não tem um entendimento e uma compreensão completa dos Cinco Pontos do Calvinismo você está verdadeiramente nas trevas e na ignorância de toda a verdade divina. E, se você não tem uma crença inteligente nos Cinco Pontos do Calvinismo e amor por eles, você não tem nenhuma religião racional, mas está preso na superstição e nas mentiras religiosas”
Este exemplo lindo de tolerância e diálogo tem sido marcante em outros militantes calvinistas. Ben Rose afirmou que os que não são calvinistas não são humildes o suficiente; Robert Godfrey afirmou que “no arminianismo Jesus não é mais o verdadeiro Salvador de Seu povo”; Robert Peterson e Michael Williams chamaram o arminianismo de uma “doutrina idólatra”; Kim Riddlebarger disse que “o arminianismo não é apenas o abandono da ortodoxia histórica, mas também um sério abandono do próprio evangelho”.
Michael Horton não fica atrás e diz que “um evangélico não pode ser arminiano mais do que um evangélico pode ser um católico romano”; Sproul exclama que o arminianismo “faz com que a redenção seja uma obra humana” e coloca o arminianismo no mesmo nível do semipelagianismo e do catolicismo romano, isso quando não diz que aqueles que negam o determinismo calvinista são ateus! Marcelo Berti disse que não há como ser cristão a não ser que se creia no determinismo divino e na dupla predestinação calvinista, e o teólogo e compositor de hinos Augustus Toplady declarou Wesley um não-cristão, por ser arminiano.
Tudo isso apenas afasta a possibilidade de diálogo entre arminianos e calvinistas. Embora eu considere o arminianismo a posição bíblica sobre a salvação, de modo nenhum creio que algum calvinista não é cristão por ser calvinista. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito por muitos calvinistas sobre o arminianismo, seja por terem uma visão distorcida sobre o arminianismo clássico ou então por desejarem fazer uma caricatura do arminianismo para torná-lo menos aceitável ao público.
Mas de onde vem essa intolerância? Se analisarmos a história, veremos que ela vem desde muito cedo. Laurence Vance, em seu livro “O Outro Lado do Calvinismo”, nos fala sobre muitos acontecimentos históricos e sobre a forma de perseguição que os arminianos antigos eram submetidos por não concordarem com o calvinismo predominante na época. Ele diz:
“Os Estados da Holanda, em 23 de dezembro de 1610, ordenou que uma ‘conferência amigável’ fosse realizada entre os dois partidos em Haia em março do ano seguinte. Conformemente, em 11 de março de 1611, seis remonstrantes (como os arminianos foram chamados), incluindo Episcopius e Uytenbogaert, se encontraram com seis contra-remonstrantes (como os calvinistas foram chamados), sob a liderança de Petrus Plancius e Festus Hommius (1576-1642). Os remonstrantes pediam tolerância para suas opiniões; os contra-remonstrantes, um sínodo nacional para declararem heréticas as opiniões deles”
Enquanto tudo o que os arminianos queriam era liberdade de opinião para poderem expressar as suas crenças, os calvinistas não estavam abertos ao diálogo. Vance aborda isso nas seguintes palavras:
“Cunningham admite que ‘os teólogos que compunham o Sínodo de Dort geralmente defendiam que o magistrado civil tinha o direito de infligir sofrimentos e penalidades como punição por heresia’ mas que os arminianos defendiam ‘tolerância e indulgência em relação às diferenças de opinião sobre assuntos religiosos’. Assim, embora ambos remonstrantes e contra-remonstrantes aderiam a uma aliança Igreja-Estado, os remonstrantes não procuravam usar o Estado para punir seus oponentes”
No Sínodo de Dort, “havia treze remonstrantes intimados para comparecer ao sínodo, mas eles foram convocados como réus, não tinham assentos como delegados”. Depois de Simão Episcópio esclarecer o parecer arminiano naquele sínodo, os remonstrantes foram expulsos de uma forma totalmente amigável:
“Os delegados estrangeiros são agora da opinião de que vocês são indignos de aparecer diante do Sínodo. Vocês recusaram reconhecê-lo como seu juiz legal e sustentaram que ele é seu partido contrário; vocês fizeram tudo de acordo com seu próprio capricho; vocês desprezaram as decisões do Sínodo e dos Comissários Políticos; vocês recusaram responder; vocês incorretamente interpretaram as acusações. O Sínodo tratou vocês indulgentemente; mas vocês – como um dos delegados estrangeiros expressou – ‘começaram e terminaram com mentiras’. Com este tributo nós deixaremos vocês irem. Deus preservará sua Palavra e abençoará o Sínodo. A fim de que ela não seja mais obstruída, vocês estão despedidos! Estão dispensados, vão embora!”
Depois de serem expulsos de um sínodo onde eram réus, os remonstrantes foram presos em 1618 em outro sínodo, e foram substituídos por calvinistas:
“Em 1618 o caminho foi aberto para um sínodo nacional. Grotius e Oldenbarnevelt foram presos, e os magistrados remonstrantes foram substituídos por patrocinadores dos contra-remonstrantes”
Vance ainda afirma:
“No início de julho, os treze remonstrantes foram convocados diante dos Estados-Gerais e solicitados para retratarem e concordarem em cessar de pregar suas doutrinas, ou serem banidos do país. Mais de duzentos ministros arminianos foram então destituídos de seus púlpitos e muitos destes foram banidos por recusar manter silêncio. Uma severa teocracia calvinista foi então estabelecida na qual somente o calvinismo poderia ser publicamente proclamado. Mas felizmente, foi de curta duração, pois após a morte do príncipe Maurício, em 1625, os remonstrantes conseguiram permissão para retornar sob seu irmão e sucessor, Frederick Henry (1584-1647), e estabelecerem igrejas e escolas por toda Holanda, com certas restrições”
Portanto, a pressão para tornar o calvinismo a única doutrina aceitável no protestantismo não é de hoje, mas remete aos primórdios. Os arminianos eram intimidados quando não obrigados a renegarem suas crenças ou proibidos de ensinarem publicamente e nas escolas. Com a liberdade que temos hoje, essa pressão é menor, se limitando apenas ao psicológico, quando calvinistas pintam o arminianismo como se fosse a maior heresia imaginável e como se o calvinismo fosse a única posição cristã admissível da salvação.
Por mais que desde sempre na história do Protestantismo tenha havido arminianos e calvinistas, estes querem, a todo e qualquer custo, serem considerados os únicos verdadeiros protestantes, como se o fato de alguém ser calvinista fosse primordial para alguém ser verdadeiramente cristão. É lógico que nem todos os calvinistas são exclusivistas ou intolerantes, mas muitos querem fazer da sua doutrina aquilo que diferencia uma igreja verdadeira de uma igreja falsa.
Isso é realmente lamentável, mas, como disse Olson, é fato que “alguns calvinistas evangélicos trabalham arduamente para transformar a teologia calvinista como a norma da fé evangélica. Os arminianos são marginalizados, se não excluídos às escondidas”. Os ataques de calvinistas a arminianos, muitas vezes os excluindo e os considerando não-cristãos, têm sido feitos aos montões.
Fred Phelps, o autor da obra “Os Cinco Pontos do Calvinismo”, alegou que, “se você não conhece os cinco pontos do calvinismo, você não conhece o evangelho, mas alguma perversão dele”. Além de chamar o arminianismo de perversão do evangelho, ele também disse que os não-calvinistas estão verdadeiramente nas trevas e na ignorância de toda a verdade divina, não tem nenhuma religião e estão presos nas superstições e nas mentiras religiosas:
“Se você não tem um entendimento e uma compreensão completa dos Cinco Pontos do Calvinismo você está verdadeiramente nas trevas e na ignorância de toda a verdade divina. E, se você não tem uma crença inteligente nos Cinco Pontos do Calvinismo e amor por eles, você não tem nenhuma religião racional, mas está preso na superstição e nas mentiras religiosas”
Este exemplo lindo de tolerância e diálogo tem sido marcante em outros militantes calvinistas. Ben Rose afirmou que os que não são calvinistas não são humildes o suficiente; Robert Godfrey afirmou que “no arminianismo Jesus não é mais o verdadeiro Salvador de Seu povo”; Robert Peterson e Michael Williams chamaram o arminianismo de uma “doutrina idólatra”; Kim Riddlebarger disse que “o arminianismo não é apenas o abandono da ortodoxia histórica, mas também um sério abandono do próprio evangelho”.
Michael Horton não fica atrás e diz que “um evangélico não pode ser arminiano mais do que um evangélico pode ser um católico romano”; Sproul exclama que o arminianismo “faz com que a redenção seja uma obra humana” e coloca o arminianismo no mesmo nível do semipelagianismo e do catolicismo romano, isso quando não diz que aqueles que negam o determinismo calvinista são ateus! Marcelo Berti disse que não há como ser cristão a não ser que se creia no determinismo divino e na dupla predestinação calvinista, e o teólogo e compositor de hinos Augustus Toplady declarou Wesley um não-cristão, por ser arminiano.
Tudo isso apenas afasta a possibilidade de diálogo entre arminianos e calvinistas. Embora eu considere o arminianismo a posição bíblica sobre a salvação, de modo nenhum creio que algum calvinista não é cristão por ser calvinista. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito por muitos calvinistas sobre o arminianismo, seja por terem uma visão distorcida sobre o arminianismo clássico ou então por desejarem fazer uma caricatura do arminianismo para torná-lo menos aceitável ao público.
Mas de onde vem essa intolerância? Se analisarmos a história, veremos que ela vem desde muito cedo. Laurence Vance, em seu livro “O Outro Lado do Calvinismo”, nos fala sobre muitos acontecimentos históricos e sobre a forma de perseguição que os arminianos antigos eram submetidos por não concordarem com o calvinismo predominante na época. Ele diz:
“Os Estados da Holanda, em 23 de dezembro de 1610, ordenou que uma ‘conferência amigável’ fosse realizada entre os dois partidos em Haia em março do ano seguinte. Conformemente, em 11 de março de 1611, seis remonstrantes (como os arminianos foram chamados), incluindo Episcopius e Uytenbogaert, se encontraram com seis contra-remonstrantes (como os calvinistas foram chamados), sob a liderança de Petrus Plancius e Festus Hommius (1576-1642). Os remonstrantes pediam tolerância para suas opiniões; os contra-remonstrantes, um sínodo nacional para declararem heréticas as opiniões deles”
Enquanto tudo o que os arminianos queriam era liberdade de opinião para poderem expressar as suas crenças, os calvinistas não estavam abertos ao diálogo. Vance aborda isso nas seguintes palavras:
“Cunningham admite que ‘os teólogos que compunham o Sínodo de Dort geralmente defendiam que o magistrado civil tinha o direito de infligir sofrimentos e penalidades como punição por heresia’ mas que os arminianos defendiam ‘tolerância e indulgência em relação às diferenças de opinião sobre assuntos religiosos’. Assim, embora ambos remonstrantes e contra-remonstrantes aderiam a uma aliança Igreja-Estado, os remonstrantes não procuravam usar o Estado para punir seus oponentes”
No Sínodo de Dort, “havia treze remonstrantes intimados para comparecer ao sínodo, mas eles foram convocados como réus, não tinham assentos como delegados”. Depois de Simão Episcópio esclarecer o parecer arminiano naquele sínodo, os remonstrantes foram expulsos de uma forma totalmente amigável:
“Os delegados estrangeiros são agora da opinião de que vocês são indignos de aparecer diante do Sínodo. Vocês recusaram reconhecê-lo como seu juiz legal e sustentaram que ele é seu partido contrário; vocês fizeram tudo de acordo com seu próprio capricho; vocês desprezaram as decisões do Sínodo e dos Comissários Políticos; vocês recusaram responder; vocês incorretamente interpretaram as acusações. O Sínodo tratou vocês indulgentemente; mas vocês – como um dos delegados estrangeiros expressou – ‘começaram e terminaram com mentiras’. Com este tributo nós deixaremos vocês irem. Deus preservará sua Palavra e abençoará o Sínodo. A fim de que ela não seja mais obstruída, vocês estão despedidos! Estão dispensados, vão embora!”
Depois de serem expulsos de um sínodo onde eram réus, os remonstrantes foram presos em 1618 em outro sínodo, e foram substituídos por calvinistas:
“Em 1618 o caminho foi aberto para um sínodo nacional. Grotius e Oldenbarnevelt foram presos, e os magistrados remonstrantes foram substituídos por patrocinadores dos contra-remonstrantes”
Vance ainda afirma:
“No início de julho, os treze remonstrantes foram convocados diante dos Estados-Gerais e solicitados para retratarem e concordarem em cessar de pregar suas doutrinas, ou serem banidos do país. Mais de duzentos ministros arminianos foram então destituídos de seus púlpitos e muitos destes foram banidos por recusar manter silêncio. Uma severa teocracia calvinista foi então estabelecida na qual somente o calvinismo poderia ser publicamente proclamado. Mas felizmente, foi de curta duração, pois após a morte do príncipe Maurício, em 1625, os remonstrantes conseguiram permissão para retornar sob seu irmão e sucessor, Frederick Henry (1584-1647), e estabelecerem igrejas e escolas por toda Holanda, com certas restrições”
Portanto, a pressão para tornar o calvinismo a única doutrina aceitável no protestantismo não é de hoje, mas remete aos primórdios. Os arminianos eram intimidados quando não obrigados a renegarem suas crenças ou proibidos de ensinarem publicamente e nas escolas. Com a liberdade que temos hoje, essa pressão é menor, se limitando apenas ao psicológico, quando calvinistas pintam o arminianismo como se fosse a maior heresia imaginável e como se o calvinismo fosse a única posição cristã admissível da salvação.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• A “tolerância” de Calvino
Sabemos que essa forma de intolerância vem desde cedo, mas exatamente de quando seria? Temos fortes indícios de que tudo remete a seu principal pregador, o próprio João Calvino. Embora ele fosse um gênio, e, na minha opinião, um dos maiores intelectuais que este mundo já viu, e muito acima da média dos intelectuais de sua época, ele tinha um forte problema em tolerar uma posição contrária. Isso fica evidente a começar pela leitura das próprias Institutas, a principal obra de Calvino, dividida em quatro grandes volumes.
Ele se refere aos seus oponentes, que não criam em sua doutrina, por vários diferentes nomes pejorativos, como “dementes", “porcos”, “mentes pervertidas”, “cães virulentos que vomitam contra Deus”, “inimigos da graça de Deus”, “inimigos da predestinação”, “estúpidos”, “espíritos desvairados”, “bestas loucas”, “caluniadores desprezíveis”, “gentalha”, “espíritos ignorantes”, “embusteiros”, “bestas”, “cães, porcos e perversos”, “insanos” e “criaturas bestiais”.
As ofensas também abundavam em termos pessoais. A Pighius ele chama de “cão morto”, a Serveto ele chama de “monstro pernicioso” e aos anabatistas ele chama de “bestas loucas” por negarem o batismo infantil, que hoje é rejeitado por quase todas as denominações protestantes. Sobre o batismo infantil, ele diz que “Deus irá descarregar sua vingança sobre qualquer um que desprezar assinalar seu filho com o símbolo da aliança”. Como Roland Bainton bem observa, “se Calvino alguma vez escreveu algo em favor da liberdade religiosa, foi um erro tipográfico”.
Em Genebra, sob a influência de Calvino, uma série de regras foram impostas, dentre as quais:
“Além das leis usuais contra a dança, a profanação, os jogos de apostas, e a falta de vergonha, o número de pratos comidos em uma refeição era regulado. Freqüência aos cultos públicos tornou-se obrigatório e ordenou-se que vigias verificassem quem freqüentava a igreja. A censura à imprensa foi instituída e livros julgados heréticos ou imorais foram proibidos. Juros nos empréstimos foram limitados a 5 por cento. Os nomes que davam às crianças eram regulados. Dar nome a uma criança de um santo católico era uma ofensa penal. Durante um aumento repentino da praga em 1545, cerca de vinte pessoas foram queimadas vivas por bruxaria, e o próprio Calvino esteve envolvido nas perseguições. De 1542 a 1546, cinqüenta e oito pessoas foram executadas e sessenta e seis exiladas de Genebra. A tortura era livremente usada para extrair confissões. O calvinista John McNeil admite que ‘nos últimos anos de Calvino, e sob sua influência, as leis de Genebra se tornaram mais detalhadas e severas’”
Laurence Vance ainda ressalta o caso de Jacques Gruet, oponente de Calvino:
“Jacques Gruet, um conhecido oponente de Calvino, foi preso (...) Após um mês de tortura, Gruet confessou e foi sentenciado à morte: ‘Você, de forma ultrajante, ofendeu e blasfemou contra Deus e sua sagrada Palavra; você conspirou contra o governo; você ameaçou servos de Deus e, culpado de traição, merece a pena capital’. Ele foi decapitado em 26 de julho de 1547, com o consentimento de Calvino na sua morte. Vários anos mais tarde um livro herético de Gruet foi descoberto e foi queimado em público em frente a casa de Gruet, conforme sugerido por Calvino”
Stefan Zweig afirma que “é por isso que Calvino freqüentemente tem sido rotulado como o ‘o ditador de Genebra’ que ‘toleraria em Genebra as opiniões de somente uma pessoa, as suas’”. Mas o caso mais famoso é o de Miguel Serveto, que merece uma maior atenção de nossa parte.
Sabemos que essa forma de intolerância vem desde cedo, mas exatamente de quando seria? Temos fortes indícios de que tudo remete a seu principal pregador, o próprio João Calvino. Embora ele fosse um gênio, e, na minha opinião, um dos maiores intelectuais que este mundo já viu, e muito acima da média dos intelectuais de sua época, ele tinha um forte problema em tolerar uma posição contrária. Isso fica evidente a começar pela leitura das próprias Institutas, a principal obra de Calvino, dividida em quatro grandes volumes.
Ele se refere aos seus oponentes, que não criam em sua doutrina, por vários diferentes nomes pejorativos, como “dementes", “porcos”, “mentes pervertidas”, “cães virulentos que vomitam contra Deus”, “inimigos da graça de Deus”, “inimigos da predestinação”, “estúpidos”, “espíritos desvairados”, “bestas loucas”, “caluniadores desprezíveis”, “gentalha”, “espíritos ignorantes”, “embusteiros”, “bestas”, “cães, porcos e perversos”, “insanos” e “criaturas bestiais”.
As ofensas também abundavam em termos pessoais. A Pighius ele chama de “cão morto”, a Serveto ele chama de “monstro pernicioso” e aos anabatistas ele chama de “bestas loucas” por negarem o batismo infantil, que hoje é rejeitado por quase todas as denominações protestantes. Sobre o batismo infantil, ele diz que “Deus irá descarregar sua vingança sobre qualquer um que desprezar assinalar seu filho com o símbolo da aliança”. Como Roland Bainton bem observa, “se Calvino alguma vez escreveu algo em favor da liberdade religiosa, foi um erro tipográfico”.
Em Genebra, sob a influência de Calvino, uma série de regras foram impostas, dentre as quais:
“Além das leis usuais contra a dança, a profanação, os jogos de apostas, e a falta de vergonha, o número de pratos comidos em uma refeição era regulado. Freqüência aos cultos públicos tornou-se obrigatório e ordenou-se que vigias verificassem quem freqüentava a igreja. A censura à imprensa foi instituída e livros julgados heréticos ou imorais foram proibidos. Juros nos empréstimos foram limitados a 5 por cento. Os nomes que davam às crianças eram regulados. Dar nome a uma criança de um santo católico era uma ofensa penal. Durante um aumento repentino da praga em 1545, cerca de vinte pessoas foram queimadas vivas por bruxaria, e o próprio Calvino esteve envolvido nas perseguições. De 1542 a 1546, cinqüenta e oito pessoas foram executadas e sessenta e seis exiladas de Genebra. A tortura era livremente usada para extrair confissões. O calvinista John McNeil admite que ‘nos últimos anos de Calvino, e sob sua influência, as leis de Genebra se tornaram mais detalhadas e severas’”
Laurence Vance ainda ressalta o caso de Jacques Gruet, oponente de Calvino:
“Jacques Gruet, um conhecido oponente de Calvino, foi preso (...) Após um mês de tortura, Gruet confessou e foi sentenciado à morte: ‘Você, de forma ultrajante, ofendeu e blasfemou contra Deus e sua sagrada Palavra; você conspirou contra o governo; você ameaçou servos de Deus e, culpado de traição, merece a pena capital’. Ele foi decapitado em 26 de julho de 1547, com o consentimento de Calvino na sua morte. Vários anos mais tarde um livro herético de Gruet foi descoberto e foi queimado em público em frente a casa de Gruet, conforme sugerido por Calvino”
Stefan Zweig afirma que “é por isso que Calvino freqüentemente tem sido rotulado como o ‘o ditador de Genebra’ que ‘toleraria em Genebra as opiniões de somente uma pessoa, as suas’”. Mas o caso mais famoso é o de Miguel Serveto, que merece uma maior atenção de nossa parte.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Calvino e Serveto
Serveto era um dos principais oponentes de Calvino, pois descria na trindade, na predestinação e no batismo infantil. Os dois trocaram algumas cartas e, vendo que Serveto mantinha a opinião, Calvino passou a ignorá-lo e deixou de respondê-lo. Em suas Institutas ele menciona Serveto em várias ocasiões diferentes, sempre com adjetivos pejorativos, chamando-o de “monstro” e coisas piores.
Em 13 de agosto de 1553, Serveto viajou a Genebra e ouvia um sermão de Calvino, quando foi reconhecido e preso. Calvino, então, insistiu na sua condenação à morte usando todos os meios possíveis. Ele escreveu a Farel mostrando o seu desejo de que Serveto fosse executado:
“Serveto recentemente me escreveu, e anexou em sua carta um longo volume dos seus delírios, cheio de ostentação, para que eu devesse ver algo espantoso e desconhecido. Ele faz isto para se aproximar, caso seja de meu acordo. Mas eu estou indisposto a dar minha palavra em favor de sua segurança, pois se ele vier, eu nunca o deixarei escapar vivo se a minha autoridade tiver peso”
O próprio Calvino confirma que foi ele mesmo que ordenou que Serveto fosse detido:
“Temos agora um novo caso sob consideração com Serveto. Ele pretendeu talvez passar por esta cidade; pois ainda não é sabido a intenção dele ter vindo. Mas depois que ele foi reconhecido, eu pensei que ele deveria ser detido”
“Finalmente, em uma má hora, ele veio a este lugar, quando, por mim instigado, um dos procuradores ordenou-o a ser conduzido para a prisão; pois eu não escondo que eu considerei meu dever dar um basta, tanto quanto podia, neste mais obstinado e indisciplinado homem, para que sua influência não possa mais espalhar”
Em suas cartas a Farel, ele constantemente insistia que o veredicto deveria ser a pena de morte:
“Eu espero que ele obtenha, pelo menos, a sentença de morte”
Depois que Serveto foi condenado à morte na fogueira, ele reconheceu que teve parte na sua execução:
“Honra, glória, e riquezas será a recompensa de suas dores: mas acima de tudo, não deixe de livrar o país daqueles zelosos patifes que incitam o povo para se revoltar contra nós. Tais monstros devem ser exterminados, como exterminei Michael Serveto, o espanhol”
E ele ainda insistia:
“Quem quer que agora argumentar que é injusto colocar heréticos e blasfemadores à morte, consciente e condescentemente incorrerá em sua mesma culpa”
Em momento nenhum ele se mostrou arrependido por ter mandado executar Serveto. Ao contrário, ele insistia que deveríamos esquecer toda humanidade quando o assunto é o “combate pela glória de Deus”, que ele entendia ser a execução dos “hereges e blasfemadores”:
“Quem sustenta que é errado punir hereges e blasfemadores, pois nos tornamos cúmplices de seus crimes (…). Não se trata aqui da autoridade do homem, é Deus que fala (…). Portanto se Ele exigir de nós algo de tão extrema gravidade, para que mostremos que lhe pagamos a honra devida, estabelecendo o seu serviço acima de toda consideração humana, que não poupamos parentes, nem de qualquer sangue, e esquecemos toda a humanidade, quando o assunto é o combate pela Sua glória”
À vista de tudo isso, o calvinista William Cunningham admite:
“Não há dúvida que Calvino antecipadamente, na hora, e depois do acontecimento, explicitamente aprovou e defendeu a execução dele, e assumiu a responsabilidade do procedimento”
O historiador Philip Schaff acrescenta que “o julgamento de Serveto durou mais de dois meses e o próprio Calvino redigiu um documento de trinta e oito acusações contra Serveto”. Embora alguns calvinistas fanáticos tentem salvar Calvino da acusação de assassinato, os fatos documentais apontam explicitamente o contrário, e tentar jogar a culpa de Serveto somente para os outros é no mínimo vexatório e indigno.
O próprio Calvino, antes, durante e depois do julgamento de Serveto expressou diversas vezes seu desejo de que ele fosse executado e não há sequer um único registro documental de que ele tenha alguma vez se arrependido deste ato. Embora os calvinistas tentem defender Calvino afirmando que naquela época era comum a pena de morte por heresia, sabemos que o pecado continua sendo pecado do mesmo jeito, independentemente da sociedade ou cultura onde se vive. O pecado em Sodoma e Gomorra tinha o mesmo peso de um pecado em Jerusalém, mesmo que todos os habitantes se Sodoma e Gomorra fossem completamente depravados e não tivessem muito senso de moral.
Além disso, se a Bíblia ensina que devemos guardar a espada, porque todos aqueles que fazem uso da espada pela espada morrerão (Mt.26:52), então a pena de morte por razões religiosas não é apenas imoral, mas também antibíblica. Por fim, é necessário ressaltar que nem todos na época de Calvino eram intolerantes como Calvino era. O próprio Armínio, que viveu apenas uma geração depois de Calvino, era alguém reconhecido por sua calma, tolerância e paciência com todos.
Vance afirma que “Armínio foi conhecido por sua tolerância, e não há nenhum registro de qualquer perseguição praticada contra ‘heréticos’”. Limborch disse que “Armínio foi um piedoso e devoto homem, prudente, cândido, brando e sereno, o mais zeloso a preservar a paz da Igreja”. Isso é reconhecido até mesmo por autores calvinistas. Homer Hoeksema declara que Armínio era “um homem de amável personalidade, refinado em conduta e aparência”.
Arthur Custance diz que ele era “um homem dos mais honrados e indubitavelmente um crente muito fervoroso”. Samuel Miller acrescenta que “Armínio, quanto a talentos, erudição, eloqüência, e exemplaridade geral de comportamento moral, é indubitavelmente digno de elevada exaltação”. Hugo Grotius observa que Armínio, “condenado pelos outros, não condenou ninguém”. Mas, quanto à Calvino, o historiador batista William Jones diz:
“E com respeito a Calvino, é manifesto, que a principal, a mim pelo menos, característica mais odiosa em toda a multiforme figura do papismo uniu-se a ele por toda a vida – eu quero dizer o espírito de perseguição”
O que isso influencia na discussão entre calvinismo e arminianismo? Embora a doutrina em si seja algo que iremos abordar a partir do capítulo seguinte, isso nos dá uma boa noção do por que Calvino não via problemas em sua noção de Deus, principalmente à luz de seu determinismo exaustivo (onde Deus determina até mesmo o pecado) e da dupla predestinação (onde Deus determina antes da fundação do mundo que seres que ainda nem nasceram fossem lançados irremediavelmente a um inferno de tormento eterno para todo o sempre).
Oskar Pfister fala sobre isso nas seguintes palavras:
“O fato do próprio caráter de Calvino ter sido compulsivo-neurótico foi o que transformou o Deus de amor como experimentado e ensinado por Jesus, num caráter compulsivo, sustentando características absolutamente diabólicas em sua prática reprovativa”.
Isso explica o porquê que em momento nenhum vemos Calvino tentando salvar a reputação moral de Deus nas Institutas. Ele tenta por vezes resgatar algo da responsabilidade humana, mas nunca escreveu sequer uma única linha para tentar salvar Deus da acusação de ser o autor do pecado e aquele que determina todas as maldades e atrocidades do mundo. Como veremos no capítulo seguinte, ele afirma expressamente essas coisas, e não tinha um mínimo senso de dever em oferecer explicações.
O Deus pregado por Calvino não precisava ter muito senso moral, como o próprio Calvino não se preocupava muito com isso em sua teologia. Intolerância, crimes e perseguição eram coisas que não eram levadas a sério como são levadas hoje, e, consequentemente, Calvino não viu problema nenhum em pintar um Deus à sua própria imagem e semelhança, sem qualquer hesitação por princípios morais que os arminianos creem serem imprescindíveis e essenciais na divindade.
Foi por isso que Armínio e os arminianos rejeitaram tão fortemente o determinismo exaustivo e a dupla predestinação incondicional calvinista, pois não viam como que essas doutrinas poderiam não afetar o testemunho bíblico de um Deus cheio de amor, justiça, graça e misericórdia, que deseja que todos os homens se salvem e que cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm.2:4), que não deseja a morte de nenhum ímpio (Ez.18:23), que amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito para morrer por pecadores (Jo.3:16) e que é totalmente puro e não se envolve em nenhuma medida com o pecado (Hb.1:13).
Serveto era um dos principais oponentes de Calvino, pois descria na trindade, na predestinação e no batismo infantil. Os dois trocaram algumas cartas e, vendo que Serveto mantinha a opinião, Calvino passou a ignorá-lo e deixou de respondê-lo. Em suas Institutas ele menciona Serveto em várias ocasiões diferentes, sempre com adjetivos pejorativos, chamando-o de “monstro” e coisas piores.
Em 13 de agosto de 1553, Serveto viajou a Genebra e ouvia um sermão de Calvino, quando foi reconhecido e preso. Calvino, então, insistiu na sua condenação à morte usando todos os meios possíveis. Ele escreveu a Farel mostrando o seu desejo de que Serveto fosse executado:
“Serveto recentemente me escreveu, e anexou em sua carta um longo volume dos seus delírios, cheio de ostentação, para que eu devesse ver algo espantoso e desconhecido. Ele faz isto para se aproximar, caso seja de meu acordo. Mas eu estou indisposto a dar minha palavra em favor de sua segurança, pois se ele vier, eu nunca o deixarei escapar vivo se a minha autoridade tiver peso”
O próprio Calvino confirma que foi ele mesmo que ordenou que Serveto fosse detido:
“Temos agora um novo caso sob consideração com Serveto. Ele pretendeu talvez passar por esta cidade; pois ainda não é sabido a intenção dele ter vindo. Mas depois que ele foi reconhecido, eu pensei que ele deveria ser detido”
“Finalmente, em uma má hora, ele veio a este lugar, quando, por mim instigado, um dos procuradores ordenou-o a ser conduzido para a prisão; pois eu não escondo que eu considerei meu dever dar um basta, tanto quanto podia, neste mais obstinado e indisciplinado homem, para que sua influência não possa mais espalhar”
Em suas cartas a Farel, ele constantemente insistia que o veredicto deveria ser a pena de morte:
“Eu espero que ele obtenha, pelo menos, a sentença de morte”
Depois que Serveto foi condenado à morte na fogueira, ele reconheceu que teve parte na sua execução:
“Honra, glória, e riquezas será a recompensa de suas dores: mas acima de tudo, não deixe de livrar o país daqueles zelosos patifes que incitam o povo para se revoltar contra nós. Tais monstros devem ser exterminados, como exterminei Michael Serveto, o espanhol”
E ele ainda insistia:
“Quem quer que agora argumentar que é injusto colocar heréticos e blasfemadores à morte, consciente e condescentemente incorrerá em sua mesma culpa”
Em momento nenhum ele se mostrou arrependido por ter mandado executar Serveto. Ao contrário, ele insistia que deveríamos esquecer toda humanidade quando o assunto é o “combate pela glória de Deus”, que ele entendia ser a execução dos “hereges e blasfemadores”:
“Quem sustenta que é errado punir hereges e blasfemadores, pois nos tornamos cúmplices de seus crimes (…). Não se trata aqui da autoridade do homem, é Deus que fala (…). Portanto se Ele exigir de nós algo de tão extrema gravidade, para que mostremos que lhe pagamos a honra devida, estabelecendo o seu serviço acima de toda consideração humana, que não poupamos parentes, nem de qualquer sangue, e esquecemos toda a humanidade, quando o assunto é o combate pela Sua glória”
À vista de tudo isso, o calvinista William Cunningham admite:
“Não há dúvida que Calvino antecipadamente, na hora, e depois do acontecimento, explicitamente aprovou e defendeu a execução dele, e assumiu a responsabilidade do procedimento”
O historiador Philip Schaff acrescenta que “o julgamento de Serveto durou mais de dois meses e o próprio Calvino redigiu um documento de trinta e oito acusações contra Serveto”. Embora alguns calvinistas fanáticos tentem salvar Calvino da acusação de assassinato, os fatos documentais apontam explicitamente o contrário, e tentar jogar a culpa de Serveto somente para os outros é no mínimo vexatório e indigno.
O próprio Calvino, antes, durante e depois do julgamento de Serveto expressou diversas vezes seu desejo de que ele fosse executado e não há sequer um único registro documental de que ele tenha alguma vez se arrependido deste ato. Embora os calvinistas tentem defender Calvino afirmando que naquela época era comum a pena de morte por heresia, sabemos que o pecado continua sendo pecado do mesmo jeito, independentemente da sociedade ou cultura onde se vive. O pecado em Sodoma e Gomorra tinha o mesmo peso de um pecado em Jerusalém, mesmo que todos os habitantes se Sodoma e Gomorra fossem completamente depravados e não tivessem muito senso de moral.
Além disso, se a Bíblia ensina que devemos guardar a espada, porque todos aqueles que fazem uso da espada pela espada morrerão (Mt.26:52), então a pena de morte por razões religiosas não é apenas imoral, mas também antibíblica. Por fim, é necessário ressaltar que nem todos na época de Calvino eram intolerantes como Calvino era. O próprio Armínio, que viveu apenas uma geração depois de Calvino, era alguém reconhecido por sua calma, tolerância e paciência com todos.
Vance afirma que “Armínio foi conhecido por sua tolerância, e não há nenhum registro de qualquer perseguição praticada contra ‘heréticos’”. Limborch disse que “Armínio foi um piedoso e devoto homem, prudente, cândido, brando e sereno, o mais zeloso a preservar a paz da Igreja”. Isso é reconhecido até mesmo por autores calvinistas. Homer Hoeksema declara que Armínio era “um homem de amável personalidade, refinado em conduta e aparência”.
Arthur Custance diz que ele era “um homem dos mais honrados e indubitavelmente um crente muito fervoroso”. Samuel Miller acrescenta que “Armínio, quanto a talentos, erudição, eloqüência, e exemplaridade geral de comportamento moral, é indubitavelmente digno de elevada exaltação”. Hugo Grotius observa que Armínio, “condenado pelos outros, não condenou ninguém”. Mas, quanto à Calvino, o historiador batista William Jones diz:
“E com respeito a Calvino, é manifesto, que a principal, a mim pelo menos, característica mais odiosa em toda a multiforme figura do papismo uniu-se a ele por toda a vida – eu quero dizer o espírito de perseguição”
O que isso influencia na discussão entre calvinismo e arminianismo? Embora a doutrina em si seja algo que iremos abordar a partir do capítulo seguinte, isso nos dá uma boa noção do por que Calvino não via problemas em sua noção de Deus, principalmente à luz de seu determinismo exaustivo (onde Deus determina até mesmo o pecado) e da dupla predestinação (onde Deus determina antes da fundação do mundo que seres que ainda nem nasceram fossem lançados irremediavelmente a um inferno de tormento eterno para todo o sempre).
Oskar Pfister fala sobre isso nas seguintes palavras:
“O fato do próprio caráter de Calvino ter sido compulsivo-neurótico foi o que transformou o Deus de amor como experimentado e ensinado por Jesus, num caráter compulsivo, sustentando características absolutamente diabólicas em sua prática reprovativa”.
Isso explica o porquê que em momento nenhum vemos Calvino tentando salvar a reputação moral de Deus nas Institutas. Ele tenta por vezes resgatar algo da responsabilidade humana, mas nunca escreveu sequer uma única linha para tentar salvar Deus da acusação de ser o autor do pecado e aquele que determina todas as maldades e atrocidades do mundo. Como veremos no capítulo seguinte, ele afirma expressamente essas coisas, e não tinha um mínimo senso de dever em oferecer explicações.
O Deus pregado por Calvino não precisava ter muito senso moral, como o próprio Calvino não se preocupava muito com isso em sua teologia. Intolerância, crimes e perseguição eram coisas que não eram levadas a sério como são levadas hoje, e, consequentemente, Calvino não viu problema nenhum em pintar um Deus à sua própria imagem e semelhança, sem qualquer hesitação por princípios morais que os arminianos creem serem imprescindíveis e essenciais na divindade.
Foi por isso que Armínio e os arminianos rejeitaram tão fortemente o determinismo exaustivo e a dupla predestinação incondicional calvinista, pois não viam como que essas doutrinas poderiam não afetar o testemunho bíblico de um Deus cheio de amor, justiça, graça e misericórdia, que deseja que todos os homens se salvem e que cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm.2:4), que não deseja a morte de nenhum ímpio (Ez.18:23), que amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito para morrer por pecadores (Jo.3:16) e que é totalmente puro e não se envolve em nenhuma medida com o pecado (Hb.1:13).
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• O calvinismo é a única posição ortodoxa?
Um truque muito usado por calvinistas quando atacam o arminianismo é se colocarem como “os ortodoxos” e jogarem para longe da ortodoxia aqueles que não são calvinistas. Desta forma, como ninguém vai querer ser considerado “heterodoxo”, eles vão estar do lado da ortodoxia, e, portanto, do calvinismo. Mas será mesmo que o calvinismo é a única posição ortodoxa que pode ser aceita? Na verdade, os indícios apontam exatamente o contrário.
Todos os Pais da Igreja, exceto Agostinho, eram arminianos em sua teologia da salvação. Até mesmo o próprio Agostinho defendia o livre-arbítrio até a sua controvérsia com os donatistas, quando passou a defender a ideia de que os pagãos deveriam se converter à força à fé cristã, porque Deus mesmo trazia com uma “força irresistível”. Mesmo assim, a ideia de Agostinho foi contraposta pela grande maioria dos doutores da Igreja que viveram depois dele e a posição majoritária permaneceu sendo a contrária ao sistema calvinista.
Isso é reconhecido pelos próprios calvinistas. Norman Sellers reconhece que “Agostinho discordava dos Pais que o precediam no ensino da absoluta soberania de Deus”, e Boettner diz que “ele foi muito além dos primeiros teólogos”. O mesmo Boettner admite que “esta verdade fundamental do Cristianismo [referindo-se ao calvinismo] foi claramente percebida primeiro por Agostinho”. Se Agostinho foi o primeiro, então todos os outros que viveram antes dele criam no contrário.
De fato, o próprio João Calvino reconhecia que, à exceção de Agostinho, os outros Pais da Igreja estavam contra ele. Ele disse:
“Tudo indica que grande preconceito atraí contra minha pessoa quando confessei que todos os escritores eclesiásticos, exceto Agostinho, nesta matéria se expressaram tão ambígua ou variadamente que de seus escritos não se pode ter coisa alguma certa. Ora, alguns haverão de interpretar isto exatamente como se os quisesse privar do direito de opinião, já que todos me são contrários”
Spurgeon também parece reconhecer isso. Ele tenta traçar uma “linhagem calvinista” de seus tempos para trás, passando por Bunyan, depois pelos Reformadores, depois por Huss e então por Agostinho, e então diz:
“Não podemos traçar nossa genealogia através de toda uma linhagem de homens como Newton, Whitefield, Owen e Bunyan diretamente até chegarmos a Calvino, Lutero e Zwinglio? Deles então podemos voltar a Savonarola, Jerônimo de Praga, a Huss e então de volta a Agostinho, o pregador mais poderoso do cristianismo. E de Santo Agostinho até Paulo é somente um passo!”
Interessante é notar que Spurgeon, ao invés de mostrar um único Pai da Igreja entre Paulo e Agostinho que cria no calvinismo, diz que “de Agostinho [século IV para o século V] para Paulo é somente um passo”, parecendo reconhecer que entre Paulo e Agostinho não houve sequer um único pregador calvinista, em um intervalo de quatro séculos! Veremos no segundo apêndice deste livro dezenas de citações de dezenas de Pais da Igreja confirmando a crença arminiana como a predominante nos primeiros séculos da Igreja, até a Reforma.
Isso nos mostra, como bem aponta Geisler, que, “com exceção do Agostinho posterior, nenhum teólogo importante da patrística até a Reforma sustentou essa ideia”, e que “se não fosse por um lapso na história da pré-Reforma, não teria havido ‘calvinistas’ extremados notáveis nos primeiros 1.500 anos da Igreja. Essa exceção é encontrada nos últimos escritos de Agostinho”. Foi por isso que Thomas Oden disse que “a remonstrância representou uma reapropriação substancial do consenso patrístico oriental pré-agostiano”.
Então, temos um quadro em que uma doutrina (arminianismo) foi pregada unanimemente por todos os Pais da Igreja exceto Agostinho, até chegar a Jacó Armínio, e outra (calvinismo) em que quase ninguém creu nisso durante quinze séculos, excetuando Agostinho e alguns poucos nomes, sendo “restaurado” por João Calvino e outros reformadores.
Com que moral, então, um calvinista acusa o arminianismo de heterodoxia? Se ele quer mesmo ser intelectualmente honesto, deverá reconhecer que o arminianismo é a posição ortodoxa na Igreja em todos os séculos e que o calvinismo nada mais é senão um lapso na história pré-Reforma, que não tem nada de ortodoxo, a não ser que a ortodoxia que resuma a Agostinho.
Outra tática de calvinistas é expor nomes pós-Reforma (como um quadro comparativo) de teólogos calvinistas e teólogos arminianos, para depois dizer que os mais notáveis estão entre eles, e, portanto, são a “posição ortodoxa”. Essa tática foi empregada, por exemplo, por R. C. Sproul em seu livro “Eleitos de Deus”, quando ele traçou o seguinte quadro comparativo:
VISÃO REFORMADA VISÕES OPONENTES
Sto. Agostinho Pelágio
Sto. Tomás de Aquino Armínio
Martinho Lutero Felipe Melanchton
João Calvino John Wesley
Jonathan Edwards Charles Finney
Este quadro por si só já é tendencioso, pois ele coloca Pelágio no mesmo grupo dos arminianos, ignora diversos nomes notáveis do arminianismo (como todos os outros Pais da Igreja à exceção de Agostinho) e ainda inclui na lista “calvinista” nomes que nunca assinariam embaixo os cinco pontos da TULIP. Se Tomás de Aquino fosse “reformado”, Calvino nunca teria refutado a sua visão sobre a predestinação nas Institutas.
Em seu terceiro volume das Institutas, Calvino dedica um tópico apenas para refutar Aquino, intitulado: “Não é procedente a cavilação de Tomás de Aquino de que a predestinação diz respeito à graça mercê da qual extraímos méritos que são objeto da presciência divina”. Então, o que o nome de Tomás de Aquino está fazendo ali? E quanto a Martinho Lutero, que foi um enfático pregador de que o crente pode perder a salvação e que Cristo morreu por todos?
Contra a expiação limitada, Lutero disse:
“[Cristo] não ajuda apenas contra um pecado, mas contra todos os meus pecados; e não contra meu pecado apenas, mas contra o pecado de todo o mundo. Ele vem para levar não apenas a doença, mas a morte; e não minha morte apenas, mas a morte de todo o mundo”
Lutero cria na expiação ilimitada, e essa é a razão pela qual as igrejas luteranas creem que Cristo morreu por todos. Lutero também descria na dupla predestinação de Calvino e zombava daqueles que criam que o crente não pode perder a salvação, chamando-os de “pessoas tolas”:
“Alguns fanáticos podem parecer (e talvez eles estão já presentes, como eu vi com meus próprios olhos no tempo da revolta) que mantém que assim que eles receberam o Espírito do perdão de pecados, ou assim que eles se tornaram crentes, eles irão perseverar na fé mesmo se eles pecarem depois, e tal pecado não irá prejudicá-los. Eles gritam, ‘Faça o que você quiser, não importa contanto que você creia, pois a fé apaga todos os pecados’, etc. Eles adicionam que se alguém peca depois que recebeu a fé e o Espírito, ele nunca realmente teve o Espírito e a fé. Eu encontrei muitas pessoas tolas como estas e eu temo que tal demônio ainda reside em alguns deles”
E também:
“É então necessário saber e ensinar que, além do fato de que eles ainda possuem e sentem o pecado original e diariamente se arrependem e lutam contra ele, quando homens santos caem em pecado abertamente (como Davi caiu em adultério, assassinado e blasfêmia), a fé e o Espírito abandonaram eles”
Portanto, ainda que Lutero cresse em alguns princípios calvinistas, ele estava longe, muito longe de crer em tudo. É por isso que Calvino não citou Lutero nem uma única vez em todos os quatro volumes das Institutas, embora tenha citado diversos outros autores em várias ocasiões diferentes para justificar suas teses. Se Lutero estivesse no Sínodo de Dort, seria mais provável que ele se unisse aos remonstrantes do que aos calvinistas. E vale sempre ressaltar que o braço direito de Lutero, Felipe Melanchton, era sinergista, como reconhece Sproul, o colocando na lista de “visões opostas” ao calvinismo.
Nos tempos modernos, é fato que existem extraordinários pregadores calvinistas, assim como existem extraordinários pregadores arminianos. Assim como os calvinistas tem nomes fortes como Charles Spurgeon, John Piper e Paul Washer, os arminianos têm C. S. Lewis, Norman Geisler, Billy Graham e outros. É simplesmente tolo argumentar em favor da ortodoxia expondo uma lista de nomes proeminentes na teologia, pois isso não define a verdade e nós temos tantos nomes (ou mais) do que eles.
Jerry Walls também observa que “os calvinistas não tomam conta da academia de filosofia - William Lane Craig e Alvin Plantinga, por exemplo, dois filósofos protestantes renomados, são arminianos”. Quando Craig debateu com o ateu Christopher Hitchens e foi indagado por este sobre se ele considerava alguma denominação cristã falsa, ele respondeu:
“Certamente. Eu não sou um calvinista, por exemplo. Eu acho que certos dogmas da teologia reformada estão incorretos. Eu estou mais no campo wesleyano”
Finalmente, devemos ressaltar que a acusação de heterodoxia por parte dos calvinistas é simplesmente falsa e difamatória. O pai da teologia liberal, Friedrich Schleiermacher, era calvinista e sequer foi tocado pelo arminianismo. E os calvinistas se esquecem de mencionar que o mesmo concílio que declarou o pelagianismo herético também condenou aquilo que viria a ser calvinismo. O Sínodo de Orange (529) condenou qualquer crença de que Deus tenha determinado o pecado. Ele definiu:
“Não só não aceitamos que certos homens têm sido predestinados ao mal pela divina disposição, mas lançamos anátemas horrorizados contra quem pensar coisa tão perversa”
Da mesma forma, o Concílio de Kiersy (853) declarou:
“Deus conheceu pela sua presciência os que devem se perder, mas ele não os predestinou a se perderem. Porque Deus é justo, ele predestinou uma pena eterna para a sua falta”
E o Concílio de Valença (855), sete séculos antes de Calvino, condenou exatamente aquilo que foi explicitamente ensinado por Calvino, que alguns homens são predestinados ao mal pelo poder de Deus:
“Com o concílio de Orange nós lançamos o anátema a todos os que disserem que alguns homens são predestinados para o mal pelo poder de Deus”
Portanto, se devemos considerar alguma doutrina não-ortodoxa, essa é certamente o calvinismo, que foi condenado pelos mesmos concílios que condenaram heresias como pelagianismo e semipelagianismo. O arminianismo nunca foi condenado em concílio nenhum até a época da Reforma, foi crido por todos os Pais da Igreja à exceção de um, e hoje possui grandes teólogos, filósofos e pregadores de nome tão forte quanto os próprios calvinistas. A acusação de heterodoxia é, portanto, simplesmente injuriosa – mais um espantalho.
Um truque muito usado por calvinistas quando atacam o arminianismo é se colocarem como “os ortodoxos” e jogarem para longe da ortodoxia aqueles que não são calvinistas. Desta forma, como ninguém vai querer ser considerado “heterodoxo”, eles vão estar do lado da ortodoxia, e, portanto, do calvinismo. Mas será mesmo que o calvinismo é a única posição ortodoxa que pode ser aceita? Na verdade, os indícios apontam exatamente o contrário.
Todos os Pais da Igreja, exceto Agostinho, eram arminianos em sua teologia da salvação. Até mesmo o próprio Agostinho defendia o livre-arbítrio até a sua controvérsia com os donatistas, quando passou a defender a ideia de que os pagãos deveriam se converter à força à fé cristã, porque Deus mesmo trazia com uma “força irresistível”. Mesmo assim, a ideia de Agostinho foi contraposta pela grande maioria dos doutores da Igreja que viveram depois dele e a posição majoritária permaneceu sendo a contrária ao sistema calvinista.
Isso é reconhecido pelos próprios calvinistas. Norman Sellers reconhece que “Agostinho discordava dos Pais que o precediam no ensino da absoluta soberania de Deus”, e Boettner diz que “ele foi muito além dos primeiros teólogos”. O mesmo Boettner admite que “esta verdade fundamental do Cristianismo [referindo-se ao calvinismo] foi claramente percebida primeiro por Agostinho”. Se Agostinho foi o primeiro, então todos os outros que viveram antes dele criam no contrário.
De fato, o próprio João Calvino reconhecia que, à exceção de Agostinho, os outros Pais da Igreja estavam contra ele. Ele disse:
“Tudo indica que grande preconceito atraí contra minha pessoa quando confessei que todos os escritores eclesiásticos, exceto Agostinho, nesta matéria se expressaram tão ambígua ou variadamente que de seus escritos não se pode ter coisa alguma certa. Ora, alguns haverão de interpretar isto exatamente como se os quisesse privar do direito de opinião, já que todos me são contrários”
Spurgeon também parece reconhecer isso. Ele tenta traçar uma “linhagem calvinista” de seus tempos para trás, passando por Bunyan, depois pelos Reformadores, depois por Huss e então por Agostinho, e então diz:
“Não podemos traçar nossa genealogia através de toda uma linhagem de homens como Newton, Whitefield, Owen e Bunyan diretamente até chegarmos a Calvino, Lutero e Zwinglio? Deles então podemos voltar a Savonarola, Jerônimo de Praga, a Huss e então de volta a Agostinho, o pregador mais poderoso do cristianismo. E de Santo Agostinho até Paulo é somente um passo!”
Interessante é notar que Spurgeon, ao invés de mostrar um único Pai da Igreja entre Paulo e Agostinho que cria no calvinismo, diz que “de Agostinho [século IV para o século V] para Paulo é somente um passo”, parecendo reconhecer que entre Paulo e Agostinho não houve sequer um único pregador calvinista, em um intervalo de quatro séculos! Veremos no segundo apêndice deste livro dezenas de citações de dezenas de Pais da Igreja confirmando a crença arminiana como a predominante nos primeiros séculos da Igreja, até a Reforma.
Isso nos mostra, como bem aponta Geisler, que, “com exceção do Agostinho posterior, nenhum teólogo importante da patrística até a Reforma sustentou essa ideia”, e que “se não fosse por um lapso na história da pré-Reforma, não teria havido ‘calvinistas’ extremados notáveis nos primeiros 1.500 anos da Igreja. Essa exceção é encontrada nos últimos escritos de Agostinho”. Foi por isso que Thomas Oden disse que “a remonstrância representou uma reapropriação substancial do consenso patrístico oriental pré-agostiano”.
Então, temos um quadro em que uma doutrina (arminianismo) foi pregada unanimemente por todos os Pais da Igreja exceto Agostinho, até chegar a Jacó Armínio, e outra (calvinismo) em que quase ninguém creu nisso durante quinze séculos, excetuando Agostinho e alguns poucos nomes, sendo “restaurado” por João Calvino e outros reformadores.
Com que moral, então, um calvinista acusa o arminianismo de heterodoxia? Se ele quer mesmo ser intelectualmente honesto, deverá reconhecer que o arminianismo é a posição ortodoxa na Igreja em todos os séculos e que o calvinismo nada mais é senão um lapso na história pré-Reforma, que não tem nada de ortodoxo, a não ser que a ortodoxia que resuma a Agostinho.
Outra tática de calvinistas é expor nomes pós-Reforma (como um quadro comparativo) de teólogos calvinistas e teólogos arminianos, para depois dizer que os mais notáveis estão entre eles, e, portanto, são a “posição ortodoxa”. Essa tática foi empregada, por exemplo, por R. C. Sproul em seu livro “Eleitos de Deus”, quando ele traçou o seguinte quadro comparativo:
VISÃO REFORMADA VISÕES OPONENTES
Sto. Agostinho Pelágio
Sto. Tomás de Aquino Armínio
Martinho Lutero Felipe Melanchton
João Calvino John Wesley
Jonathan Edwards Charles Finney
Este quadro por si só já é tendencioso, pois ele coloca Pelágio no mesmo grupo dos arminianos, ignora diversos nomes notáveis do arminianismo (como todos os outros Pais da Igreja à exceção de Agostinho) e ainda inclui na lista “calvinista” nomes que nunca assinariam embaixo os cinco pontos da TULIP. Se Tomás de Aquino fosse “reformado”, Calvino nunca teria refutado a sua visão sobre a predestinação nas Institutas.
Em seu terceiro volume das Institutas, Calvino dedica um tópico apenas para refutar Aquino, intitulado: “Não é procedente a cavilação de Tomás de Aquino de que a predestinação diz respeito à graça mercê da qual extraímos méritos que são objeto da presciência divina”. Então, o que o nome de Tomás de Aquino está fazendo ali? E quanto a Martinho Lutero, que foi um enfático pregador de que o crente pode perder a salvação e que Cristo morreu por todos?
Contra a expiação limitada, Lutero disse:
“[Cristo] não ajuda apenas contra um pecado, mas contra todos os meus pecados; e não contra meu pecado apenas, mas contra o pecado de todo o mundo. Ele vem para levar não apenas a doença, mas a morte; e não minha morte apenas, mas a morte de todo o mundo”
Lutero cria na expiação ilimitada, e essa é a razão pela qual as igrejas luteranas creem que Cristo morreu por todos. Lutero também descria na dupla predestinação de Calvino e zombava daqueles que criam que o crente não pode perder a salvação, chamando-os de “pessoas tolas”:
“Alguns fanáticos podem parecer (e talvez eles estão já presentes, como eu vi com meus próprios olhos no tempo da revolta) que mantém que assim que eles receberam o Espírito do perdão de pecados, ou assim que eles se tornaram crentes, eles irão perseverar na fé mesmo se eles pecarem depois, e tal pecado não irá prejudicá-los. Eles gritam, ‘Faça o que você quiser, não importa contanto que você creia, pois a fé apaga todos os pecados’, etc. Eles adicionam que se alguém peca depois que recebeu a fé e o Espírito, ele nunca realmente teve o Espírito e a fé. Eu encontrei muitas pessoas tolas como estas e eu temo que tal demônio ainda reside em alguns deles”
E também:
“É então necessário saber e ensinar que, além do fato de que eles ainda possuem e sentem o pecado original e diariamente se arrependem e lutam contra ele, quando homens santos caem em pecado abertamente (como Davi caiu em adultério, assassinado e blasfêmia), a fé e o Espírito abandonaram eles”
Portanto, ainda que Lutero cresse em alguns princípios calvinistas, ele estava longe, muito longe de crer em tudo. É por isso que Calvino não citou Lutero nem uma única vez em todos os quatro volumes das Institutas, embora tenha citado diversos outros autores em várias ocasiões diferentes para justificar suas teses. Se Lutero estivesse no Sínodo de Dort, seria mais provável que ele se unisse aos remonstrantes do que aos calvinistas. E vale sempre ressaltar que o braço direito de Lutero, Felipe Melanchton, era sinergista, como reconhece Sproul, o colocando na lista de “visões opostas” ao calvinismo.
Nos tempos modernos, é fato que existem extraordinários pregadores calvinistas, assim como existem extraordinários pregadores arminianos. Assim como os calvinistas tem nomes fortes como Charles Spurgeon, John Piper e Paul Washer, os arminianos têm C. S. Lewis, Norman Geisler, Billy Graham e outros. É simplesmente tolo argumentar em favor da ortodoxia expondo uma lista de nomes proeminentes na teologia, pois isso não define a verdade e nós temos tantos nomes (ou mais) do que eles.
Jerry Walls também observa que “os calvinistas não tomam conta da academia de filosofia - William Lane Craig e Alvin Plantinga, por exemplo, dois filósofos protestantes renomados, são arminianos”. Quando Craig debateu com o ateu Christopher Hitchens e foi indagado por este sobre se ele considerava alguma denominação cristã falsa, ele respondeu:
“Certamente. Eu não sou um calvinista, por exemplo. Eu acho que certos dogmas da teologia reformada estão incorretos. Eu estou mais no campo wesleyano”
Finalmente, devemos ressaltar que a acusação de heterodoxia por parte dos calvinistas é simplesmente falsa e difamatória. O pai da teologia liberal, Friedrich Schleiermacher, era calvinista e sequer foi tocado pelo arminianismo. E os calvinistas se esquecem de mencionar que o mesmo concílio que declarou o pelagianismo herético também condenou aquilo que viria a ser calvinismo. O Sínodo de Orange (529) condenou qualquer crença de que Deus tenha determinado o pecado. Ele definiu:
“Não só não aceitamos que certos homens têm sido predestinados ao mal pela divina disposição, mas lançamos anátemas horrorizados contra quem pensar coisa tão perversa”
Da mesma forma, o Concílio de Kiersy (853) declarou:
“Deus conheceu pela sua presciência os que devem se perder, mas ele não os predestinou a se perderem. Porque Deus é justo, ele predestinou uma pena eterna para a sua falta”
E o Concílio de Valença (855), sete séculos antes de Calvino, condenou exatamente aquilo que foi explicitamente ensinado por Calvino, que alguns homens são predestinados ao mal pelo poder de Deus:
“Com o concílio de Orange nós lançamos o anátema a todos os que disserem que alguns homens são predestinados para o mal pelo poder de Deus”
Portanto, se devemos considerar alguma doutrina não-ortodoxa, essa é certamente o calvinismo, que foi condenado pelos mesmos concílios que condenaram heresias como pelagianismo e semipelagianismo. O arminianismo nunca foi condenado em concílio nenhum até a época da Reforma, foi crido por todos os Pais da Igreja à exceção de um, e hoje possui grandes teólogos, filósofos e pregadores de nome tão forte quanto os próprios calvinistas. A acusação de heterodoxia é, portanto, simplesmente injuriosa – mais um espantalho.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Últimas considerações
Ainda é cedo para chegarmos a alguma conclusão, mas o que até aqui foi dito deve, pelo menos, alertar o calvinista quanto ao erro de atacar um arminianismo que não conhece. Acusações e comparações com o pelagianismo, semipelagianismo, heterodoxia ou com qualquer forma de heresia anticristã não funciona contra um arminiano bem preparado, embora possa ter certo sucesso contra arminianos que nunca leram Armínio nem tiveram contato com o verdadeiro arminianismo clássico.
Vimos que a TULIP calvinista é um sistema fechado, em que todo o conjunto depende da veracidade de cada um dos pontos. Cada um deles será analisado com atenção em um capítulo próprio no livro, mas por hora cabe ressaltar que não é possível, como muitos pensam, ter uma opinião formada e ao mesmo tempo não pender nem para o calvinismo nem para o arminianismo, assim como não é logicamente consistente alguma forma doutrinária que tente unir ambos os ensinos, pois em muitos aspectos eles são contraditórios um ao outro. O leitor deverá tomar uma decisão, pois não há meio termo em se tratando da doutrina da salvação.
Vimos também que o arminianismo clássico difere daquele que é popularmente conhecido, e que muitos pontos supostamente rejeitados pelos arminianos foram, na verdade, cridos sem ressalva por Armínio e pelos remonstrantes. Arminianos clássicos creem no pecado original, na depravação herdada, na depravação total, na justificação pela fé, na total dependência e necessidade da graça, em Deus iniciando a salvação, na fé como um dom de Deus, na regeneração (parcial) precedendo a fé. Enfatizar o arminianismo verdadeiro evitaria que pessoas instruídas e bem intencionadas pendessem para o outro extremo por não encontrar outra opção senão o calvinismo quando se depara com estes temas e percebe que tais ensinos são bíblicos.
Vimos também que o termo “calvinismo”, embora possua uma estrutura (o acróstico “TULIP”), é vago no sentido de que se divide em pelo menos dois extremos (moderado e extremado), e cada qual tenta assumir para si o centro, declarando-se os “verdadeiros calvinistas”, embora o conceito de hipercalvinismo em si mesmo se difira do calvinismo moderado mais em aspectos práticos do que em teóricos, pois seguem as consequencias lógicas de sua própria tese – o que seria, como entendem também os calvinistas moderados, o extermínio do evangelismo e dos princípios bíblicos mais básicos.
O debate entre calvinismo e arminianismo continua. Ambas são doutrinas da salvação possíveis, mas apenas uma delas pode estar certa. Calvinistas e arminianos são cristãos, mas apenas um deles honra a Bíblia no sentido completo em termos soteriológicos. E isso, como veremos mais adiante, pode interferir em nossa própria vida com Deus, na necessidade de oração, de pregação, de evangelização, e em como vemos a Deus – se como um tirano ou como o Salvador do mundo.
Convido o leitor a prosseguir a leitura, onde, a partir de agora, os argumentos calvinistas serão analisados e refutados pela razão e pela Escritura, a fim de estarmos mais certos sobre quem está com a razão – calvinismo ou arminianismo?
Ainda é cedo para chegarmos a alguma conclusão, mas o que até aqui foi dito deve, pelo menos, alertar o calvinista quanto ao erro de atacar um arminianismo que não conhece. Acusações e comparações com o pelagianismo, semipelagianismo, heterodoxia ou com qualquer forma de heresia anticristã não funciona contra um arminiano bem preparado, embora possa ter certo sucesso contra arminianos que nunca leram Armínio nem tiveram contato com o verdadeiro arminianismo clássico.
Vimos que a TULIP calvinista é um sistema fechado, em que todo o conjunto depende da veracidade de cada um dos pontos. Cada um deles será analisado com atenção em um capítulo próprio no livro, mas por hora cabe ressaltar que não é possível, como muitos pensam, ter uma opinião formada e ao mesmo tempo não pender nem para o calvinismo nem para o arminianismo, assim como não é logicamente consistente alguma forma doutrinária que tente unir ambos os ensinos, pois em muitos aspectos eles são contraditórios um ao outro. O leitor deverá tomar uma decisão, pois não há meio termo em se tratando da doutrina da salvação.
Vimos também que o arminianismo clássico difere daquele que é popularmente conhecido, e que muitos pontos supostamente rejeitados pelos arminianos foram, na verdade, cridos sem ressalva por Armínio e pelos remonstrantes. Arminianos clássicos creem no pecado original, na depravação herdada, na depravação total, na justificação pela fé, na total dependência e necessidade da graça, em Deus iniciando a salvação, na fé como um dom de Deus, na regeneração (parcial) precedendo a fé. Enfatizar o arminianismo verdadeiro evitaria que pessoas instruídas e bem intencionadas pendessem para o outro extremo por não encontrar outra opção senão o calvinismo quando se depara com estes temas e percebe que tais ensinos são bíblicos.
Vimos também que o termo “calvinismo”, embora possua uma estrutura (o acróstico “TULIP”), é vago no sentido de que se divide em pelo menos dois extremos (moderado e extremado), e cada qual tenta assumir para si o centro, declarando-se os “verdadeiros calvinistas”, embora o conceito de hipercalvinismo em si mesmo se difira do calvinismo moderado mais em aspectos práticos do que em teóricos, pois seguem as consequencias lógicas de sua própria tese – o que seria, como entendem também os calvinistas moderados, o extermínio do evangelismo e dos princípios bíblicos mais básicos.
O debate entre calvinismo e arminianismo continua. Ambas são doutrinas da salvação possíveis, mas apenas uma delas pode estar certa. Calvinistas e arminianos são cristãos, mas apenas um deles honra a Bíblia no sentido completo em termos soteriológicos. E isso, como veremos mais adiante, pode interferir em nossa própria vida com Deus, na necessidade de oração, de pregação, de evangelização, e em como vemos a Deus – se como um tirano ou como o Salvador do mundo.
Convido o leitor a prosseguir a leitura, onde, a partir de agora, os argumentos calvinistas serão analisados e refutados pela razão e pela Escritura, a fim de estarmos mais certos sobre quem está com a razão – calvinismo ou arminianismo?
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
CAP.5 – A GRAÇA É IRRESISTÍVEL?
“A graça de Deus é livre em todos e livre para todos” (JOHN WESLEY)
• Introdução ao Capítulo
Embora calvinistas e arminianos concordem quanto à depravação total e na plena necessidade da graça para a salvação, eles discordam em um ponto importante, que é no modus operandi desta graça preveniente. Calvinistas creem que esta graça que precede a salvação atua somente nos eleitos. Os não-eleitos não são alvos da graça salvífica, mas meramente de uma “graça comum”. Essa graça comum não tem qualquer propósito salvífico, mas atua meramente para impedir que os homens sejam ainda piores do que são.
Desta forma, se um incrédulo e não-eleito ajuda uma velhinha a atravessar a rua, é por causa da graça comum, que Deus distribui a todos, no concernente às coisas deste mundo. Essa graça, no entanto, é insuficiente para se chegar a Deus e ser salvo, pois a graça preveniente salvífica (que alguns calvinistas chamam de “graça especial”) atua somente e unicamente nos eleitos. Portanto, os calvinistas creem em uma graça especial limitada, que não oferece oportunidade de salvação para todos, e onde a possibilidade de salvação se limita aos eleitos. Os outros não tem sequer uma chance.
Os arminianos, ao contrário, creem na graça comum, mas também creem em uma graça preveniente universal. Isso significa que Deus dá oportunidade de salvação a todos, e que a razão pela qual muitas pessoas não são salvas não é porque Deus não as escolheu ou porque ele não quis assim, mas por culpa das próprias pessoas que rejeitaram o convite divino. Deus estende seu convite a todos e dá real oportunidade de salvação a todo ser humano, por meio de uma graça universal, ilimitada e livre para todos.
E isso entra no outro ponto que difere calvinistas e arminianos: se esta graça é oferecida a todos, mas nem todos são salvos, é porque nem todos a recebem. Em outras palavras, essa graça é resistível, no conceito arminiano. Os calvinistas, ao contrário, creem em uma graça irresistível, porque ela atua somente nos eleitos e estes não podem não ser salvos, não podem resistir à graça. Não deveríamos ver exemplos na Bíblia de pessoas resistindo a uma graça especial, segundo os calvinistas. Iremos começar analisando a extensão da graça, se ela é mesmo limitada ou se é universal.
“A graça de Deus é livre em todos e livre para todos” (JOHN WESLEY)
• Introdução ao Capítulo
Embora calvinistas e arminianos concordem quanto à depravação total e na plena necessidade da graça para a salvação, eles discordam em um ponto importante, que é no modus operandi desta graça preveniente. Calvinistas creem que esta graça que precede a salvação atua somente nos eleitos. Os não-eleitos não são alvos da graça salvífica, mas meramente de uma “graça comum”. Essa graça comum não tem qualquer propósito salvífico, mas atua meramente para impedir que os homens sejam ainda piores do que são.
Desta forma, se um incrédulo e não-eleito ajuda uma velhinha a atravessar a rua, é por causa da graça comum, que Deus distribui a todos, no concernente às coisas deste mundo. Essa graça, no entanto, é insuficiente para se chegar a Deus e ser salvo, pois a graça preveniente salvífica (que alguns calvinistas chamam de “graça especial”) atua somente e unicamente nos eleitos. Portanto, os calvinistas creem em uma graça especial limitada, que não oferece oportunidade de salvação para todos, e onde a possibilidade de salvação se limita aos eleitos. Os outros não tem sequer uma chance.
Os arminianos, ao contrário, creem na graça comum, mas também creem em uma graça preveniente universal. Isso significa que Deus dá oportunidade de salvação a todos, e que a razão pela qual muitas pessoas não são salvas não é porque Deus não as escolheu ou porque ele não quis assim, mas por culpa das próprias pessoas que rejeitaram o convite divino. Deus estende seu convite a todos e dá real oportunidade de salvação a todo ser humano, por meio de uma graça universal, ilimitada e livre para todos.
E isso entra no outro ponto que difere calvinistas e arminianos: se esta graça é oferecida a todos, mas nem todos são salvos, é porque nem todos a recebem. Em outras palavras, essa graça é resistível, no conceito arminiano. Os calvinistas, ao contrário, creem em uma graça irresistível, porque ela atua somente nos eleitos e estes não podem não ser salvos, não podem resistir à graça. Não deveríamos ver exemplos na Bíblia de pessoas resistindo a uma graça especial, segundo os calvinistas. Iremos começar analisando a extensão da graça, se ela é mesmo limitada ou se é universal.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• A Universalidade da Graça
Uma graça limitada era exatamente aquilo que mais irritava Wesley. Ele não se conformava que um Deus de amor e misericórdia como a Bíblia o descreve fosse alguém que limitasse a sua graça e que desse oportunidade de salvação somente a uma pequena parcela da população mundial, deixando os outros com a única possibilidade do inferno. Sua frase: “a graça de Deus é livre em todos e livre para todos” foi uma das mais marcantes. Um portal metodista descreve este sentimento de Wesley, dizendo:
“Mas terá Deus distribuido a sua graça com todos os seres humanos? É aqui que Wesley se torna mais enfático. Nem mesmo as doutrinas católico-romanas provocaram-lhe tão grande ira quanto à propagada ideia ao seu tempo de que Deus havia escolhido uns quantos para a salvação, deixando a grande maioria perecer nos seus próprios pecados. A chamada doutrina da reprovação, a de que Deus não apenas não se importa com milhões, mas deliberadamente os predestinou à perdição, enchia Wesley de horror, que a considerava uma terrível blasfêmia contra Deus, pois o considerava injusto, cruel e mentiroso”
O fato é que em toda a Bíblia vemos que Wesley tinha razão, e que a universalidade da graça é fortemente proclamada. Ela nunca diz que a graça de Deus é limitada a alguns poucos, mas há abundantes citações de que ela é ilimitada e se revela a todos os homens, até mesmo àqueles que a rejeitam.
Paulo, por exemplo, nos disse que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt.2:11). Aqui ele obviamente não está falando de uma graça comum, mas de uma graça salvífica, que Paulo identifica como sendo uma “graça salvadora”. Ele não diz que ela se manifestou apenas para alguns poucos (os eleitos), mas a todos os homens.
Parece impossível ser mais claro que isso, mas João também repete com Paulo que “estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina todos os homens” (Jo.1:9). João também não estava falando meramente de uma graça comum sem relação com a salvação, pois ele diz no contexto que essa graça tinha o fim “de que por meio dele todos os homens cressem” (Jo.1:7). Portanto, estamos falando de uma graça com finalidade salvífica, que é oferecida a todos os homens, mas que nem todos a recebem. Foi por isso que João disse:
“Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (João 1:10,11)
Assim, vemos que:
• Deus oferece sua graça a todos os homens (v.9).
• Essa graça era uma graça salvífica, pois João diz que tinha por finalidade que todos os homens cressem (v.7).
• Porém, nem todos os homens creem. A razão para isso é explicada nos versos seguintes: porque nem todos reconhecem e recebem a Cristo – muitos rejeitam essa graça que lhes é oferecida (vs.10-11).
Sobre este texto de João, Vance observa:
“A negação tripla enfatiza o fato de que a fonte do novo nascimento é ‘de Deus’ e não do homem. E por que Deus dá a alguém o novo nascimento? Deus dá o novo nascimento a ‘tanto quantos o receberam’. O novo nascimento é obra de Deus, mas receber a Cristo é a parte do homem”
A universalidade desta graça salvadora é a única coisa que explica Deus ter dito em Isaías:
“Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da terra; pois eu sou Deus, e não há nenhum outro” (Isaías 45:22)
Como que todos, desde os “confins da terra”, poderiam se voltar para Deus? Logicamente, somente porque Deus derrama uma graça salvadora sobre todos os homens, desde os confins da terra, dando oportunidade real a todos. Foi por isso que Jesus disse:
“Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28)
Olson observa que “Cristo é o novo Adão (Rm 5) que é o novo líder da raça; ele não veio unicamente para salvar alguns, mas para fornecer um recomeço para todos. Uma medida de graça preveniente se estende por meio de Cristo a toda pessoa que nasce (Jo 1)”. Todo este conceito é diametralmente oposto ao que Calvino ensinava, onde os não-eleitos são privados até mesmo da capacidade de ver, obedecer ou seguir a Cristo:
“Com razão se diz que ele cega, endurece, inclina àqueles a quem priva da capacidade de ver, de obedecer, de seguir retamente”
Enquanto na Bíblia vemos Deus oferecendo uma graça salvífica a todos os homens e que a razão pela qual nem todos não salvos é porque nem todos aceitam esta graça, na teologia calvinista Deus não oferece a graça especial a todos, nem uma oportunidade a todos, mas decide que uma enorme parcela da população mundial seja privada de qualquer chance de obedecer a Deus. Assim, a razão pela qual um arminiano crê que um não-salvo é condenado é porque ele resistiu a Deus, enquanto o calvinista crê que a causa primeira foi porque Deus o privou, e o deixou sem chances de fazer outra coisa a não ser desobedecê-lo.
No calvinismo, todos morrem em Adão, mas apenas alguns têm oportunidade de salvação em Cristo. Deus colocou todos sob a desobediência para exercer misericórdia apenas para com alguns. Esse Deus estende suas mãos apenas para alguns – que não podem recusar o convite – e ignora a grande maioria, sem sequer estender suas mãos para eles, pois já decretou que eles devem ir para o inferno. Seria difícil compreender versículos como estes:
“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (Romanos 5:20,21)
“Pois Deus colocou todos sob a desobediência, para exercer misericórdia para com todos” (Romanos 11:32)
O pecado abundou sobre todos os seres humanos, mas a graça superabundou apenas sobre alguns? Se o pecado atuou sobre todos e Paulo chama de abundante, como a graça salvadora é oferecida apenas a alguns, se ela é mais que abundante? E Deus teria colocado todos sob a desobediência para exercer misericórdia apenas para com alguns? A lógica e o bom senso nos dizem que versos como estes exigem que a graça salvadora de Deus tenha uma extensão tão grande quanto a extensão que o pecado teve – e isso abrange todo ser humano.
Uma graça limitada era exatamente aquilo que mais irritava Wesley. Ele não se conformava que um Deus de amor e misericórdia como a Bíblia o descreve fosse alguém que limitasse a sua graça e que desse oportunidade de salvação somente a uma pequena parcela da população mundial, deixando os outros com a única possibilidade do inferno. Sua frase: “a graça de Deus é livre em todos e livre para todos” foi uma das mais marcantes. Um portal metodista descreve este sentimento de Wesley, dizendo:
“Mas terá Deus distribuido a sua graça com todos os seres humanos? É aqui que Wesley se torna mais enfático. Nem mesmo as doutrinas católico-romanas provocaram-lhe tão grande ira quanto à propagada ideia ao seu tempo de que Deus havia escolhido uns quantos para a salvação, deixando a grande maioria perecer nos seus próprios pecados. A chamada doutrina da reprovação, a de que Deus não apenas não se importa com milhões, mas deliberadamente os predestinou à perdição, enchia Wesley de horror, que a considerava uma terrível blasfêmia contra Deus, pois o considerava injusto, cruel e mentiroso”
O fato é que em toda a Bíblia vemos que Wesley tinha razão, e que a universalidade da graça é fortemente proclamada. Ela nunca diz que a graça de Deus é limitada a alguns poucos, mas há abundantes citações de que ela é ilimitada e se revela a todos os homens, até mesmo àqueles que a rejeitam.
Paulo, por exemplo, nos disse que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt.2:11). Aqui ele obviamente não está falando de uma graça comum, mas de uma graça salvífica, que Paulo identifica como sendo uma “graça salvadora”. Ele não diz que ela se manifestou apenas para alguns poucos (os eleitos), mas a todos os homens.
Parece impossível ser mais claro que isso, mas João também repete com Paulo que “estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina todos os homens” (Jo.1:9). João também não estava falando meramente de uma graça comum sem relação com a salvação, pois ele diz no contexto que essa graça tinha o fim “de que por meio dele todos os homens cressem” (Jo.1:7). Portanto, estamos falando de uma graça com finalidade salvífica, que é oferecida a todos os homens, mas que nem todos a recebem. Foi por isso que João disse:
“Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (João 1:10,11)
Assim, vemos que:
• Deus oferece sua graça a todos os homens (v.9).
• Essa graça era uma graça salvífica, pois João diz que tinha por finalidade que todos os homens cressem (v.7).
• Porém, nem todos os homens creem. A razão para isso é explicada nos versos seguintes: porque nem todos reconhecem e recebem a Cristo – muitos rejeitam essa graça que lhes é oferecida (vs.10-11).
Sobre este texto de João, Vance observa:
“A negação tripla enfatiza o fato de que a fonte do novo nascimento é ‘de Deus’ e não do homem. E por que Deus dá a alguém o novo nascimento? Deus dá o novo nascimento a ‘tanto quantos o receberam’. O novo nascimento é obra de Deus, mas receber a Cristo é a parte do homem”
A universalidade desta graça salvadora é a única coisa que explica Deus ter dito em Isaías:
“Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da terra; pois eu sou Deus, e não há nenhum outro” (Isaías 45:22)
Como que todos, desde os “confins da terra”, poderiam se voltar para Deus? Logicamente, somente porque Deus derrama uma graça salvadora sobre todos os homens, desde os confins da terra, dando oportunidade real a todos. Foi por isso que Jesus disse:
“Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28)
Olson observa que “Cristo é o novo Adão (Rm 5) que é o novo líder da raça; ele não veio unicamente para salvar alguns, mas para fornecer um recomeço para todos. Uma medida de graça preveniente se estende por meio de Cristo a toda pessoa que nasce (Jo 1)”. Todo este conceito é diametralmente oposto ao que Calvino ensinava, onde os não-eleitos são privados até mesmo da capacidade de ver, obedecer ou seguir a Cristo:
“Com razão se diz que ele cega, endurece, inclina àqueles a quem priva da capacidade de ver, de obedecer, de seguir retamente”
Enquanto na Bíblia vemos Deus oferecendo uma graça salvífica a todos os homens e que a razão pela qual nem todos não salvos é porque nem todos aceitam esta graça, na teologia calvinista Deus não oferece a graça especial a todos, nem uma oportunidade a todos, mas decide que uma enorme parcela da população mundial seja privada de qualquer chance de obedecer a Deus. Assim, a razão pela qual um arminiano crê que um não-salvo é condenado é porque ele resistiu a Deus, enquanto o calvinista crê que a causa primeira foi porque Deus o privou, e o deixou sem chances de fazer outra coisa a não ser desobedecê-lo.
No calvinismo, todos morrem em Adão, mas apenas alguns têm oportunidade de salvação em Cristo. Deus colocou todos sob a desobediência para exercer misericórdia apenas para com alguns. Esse Deus estende suas mãos apenas para alguns – que não podem recusar o convite – e ignora a grande maioria, sem sequer estender suas mãos para eles, pois já decretou que eles devem ir para o inferno. Seria difícil compreender versículos como estes:
“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (Romanos 5:20,21)
“Pois Deus colocou todos sob a desobediência, para exercer misericórdia para com todos” (Romanos 11:32)
O pecado abundou sobre todos os seres humanos, mas a graça superabundou apenas sobre alguns? Se o pecado atuou sobre todos e Paulo chama de abundante, como a graça salvadora é oferecida apenas a alguns, se ela é mais que abundante? E Deus teria colocado todos sob a desobediência para exercer misericórdia apenas para com alguns? A lógica e o bom senso nos dizem que versos como estes exigem que a graça salvadora de Deus tenha uma extensão tão grande quanto a extensão que o pecado teve – e isso abrange todo ser humano.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• A graça é resistível e precisa ser aceita
Antes de mostrarmos o que a Bíblia diz, é necessário mostrarmos o que Calvino disse, para estabelecermos o contraste. Como ele ensinava que a graça é irresistível, ele era obrigado a crer que a causa primeira pela qual alguém está no pecado é porque Deus não entendeu sua graça a essa pessoa, e não porque essa pessoa rejeitou a graça oferecida a ela. Ele disse que “a fonte de sua cegueira é o fato de Deus não se dignar manifestar-lhes seu braço”. Contra aqueles que criam que o homem pode resistir à graça, ele disse:
“Esse erro nasceu daí, a saber, que os homens pensavam estar em nosso arbítrio rejeitar ou aceitar a graça de Deus oferecida, refugada esta opinião, também aquele por si só se esboroa”
Sendo assim, a razão pela qual o pecador peca é porque Deus o abandonou:
“Profeta diz ser redimido pela mão de um mais forte [Jr 31.11], significando com isso de quão apertados grilhões está amarrado o pecador por todo o tempo em que, abandonado pelo Senhor, age debaixo do jugo do Diabo”
Por isso, a razão pela qual uns perseveram e outros pecam é porque Deus estende sua graça a uns e não a outros:
“Se se procura a causa da diferença, por que uns perseveram constantes, outros por instabilidade desfalecem, não nos é mostrada nenhuma outra causa senão que àqueles, firmados por seu poder, o Senhor os sustenta para que não pereçam; a estes não lhes ministra o mesmo poder, para que sejam exemplos de inconstância”
Se o pecador peca, ele peca em virtude da ausência da graça, que Deus não lhe quis dar:
“Portanto, por que ao Senhor não importunam para que assim não labore em vão exigindo dos homens aquilo que só ele pode dar e castigando aquilo que se comete em virtude da ausência de sua graça?”
Quanto aos eleitos, ele diz que eles não podem resistir à graça de Deus:
“E Deus move a vontade, não da maneira como por muitos séculos se ensinou e
se creu – que seja de nossa escolha em seguida obedecer ou resistir à operação de Deus –, ao contrário, dispondo-a eficazmente. Logo, é necessário que se repudie tal afirmação tantas vezes repetida por Crisóstomo: ‘Aquele a quem Deus atrai, atrai querendo’, com que insinua que o Senhor apenas espera, de mão estendida, se porventura nos agrade sermos ajudados por seu auxílio”
Vemos que Calvino rejeitava a tese de que “o Senhor espera de mão estendida”, em um gesto gracioso de oferta de uma graça livre, que pode ser aceita ou recusada. Deus, no calvinismo, não é como um cavalheiro que oferece a graça a todos com as mãos estendidas para o pobre pecador, mas é como um déspota que ignora a maioria dos pecadores e que sequer lhes estende as mãos, mas arrebata para si alguns “eleitos”, mesmo contra a vontade deles.
A Bíblia, diferente de Calvino, apresenta um arsenal incontestável de citações onde um Deus amoroso estende as suas mãos a um povo que o rejeita. O apóstolo Paulo diz que Deus “todo o dia estendeu as suas mãos a um povo rebelde e desobediente” (Rm.10:21). Ele fazia uma citação ao texto de Isaías, onde Deus diz:
“O tempo todo estendi as mãos a um povo obstinado, que anda por um caminho que não é bom, seguindo as suas inclinações” (Isaías 65:2)
Então, vemos que, biblicamente, Deus estende as suas mãos a pessoas obstinadas, rebeldes, desobedientes e que o rejeitam. Ele não se digna a estender suas mãos apenas para os eleitos, como cria Calvino, mas a estende a todos, inclusive àqueles que o rejeitam. Seria simplesmente ridículo se esse Deus que estende suas mãos tentando salvar um pecador desobediente é o mesmo Deus que determinou que este pecador fosse desobediente e que rejeitasse a Sua oferta.
Se fosse assim, tudo não passaria de uma peça teatral, onde Deus finge querer salvar o pecador, quando, na verdade, ele já predestinou este pecador ao inferno. A sinceridade e honestidade neste gesto de estender as mãos seria tão grande quanto o beijo de Judas. Mas o que a Bíblia realmente ensina é que Deus estendeu seu braço para resgatá-los, porque ele buscava a salvação daquelas pessoas, que o rejeitaram:
“Quando eu vim, por que não encontrei ninguém? Quando eu chamei, por que ninguém respondeu? Será que meu braço era curto demais para resgatá-los? Será que me falta a força para redimi-los? Com uma simples repreensão eu seco o mar, transformo rios em deserto; seus peixes apodrecem por falta de água e morrem de sede” (Isaías 50:2)
O que Deus está dizendo neste texto de Isaías é que a razão pela qual eles não foram resgatados não foi por uma omissão divina ou retenção da graça, pois ele buscou, chamou e estendeu suas mãos ao pecador, com a finalidade de que eles fossem redimidos. Seu braço não era curto, seu chamado não era falso, sua força não era limitada. A razão da perdição daquelas pessoas é em função da própria desobediência delas, em recusar a graça salvadora que lhes estava sendo ofertada.
Não era porque Deus não quis, e muito menos porque ele não chamou ou não se dignou a estender suas mãos. Deus fez toda a sua parte para a salvação deles, mas eles não fizeram a parte deles, que meramente se resumia em aceitar essa graça oferecida. As parábolas de Jesus ilustram muito bem isso. Sempre Deus chamava a todos, mas alguns eram desobedientes ou recusavam a oferta. Em uma de suas parábolas, ele disse:
“Então disse a seus servos: ‘O banquete de casamento está pronto, mas os meus convidados não eram dignos. Vão às esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês encontrarem’. Então os servos saíram para as ruas e reuniram todas as pessoas que puderam encontrar, gente boa e gente má, e a sala do banquete de casamento ficou cheia de convidados. Mas quando o rei entrou para ver os convidados, notou ali um homem que não estava usando veste nupcial. E lhe perguntou: ‘Amigo, como você entrou aqui sem veste nupcial? ’ O homem emudeceu. Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrem-lhe as mãos e os pés, e lancem-no para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes’” (Mateus 22:8-13)
Primeiro: todos foram convidados. Segundo: a sala do banquete ficou cheia de convidados. Terceiro: nem todos os convidados obedeceram, pois alguns recusaram a veste nupcial. Deus convida a todos; alguns aceitam e outros rejeitam. Em outra parábola, ele contou:
“O Reino dos céus é como um rei que preparou um banquete de casamento para seu filho. Enviou seus servos aos que tinham sido convidados para o banquete, dizendo-lhes que viessem; mas eles não quiseram vir. De novo enviou outros servos e disse: ‘Digam aos que foram convidados que preparei meu banquete: meus bois e meus novilhos gordos foram abatidos, e tudo está preparado. Venham para o banquete de casamento!’ Mas eles não lhes deram atenção e saíram, um para o seu campo, outro para os seus negócios” (Mateus 22:2-5)
Antes de mostrarmos o que a Bíblia diz, é necessário mostrarmos o que Calvino disse, para estabelecermos o contraste. Como ele ensinava que a graça é irresistível, ele era obrigado a crer que a causa primeira pela qual alguém está no pecado é porque Deus não entendeu sua graça a essa pessoa, e não porque essa pessoa rejeitou a graça oferecida a ela. Ele disse que “a fonte de sua cegueira é o fato de Deus não se dignar manifestar-lhes seu braço”. Contra aqueles que criam que o homem pode resistir à graça, ele disse:
“Esse erro nasceu daí, a saber, que os homens pensavam estar em nosso arbítrio rejeitar ou aceitar a graça de Deus oferecida, refugada esta opinião, também aquele por si só se esboroa”
Sendo assim, a razão pela qual o pecador peca é porque Deus o abandonou:
“Profeta diz ser redimido pela mão de um mais forte [Jr 31.11], significando com isso de quão apertados grilhões está amarrado o pecador por todo o tempo em que, abandonado pelo Senhor, age debaixo do jugo do Diabo”
Por isso, a razão pela qual uns perseveram e outros pecam é porque Deus estende sua graça a uns e não a outros:
“Se se procura a causa da diferença, por que uns perseveram constantes, outros por instabilidade desfalecem, não nos é mostrada nenhuma outra causa senão que àqueles, firmados por seu poder, o Senhor os sustenta para que não pereçam; a estes não lhes ministra o mesmo poder, para que sejam exemplos de inconstância”
Se o pecador peca, ele peca em virtude da ausência da graça, que Deus não lhe quis dar:
“Portanto, por que ao Senhor não importunam para que assim não labore em vão exigindo dos homens aquilo que só ele pode dar e castigando aquilo que se comete em virtude da ausência de sua graça?”
Quanto aos eleitos, ele diz que eles não podem resistir à graça de Deus:
“E Deus move a vontade, não da maneira como por muitos séculos se ensinou e
se creu – que seja de nossa escolha em seguida obedecer ou resistir à operação de Deus –, ao contrário, dispondo-a eficazmente. Logo, é necessário que se repudie tal afirmação tantas vezes repetida por Crisóstomo: ‘Aquele a quem Deus atrai, atrai querendo’, com que insinua que o Senhor apenas espera, de mão estendida, se porventura nos agrade sermos ajudados por seu auxílio”
Vemos que Calvino rejeitava a tese de que “o Senhor espera de mão estendida”, em um gesto gracioso de oferta de uma graça livre, que pode ser aceita ou recusada. Deus, no calvinismo, não é como um cavalheiro que oferece a graça a todos com as mãos estendidas para o pobre pecador, mas é como um déspota que ignora a maioria dos pecadores e que sequer lhes estende as mãos, mas arrebata para si alguns “eleitos”, mesmo contra a vontade deles.
A Bíblia, diferente de Calvino, apresenta um arsenal incontestável de citações onde um Deus amoroso estende as suas mãos a um povo que o rejeita. O apóstolo Paulo diz que Deus “todo o dia estendeu as suas mãos a um povo rebelde e desobediente” (Rm.10:21). Ele fazia uma citação ao texto de Isaías, onde Deus diz:
“O tempo todo estendi as mãos a um povo obstinado, que anda por um caminho que não é bom, seguindo as suas inclinações” (Isaías 65:2)
Então, vemos que, biblicamente, Deus estende as suas mãos a pessoas obstinadas, rebeldes, desobedientes e que o rejeitam. Ele não se digna a estender suas mãos apenas para os eleitos, como cria Calvino, mas a estende a todos, inclusive àqueles que o rejeitam. Seria simplesmente ridículo se esse Deus que estende suas mãos tentando salvar um pecador desobediente é o mesmo Deus que determinou que este pecador fosse desobediente e que rejeitasse a Sua oferta.
Se fosse assim, tudo não passaria de uma peça teatral, onde Deus finge querer salvar o pecador, quando, na verdade, ele já predestinou este pecador ao inferno. A sinceridade e honestidade neste gesto de estender as mãos seria tão grande quanto o beijo de Judas. Mas o que a Bíblia realmente ensina é que Deus estendeu seu braço para resgatá-los, porque ele buscava a salvação daquelas pessoas, que o rejeitaram:
“Quando eu vim, por que não encontrei ninguém? Quando eu chamei, por que ninguém respondeu? Será que meu braço era curto demais para resgatá-los? Será que me falta a força para redimi-los? Com uma simples repreensão eu seco o mar, transformo rios em deserto; seus peixes apodrecem por falta de água e morrem de sede” (Isaías 50:2)
O que Deus está dizendo neste texto de Isaías é que a razão pela qual eles não foram resgatados não foi por uma omissão divina ou retenção da graça, pois ele buscou, chamou e estendeu suas mãos ao pecador, com a finalidade de que eles fossem redimidos. Seu braço não era curto, seu chamado não era falso, sua força não era limitada. A razão da perdição daquelas pessoas é em função da própria desobediência delas, em recusar a graça salvadora que lhes estava sendo ofertada.
Não era porque Deus não quis, e muito menos porque ele não chamou ou não se dignou a estender suas mãos. Deus fez toda a sua parte para a salvação deles, mas eles não fizeram a parte deles, que meramente se resumia em aceitar essa graça oferecida. As parábolas de Jesus ilustram muito bem isso. Sempre Deus chamava a todos, mas alguns eram desobedientes ou recusavam a oferta. Em uma de suas parábolas, ele disse:
“Então disse a seus servos: ‘O banquete de casamento está pronto, mas os meus convidados não eram dignos. Vão às esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês encontrarem’. Então os servos saíram para as ruas e reuniram todas as pessoas que puderam encontrar, gente boa e gente má, e a sala do banquete de casamento ficou cheia de convidados. Mas quando o rei entrou para ver os convidados, notou ali um homem que não estava usando veste nupcial. E lhe perguntou: ‘Amigo, como você entrou aqui sem veste nupcial? ’ O homem emudeceu. Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrem-lhe as mãos e os pés, e lancem-no para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes’” (Mateus 22:8-13)
Primeiro: todos foram convidados. Segundo: a sala do banquete ficou cheia de convidados. Terceiro: nem todos os convidados obedeceram, pois alguns recusaram a veste nupcial. Deus convida a todos; alguns aceitam e outros rejeitam. Em outra parábola, ele contou:
“O Reino dos céus é como um rei que preparou um banquete de casamento para seu filho. Enviou seus servos aos que tinham sido convidados para o banquete, dizendo-lhes que viessem; mas eles não quiseram vir. De novo enviou outros servos e disse: ‘Digam aos que foram convidados que preparei meu banquete: meus bois e meus novilhos gordos foram abatidos, e tudo está preparado. Venham para o banquete de casamento!’ Mas eles não lhes deram atenção e saíram, um para o seu campo, outro para os seus negócios” (Mateus 22:2-5)
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Mais uma vez, todos foram convidados para o banquete. Porém, nem todos quiseram ir. Muitos não deram atenção e saíram, amando mais suas próprias vidas do que o Reino de Deus. Novamente, Jesus ensina que Deus chama a todos em sua oferta misericordiosa de graça, mas nem todos aceitam este convite, porque ele não é irresistível. É por isso que o autor de Hebreus disse:
“Cuidado! Não rejeitem aquele que fala. Se os que se recusaram a ouvir aquele que os advertia na terra não escaparam, quanto mais nós, se nos desviarmos daquele que nos adverte dos céus?” (Hebreus 12:25)
Isso não faz sentido se a graça é irresistível e não pode ser rejeitada. Se a pessoa é eleita, ela não pode resistir à graça. Se ela não é eleita, então a graça salvífica não é oferecida a ela, e ela não pode rejeitar a algo que não lhe foi oferecido, da mesma forma que ninguém recusa um presente se ninguém lhe ofereceu um. De todos os modos, dizer para “não rejeitar” a graça seria inócuo e sem sentido, se o modus operandi desta graça é irresistível.
Em Apocalipse, João diz:
“E blasfemavam contra o Deus do céu, por causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram-se a arrepender-se das obras que haviam praticado” (Apocalipse 16:11)
Neste mesmo livro vemos a ilustração de Deus batendo à porta, esperando que o pecador a abra, para que ele possa cear com ele. Os calvinistas rejeitam essa ilustração e para isso argumentam que Deus não estava falando com os incrédulos, mas com a Igreja, porque essa carta foi escrita a uma igreja local, a de Laodiceia.
Ignoram, no entanto, que este texto não foi escrito para a Igreja como o Corpo místico de Cristo, mas para uma igreja nominal, uma congregação, que pode reunir cristãos verdadeiros e cristãos meramente nominais, mas que não vivem a sua fé. Que nem todos das igrejas locais eram obedientes, isso fica claro na leitura das cartas às sete igrejas e nas epístolas apostólicas.
Um crente da Igreja de Corinto, por exemplo, mantinha relações sexuais com sua madrasta, e Paulo disse para expulsá-lo da comunhão (1Co.5:1,2). Ele era um crente nominal, que frequentava uma comunidade cristã local, mas não era um verdadeiro cristão. Era um ímpio dentro de uma igreja. O mesmo ocorre com a igreja local de Laodiceia como um todo. Vejamos como Deus a descreve:
“Ao anjo da igreja em Laodiceia escreva: Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus. Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca. Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu. Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar” (Apocalipse 3:14-18)
Vemos que a igreja de Laodiceia era apenas uma igreja nominal, composta por cristãos de aparência, que não viviam a fé que professavam. Deus iria vomitá-los da sua boca, disse que eram espiritualmente miseráveis, dignos de compaixão, pobres, cegos e nus. Eles eram cegos espirituais, pois ainda precisavam comprar colírio para ungir seus olhos. Os cegos espirituais são uma figura dos descrentes que estão nas trevas, e não dos crentes que estão na luz. Portanto, essa igreja local de Laodiceia era tão corrompida quanto o mundo, e é a eles que Deus diz, logo em seguida, o seguinte:
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei na sua casa, e cearei com ele, e Ele comigo” (Apocalipse 3:20)
Desta forma, analisando dentro do contexto, vemos que essa declaração se aplica aos ainda não-salvos da mesma forma que se aplicou aos falsos crentes não-regenerados da igreja de Laodiceia. Deus bate à porta, como um cavalheiro esperando ser recebido. Ele não arromba a porta nem violenta a vontade do pecador para que ele abra. Ele não atrai com uma força irresistível. Ele oferece a sua graça e espera pacientemente que o pecador a receba em sua vida, para que Cristo entre em seu coração e faça toda a transformação necessária.
Essa função humana de abrir a porta, que decorre do livre-arbítrio de poder aceitar ou rejeitar algo, também foi destacada pelo apóstolo Paulo ao escrever aos efésios. Ele disse:
“Não vos embriagueis com vinho, que é uma fonte de devassidão, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18)
O ato de “encher” é atribuído às próprias pessoas. Embora seja Deus que possibilite este ato e capacite as pessoas a isto, cabe às próprias pessoas o colocarem em ação, ao não resistirem à graça divina. A NVI traduz por “deixem-se encher pelo Espírito” (v.18), mostrando que o enchimento não é um processo unilateral da parte de Deus, mas algo que implica em assentimento humano. Da mesma forma que ele não abre a porta por si mesmo, mas espera que nós a abramos para recebê-lo (Ap.3:20), ele não nos enche do Espírito Santo sem nosso consentimento, mas somos nós que nos “deixamos encher” do Espírito.
A possibilidade de recusar essa oferta é clara em toda a Bíblia. Ela diz que Janes e Jambres “resistiram à verdade” (2Tm.3:8), que “nem todos os israelitas aceitaram as boas novas” (Rm.10:16), que alguns “suprimem a verdade pela injustiça” (Rm.1:18), que os judeus de Antioquia “rejeitaram e não se julgaram dignos da vida eterna” (At.13:46), que “os seus não o receberam” (Jo.1:11), mas “a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo.1:12).
É impossível negar a realidade de que é possível resistir ou não resistir; suprimir ou não suprimir; receber ou não receber; aceitar ou rejeitar. Deus nunca atua mediante uma força irresistível, mas permite ser resistido. A graça não é irresistível, mas precisa ser aceita e recebida por parte do homem. Até Estêvão já sabia que o homem pode resistir ao Espírito Santo:
“Povo rebelde, obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo!” (Atos 7:51)
Ninguém “resiste” a algo a não ser que este algo queira outra coisa. Se o Espírito Santo não desejava a salvação daqueles que o resistiram, supostamente porque Deus já os havia predestinado à perdição, então por que ele estava tentando algo na vida deles? Se ele não estava tentando nada, não poderia ser “resistido”. Se ele estava tentando algo, mas não conseguiu e foi resistido, é porque a atuação de Deus não é monergística e muito menos irresistível.
“Cuidado! Não rejeitem aquele que fala. Se os que se recusaram a ouvir aquele que os advertia na terra não escaparam, quanto mais nós, se nos desviarmos daquele que nos adverte dos céus?” (Hebreus 12:25)
Isso não faz sentido se a graça é irresistível e não pode ser rejeitada. Se a pessoa é eleita, ela não pode resistir à graça. Se ela não é eleita, então a graça salvífica não é oferecida a ela, e ela não pode rejeitar a algo que não lhe foi oferecido, da mesma forma que ninguém recusa um presente se ninguém lhe ofereceu um. De todos os modos, dizer para “não rejeitar” a graça seria inócuo e sem sentido, se o modus operandi desta graça é irresistível.
Em Apocalipse, João diz:
“E blasfemavam contra o Deus do céu, por causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram-se a arrepender-se das obras que haviam praticado” (Apocalipse 16:11)
Neste mesmo livro vemos a ilustração de Deus batendo à porta, esperando que o pecador a abra, para que ele possa cear com ele. Os calvinistas rejeitam essa ilustração e para isso argumentam que Deus não estava falando com os incrédulos, mas com a Igreja, porque essa carta foi escrita a uma igreja local, a de Laodiceia.
Ignoram, no entanto, que este texto não foi escrito para a Igreja como o Corpo místico de Cristo, mas para uma igreja nominal, uma congregação, que pode reunir cristãos verdadeiros e cristãos meramente nominais, mas que não vivem a sua fé. Que nem todos das igrejas locais eram obedientes, isso fica claro na leitura das cartas às sete igrejas e nas epístolas apostólicas.
Um crente da Igreja de Corinto, por exemplo, mantinha relações sexuais com sua madrasta, e Paulo disse para expulsá-lo da comunhão (1Co.5:1,2). Ele era um crente nominal, que frequentava uma comunidade cristã local, mas não era um verdadeiro cristão. Era um ímpio dentro de uma igreja. O mesmo ocorre com a igreja local de Laodiceia como um todo. Vejamos como Deus a descreve:
“Ao anjo da igreja em Laodiceia escreva: Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus. Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca. Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu. Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar” (Apocalipse 3:14-18)
Vemos que a igreja de Laodiceia era apenas uma igreja nominal, composta por cristãos de aparência, que não viviam a fé que professavam. Deus iria vomitá-los da sua boca, disse que eram espiritualmente miseráveis, dignos de compaixão, pobres, cegos e nus. Eles eram cegos espirituais, pois ainda precisavam comprar colírio para ungir seus olhos. Os cegos espirituais são uma figura dos descrentes que estão nas trevas, e não dos crentes que estão na luz. Portanto, essa igreja local de Laodiceia era tão corrompida quanto o mundo, e é a eles que Deus diz, logo em seguida, o seguinte:
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei na sua casa, e cearei com ele, e Ele comigo” (Apocalipse 3:20)
Desta forma, analisando dentro do contexto, vemos que essa declaração se aplica aos ainda não-salvos da mesma forma que se aplicou aos falsos crentes não-regenerados da igreja de Laodiceia. Deus bate à porta, como um cavalheiro esperando ser recebido. Ele não arromba a porta nem violenta a vontade do pecador para que ele abra. Ele não atrai com uma força irresistível. Ele oferece a sua graça e espera pacientemente que o pecador a receba em sua vida, para que Cristo entre em seu coração e faça toda a transformação necessária.
Essa função humana de abrir a porta, que decorre do livre-arbítrio de poder aceitar ou rejeitar algo, também foi destacada pelo apóstolo Paulo ao escrever aos efésios. Ele disse:
“Não vos embriagueis com vinho, que é uma fonte de devassidão, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18)
O ato de “encher” é atribuído às próprias pessoas. Embora seja Deus que possibilite este ato e capacite as pessoas a isto, cabe às próprias pessoas o colocarem em ação, ao não resistirem à graça divina. A NVI traduz por “deixem-se encher pelo Espírito” (v.18), mostrando que o enchimento não é um processo unilateral da parte de Deus, mas algo que implica em assentimento humano. Da mesma forma que ele não abre a porta por si mesmo, mas espera que nós a abramos para recebê-lo (Ap.3:20), ele não nos enche do Espírito Santo sem nosso consentimento, mas somos nós que nos “deixamos encher” do Espírito.
A possibilidade de recusar essa oferta é clara em toda a Bíblia. Ela diz que Janes e Jambres “resistiram à verdade” (2Tm.3:8), que “nem todos os israelitas aceitaram as boas novas” (Rm.10:16), que alguns “suprimem a verdade pela injustiça” (Rm.1:18), que os judeus de Antioquia “rejeitaram e não se julgaram dignos da vida eterna” (At.13:46), que “os seus não o receberam” (Jo.1:11), mas “a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo.1:12).
É impossível negar a realidade de que é possível resistir ou não resistir; suprimir ou não suprimir; receber ou não receber; aceitar ou rejeitar. Deus nunca atua mediante uma força irresistível, mas permite ser resistido. A graça não é irresistível, mas precisa ser aceita e recebida por parte do homem. Até Estêvão já sabia que o homem pode resistir ao Espírito Santo:
“Povo rebelde, obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo!” (Atos 7:51)
Ninguém “resiste” a algo a não ser que este algo queira outra coisa. Se o Espírito Santo não desejava a salvação daqueles que o resistiram, supostamente porque Deus já os havia predestinado à perdição, então por que ele estava tentando algo na vida deles? Se ele não estava tentando nada, não poderia ser “resistido”. Se ele estava tentando algo, mas não conseguiu e foi resistido, é porque a atuação de Deus não é monergística e muito menos irresistível.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Deus faz tudo para a salvação de cada indivíduo, mas “por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento” (Rm.2:5). Mesmo querendo salvá-los, alguns são teimosos e tem um coração obstinado, que pode resistir à operação do Espírito Santo. Deus lhes oferece a salvação, mas não crê no lugar deles, pois isso implicaria em ferir o livre-arbítrio, que vimos no capítulo 2.
Isso explica o porquê que a Bíblia sempre coloca o arrependimento como sendo uma função do homem:
“Daí em diante Jesus começou a pregar: ‘Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo’” (Mateus 4:17)
“Ele dizia: ‘Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo’” (Mateus 3:2)
Deus não crê pela própria pessoa, nem se arrepende por ela. Cabe ao próprio indivíduo se arrepender. Este arrependimento não é feito por Deus, e sim possibilitado por Ele. É por isso que Paulo disse:
“Ouvindo isso, não apresentaram mais objeções e louvaram a Deus, dizendo: Então, Deus concedeu arrependimento para a vida até mesmo aos gentios!” (Atos 11:18)
Deus nos concede a possibilidade do arrependimento para a vida eterna e nos dá tempo para que nos arrependamos, mas, ainda assim, as pessoas podem resistir a Deus e recusarem se arrepender, como ele disse:
“Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender” (Apocalipse 2:21)
Isso também está no contexto das cartas às sete igrejas, e nos mostra que é possível alguém frequentar uma igreja local estando com o coração longe de Deus, distante do arrependimento para a vida eterna. Deus espera que essas pessoas se arrependam, possibilita o arrependimento através da graça preveniente, dá-lhes tempo para o arrependimento, mas mesmo com todo este favor divino é possível que alguém resista à operação do Espírito Santo e não queira se arrepender.
Foi isso o que aconteceu com alguns daquela igreja de Tiatira, e é isso o que ocorre com muitos nos dias de hoje. Deus não se manifesta apenas para alguns nem derrama Sua graça somente sobre poucos. Ele dá oportunidade de arrependimento para a salvação a todos, mas nem todos aceitam se arrependerem. A condenação deles não é em função de uma negligência arbitrária divina em reter a graça que lhes poderia salvar, mas é pela resistência das próprias pessoas.
O novo nascimento é uma dádiva de Deus, mas é preciso que uma pessoa a receba. Jesus disse que “uma pessoa só pode receber o que lhe é dado dos céus” (Jo.3:27). Comentando este texto, Geisler diz que “isso implica um ato livre da vontade, que pode tanto aceitar quanto rejeitar a oferta de Deus”. A realidade da possibilidade de alguém não receber a Cristo mesmo depois de ter sido chamado é muito clara à luz do convite de Jesus ao jovem rico, em uma famosa passagem bíblica. Ele disse:
“Jesus olhou para ele e o amou. ‘Falta-lhe uma coisa’, disse ele. ‘Vá, venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me’. Diante disso ele ficou abatido e afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. Jesus olhou ao redor e disse aos seus discípulos: ‘Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!’” (Marcos 10:21-23)
É impossível negar o óbvio deste texto: que Jesus chamou o rico a segui-lo. O “siga-me” foi expressamente declarado. Porém, aquele jovem recusou este chamado, e se afastou, porque seu coração estava conquistado pelas riquezas. Jesus não estava chamando-o hipocritamente, como se já tivesse decidido o contrário na vida dele. O chamado não era insincero; era tão sincero que Cristo realmente queria que aquele jovem o seguisse. Cristo “o amou” e realmente desejou a salvação dele, caso contrário não o teria chamado. Mesmo assim, aquele jovem recusou o chamado.
Isso explica o porquê que a Bíblia sempre coloca o arrependimento como sendo uma função do homem:
“Daí em diante Jesus começou a pregar: ‘Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo’” (Mateus 4:17)
“Ele dizia: ‘Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo’” (Mateus 3:2)
Deus não crê pela própria pessoa, nem se arrepende por ela. Cabe ao próprio indivíduo se arrepender. Este arrependimento não é feito por Deus, e sim possibilitado por Ele. É por isso que Paulo disse:
“Ouvindo isso, não apresentaram mais objeções e louvaram a Deus, dizendo: Então, Deus concedeu arrependimento para a vida até mesmo aos gentios!” (Atos 11:18)
Deus nos concede a possibilidade do arrependimento para a vida eterna e nos dá tempo para que nos arrependamos, mas, ainda assim, as pessoas podem resistir a Deus e recusarem se arrepender, como ele disse:
“Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender” (Apocalipse 2:21)
Isso também está no contexto das cartas às sete igrejas, e nos mostra que é possível alguém frequentar uma igreja local estando com o coração longe de Deus, distante do arrependimento para a vida eterna. Deus espera que essas pessoas se arrependam, possibilita o arrependimento através da graça preveniente, dá-lhes tempo para o arrependimento, mas mesmo com todo este favor divino é possível que alguém resista à operação do Espírito Santo e não queira se arrepender.
Foi isso o que aconteceu com alguns daquela igreja de Tiatira, e é isso o que ocorre com muitos nos dias de hoje. Deus não se manifesta apenas para alguns nem derrama Sua graça somente sobre poucos. Ele dá oportunidade de arrependimento para a salvação a todos, mas nem todos aceitam se arrependerem. A condenação deles não é em função de uma negligência arbitrária divina em reter a graça que lhes poderia salvar, mas é pela resistência das próprias pessoas.
O novo nascimento é uma dádiva de Deus, mas é preciso que uma pessoa a receba. Jesus disse que “uma pessoa só pode receber o que lhe é dado dos céus” (Jo.3:27). Comentando este texto, Geisler diz que “isso implica um ato livre da vontade, que pode tanto aceitar quanto rejeitar a oferta de Deus”. A realidade da possibilidade de alguém não receber a Cristo mesmo depois de ter sido chamado é muito clara à luz do convite de Jesus ao jovem rico, em uma famosa passagem bíblica. Ele disse:
“Jesus olhou para ele e o amou. ‘Falta-lhe uma coisa’, disse ele. ‘Vá, venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me’. Diante disso ele ficou abatido e afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. Jesus olhou ao redor e disse aos seus discípulos: ‘Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!’” (Marcos 10:21-23)
É impossível negar o óbvio deste texto: que Jesus chamou o rico a segui-lo. O “siga-me” foi expressamente declarado. Porém, aquele jovem recusou este chamado, e se afastou, porque seu coração estava conquistado pelas riquezas. Jesus não estava chamando-o hipocritamente, como se já tivesse decidido o contrário na vida dele. O chamado não era insincero; era tão sincero que Cristo realmente queria que aquele jovem o seguisse. Cristo “o amou” e realmente desejou a salvação dele, caso contrário não o teria chamado. Mesmo assim, aquele jovem recusou o chamado.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
É difícil ler este relato sob a ótica calvinista, pois teríamos que crer que Jesus não o chamou sinceramente (pois já havia determinado que ele não o seguisse). Seria um chamado insincero e falso. Mas se Cristo realmente o chamou e se este chamado foi sincero, então temos que admitir a possibilidade da rejeição. A graça, como se manifestou neste caso, não é irresistível. Se fosse, aquele jovem nunca poderia ter resistido e se afastado de Jesus. Ele seria atraído com uma força irresistível e “eficaz”, como os calvinistas gostam de dizer. Mas a graça não violou o livre-arbítrio, nem violentou a vontade do homem.
Casos semelhantes ocorrem naquelas duas passagens que já vimos neste livro. A primeira é quando Lucas diz que “os fariseus e os peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados por João” (Lc.7:30). Deus tinha um propósito para eles, mas eles rejeitaram este propósito. Ou o propósito de Deus é falso, ou a rejeição humana é uma possibilidade real. A outra passagem é aquela em que Cristo fala sobre Jerusalém:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vós não o quisestes!” (Mateus 23:37)
Deus queria uma coisa, mas os israelitas quiseram outra. Como consequencia, a casa deles ficou deserta (v.38) e eles foram massacrados pelos romanos. Se a vontade de Deus fosse a única coisa que importasse, seria óbvio que isso não aconteceria, pois Jesus disse que queria o contrário. Se o homem não pudesse resistir a Deus, aqueles judeus teriam cumprido o querer de Cristo e teriam sido ajuntados por ele. Porém, isso não aconteceu. É como disse Olson:
“Se a graça irresistível fosse verdadeira, claro, Jesus poderia simplesmente ter atraído eficazmente o povo de Jerusalém para Si. Por que ele assim não o fez se estava tão pesaroso acerca de sua rejeição? E por que ele estaria triste acerca da rejeição se ela, assim como tudo, foi preordenado por Deus?”
Lemke também observa:
“Se Jesus acreditasse na graça irresistível, tanto na chamada externa quanto na interna, seu lamento aparente sobre Jerusalém teria sido apenas um ato insincero, um show de dissimulação pelo fato dele saber que Deus não iria e que não daria a tais pessoas perdidas as condições necessárias para a salvação das mesmas”
Casos semelhantes ocorrem naquelas duas passagens que já vimos neste livro. A primeira é quando Lucas diz que “os fariseus e os peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados por João” (Lc.7:30). Deus tinha um propósito para eles, mas eles rejeitaram este propósito. Ou o propósito de Deus é falso, ou a rejeição humana é uma possibilidade real. A outra passagem é aquela em que Cristo fala sobre Jerusalém:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vós não o quisestes!” (Mateus 23:37)
Deus queria uma coisa, mas os israelitas quiseram outra. Como consequencia, a casa deles ficou deserta (v.38) e eles foram massacrados pelos romanos. Se a vontade de Deus fosse a única coisa que importasse, seria óbvio que isso não aconteceria, pois Jesus disse que queria o contrário. Se o homem não pudesse resistir a Deus, aqueles judeus teriam cumprido o querer de Cristo e teriam sido ajuntados por ele. Porém, isso não aconteceu. É como disse Olson:
“Se a graça irresistível fosse verdadeira, claro, Jesus poderia simplesmente ter atraído eficazmente o povo de Jerusalém para Si. Por que ele assim não o fez se estava tão pesaroso acerca de sua rejeição? E por que ele estaria triste acerca da rejeição se ela, assim como tudo, foi preordenado por Deus?”
Lemke também observa:
“Se Jesus acreditasse na graça irresistível, tanto na chamada externa quanto na interna, seu lamento aparente sobre Jerusalém teria sido apenas um ato insincero, um show de dissimulação pelo fato dele saber que Deus não iria e que não daria a tais pessoas perdidas as condições necessárias para a salvação das mesmas”
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
O fato de Jesus ter chorado sobre Jerusalém naquela ocasião (Lc.19:41) também é algo que fica sem explicação no prisma calvinista. Olson também observa isso, dizendo:
“Imagine que um pai possui uma poção do amor que faria com que todos os seus filhos o amassem e que jamais se rebelassem contra ele. Ele dá a poção a alguns de seus filhos, mas não a dá a outros e então chora pelo fato de que alguns de seus filhos o rejeitam e não o amam. Quem levaria esse pai a sério? Ou, se o levássemos a sério, quem não pensaria que ele é insincero ou um tanto quanto louco?”
A única passagem bíblica que os calvinistas frequentemente recorrem na tentativa de provar a graça irresistível na Bíblia é a de João 6:44, que diz:
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:44)
Sproul faz amplo uso deste texto na tentativa de provar que o homem é atraído por Deus irresistivelmente. Porém, nada neste texto nos diz que essa atração é irresistível. Embora em outras passagens bíblicas o termo helkuo tenha esta conotação, ele também pode significar simplesmente trazer ou atrair, ao invés de compelir. É assim que entendemos um texto paralelo em João 12:32, onde a mesma palavra é utilizada:
“Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei [helkuo] todos a mim” (João 12:32)
Jesus não disse que atrairia “alguns”, mas “todos”. Se helkuo significa uma força irresistível, então este verso ensina o universalismo, que é a crença falsa de que todos serão salvos. Sabemos que isto é errado porque também sabemos que helkuo nem sempre implica em compelir algo. Como Olson observa, “a palavra pode significar simplesmente trazer ou atrair em vez de compelir ou arrastar. A interpretação arminiana destes versículos em João 6 e 12 é sensata: que ninguém pode vir a Jesus Cristo a menos que a pessoa seja atraída pela graça preveniente de Deus que chama e capacita, mas que não compele”.
O Antigo Testamento também está repleto de citações onde o homem resiste a Deus. Em Ezequiel, por exemplo, Deus diz:
“Ora, a sua impureza é a lascívia. Como eu desejei purificá-la mas você não quis ser purificada de sua impureza, você não voltará a estar limpa, enquanto não se abrandar a minha ira contra você” (Ezequiel 24:13)
Deus quis purificar Israel, mas Israel não foi purificada, e a razão para isso é porque Israel não quis. É mais uma vez nítido que uma pessoa, e até mesmo uma nação como um todo, pode resistir aos propósitos do Senhor, porque o que Deus deseja não é algo irresistível. Se Deus tivesse determinado que Israel ficaria impura e tivesse negligenciado a graça necessária para a sua purificação, estaria sendo no mínimo cínico ao dizer que deseja a purificação de Israel, quando tirou dela toda e qualquer possibilidade de purificação.
“Imagine que um pai possui uma poção do amor que faria com que todos os seus filhos o amassem e que jamais se rebelassem contra ele. Ele dá a poção a alguns de seus filhos, mas não a dá a outros e então chora pelo fato de que alguns de seus filhos o rejeitam e não o amam. Quem levaria esse pai a sério? Ou, se o levássemos a sério, quem não pensaria que ele é insincero ou um tanto quanto louco?”
A única passagem bíblica que os calvinistas frequentemente recorrem na tentativa de provar a graça irresistível na Bíblia é a de João 6:44, que diz:
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:44)
Sproul faz amplo uso deste texto na tentativa de provar que o homem é atraído por Deus irresistivelmente. Porém, nada neste texto nos diz que essa atração é irresistível. Embora em outras passagens bíblicas o termo helkuo tenha esta conotação, ele também pode significar simplesmente trazer ou atrair, ao invés de compelir. É assim que entendemos um texto paralelo em João 12:32, onde a mesma palavra é utilizada:
“Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei [helkuo] todos a mim” (João 12:32)
Jesus não disse que atrairia “alguns”, mas “todos”. Se helkuo significa uma força irresistível, então este verso ensina o universalismo, que é a crença falsa de que todos serão salvos. Sabemos que isto é errado porque também sabemos que helkuo nem sempre implica em compelir algo. Como Olson observa, “a palavra pode significar simplesmente trazer ou atrair em vez de compelir ou arrastar. A interpretação arminiana destes versículos em João 6 e 12 é sensata: que ninguém pode vir a Jesus Cristo a menos que a pessoa seja atraída pela graça preveniente de Deus que chama e capacita, mas que não compele”.
O Antigo Testamento também está repleto de citações onde o homem resiste a Deus. Em Ezequiel, por exemplo, Deus diz:
“Ora, a sua impureza é a lascívia. Como eu desejei purificá-la mas você não quis ser purificada de sua impureza, você não voltará a estar limpa, enquanto não se abrandar a minha ira contra você” (Ezequiel 24:13)
Deus quis purificar Israel, mas Israel não foi purificada, e a razão para isso é porque Israel não quis. É mais uma vez nítido que uma pessoa, e até mesmo uma nação como um todo, pode resistir aos propósitos do Senhor, porque o que Deus deseja não é algo irresistível. Se Deus tivesse determinado que Israel ficaria impura e tivesse negligenciado a graça necessária para a sua purificação, estaria sendo no mínimo cínico ao dizer que deseja a purificação de Israel, quando tirou dela toda e qualquer possibilidade de purificação.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Por outro lado, se este desejo é sincero e verdadeiro, e Deus realmente quis purificar Israel, que não foi purificada porque ela não quis, então logicamente é possível resistir a Deus, no sentido de recusar uma oferta livre de graça, que pode purificar e regenerar o homem perdido. Isso se vê mais claramente em Jeremias, que é repleto de citações como essas. No capítulo 7, por exemplo, Deus diz:
“Porque vos chamei e não respondestes, farei a esta casa como fiz a Silo” (Jeremias 7:13,14)
Deus os chamou, mas o homem resistiu a este chamado, não respondendo. Seria completamente irracional se Deus tivesse chamado alguém que ele já determinou que não poderia ouvir. Faria tanto sentido quanto falar com a parede. Se Deus chamou, no mínimo era possível que o homem respondesse. Se o homem não respondeu, no mínimo era possível resistir ao chamado divino. Alguns versos adiante, Deus diz:
“Porém não escutaram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram para trás em vez de irem para diante” (Jeremias 7:24)
“Esta nação não deu ouvidos à voz do Senhor seu Deus, nem aceitou sua correção, por isso foi rejeitada pelo Senhor” (Jeremias 7:28,29)
Como vemos, a rejeição da parte de Deus só vem depois da rejeição da parte do homem. Deus possibilita a resposta livre do homem através da graça preveniente, o homem recusa esta graça, então Deus o rejeita. É exatamente o contrário do calvinismo, onde primeiro é Deus que rejeita o indivíduo e o predestina à perdição, depois o cega e o endurece para que ele rejeite a Deus, e finge querer algo diferente para ele em relação ao que ele determinou.
O esquema abaixo demonstra bem isso, na ótica calvinista:
Deus determina a perdição do indivíduo
Deus endurece esse que ele rejeitou
Deus “chama” quem ele rejeitou
Este não escuta e é condenado
Como vemos, o chamado no calvinismo é algo ilógico e insincero. Nenhuma razão há em chamar alguém que ele já predestinou à perdição, que já endureceu e que por causa deste endurecimento não há a mínima chance de aceitar o chamado. Seria a mesma coisa de eu amarrar as mãos e os pés de um indivíduo, depois o prender dentro de um baú e o chamar para fora, sem que ele tenha a mínima chance de sair dali. Este chamado seria, na melhor das hipóteses, uma zombaria. Se Deus determinou um indivíduo à perdição e este não tem sequer uma oportunidade de reverter isso, então este chamado, além de inútil, é um deboche.
Agora vejamos isso no prisma arminiano:
“Porque vos chamei e não respondestes, farei a esta casa como fiz a Silo” (Jeremias 7:13,14)
Deus os chamou, mas o homem resistiu a este chamado, não respondendo. Seria completamente irracional se Deus tivesse chamado alguém que ele já determinou que não poderia ouvir. Faria tanto sentido quanto falar com a parede. Se Deus chamou, no mínimo era possível que o homem respondesse. Se o homem não respondeu, no mínimo era possível resistir ao chamado divino. Alguns versos adiante, Deus diz:
“Porém não escutaram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram para trás em vez de irem para diante” (Jeremias 7:24)
“Esta nação não deu ouvidos à voz do Senhor seu Deus, nem aceitou sua correção, por isso foi rejeitada pelo Senhor” (Jeremias 7:28,29)
Como vemos, a rejeição da parte de Deus só vem depois da rejeição da parte do homem. Deus possibilita a resposta livre do homem através da graça preveniente, o homem recusa esta graça, então Deus o rejeita. É exatamente o contrário do calvinismo, onde primeiro é Deus que rejeita o indivíduo e o predestina à perdição, depois o cega e o endurece para que ele rejeite a Deus, e finge querer algo diferente para ele em relação ao que ele determinou.
O esquema abaixo demonstra bem isso, na ótica calvinista:
Deus determina a perdição do indivíduo
Deus endurece esse que ele rejeitou
Deus “chama” quem ele rejeitou
Este não escuta e é condenado
Como vemos, o chamado no calvinismo é algo ilógico e insincero. Nenhuma razão há em chamar alguém que ele já predestinou à perdição, que já endureceu e que por causa deste endurecimento não há a mínima chance de aceitar o chamado. Seria a mesma coisa de eu amarrar as mãos e os pés de um indivíduo, depois o prender dentro de um baú e o chamar para fora, sem que ele tenha a mínima chance de sair dali. Este chamado seria, na melhor das hipóteses, uma zombaria. Se Deus determinou um indivíduo à perdição e este não tem sequer uma oportunidade de reverter isso, então este chamado, além de inútil, é um deboche.
Agora vejamos isso no prisma arminiano:
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Deus dá oportunidade para todos pela graça preveniente, e chama a todos
Alguns endurecem a si mesmos e resistem à graça
Os que resistem são depois rejeitados por Ele
Estes são condenados
No prisma arminiano, tudo faz sentido. Pela graça preveniente, Deus dá uma oportunidade a todos, mas nem todos aceitam a graça que lhes é oferecida. Estes que resistem à graça vão endurecendo seus corações, até o ponto em que são definitivamente rejeitados por Deus, que os esperou com longanimidade e paciência por muito tempo, e por fim eles são condenados. Ninguém é condenado sem ter uma oportunidade, e ninguém é rejeitado por Deus sem antes ter rejeitado a Deus. Este quadro fica ainda mais nítido quando vemos Deus dizendo:
“Porque endurecestes vosso coração, e não quisestes obedecer ao Senhor, todos estes males vos sobrevieram” (Jeremias 19:15)
E também:
“Voltaram as costas para mim e não o rosto; embora eu os tenha ensinado vez após vez, não quiseram ouvir-me nem aceitaram a correção. Profanaram o templo que leva o meu nome, colocando nele as imagens de seus ídolos” (Jeremias 32:33,34)
Deus persiste, vez após vez, desejando e possibilitando o arrependimento deles para a vida eterna, mas eles, por sua própria rebeldia e desobediência, recusam-se a aceitar a graça e fecham seus próprios ouvidos à correção de Deus. Essa ilustração é muito vívida ao lermos o texto de Oseias, onde Deus diz:
“Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso os ídolos esculpidos. Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los. ‘Acaso não voltarão ao Egito e a Assíria não os dominará porque eles se recusam a arrepender-se?’” (Oséias 11:1-5)
O tempo todo Deus os amou. Ele jamais os abandonou. Ele os chamava dia após dia, ainda que os israelitas se afastassem cada vez mais. Ele os ensinou a andar, os tomou em seus braços, fez tudo o que um pai bondoso e misericordioso faz para com um filho amado. Mesmo assim, os israelitas seriam condenados ao jugo do império assírio.
A razão disso não é porque Deus de repente se lembrou que os havia predestinado à perdição antes da fundação do mundo, mas porque os israelitas recusaram se arrepender. Deus queria e buscou o arrependimento deles, mas não violou o livre-arbítrio deles. A graça ainda era resistível, de modo que eles puderam recusar se arrepender, e tiveram o fim que tiveram. A mesma coisa lemos em Provérbios, onde Deus diz:
“Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos” (Provérbios 1:23)
“Se acatarem” denota condicionalidade. Não era algo que Deus iria colocar irresistivelmente sobre quem ele quisesse, e rejeitar a quem ele quisesse. Era algo que dependia de aceitação humana – se eles acatarem. Em seguida, Deus diz:
“Vocês, porém, rejeitaram o meu convite; ninguém se importou quando estendi minha mão!” (Provérbios 1:24)
Deus estende as mãos e convida o pecador a aceitar a graça, mas eles rejeitaram o convite divino. Isso mais uma vez prova que a graça não é irresistível, e que Deus estende as mãos para pessoas que o rejeitam, contrariando o que Calvino disse. O texto prossegue dizendo:
“Visto que desprezaram totalmente o meu conselho e não quiseram aceitar a minha repreensão, eu, de minha parte, vou rir-me da sua desgraça; zombarei quando o que temem se abater sobre vocês, quando aquilo que temem abater-se sobre vocês como uma tempestade, quando a desgraça os atingir como um vendaval, quando a angústia e a dor os dominarem. Então vocês me chamarão, mas não responderei; procurarão por mim, mas não me encontrarão. Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor” (Provérbios 1:25-29)
O texto deixa claro as “duas partes”, a parte do homem e a parte de Deus. Da parte do homem, que não quis aceitar a repreensão de Deus e que recusou o temor do Senhor; e da parte de Deus, que por causa da rejeição do homem iria rejeitá-los também. Mais uma vez vemos que a rejeição da parte de Deus só vem depois da rejeição da parte do homem, e que Deus estende seu convite de graça para todo ser humano, inclusive àqueles que o rejeitam. E o texto conclui dizendo:
“Não quiseram aceitar o meu conselho e fizeram pouco caso da minha advertência” (Provérbios 1:30)
Alguns endurecem a si mesmos e resistem à graça
Os que resistem são depois rejeitados por Ele
Estes são condenados
No prisma arminiano, tudo faz sentido. Pela graça preveniente, Deus dá uma oportunidade a todos, mas nem todos aceitam a graça que lhes é oferecida. Estes que resistem à graça vão endurecendo seus corações, até o ponto em que são definitivamente rejeitados por Deus, que os esperou com longanimidade e paciência por muito tempo, e por fim eles são condenados. Ninguém é condenado sem ter uma oportunidade, e ninguém é rejeitado por Deus sem antes ter rejeitado a Deus. Este quadro fica ainda mais nítido quando vemos Deus dizendo:
“Porque endurecestes vosso coração, e não quisestes obedecer ao Senhor, todos estes males vos sobrevieram” (Jeremias 19:15)
E também:
“Voltaram as costas para mim e não o rosto; embora eu os tenha ensinado vez após vez, não quiseram ouvir-me nem aceitaram a correção. Profanaram o templo que leva o meu nome, colocando nele as imagens de seus ídolos” (Jeremias 32:33,34)
Deus persiste, vez após vez, desejando e possibilitando o arrependimento deles para a vida eterna, mas eles, por sua própria rebeldia e desobediência, recusam-se a aceitar a graça e fecham seus próprios ouvidos à correção de Deus. Essa ilustração é muito vívida ao lermos o texto de Oseias, onde Deus diz:
“Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso os ídolos esculpidos. Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los. ‘Acaso não voltarão ao Egito e a Assíria não os dominará porque eles se recusam a arrepender-se?’” (Oséias 11:1-5)
O tempo todo Deus os amou. Ele jamais os abandonou. Ele os chamava dia após dia, ainda que os israelitas se afastassem cada vez mais. Ele os ensinou a andar, os tomou em seus braços, fez tudo o que um pai bondoso e misericordioso faz para com um filho amado. Mesmo assim, os israelitas seriam condenados ao jugo do império assírio.
A razão disso não é porque Deus de repente se lembrou que os havia predestinado à perdição antes da fundação do mundo, mas porque os israelitas recusaram se arrepender. Deus queria e buscou o arrependimento deles, mas não violou o livre-arbítrio deles. A graça ainda era resistível, de modo que eles puderam recusar se arrepender, e tiveram o fim que tiveram. A mesma coisa lemos em Provérbios, onde Deus diz:
“Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos” (Provérbios 1:23)
“Se acatarem” denota condicionalidade. Não era algo que Deus iria colocar irresistivelmente sobre quem ele quisesse, e rejeitar a quem ele quisesse. Era algo que dependia de aceitação humana – se eles acatarem. Em seguida, Deus diz:
“Vocês, porém, rejeitaram o meu convite; ninguém se importou quando estendi minha mão!” (Provérbios 1:24)
Deus estende as mãos e convida o pecador a aceitar a graça, mas eles rejeitaram o convite divino. Isso mais uma vez prova que a graça não é irresistível, e que Deus estende as mãos para pessoas que o rejeitam, contrariando o que Calvino disse. O texto prossegue dizendo:
“Visto que desprezaram totalmente o meu conselho e não quiseram aceitar a minha repreensão, eu, de minha parte, vou rir-me da sua desgraça; zombarei quando o que temem se abater sobre vocês, quando aquilo que temem abater-se sobre vocês como uma tempestade, quando a desgraça os atingir como um vendaval, quando a angústia e a dor os dominarem. Então vocês me chamarão, mas não responderei; procurarão por mim, mas não me encontrarão. Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor” (Provérbios 1:25-29)
O texto deixa claro as “duas partes”, a parte do homem e a parte de Deus. Da parte do homem, que não quis aceitar a repreensão de Deus e que recusou o temor do Senhor; e da parte de Deus, que por causa da rejeição do homem iria rejeitá-los também. Mais uma vez vemos que a rejeição da parte de Deus só vem depois da rejeição da parte do homem, e que Deus estende seu convite de graça para todo ser humano, inclusive àqueles que o rejeitam. E o texto conclui dizendo:
“Não quiseram aceitar o meu conselho e fizeram pouco caso da minha advertência” (Provérbios 1:30)
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
A analogia presente neste e em outros textos que já vimos é a de Deus como um Pai que estende por misericórdia as suas mãos a um homem pecador que se encontra no fundo de um poço. Todos os homens se encontram no fundo do poço, porque em Adão todos morreram. Mas, da mesma forma que todos morreram em Adão, todos tem uma oportunidade de salvação por meio de Cristo, que estende sua mão a todos, buscando salvá-los. Se alguém aceita a Jesus, este é salvo por ele. Se, porém, alguém se recusa a ser salvo, é condenado por sua própria rebeldia e desobediência.
A dificuldade que os calvinistas tem em interpretarem textos como estes se vê patente na interpretação deles do texto de 2ª Crônicas 24:19, que diz:
“Contudo Jeová lhes enviou profetas para os reconduzir a si; estes protestaram contra eles, que não lhes quiseram, porém, dar ouvidos” (2ª Crônicas 24:19)
Em uma tentativa de reinterpretar este texto sob uma ótica calvinista distorcida, um site calvinista “explica” este texto da seguinte maneira:
“O que esses príncipes resistiram não foi a vontade de Deus, mas a vontade dos profetas, e foi da vontade de Deus que isso acontecesse"
Eu raramente fico tão horrorizado em ler uma “interpretação” bíblica tão defeituosa como fiquei ao ler este texto. Sinceramente, eu não sabia se ria ou se chorava. Os calvinistas querem mesmo que creiamos que era da vontade de Deus que os príncipes rejeitassem os profetas, quando o texto claramente diz que Jeová enviou os profetas exatamente com a intenção de reconduzi-los a Ele! Deus quer reconduzir o Seu povo a Ele, envia profetas para este fim, mas na verdade o que ele queria mesmo enviando os profetas era exatamente o contrário!
Ainda bem que eu não vi a “interpretação” deles deste texto:
“Se vocês estiverem dispostos a obedecer, comerão os melhores frutos desta terra; mas, se resistirem e se rebelarem, serão devorados pela espada" (Isaías 1:19-20)
O propósito e a vontade de Deus estão postos diante deles, mas o homem pode resistir à vontade divina rebelando-se contra ele, tanto quanto pode dispor seus corações para obedecê-lo. Quando um rei fazia o que era mau, era dito que ele “não preparou o seu coração para buscar ao Senhor” (2Cr.12:14). Israel da época de Moisés experimentou bem aquilo que significa resistir a Deus. Eles haveriam de cair pela espada “porque não quiseram obedecer ao Senhor” (Nm.14:43). A Moisés, Deus disse:
“Então disse o Senhor a Moisés: Quanto tempo essas pessoas rejeitam a mim? E por quanto tempo não crêem em mim, com todos os sinais que fiz no meio deles? Vou atacá-los com a peste e deserdá-los” (Números 14:11-12)
A dificuldade que os calvinistas tem em interpretarem textos como estes se vê patente na interpretação deles do texto de 2ª Crônicas 24:19, que diz:
“Contudo Jeová lhes enviou profetas para os reconduzir a si; estes protestaram contra eles, que não lhes quiseram, porém, dar ouvidos” (2ª Crônicas 24:19)
Em uma tentativa de reinterpretar este texto sob uma ótica calvinista distorcida, um site calvinista “explica” este texto da seguinte maneira:
“O que esses príncipes resistiram não foi a vontade de Deus, mas a vontade dos profetas, e foi da vontade de Deus que isso acontecesse"
Eu raramente fico tão horrorizado em ler uma “interpretação” bíblica tão defeituosa como fiquei ao ler este texto. Sinceramente, eu não sabia se ria ou se chorava. Os calvinistas querem mesmo que creiamos que era da vontade de Deus que os príncipes rejeitassem os profetas, quando o texto claramente diz que Jeová enviou os profetas exatamente com a intenção de reconduzi-los a Ele! Deus quer reconduzir o Seu povo a Ele, envia profetas para este fim, mas na verdade o que ele queria mesmo enviando os profetas era exatamente o contrário!
Ainda bem que eu não vi a “interpretação” deles deste texto:
“Se vocês estiverem dispostos a obedecer, comerão os melhores frutos desta terra; mas, se resistirem e se rebelarem, serão devorados pela espada" (Isaías 1:19-20)
O propósito e a vontade de Deus estão postos diante deles, mas o homem pode resistir à vontade divina rebelando-se contra ele, tanto quanto pode dispor seus corações para obedecê-lo. Quando um rei fazia o que era mau, era dito que ele “não preparou o seu coração para buscar ao Senhor” (2Cr.12:14). Israel da época de Moisés experimentou bem aquilo que significa resistir a Deus. Eles haveriam de cair pela espada “porque não quiseram obedecer ao Senhor” (Nm.14:43). A Moisés, Deus disse:
“Então disse o Senhor a Moisés: Quanto tempo essas pessoas rejeitam a mim? E por quanto tempo não crêem em mim, com todos os sinais que fiz no meio deles? Vou atacá-los com a peste e deserdá-los” (Números 14:11-12)
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Não importa o tamanho da boa vontade divina nem os sinais que são feitos para que o homem creia, mesmo assim ele ainda pode rejeitar o Senhor. Para alguns, essa pode ser uma dura realidade: Deus é justo e imparcial. Ele dá oportunidade para todos, mas nem todos o aceitam. Aqueles que foram salvos, foram salvos porque Deus os salvou. Aqueles que não foram salvos, não foram salvos porque resistiram a Deus. A glória na salvação recai sobre Deus, e a culpa na condenação recai sobre o homem.
• É ilógico Deus chamar alguém que já predestinou à perdição
Esta incoerência calvinista, em “chamar” alguém que ele já preordenou à morte, também causou indignação aos renomados autores antigos e contemporâneos. O filósofo cristão Dr. William Lane Craig, por exemplo, afirmou:
“A chamada ao arrependimento e salvação na visão calvinista é insincera. Trata-se de um fingimento, pois mesmo que Deus envie um chamado universal, ele mesmo não deseja que todos respondam a este chamado e não dá a sua graça salvadora às pessoas para habilitá-las a responderem a este chamado”
John Wesley, em seu conhecido sermão “Graça Livre”, também não poupou palavras ao se referir a esta incongruência. Ele disse:
“Isso postulado, que seja observado que essa doutrina representa nosso abençoado Senhor Jesus Cristo, o virtuoso, ‘o único legítimo Filho do Pai, cheio de graça e verdade’, como um hipócrita, um fraudador do povo, um mentiroso. Porque não pode ser negado que ele, em todo lugar, fala como se desejasse que todo homem pudesse ser salvo. Então, dizer que ele não deseja isso, é representá-lo como um mero hipócrita, um dissimulador. Não pode ser negado que as graciosas palavras que saem de sua boca é cheia de convites a todo pecador. Dizer, então, que ele não pretende salvar todos os pecadores, é representá-lo como um mentiroso vulgar. Você não pode negar que ele diz ‘Venham até mim, todos vocês que estão cansados e oprimidos’”
Ele ainda declarou:
“Se, então, você diz que ele chama aqueles que não podem vir; aqueles que ele sabe, são incapazes de vir; aqueles que ele pode tornar capazes de vir, mas não fará isso; como é possível descrever insinceridade maior? Você o representa como um escarnecedor de suas impotentes criaturas, oferecendo o que ele nunca pretendeu dar. Você o descreve como dizendo uma coisa, e significando outra; como fingindo um amor que ele nunca teve. Ele, em ‘cuja boca não estava a malícia’, você torna cheia de decepção, insinceridade; então, especialmente, quando a cidade se fez noite, Ele lamentou sobre ela e disse: ‘Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, e tu não quiseste’. Agora, se você diz, eles poderiam, mas, ele não poderia, você o representa (o qual, quem pode ouvir?) como lamento de crocodilos chorões; lamentando sobre a vítima que ele mesmo tinha condenado à destruição!”
É realmente difícil exaurir do Deus calvinista uma visão de complexo de bipolaridade, pois ele “chama” quem já condenou antes da criação do mundo (tornando o chamado inútil e insincero) e diz que deseja a salvação de pessoas que não tem a mínima oportunidade de serem salvas, pois ele já predeterminou o contrário a respeito delas. Também é difícil conciliar isso com um Calvino que dizia repetidamente que Deus ignora, amaldiçoa, cega e endurece os não-eleitos precisamente para que eles não alcançassem a salvação, para depois “chamar” um não-eleito e “desejar” a salvação dele.
Sem as aspas no chamar e no desejar, tal chamado e desejo no calvinismo não tem sentido algum. Se Deus chama, é porque ele deu uma chance do pecador correspondender ao chamado, recebendo a graça. Se Deus “não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” (Ez.33:11), é porque ele dá oportunidade de salvação a todos. Sem essa oportunidade, qualquer chamado ou desejo para a salvação se torna frívolo, inútil, fútil e inconsistente, além de falso, irracional, ilógico e insincero.
• A possibilidade de arrependimento é necessária
É por essa mesma razão que a possibilidade de arrependimento é necessária. Isso não significa que Deus vai fazer com que todos se arrependam (o que significaria crer no lugar da pessoa e violar a liberdade dela em escolher crer ou descrer), mas significa que Deus irá dar oportunidades reais para todos se arrependerem. Em outras palavras, Deus não diz para ninguém se arrepender a não ser que seja possível que essa pessoa se arrependa.
• É ilógico Deus chamar alguém que já predestinou à perdição
Esta incoerência calvinista, em “chamar” alguém que ele já preordenou à morte, também causou indignação aos renomados autores antigos e contemporâneos. O filósofo cristão Dr. William Lane Craig, por exemplo, afirmou:
“A chamada ao arrependimento e salvação na visão calvinista é insincera. Trata-se de um fingimento, pois mesmo que Deus envie um chamado universal, ele mesmo não deseja que todos respondam a este chamado e não dá a sua graça salvadora às pessoas para habilitá-las a responderem a este chamado”
John Wesley, em seu conhecido sermão “Graça Livre”, também não poupou palavras ao se referir a esta incongruência. Ele disse:
“Isso postulado, que seja observado que essa doutrina representa nosso abençoado Senhor Jesus Cristo, o virtuoso, ‘o único legítimo Filho do Pai, cheio de graça e verdade’, como um hipócrita, um fraudador do povo, um mentiroso. Porque não pode ser negado que ele, em todo lugar, fala como se desejasse que todo homem pudesse ser salvo. Então, dizer que ele não deseja isso, é representá-lo como um mero hipócrita, um dissimulador. Não pode ser negado que as graciosas palavras que saem de sua boca é cheia de convites a todo pecador. Dizer, então, que ele não pretende salvar todos os pecadores, é representá-lo como um mentiroso vulgar. Você não pode negar que ele diz ‘Venham até mim, todos vocês que estão cansados e oprimidos’”
Ele ainda declarou:
“Se, então, você diz que ele chama aqueles que não podem vir; aqueles que ele sabe, são incapazes de vir; aqueles que ele pode tornar capazes de vir, mas não fará isso; como é possível descrever insinceridade maior? Você o representa como um escarnecedor de suas impotentes criaturas, oferecendo o que ele nunca pretendeu dar. Você o descreve como dizendo uma coisa, e significando outra; como fingindo um amor que ele nunca teve. Ele, em ‘cuja boca não estava a malícia’, você torna cheia de decepção, insinceridade; então, especialmente, quando a cidade se fez noite, Ele lamentou sobre ela e disse: ‘Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, e tu não quiseste’. Agora, se você diz, eles poderiam, mas, ele não poderia, você o representa (o qual, quem pode ouvir?) como lamento de crocodilos chorões; lamentando sobre a vítima que ele mesmo tinha condenado à destruição!”
É realmente difícil exaurir do Deus calvinista uma visão de complexo de bipolaridade, pois ele “chama” quem já condenou antes da criação do mundo (tornando o chamado inútil e insincero) e diz que deseja a salvação de pessoas que não tem a mínima oportunidade de serem salvas, pois ele já predeterminou o contrário a respeito delas. Também é difícil conciliar isso com um Calvino que dizia repetidamente que Deus ignora, amaldiçoa, cega e endurece os não-eleitos precisamente para que eles não alcançassem a salvação, para depois “chamar” um não-eleito e “desejar” a salvação dele.
Sem as aspas no chamar e no desejar, tal chamado e desejo no calvinismo não tem sentido algum. Se Deus chama, é porque ele deu uma chance do pecador correspondender ao chamado, recebendo a graça. Se Deus “não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” (Ez.33:11), é porque ele dá oportunidade de salvação a todos. Sem essa oportunidade, qualquer chamado ou desejo para a salvação se torna frívolo, inútil, fútil e inconsistente, além de falso, irracional, ilógico e insincero.
• A possibilidade de arrependimento é necessária
É por essa mesma razão que a possibilidade de arrependimento é necessária. Isso não significa que Deus vai fazer com que todos se arrependam (o que significaria crer no lugar da pessoa e violar a liberdade dela em escolher crer ou descrer), mas significa que Deus irá dar oportunidades reais para todos se arrependerem. Em outras palavras, Deus não diz para ninguém se arrepender a não ser que seja possível que essa pessoa se arrependa.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Na Bíblia vemos inúmeros convites gerais ao arrependimento, tais como:
“O Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Apocalipse 22:17)
“E dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho” (Marcos 1:15)
“Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós” (Zacarias 1:3)
“Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me, e vivei” (Amós 5:4)
“Buscai o bem, e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis” (Amós 5:14)
“Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente” (1ª Crônicas 16:11)
Mas aquele que é provavelmente o texto mais preciso acerca disso e que proclama a universalidade do arrependimento é o texto de Atos 17:30, que diz:
“Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens, que todos, em toda a parte, se arrependam” (Atos 17:30)
Como Wesley observa, este texto diz respeito a “todo homem, em todo lugar, sem qualquer exceção, tanto ao lugar quanto à pessoa”. Mas como “todos, em toda a parte”, se arrependerão se não lhes é dada sequer uma oportunidade de crer? Se eles já foram de antemão predestinados ao inferno, eles não poderão se arrepender de jeito nenhum, ou senão o decreto divino a respeito deles seria anulado. No calvinismo, quem Deus não elegeu arbitrariamente antes da fundação do mundo não pode se arrepender e crer. Ele não tem uma chance, nunca terá uma oportunidade real. Chamar todos ao arrependimento, incluindo os milhares de não-eleitos, é vão.
É difícil entender Tiago dizendo para que os pecadores: “limpem as mãos; e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” (Tg.4:8), a não ser que ele pensasse que fosse realmente possível que o pecador limpasse suas mãos e purificasse seu coração. A coisa era tão séria que “todo aquele que não buscasse o Senhor, o Deus de Israel, deveria ser morto, gente simples ou importante, homem ou mulher” (2Cr.15:13). Será que Deus mandou matar aqueles a quem ele não deu uma oportunidade de viver?
Deus certa vez disse:
“Irei para meu lugar, até que ponham no coração e busquem minha face” (Oseias 5:15)
Qual a razão para Deus se afastar e só decidir voltar depois do arrependimento a não ser que este arrependimento fosse possível? Se ele não era, tudo não passou de um teatro aqui. Deus se afastou por causa de pecados que ele predeterminou que acontecessem, e não voltaria mais até que ele decretasse o arrependimento. Em outras palavras, Deus os abandona e volta para eles não em função de escolhas humanas, mas de decretos divinos.
Porém, a Bíblia sempre ensina que o arrependimento é possível para todos os pecadores. Deus disse:
“Não falei em segredo, nem em lugar algum escuro da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me em vão; eu sou o Senhor, que falo a justiça, e anuncio coisas retas” (Isaías 45:19)
O chamado de Deus, como ele mesmo diz, não é em vão. Seria absurda uma declaração dessas caso fosse impossível que muitas pessoas aceitassem este chamado, porque teoricamente já estariam predestinadas ao inferno. Este chamado seria obviamente “vão” para elas. Não valeria nada, da mesma forma que de nada adianta tentar falar aos ouvidos de um surdo, ou gesticular diante de um cego. Completamente vão.
Deus também disse:
“Este mandamento que hoje te prescrevo não é obscuro, nem posto ao longe, nem situado no céu, mas está junto de ti, em tua boca e em teu coração, para que o cumpras” (Deuteronômio 30:11-14)
A linguagem passa a ideia de que o cumprimento da vontade de Deus, que inclui o arrependimento para a salvação, não é algo distante, difícil de ser colocado em prática, muito menos impossível. É algo que meramente necessita de uma boca para falar e de um coração para crer. É um arrependimento perto e possível para todos, e não um arrependimento distante e impossível para muitos. Devemos mais uma vez lembrar que chamados como estes são gerais, incluindo aos que se perderam, como todo o contexto aponta. Deus não estava falando apenas com os “eleitos”, com uma pequena parcela dentre o povo, mas com todo o povo.
Infelizmente, Calvino mais uma vez se distanciou dos ensinamentos bíblicos neste ponto e tentou conciliar sua teologia com a Bíblia através de malabarismos lógicos que nada mais eram senão vãs tentativas de negar o óbvio. Ele chegou até mesmo a dizer que “por estas injunções, ‘se quiserdes’, ‘se ouvirdes’, o Senhor não nos atribui a livre capacidade de querer ou ouvir”, e que “mediante a pregação exterior, são todos chamados ao arrependimento e à fé, entretanto, nem a todos é dado o espírito de arrependimento e fé”.
Ele não compreendia que sua própria lógica tornava o chamado inútil e a impossibilitava a correspondência ao convite do arrependimento. Ele até mesmo negava que Deus deseja a salvação de todos, contrariando o óbvio ensinamento bíblico que permeia o Antigo (Ez.18:23; 18:32; 33:11) e o Novo (2Pe.3:9;1Tm.2:3,4) Testamento. Ele disse:
“Junto aos habitantes de Nínive e de Sodoma, segundo o testemunho de Cristo, a pregação do evangelho e os milagres teriam produzido mais fruto que na Judéia. Se Deus quer que todos venham a ser salvos, como acontece, pois, que aos míseros, que mais preparados estariam para receber a graça, ele não abra a porta do arrependimento?”
“O Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Apocalipse 22:17)
“E dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho” (Marcos 1:15)
“Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós” (Zacarias 1:3)
“Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me, e vivei” (Amós 5:4)
“Buscai o bem, e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis” (Amós 5:14)
“Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente” (1ª Crônicas 16:11)
Mas aquele que é provavelmente o texto mais preciso acerca disso e que proclama a universalidade do arrependimento é o texto de Atos 17:30, que diz:
“Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens, que todos, em toda a parte, se arrependam” (Atos 17:30)
Como Wesley observa, este texto diz respeito a “todo homem, em todo lugar, sem qualquer exceção, tanto ao lugar quanto à pessoa”. Mas como “todos, em toda a parte”, se arrependerão se não lhes é dada sequer uma oportunidade de crer? Se eles já foram de antemão predestinados ao inferno, eles não poderão se arrepender de jeito nenhum, ou senão o decreto divino a respeito deles seria anulado. No calvinismo, quem Deus não elegeu arbitrariamente antes da fundação do mundo não pode se arrepender e crer. Ele não tem uma chance, nunca terá uma oportunidade real. Chamar todos ao arrependimento, incluindo os milhares de não-eleitos, é vão.
É difícil entender Tiago dizendo para que os pecadores: “limpem as mãos; e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” (Tg.4:8), a não ser que ele pensasse que fosse realmente possível que o pecador limpasse suas mãos e purificasse seu coração. A coisa era tão séria que “todo aquele que não buscasse o Senhor, o Deus de Israel, deveria ser morto, gente simples ou importante, homem ou mulher” (2Cr.15:13). Será que Deus mandou matar aqueles a quem ele não deu uma oportunidade de viver?
Deus certa vez disse:
“Irei para meu lugar, até que ponham no coração e busquem minha face” (Oseias 5:15)
Qual a razão para Deus se afastar e só decidir voltar depois do arrependimento a não ser que este arrependimento fosse possível? Se ele não era, tudo não passou de um teatro aqui. Deus se afastou por causa de pecados que ele predeterminou que acontecessem, e não voltaria mais até que ele decretasse o arrependimento. Em outras palavras, Deus os abandona e volta para eles não em função de escolhas humanas, mas de decretos divinos.
Porém, a Bíblia sempre ensina que o arrependimento é possível para todos os pecadores. Deus disse:
“Não falei em segredo, nem em lugar algum escuro da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me em vão; eu sou o Senhor, que falo a justiça, e anuncio coisas retas” (Isaías 45:19)
O chamado de Deus, como ele mesmo diz, não é em vão. Seria absurda uma declaração dessas caso fosse impossível que muitas pessoas aceitassem este chamado, porque teoricamente já estariam predestinadas ao inferno. Este chamado seria obviamente “vão” para elas. Não valeria nada, da mesma forma que de nada adianta tentar falar aos ouvidos de um surdo, ou gesticular diante de um cego. Completamente vão.
Deus também disse:
“Este mandamento que hoje te prescrevo não é obscuro, nem posto ao longe, nem situado no céu, mas está junto de ti, em tua boca e em teu coração, para que o cumpras” (Deuteronômio 30:11-14)
A linguagem passa a ideia de que o cumprimento da vontade de Deus, que inclui o arrependimento para a salvação, não é algo distante, difícil de ser colocado em prática, muito menos impossível. É algo que meramente necessita de uma boca para falar e de um coração para crer. É um arrependimento perto e possível para todos, e não um arrependimento distante e impossível para muitos. Devemos mais uma vez lembrar que chamados como estes são gerais, incluindo aos que se perderam, como todo o contexto aponta. Deus não estava falando apenas com os “eleitos”, com uma pequena parcela dentre o povo, mas com todo o povo.
Infelizmente, Calvino mais uma vez se distanciou dos ensinamentos bíblicos neste ponto e tentou conciliar sua teologia com a Bíblia através de malabarismos lógicos que nada mais eram senão vãs tentativas de negar o óbvio. Ele chegou até mesmo a dizer que “por estas injunções, ‘se quiserdes’, ‘se ouvirdes’, o Senhor não nos atribui a livre capacidade de querer ou ouvir”, e que “mediante a pregação exterior, são todos chamados ao arrependimento e à fé, entretanto, nem a todos é dado o espírito de arrependimento e fé”.
Ele não compreendia que sua própria lógica tornava o chamado inútil e a impossibilitava a correspondência ao convite do arrependimento. Ele até mesmo negava que Deus deseja a salvação de todos, contrariando o óbvio ensinamento bíblico que permeia o Antigo (Ez.18:23; 18:32; 33:11) e o Novo (2Pe.3:9;1Tm.2:3,4) Testamento. Ele disse:
“Junto aos habitantes de Nínive e de Sodoma, segundo o testemunho de Cristo, a pregação do evangelho e os milagres teriam produzido mais fruto que na Judéia. Se Deus quer que todos venham a ser salvos, como acontece, pois, que aos míseros, que mais preparados estariam para receber a graça, ele não abra a porta do arrependimento?”
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Ele não apenas faz violência aos textos bíblicos que claramente dizem que Deus deseja a salvação de todos, como também faz adivinhação ao presumir que a oportunidade de arrependimento não existia para os habitantes de Nínive e Sodoma. A porta do arrependimento tanto se abriu para Nínive que muitos dali foram salvos com a pregação de Jonas (Jn.3:10), e a razão pela qual o mesmo não aconteceu com Sodoma foi pela desobediência dos próprios sodomitas, e não por negligência divina. Só porque o evangelho daria mais frutos em Nínive e Sodoma do que teve na Judeia não significa que os ninivitas e sodomitas não tiveram uma chance, significa apenas que os judeus rejeitaram a deles.
Por incrível que pareça, este absurdo calvinista desperta a fúria inclusive de outros calvinistas. Spurgeon, um dos mais famosos, se colocou fortemente contra Calvino nesta questão e negou veementemente que o Senhor não procurasse a salvação de alguém que não foi salvo. Ele disse:
“E com amor divino Ele o corteja como um pai corteja seu filho, estendendo Suas mãos e clamando: ‘Tornai-vos para mim, tornai-vos para mim’. ‘Não’, diz um doutrinário. ‘Deus nunca convida todos os homens a tornarem-se para Ele, mas somente alguns indivíduos’. Pare, senhor! Isto é tudo o que você sabe. Nunca leu sobre a parábola aonde é dito: ‘Meus bois e cevados já estão mortos, e tudo já está pronto; vinde às bodas’. E os que foram convidados não quiseram ir. E nunca leu que todos começaram a dar desculpas e foram punidos porque não aceitaram o convite? Então se os convites não são feitos para todos, mas somente para quem iria aceitá-lo, como esta parábola pode ser real?”
Ele também rejeitava a tese de Calvino, na qual Deus não estende suas mãos a um não-eleito. Contra isso, ele escreveu:
“É provável que o Senhor continue estendendo Suas mãos até que seus cabelos fiquem grisalhos, ainda convidando-o continuamente – e talvez quando estiver beirando a morte Ele ainda dirá: ‘Vinde a mim, vinde a mim’. Se porém você ainda insistir em endurecer seu coração, se ainda rejeitar Jesus, eu imploro-lhe que não permita que nada o faça imaginar que continuará sem punição!”
Spurgeon tanto sabia das consequencias de suas declarações que naquele mesmo sermão afirmou que muitos ali iriam acusá-lo de ensinar o arminianismo, mas preferia contradizer seu próprio sistema de crenças (calvinismo) do que contradizer a Bíblia. Logicamente, Armínio também rejeitou essa crença de Calvino, que impossibilita o arrependimento a um não-eleito. Ele disse que “isto imputa hipocrisia a Deus, como se, em Sua exortação à fé voltada para tais, Ele exige que estes creiam em Cristo, a quem, entretanto, Ele não propôs como Salvador deles”.
Ele também declarou:
“Eu gostaria que me explicassem como Deus pode, de fato, sinceramente desejar que alguém creia em Cristo, a quem Ele deseja que esteja apartado de Cristo, e a quem Ele decretou negar as ajudas necessárias à fé; pois isso não é desejar a conversão de ninguém”
Wesley também exclamava dizendo que “não posso crer que haja uma alma na terra que não tenha, nem nunca tenha tido, a possibilidade de escapar da condenação eterna”. Norman Geisler, embora se autodenomine “calvinista moderado”, é bem arminiano nesta questão. Ele diz que “seria tanto fraudulento quanto absurdo para Deus ordenar a todos que se arrependam, se não providenciou salvação para todos”. Ele também defende vigorosamente que existe oportunidade de salvação para todos, dizendo:
“A oportunidade de se arrepender é um dom de Deus. Ele graciosamente concede-nos a oportunidade de voltar de nossos pecados, mas o arrependimento cabe a nós. Deus não irá se arrepender por nós. O arrependimento é um ato de nossa vontade, apoiado e encorajado pela graça”
Contra a tese calvinista de que o “dever” se arrepender não implica em “poder” se arrepender, ele afirma:
“O calvinista extremado crê que dever não implica poder. A responsabilidade não implica capacidade de responder. Mas, se é assim, por que deveria me sentir responsável? Por que deveria me preocupar quando seguir determinado caminho está fora de meu controle?”
É também somente pela possibilidade de crer que um descrente pode ser justamente condenado por descrer, e apenas porque ele teve a possibilidade de se arrepender que ele pode ser acusado por sua rejeição ao arrependimento. O calvinismo, se levado às suas consequencias lógicas, anula a justiça de Deus e a responsabilidade do homem. Mas há ainda um outro elemento importante que eles afogam no caráter divino para defenderem suas teorias. Iremos analisá-lo agora.
• O amor de Deus implica em oferecer salvação a todos
Este último fator que nos leva a crer que Deus possibilita a salvação de todos chama-se amor. Pense, por um momento, que o famoso versículo de João 3:16 tivesse sido escrito assim:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que ele determinou que alguns poucos devessem crer e fossem salvos”
Qualquer pessoa minimamente sensata logo irá perceber que este versículo, embora plenamente compatível com a ótica calvinista, corrompe não apenas o versículo original, mas também o sentido do verso original. Quando a Bíblia diz que Deus “amou o mundo de tal maneira”, a expressão “de tal maneira” nos leva a crer em algo grande, magnífico, em uma completa expressão de amor. Mas a expressão seguinte, que diz que Deus possibilitou a salvação apenas de alguns poucos, se contrapõe a esta visão de amor universal, declarada no início do verso.
É por isso que Calvino disse Deus impede o acesso à salvação a muitos, e que os árduos problemas que ele reconhece existirem só podem ser explicados pela “eleição”:
“Porque, se é notório que pelo arbítrio de Deus suceder que a salvação é oferecida gratuitamente a uns, enquanto que outros são impedidos de seu acesso, aqui prontamente emergem grandes e árduas questões, as quais não podem ser explicadas de outra forma, se as mentes pias têm por definido o que se impõe manter a respeito de eleição e predestinação”
Por incrível que pareça, este absurdo calvinista desperta a fúria inclusive de outros calvinistas. Spurgeon, um dos mais famosos, se colocou fortemente contra Calvino nesta questão e negou veementemente que o Senhor não procurasse a salvação de alguém que não foi salvo. Ele disse:
“E com amor divino Ele o corteja como um pai corteja seu filho, estendendo Suas mãos e clamando: ‘Tornai-vos para mim, tornai-vos para mim’. ‘Não’, diz um doutrinário. ‘Deus nunca convida todos os homens a tornarem-se para Ele, mas somente alguns indivíduos’. Pare, senhor! Isto é tudo o que você sabe. Nunca leu sobre a parábola aonde é dito: ‘Meus bois e cevados já estão mortos, e tudo já está pronto; vinde às bodas’. E os que foram convidados não quiseram ir. E nunca leu que todos começaram a dar desculpas e foram punidos porque não aceitaram o convite? Então se os convites não são feitos para todos, mas somente para quem iria aceitá-lo, como esta parábola pode ser real?”
Ele também rejeitava a tese de Calvino, na qual Deus não estende suas mãos a um não-eleito. Contra isso, ele escreveu:
“É provável que o Senhor continue estendendo Suas mãos até que seus cabelos fiquem grisalhos, ainda convidando-o continuamente – e talvez quando estiver beirando a morte Ele ainda dirá: ‘Vinde a mim, vinde a mim’. Se porém você ainda insistir em endurecer seu coração, se ainda rejeitar Jesus, eu imploro-lhe que não permita que nada o faça imaginar que continuará sem punição!”
Spurgeon tanto sabia das consequencias de suas declarações que naquele mesmo sermão afirmou que muitos ali iriam acusá-lo de ensinar o arminianismo, mas preferia contradizer seu próprio sistema de crenças (calvinismo) do que contradizer a Bíblia. Logicamente, Armínio também rejeitou essa crença de Calvino, que impossibilita o arrependimento a um não-eleito. Ele disse que “isto imputa hipocrisia a Deus, como se, em Sua exortação à fé voltada para tais, Ele exige que estes creiam em Cristo, a quem, entretanto, Ele não propôs como Salvador deles”.
Ele também declarou:
“Eu gostaria que me explicassem como Deus pode, de fato, sinceramente desejar que alguém creia em Cristo, a quem Ele deseja que esteja apartado de Cristo, e a quem Ele decretou negar as ajudas necessárias à fé; pois isso não é desejar a conversão de ninguém”
Wesley também exclamava dizendo que “não posso crer que haja uma alma na terra que não tenha, nem nunca tenha tido, a possibilidade de escapar da condenação eterna”. Norman Geisler, embora se autodenomine “calvinista moderado”, é bem arminiano nesta questão. Ele diz que “seria tanto fraudulento quanto absurdo para Deus ordenar a todos que se arrependam, se não providenciou salvação para todos”. Ele também defende vigorosamente que existe oportunidade de salvação para todos, dizendo:
“A oportunidade de se arrepender é um dom de Deus. Ele graciosamente concede-nos a oportunidade de voltar de nossos pecados, mas o arrependimento cabe a nós. Deus não irá se arrepender por nós. O arrependimento é um ato de nossa vontade, apoiado e encorajado pela graça”
Contra a tese calvinista de que o “dever” se arrepender não implica em “poder” se arrepender, ele afirma:
“O calvinista extremado crê que dever não implica poder. A responsabilidade não implica capacidade de responder. Mas, se é assim, por que deveria me sentir responsável? Por que deveria me preocupar quando seguir determinado caminho está fora de meu controle?”
É também somente pela possibilidade de crer que um descrente pode ser justamente condenado por descrer, e apenas porque ele teve a possibilidade de se arrepender que ele pode ser acusado por sua rejeição ao arrependimento. O calvinismo, se levado às suas consequencias lógicas, anula a justiça de Deus e a responsabilidade do homem. Mas há ainda um outro elemento importante que eles afogam no caráter divino para defenderem suas teorias. Iremos analisá-lo agora.
• O amor de Deus implica em oferecer salvação a todos
Este último fator que nos leva a crer que Deus possibilita a salvação de todos chama-se amor. Pense, por um momento, que o famoso versículo de João 3:16 tivesse sido escrito assim:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que ele determinou que alguns poucos devessem crer e fossem salvos”
Qualquer pessoa minimamente sensata logo irá perceber que este versículo, embora plenamente compatível com a ótica calvinista, corrompe não apenas o versículo original, mas também o sentido do verso original. Quando a Bíblia diz que Deus “amou o mundo de tal maneira”, a expressão “de tal maneira” nos leva a crer em algo grande, magnífico, em uma completa expressão de amor. Mas a expressão seguinte, que diz que Deus possibilitou a salvação apenas de alguns poucos, se contrapõe a esta visão de amor universal, declarada no início do verso.
É por isso que Calvino disse Deus impede o acesso à salvação a muitos, e que os árduos problemas que ele reconhece existirem só podem ser explicados pela “eleição”:
“Porque, se é notório que pelo arbítrio de Deus suceder que a salvação é oferecida gratuitamente a uns, enquanto que outros são impedidos de seu acesso, aqui prontamente emergem grandes e árduas questões, as quais não podem ser explicadas de outra forma, se as mentes pias têm por definido o que se impõe manter a respeito de eleição e predestinação”
Cidoka- Mensagens : 15717
Data de inscrição : 13/10/2010
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Um calvinista logo irá perceber que nós estamos mais uma vez apelando para o amor de Deus e irá lançar mão do argumento de que Deus não tem a mínima obrigação de salvar a todos, que o homem chegou àquela condição por sua própria culpa e que não há nada no homem que o faça merecer a salvação. Tudo isso é verdade. Se analisarmos a questão apenas pela ótica da soberania, Deus não teria nenhuma razão para oferecer salvação a todos. Se analisarmos pela ótica arminiana, o homem pecou por sua própria culpa e responsabilidade. E, de fato, concordamos que não há nada no homem que o faça merecedor da salvação.
Mas espere. Embora tudo isso seja verdade e que não haja nada no homem para que este mereça a salvação, há algo em Deus que o move a oferecer salvação a todos indistintamente. E isto que está em Deus e que o leva a estender suas mãos ao homem perdido, ainda que não seja rigorosamente obrigado a isso e mesmo que o homem tenha caído por sua própria culpa, chama-se amor.
Deus amou o mundo de tal maneira que, mesmo sem ser obrigado a isso, ainda que o homem tenha caído em ruína por sua própria culpa, e não obstante que não haja nada no homem que mereça a salvação, ele decidiu enviar Seu Filho unigênito para oferecer salvação a todos, a fim de que todo aquele que nele crê seja salvo. Norman Geisler apresenta esse mesmo conceito dentro de uma analogia ilustrativa. Ele disse:
“Suponhamos que um fazendeiro descubra três garotos afogando-se numa lagoa de sua propriedade, onde há cartazes indicando claramente que é proibido nadar ali. Em seguida, percebendo a patente desobediência, diz ele consigo mesmo: ‘Eles violaram a proibição, e trouxeram sobre si mesmos as conseqüências merecidas pela desobediência’. Poderíamos, talvez, concordar com o raciocínio, até este ponto. Contudo, se o fazendeiro prosseguir, dizendo: ‘Portanto, não farei qualquer esforço para salvá-los’, imediatamente imaginaríamos que está faltando alguma coisa em seu amor. Suponhamos, então, que por qualquer capricho inexplicável ele diria o seguinte: ‘Não tenho a mínima obrigação de salvar um deles, mas por mera bondade de meu coração salvarei um deles e deixarei os outros dois afogar-se’. Em tal caso, certamente diríamos que o amor deste homem é parcial. É certo que não é este o quadro que encontramos na Bíblia”
Infelizmente, este fazendeiro e seu amor parcial é o reflexo do que os calvinistas pensam a respeito de Deus e seu amor limitado a alguns. Como Laurence Vance bem observa, o Deus calvinista é tipicamente como aquele sacerdote e aquele levita que passaram pelo homem caído no chão e quase morto, mas não fizeram nada a respeito dele:
“O Deus do calvinista é como o sacerdote e o levita que ‘passaram de largo’ pelo homem ‘meio morto’ na parábola do bom samaritano (Lc 10.31-32). E pior ainda, Deus também seria como os salteadores que ‘o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto’ (Lc 10.30). Dizer que, porque Deus voltou e ‘moveu-se de íntima compaixão, e, aproximando-se, atou-lhe as feridas’ (Lc 10.33-34), ele devia ser louvado por sua graça e misericórdia é absurdo. Sobre o samaritano que ‘aproximou-se’ (Lc 10.34), o Senhor ordenou: ‘Vai, e faze da mesma maneira’ (Lc 10.37). Certamente o Senhor pratica o que recomenda”
O Deus calvinista é como o sacerdote e o levita da parábola. Vê o homem caído no chão, quase morrendo, e passa dali sem tomar nenhuma providência a respeito, e sem oferecer salvação àquele homem, por não ter sido um “eleito”. Na verdade, o Deus calvinista também determinou que os salteadores passassem por ali e espancassem aquele homem, como vimos no capítulo sobre o determinismo.
Já o Deus arminiano é como aquele samaritano que passou por ali e atou-lhe as feridas, sem se importar se aquele homem era “eleito” ou “não-eleito”, a despeito de qualquer eleição arbitrária na eternidade. O Deus arminiano amou o mundo todo de tal maneira que ofereceu a salvação para todos, e não para alguns. Ele não é com alguns o que o sacerdote e levita eram na parábola, e com outros o que o samaritano era na parábola. Ele é como o bom samaritano para com todos, indistintamente.
Ele pratica aquilo que ele ordena que nós pratiquemos. Ele não é como alguém que nos manda fazer uma coisa mas faz outra. Não é como o “siga o que eu digo, mas não siga o que eu faço”. Ele realmente é o exemplo a ser seguido, e seus ensinamentos nada mais são do que o reflexo de seu caráter perfeito. Como Walls e Dongell assinalam, “torna-se sem sentido alegar que Deus quer salvar a todos ao passo que insistimos que Deus se abstém de tornar a salvar possível a todos. O que devemos fazer com um Deus que pede para que façamos aquilo que ele mesmo não faz?”
Geisler corretamente observa que os calvinistas analisam apenas o atributo da justiça de Deus, à parte do atributo do amor. Ele disse:
“Deus é mais que justo; também é todo-amoroso. E verdade que todos são condenados com justiça por causa de seus pecados. Mas é errado presumir que um atributo de Deus (justiça) opere isolado de outro (amor). Não havia nada no ser humano pecaminoso que justificasse qualquer tentativa de salvá-lo, mas havia alguma coisa em um Deus sem pecado que fez isso (a saber, seu infinito amor)”
Olson também pergunta: “Que amor se recusa a salvar aqueles que poderiam ser salvos, uma vez que a salvação é incondicional? Que compaixão se recusa a prover pela salvação quando ela poderia ser fornecida?” Para Geisler, se o calvinismo é verdadeiro, então a verdadeira razão pela qual alguém é condenado é porque Deus não a ama. Ele disse:
“Segue-se, em análise final, que a razão pela qual alguns vão para o inferno é que Deus não os ama e não lhes dá o desejo de ser salvos. Mas, se a razão real pela qual vão para o inferno é que Deus não os ama, não os regenera irresistivelmente e não lhes dá a fé para que creiam, então a falha deles em crer resulta verdadeiramente da falta de amor de Deus por eles”
Essa é uma conclusão difícil de ser tolerada, mas é onde deveríamos chegar no caso da graça divina ser realmente como os calvinistas imaginam que ela seja.
Mas espere. Embora tudo isso seja verdade e que não haja nada no homem para que este mereça a salvação, há algo em Deus que o move a oferecer salvação a todos indistintamente. E isto que está em Deus e que o leva a estender suas mãos ao homem perdido, ainda que não seja rigorosamente obrigado a isso e mesmo que o homem tenha caído por sua própria culpa, chama-se amor.
Deus amou o mundo de tal maneira que, mesmo sem ser obrigado a isso, ainda que o homem tenha caído em ruína por sua própria culpa, e não obstante que não haja nada no homem que mereça a salvação, ele decidiu enviar Seu Filho unigênito para oferecer salvação a todos, a fim de que todo aquele que nele crê seja salvo. Norman Geisler apresenta esse mesmo conceito dentro de uma analogia ilustrativa. Ele disse:
“Suponhamos que um fazendeiro descubra três garotos afogando-se numa lagoa de sua propriedade, onde há cartazes indicando claramente que é proibido nadar ali. Em seguida, percebendo a patente desobediência, diz ele consigo mesmo: ‘Eles violaram a proibição, e trouxeram sobre si mesmos as conseqüências merecidas pela desobediência’. Poderíamos, talvez, concordar com o raciocínio, até este ponto. Contudo, se o fazendeiro prosseguir, dizendo: ‘Portanto, não farei qualquer esforço para salvá-los’, imediatamente imaginaríamos que está faltando alguma coisa em seu amor. Suponhamos, então, que por qualquer capricho inexplicável ele diria o seguinte: ‘Não tenho a mínima obrigação de salvar um deles, mas por mera bondade de meu coração salvarei um deles e deixarei os outros dois afogar-se’. Em tal caso, certamente diríamos que o amor deste homem é parcial. É certo que não é este o quadro que encontramos na Bíblia”
Infelizmente, este fazendeiro e seu amor parcial é o reflexo do que os calvinistas pensam a respeito de Deus e seu amor limitado a alguns. Como Laurence Vance bem observa, o Deus calvinista é tipicamente como aquele sacerdote e aquele levita que passaram pelo homem caído no chão e quase morto, mas não fizeram nada a respeito dele:
“O Deus do calvinista é como o sacerdote e o levita que ‘passaram de largo’ pelo homem ‘meio morto’ na parábola do bom samaritano (Lc 10.31-32). E pior ainda, Deus também seria como os salteadores que ‘o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto’ (Lc 10.30). Dizer que, porque Deus voltou e ‘moveu-se de íntima compaixão, e, aproximando-se, atou-lhe as feridas’ (Lc 10.33-34), ele devia ser louvado por sua graça e misericórdia é absurdo. Sobre o samaritano que ‘aproximou-se’ (Lc 10.34), o Senhor ordenou: ‘Vai, e faze da mesma maneira’ (Lc 10.37). Certamente o Senhor pratica o que recomenda”
O Deus calvinista é como o sacerdote e o levita da parábola. Vê o homem caído no chão, quase morrendo, e passa dali sem tomar nenhuma providência a respeito, e sem oferecer salvação àquele homem, por não ter sido um “eleito”. Na verdade, o Deus calvinista também determinou que os salteadores passassem por ali e espancassem aquele homem, como vimos no capítulo sobre o determinismo.
Já o Deus arminiano é como aquele samaritano que passou por ali e atou-lhe as feridas, sem se importar se aquele homem era “eleito” ou “não-eleito”, a despeito de qualquer eleição arbitrária na eternidade. O Deus arminiano amou o mundo todo de tal maneira que ofereceu a salvação para todos, e não para alguns. Ele não é com alguns o que o sacerdote e levita eram na parábola, e com outros o que o samaritano era na parábola. Ele é como o bom samaritano para com todos, indistintamente.
Ele pratica aquilo que ele ordena que nós pratiquemos. Ele não é como alguém que nos manda fazer uma coisa mas faz outra. Não é como o “siga o que eu digo, mas não siga o que eu faço”. Ele realmente é o exemplo a ser seguido, e seus ensinamentos nada mais são do que o reflexo de seu caráter perfeito. Como Walls e Dongell assinalam, “torna-se sem sentido alegar que Deus quer salvar a todos ao passo que insistimos que Deus se abstém de tornar a salvar possível a todos. O que devemos fazer com um Deus que pede para que façamos aquilo que ele mesmo não faz?”
Geisler corretamente observa que os calvinistas analisam apenas o atributo da justiça de Deus, à parte do atributo do amor. Ele disse:
“Deus é mais que justo; também é todo-amoroso. E verdade que todos são condenados com justiça por causa de seus pecados. Mas é errado presumir que um atributo de Deus (justiça) opere isolado de outro (amor). Não havia nada no ser humano pecaminoso que justificasse qualquer tentativa de salvá-lo, mas havia alguma coisa em um Deus sem pecado que fez isso (a saber, seu infinito amor)”
Olson também pergunta: “Que amor se recusa a salvar aqueles que poderiam ser salvos, uma vez que a salvação é incondicional? Que compaixão se recusa a prover pela salvação quando ela poderia ser fornecida?” Para Geisler, se o calvinismo é verdadeiro, então a verdadeira razão pela qual alguém é condenado é porque Deus não a ama. Ele disse:
“Segue-se, em análise final, que a razão pela qual alguns vão para o inferno é que Deus não os ama e não lhes dá o desejo de ser salvos. Mas, se a razão real pela qual vão para o inferno é que Deus não os ama, não os regenera irresistivelmente e não lhes dá a fé para que creiam, então a falha deles em crer resulta verdadeiramente da falta de amor de Deus por eles”
Essa é uma conclusão difícil de ser tolerada, mas é onde deveríamos chegar no caso da graça divina ser realmente como os calvinistas imaginam que ela seja.
Cidoka- Mensagens : 15717
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
Um calvinista logo irá perceber que nós estamos mais uma vez apelando para o amor de Deus e irá lançar mão do argumento de que Deus não tem a mínima obrigação de salvar a todos, que o homem chegou àquela condição por sua própria culpa e que não há nada no homem que o faça merecer a salvação. Tudo isso é verdade. Se analisarmos a questão apenas pela ótica da soberania, Deus não teria nenhuma razão para oferecer salvação a todos. Se analisarmos pela ótica arminiana, o homem pecou por sua própria culpa e responsabilidade. E, de fato, concordamos que não há nada no homem que o faça merecedor da salvação.
Mas espere. Embora tudo isso seja verdade e que não haja nada no homem para que este mereça a salvação, há algo em Deus que o move a oferecer salvação a todos indistintamente. E isto que está em Deus e que o leva a estender suas mãos ao homem perdido, ainda que não seja rigorosamente obrigado a isso e mesmo que o homem tenha caído por sua própria culpa, chama-se amor.
Deus amou o mundo de tal maneira que, mesmo sem ser obrigado a isso, ainda que o homem tenha caído em ruína por sua própria culpa, e não obstante que não haja nada no homem que mereça a salvação, ele decidiu enviar Seu Filho unigênito para oferecer salvação a todos, a fim de que todo aquele que nele crê seja salvo. Norman Geisler apresenta esse mesmo conceito dentro de uma analogia ilustrativa. Ele disse:
“Suponhamos que um fazendeiro descubra três garotos afogando-se numa lagoa de sua propriedade, onde há cartazes indicando claramente que é proibido nadar ali. Em seguida, percebendo a patente desobediência, diz ele consigo mesmo: ‘Eles violaram a proibição, e trouxeram sobre si mesmos as conseqüências merecidas pela desobediência’. Poderíamos, talvez, concordar com o raciocínio, até este ponto. Contudo, se o fazendeiro prosseguir, dizendo: ‘Portanto, não farei qualquer esforço para salvá-los’, imediatamente imaginaríamos que está faltando alguma coisa em seu amor. Suponhamos, então, que por qualquer capricho inexplicável ele diria o seguinte: ‘Não tenho a mínima obrigação de salvar um deles, mas por mera bondade de meu coração salvarei um deles e deixarei os outros dois afogar-se’. Em tal caso, certamente diríamos que o amor deste homem é parcial. É certo que não é este o quadro que encontramos na Bíblia”
Infelizmente, este fazendeiro e seu amor parcial é o reflexo do que os calvinistas pensam a respeito de Deus e seu amor limitado a alguns. Como Laurence Vance bem observa, o Deus calvinista é tipicamente como aquele sacerdote e aquele levita que passaram pelo homem caído no chão e quase morto, mas não fizeram nada a respeito dele:
“O Deus do calvinista é como o sacerdote e o levita que ‘passaram de largo’ pelo homem ‘meio morto’ na parábola do bom samaritano (Lc 10.31-32). E pior ainda, Deus também seria como os salteadores que ‘o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto’ (Lc 10.30). Dizer que, porque Deus voltou e ‘moveu-se de íntima compaixão, e, aproximando-se, atou-lhe as feridas’ (Lc 10.33-34), ele devia ser louvado por sua graça e misericórdia é absurdo. Sobre o samaritano que ‘aproximou-se’ (Lc 10.34), o Senhor ordenou: ‘Vai, e faze da mesma maneira’ (Lc 10.37). Certamente o Senhor pratica o que recomenda”
O Deus calvinista é como o sacerdote e o levita da parábola. Vê o homem caído no chão, quase morrendo, e passa dali sem tomar nenhuma providência a respeito, e sem oferecer salvação àquele homem, por não ter sido um “eleito”. Na verdade, o Deus calvinista também determinou que os salteadores passassem por ali e espancassem aquele homem, como vimos no capítulo sobre o determinismo.
Já o Deus arminiano é como aquele samaritano que passou por ali e atou-lhe as feridas, sem se importar se aquele homem era “eleito” ou “não-eleito”, a despeito de qualquer eleição arbitrária na eternidade. O Deus arminiano amou o mundo todo de tal maneira que ofereceu a salvação para todos, e não para alguns. Ele não é com alguns o que o sacerdote e levita eram na parábola, e com outros o que o samaritano era na parábola. Ele é como o bom samaritano para com todos, indistintamente.
Ele pratica aquilo que ele ordena que nós pratiquemos. Ele não é como alguém que nos manda fazer uma coisa mas faz outra. Não é como o “siga o que eu digo, mas não siga o que eu faço”. Ele realmente é o exemplo a ser seguido, e seus ensinamentos nada mais são do que o reflexo de seu caráter perfeito. Como Walls e Dongell assinalam, “torna-se sem sentido alegar que Deus quer salvar a todos ao passo que insistimos que Deus se abstém de tornar a salvar possível a todos. O que devemos fazer com um Deus que pede para que façamos aquilo que ele mesmo não faz?”
Geisler corretamente observa que os calvinistas analisam apenas o atributo da justiça de Deus, à parte do atributo do amor. Ele disse:
“Deus é mais que justo; também é todo-amoroso. E verdade que todos são condenados com justiça por causa de seus pecados. Mas é errado presumir que um atributo de Deus (justiça) opere isolado de outro (amor). Não havia nada no ser humano pecaminoso que justificasse qualquer tentativa de salvá-lo, mas havia alguma coisa em um Deus sem pecado que fez isso (a saber, seu infinito amor)”
Olson também pergunta: “Que amor se recusa a salvar aqueles que poderiam ser salvos, uma vez que a salvação é incondicional? Que compaixão se recusa a prover pela salvação quando ela poderia ser fornecida?” Para Geisler, se o calvinismo é verdadeiro, então a verdadeira razão pela qual alguém é condenado é porque Deus não a ama. Ele disse:
“Segue-se, em análise final, que a razão pela qual alguns vão para o inferno é que Deus não os ama e não lhes dá o desejo de ser salvos. Mas, se a razão real pela qual vão para o inferno é que Deus não os ama, não os regenera irresistivelmente e não lhes dá a fé para que creiam, então a falha deles em crer resulta verdadeiramente da falta de amor de Deus por eles”
Essa é uma conclusão difícil de ser tolerada, mas é onde deveríamos chegar no caso da graça divina ser realmente como os calvinistas imaginam que ela seja.
Mas espere. Embora tudo isso seja verdade e que não haja nada no homem para que este mereça a salvação, há algo em Deus que o move a oferecer salvação a todos indistintamente. E isto que está em Deus e que o leva a estender suas mãos ao homem perdido, ainda que não seja rigorosamente obrigado a isso e mesmo que o homem tenha caído por sua própria culpa, chama-se amor.
Deus amou o mundo de tal maneira que, mesmo sem ser obrigado a isso, ainda que o homem tenha caído em ruína por sua própria culpa, e não obstante que não haja nada no homem que mereça a salvação, ele decidiu enviar Seu Filho unigênito para oferecer salvação a todos, a fim de que todo aquele que nele crê seja salvo. Norman Geisler apresenta esse mesmo conceito dentro de uma analogia ilustrativa. Ele disse:
“Suponhamos que um fazendeiro descubra três garotos afogando-se numa lagoa de sua propriedade, onde há cartazes indicando claramente que é proibido nadar ali. Em seguida, percebendo a patente desobediência, diz ele consigo mesmo: ‘Eles violaram a proibição, e trouxeram sobre si mesmos as conseqüências merecidas pela desobediência’. Poderíamos, talvez, concordar com o raciocínio, até este ponto. Contudo, se o fazendeiro prosseguir, dizendo: ‘Portanto, não farei qualquer esforço para salvá-los’, imediatamente imaginaríamos que está faltando alguma coisa em seu amor. Suponhamos, então, que por qualquer capricho inexplicável ele diria o seguinte: ‘Não tenho a mínima obrigação de salvar um deles, mas por mera bondade de meu coração salvarei um deles e deixarei os outros dois afogar-se’. Em tal caso, certamente diríamos que o amor deste homem é parcial. É certo que não é este o quadro que encontramos na Bíblia”
Infelizmente, este fazendeiro e seu amor parcial é o reflexo do que os calvinistas pensam a respeito de Deus e seu amor limitado a alguns. Como Laurence Vance bem observa, o Deus calvinista é tipicamente como aquele sacerdote e aquele levita que passaram pelo homem caído no chão e quase morto, mas não fizeram nada a respeito dele:
“O Deus do calvinista é como o sacerdote e o levita que ‘passaram de largo’ pelo homem ‘meio morto’ na parábola do bom samaritano (Lc 10.31-32). E pior ainda, Deus também seria como os salteadores que ‘o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto’ (Lc 10.30). Dizer que, porque Deus voltou e ‘moveu-se de íntima compaixão, e, aproximando-se, atou-lhe as feridas’ (Lc 10.33-34), ele devia ser louvado por sua graça e misericórdia é absurdo. Sobre o samaritano que ‘aproximou-se’ (Lc 10.34), o Senhor ordenou: ‘Vai, e faze da mesma maneira’ (Lc 10.37). Certamente o Senhor pratica o que recomenda”
O Deus calvinista é como o sacerdote e o levita da parábola. Vê o homem caído no chão, quase morrendo, e passa dali sem tomar nenhuma providência a respeito, e sem oferecer salvação àquele homem, por não ter sido um “eleito”. Na verdade, o Deus calvinista também determinou que os salteadores passassem por ali e espancassem aquele homem, como vimos no capítulo sobre o determinismo.
Já o Deus arminiano é como aquele samaritano que passou por ali e atou-lhe as feridas, sem se importar se aquele homem era “eleito” ou “não-eleito”, a despeito de qualquer eleição arbitrária na eternidade. O Deus arminiano amou o mundo todo de tal maneira que ofereceu a salvação para todos, e não para alguns. Ele não é com alguns o que o sacerdote e levita eram na parábola, e com outros o que o samaritano era na parábola. Ele é como o bom samaritano para com todos, indistintamente.
Ele pratica aquilo que ele ordena que nós pratiquemos. Ele não é como alguém que nos manda fazer uma coisa mas faz outra. Não é como o “siga o que eu digo, mas não siga o que eu faço”. Ele realmente é o exemplo a ser seguido, e seus ensinamentos nada mais são do que o reflexo de seu caráter perfeito. Como Walls e Dongell assinalam, “torna-se sem sentido alegar que Deus quer salvar a todos ao passo que insistimos que Deus se abstém de tornar a salvar possível a todos. O que devemos fazer com um Deus que pede para que façamos aquilo que ele mesmo não faz?”
Geisler corretamente observa que os calvinistas analisam apenas o atributo da justiça de Deus, à parte do atributo do amor. Ele disse:
“Deus é mais que justo; também é todo-amoroso. E verdade que todos são condenados com justiça por causa de seus pecados. Mas é errado presumir que um atributo de Deus (justiça) opere isolado de outro (amor). Não havia nada no ser humano pecaminoso que justificasse qualquer tentativa de salvá-lo, mas havia alguma coisa em um Deus sem pecado que fez isso (a saber, seu infinito amor)”
Olson também pergunta: “Que amor se recusa a salvar aqueles que poderiam ser salvos, uma vez que a salvação é incondicional? Que compaixão se recusa a prover pela salvação quando ela poderia ser fornecida?” Para Geisler, se o calvinismo é verdadeiro, então a verdadeira razão pela qual alguém é condenado é porque Deus não a ama. Ele disse:
“Segue-se, em análise final, que a razão pela qual alguns vão para o inferno é que Deus não os ama e não lhes dá o desejo de ser salvos. Mas, se a razão real pela qual vão para o inferno é que Deus não os ama, não os regenera irresistivelmente e não lhes dá a fé para que creiam, então a falha deles em crer resulta verdadeiramente da falta de amor de Deus por eles”
Essa é uma conclusão difícil de ser tolerada, mas é onde deveríamos chegar no caso da graça divina ser realmente como os calvinistas imaginam que ela seja.
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Re: Predestinação Vs. Livre Arbítrio (salvação pela graça)
• Amor forçado é contradição de termos
Finalmente, é importante ressaltar que, se o livre-arbítrio não conta (pois ele não existe), então a vontade do homem é violentada por Deus para que ele creia, a despeito do que ele creria caso tivesse o livre-arbítrio de aceitar ou rejeitar a graça divina. Como a graça é irresistível, torna-se impossível que o homem resista à graça. Ele sempre terá que aceitá-la, e essa aceitação não provém da própria vontade do homem, mas da eleição divina na eternidade.
É como um homem que força a sua amada a aceitar seu pedido de casamento, em contraste com um que a convida a se casar mas que a deixa livre para aceitar ou rejeitar este convite, dependendo da vontade dela. O problema é que amor forçado é contradição de termos, e que a Bíblia, por todos os lados, apresenta uma noção contrária ao uso de uma força irresistível para convencer alguém de algo. Já vimos o texto de Apocalipse 3:20, que mostra o oposto:
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei na sua casa, e cearei com ele, e Ele comigo” (Apocalipse 3:20)
Deus bate na porta como um cavalheiro, esperando que a pessoa livremente decida abrir a porta do seu coração a ele. Ele não arromba, não chega entrando sem pedir permissão nem violenta a vontade do indivíduo para que ele abra. Até o apóstolo Paulo dizia a Filemom que “não quis fazer nada sem a sua permissão, para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não forçado” (Fm.14). Jesus, antes de curar o paralítico, perguntou-lhe:
“Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos. Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: ‘Você quer ser curado?’” (João 5:5,6)
Embora fosse óbvio que um paralítico iria querer ser curado e igualmente óbvio que a cura seria o melhor para ele, Jesus não foi operando a cura sem a permissão ou livre vontade do indivíduo. Ele primeiro perguntou se ele queria ser curado, e só depois de receber resposta positiva é que ele realizou a cura. Cristo nunca agiu contrário ao livre-arbítrio de uma pessoa, mas por meio do livre-arbítrio da pessoa. Ele não faz as coisas de forma unilateral e forçada.
Outro exemplo disso se encontra no relato da cura dos homens cegos:
“Dois cegos estavam sentados à beira do caminho e, quando ouviram falar que Jesus estava passando, puseram-se a gritar: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!’ A multidão os repreendeu para que ficassem quietos, mas eles gritavam ainda mais: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!’ Jesus, parando, chamou-os e perguntou-lhes: ‘O que vocês querem que eu lhes faça?’ Responderam eles: ‘Senhor, queremos que se abram os nossos olhos’. Jesus teve compaixão deles e tocou nos olhos deles. Imediatamente eles recuperaram a visão e o seguiram” (Mateus 20:30-34)
Era lógico que aqueles cegos estavam procurando Jesus porque queriam ver. Mesmo assim, ao invés de Jesus já ir curando, ele primeiro perguntou o que eles queriam que ele fizesse, e só depois dos cegos expressarem a vontade deles é que Cristo de fato agiu com a cura. O tempo todo vemos Deus agindo mediante a vontade do homem, e não forçando a vontade do homem. C. S. Lewis já sabia disso quando disse:
“O Irresistível e o Indiscutível são duas armas que a própria natureza de Seu esquema O proíbe de utilizar. Subjugar simplesmente a vontade humana... não Lhe serve. Ele não pode arrebatar. Pode apenas convidar”
Um amor forçado e irresistível destroi um relacionamento. Um relacionamento só existe onde alguém é livre para amar ou não amar, e decide, por livre e espontânea vontade, amar. Mas se a vontade de um ser é violentada para que ele só possa amar, não há mais nenhum relacionamento sincero aqui. Ray Dunning bem observa que, “se os homens são peças que o Soberano Mestre em xadrez as move de forma unilateral e até excêntrica, o caráter pessoal da relação humano-divina é efetivamente eliminado”.
Roger Olson pergunta:
“Se os homens escolhidos por Deus não podem resistir à oferta de um relacionamento correto com Deus, que tipo de relacionamento é esse? Uma relação pessoal pode ser irresistível? Tais predestinados são, de fato, pessoas em um relacionamento assim?”
Sobre a perspectiva de Armínio, ele também afirma:
“A preocupação de Armínio não residia apenas em não fazer de Deus o autor do pecado, mas também que a relação divino-humana não fosse meramente mecânica, mas genuinamente pessoal. Para ele, a doutrina do calvinismo rígido reduziu a pessoa a ser salva a um autômato e a relação divino-humana ao nível de relacionamento entre uma pessoa e um instrumento. Portanto, ele teve que dar espaço à resistência, mas ele não o fez de maneira tal a sugerir que a pessoa sendo salva se tornasse a causa da salvação”
Chales Cameron também acentua que “a graça de Deus não é certa força irresistível (...) é uma Pessoa, o Espírito Santo, e em relacionamentos pessoais não pode haver a subjugação de uma pessoa por outra”. Quem fala melhor do que ninguém sobre isso é Norman Geisler. Ele diz que “o uso de força irresistível da parte de Deus contra Suas criaturas livres seria uma violação tanto da caridade de Deus como da dignidade dos seres humanos. Deus é amor. O verdadeiro amor jamais abre caminho à força. Amor forçado é rapto, e Deus não é um raptor!”
Para ele, “uma força irresistível usada por Deus nas criaturas livres seria violação tanto do amor de Deus quanto da dignidade do ser humano. Deus é amor. E o verdadeiro amor nunca força ninguém, seja externa, seja internamente. ‘Amor forçado’ é contradição de termos”. Se o calvinismo for verdadeiro, "o fato de alguma pessoa não ter escolhido amar, adorar e servir a Deus não fará nenhuma diferença para Ele. Ele simplesmente ‘se apodera’ dos que escolhe com seu poder irresistível e força-os a entrar em seu Reino, contra a vontade deles”.
Por fim, ele afirma:
“A ‘graça irresistível’ viola o livre-arbítrio daquele que não a deseja, pois Deus é amor (Jo 4.16), e o verdadeiro amor é persuasivo, mas nunca coercitivo. Jamais poderá haver um casamento forçado no céu. Deus não é como B. F. Skinner que, em sua teoria da conduta, modifica as pessoas fazendo que ajam contra a própria vontade”
Finalmente, é importante ressaltar que, se o livre-arbítrio não conta (pois ele não existe), então a vontade do homem é violentada por Deus para que ele creia, a despeito do que ele creria caso tivesse o livre-arbítrio de aceitar ou rejeitar a graça divina. Como a graça é irresistível, torna-se impossível que o homem resista à graça. Ele sempre terá que aceitá-la, e essa aceitação não provém da própria vontade do homem, mas da eleição divina na eternidade.
É como um homem que força a sua amada a aceitar seu pedido de casamento, em contraste com um que a convida a se casar mas que a deixa livre para aceitar ou rejeitar este convite, dependendo da vontade dela. O problema é que amor forçado é contradição de termos, e que a Bíblia, por todos os lados, apresenta uma noção contrária ao uso de uma força irresistível para convencer alguém de algo. Já vimos o texto de Apocalipse 3:20, que mostra o oposto:
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei na sua casa, e cearei com ele, e Ele comigo” (Apocalipse 3:20)
Deus bate na porta como um cavalheiro, esperando que a pessoa livremente decida abrir a porta do seu coração a ele. Ele não arromba, não chega entrando sem pedir permissão nem violenta a vontade do indivíduo para que ele abra. Até o apóstolo Paulo dizia a Filemom que “não quis fazer nada sem a sua permissão, para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não forçado” (Fm.14). Jesus, antes de curar o paralítico, perguntou-lhe:
“Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos. Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: ‘Você quer ser curado?’” (João 5:5,6)
Embora fosse óbvio que um paralítico iria querer ser curado e igualmente óbvio que a cura seria o melhor para ele, Jesus não foi operando a cura sem a permissão ou livre vontade do indivíduo. Ele primeiro perguntou se ele queria ser curado, e só depois de receber resposta positiva é que ele realizou a cura. Cristo nunca agiu contrário ao livre-arbítrio de uma pessoa, mas por meio do livre-arbítrio da pessoa. Ele não faz as coisas de forma unilateral e forçada.
Outro exemplo disso se encontra no relato da cura dos homens cegos:
“Dois cegos estavam sentados à beira do caminho e, quando ouviram falar que Jesus estava passando, puseram-se a gritar: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!’ A multidão os repreendeu para que ficassem quietos, mas eles gritavam ainda mais: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!’ Jesus, parando, chamou-os e perguntou-lhes: ‘O que vocês querem que eu lhes faça?’ Responderam eles: ‘Senhor, queremos que se abram os nossos olhos’. Jesus teve compaixão deles e tocou nos olhos deles. Imediatamente eles recuperaram a visão e o seguiram” (Mateus 20:30-34)
Era lógico que aqueles cegos estavam procurando Jesus porque queriam ver. Mesmo assim, ao invés de Jesus já ir curando, ele primeiro perguntou o que eles queriam que ele fizesse, e só depois dos cegos expressarem a vontade deles é que Cristo de fato agiu com a cura. O tempo todo vemos Deus agindo mediante a vontade do homem, e não forçando a vontade do homem. C. S. Lewis já sabia disso quando disse:
“O Irresistível e o Indiscutível são duas armas que a própria natureza de Seu esquema O proíbe de utilizar. Subjugar simplesmente a vontade humana... não Lhe serve. Ele não pode arrebatar. Pode apenas convidar”
Um amor forçado e irresistível destroi um relacionamento. Um relacionamento só existe onde alguém é livre para amar ou não amar, e decide, por livre e espontânea vontade, amar. Mas se a vontade de um ser é violentada para que ele só possa amar, não há mais nenhum relacionamento sincero aqui. Ray Dunning bem observa que, “se os homens são peças que o Soberano Mestre em xadrez as move de forma unilateral e até excêntrica, o caráter pessoal da relação humano-divina é efetivamente eliminado”.
Roger Olson pergunta:
“Se os homens escolhidos por Deus não podem resistir à oferta de um relacionamento correto com Deus, que tipo de relacionamento é esse? Uma relação pessoal pode ser irresistível? Tais predestinados são, de fato, pessoas em um relacionamento assim?”
Sobre a perspectiva de Armínio, ele também afirma:
“A preocupação de Armínio não residia apenas em não fazer de Deus o autor do pecado, mas também que a relação divino-humana não fosse meramente mecânica, mas genuinamente pessoal. Para ele, a doutrina do calvinismo rígido reduziu a pessoa a ser salva a um autômato e a relação divino-humana ao nível de relacionamento entre uma pessoa e um instrumento. Portanto, ele teve que dar espaço à resistência, mas ele não o fez de maneira tal a sugerir que a pessoa sendo salva se tornasse a causa da salvação”
Chales Cameron também acentua que “a graça de Deus não é certa força irresistível (...) é uma Pessoa, o Espírito Santo, e em relacionamentos pessoais não pode haver a subjugação de uma pessoa por outra”. Quem fala melhor do que ninguém sobre isso é Norman Geisler. Ele diz que “o uso de força irresistível da parte de Deus contra Suas criaturas livres seria uma violação tanto da caridade de Deus como da dignidade dos seres humanos. Deus é amor. O verdadeiro amor jamais abre caminho à força. Amor forçado é rapto, e Deus não é um raptor!”
Para ele, “uma força irresistível usada por Deus nas criaturas livres seria violação tanto do amor de Deus quanto da dignidade do ser humano. Deus é amor. E o verdadeiro amor nunca força ninguém, seja externa, seja internamente. ‘Amor forçado’ é contradição de termos”. Se o calvinismo for verdadeiro, "o fato de alguma pessoa não ter escolhido amar, adorar e servir a Deus não fará nenhuma diferença para Ele. Ele simplesmente ‘se apodera’ dos que escolhe com seu poder irresistível e força-os a entrar em seu Reino, contra a vontade deles”.
Por fim, ele afirma:
“A ‘graça irresistível’ viola o livre-arbítrio daquele que não a deseja, pois Deus é amor (Jo 4.16), e o verdadeiro amor é persuasivo, mas nunca coercitivo. Jamais poderá haver um casamento forçado no céu. Deus não é como B. F. Skinner que, em sua teoria da conduta, modifica as pessoas fazendo que ajam contra a própria vontade”
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